Cinco perguntas e uma boa surpresa! México.

Olá, Coexpat!
Lembro bem do cenário antes do embarque. Os sentimentos variavam da euforia pelas inúmeras possibilidades à ansiedade pelos desafios que ela e o marido iriam encarar. Psicóloga de formação e vocação, Vivian engrossa a lista dos que toparam essa viagem por causa da profissão do parceiro. Mas em terras mexicanas Bíbian (segundo a pronúncia espanhola) seguiu o próprio caminho. Estudou idiomas, começou um mestrado, fez planos para ser chef, até que engravidou!
Restabelecida no Brasil, depois de quase 5 anos fora, ela relembra uma parte dessa experiência. Vale ressaltar que, por ser uma otimista nata, qualquer que fosse o resultado desse período - bom ou ruim - ela teria ótimas coisas para contar. Em tempo, a vivência dela, minha irmã de sangue e alma, facilitou e muito esse meu caminho “expatriático”! Obrigada Vivi!


Cinco Perguntas:
Leve - Como foi o processo até você realmente se sentir em casa em outro país, ou isso nunca aconteceu?
Vi - Bom, o dia, ou melhor dizendo, o período em que eu realmente comecei a me sentir em casa foi quando saía para ir ao supermercado ou ao shopping, encontrava amigos e conhecidos e passava o passeio acenando. Isso não acontecia mais quando vínhamos de férias ao Brasil. Lógico que isso levou um tempinho que não saberia dizer quanto, mas foi todo um processo de ir à festas, conversar com vizinhos, fazer amizade na escola, participando da agenda extracurricular, etc.
Outro fator que ajudou a me sentir em casa mais rápido foi desmontar meu apartamento no Brasil e “construir” um outro fora. Aos poucos fomos criando uma historia e um vínculo na nova casa, aí, quando vínhamos ao Brasil, sentíamos saudades da nossa casa fora daqui: saudades da cama, do banheiro, dessas coisas que a gente diz quando viaja por muito tempo.

Leve - O que é ou foi mais difícil durante a sua expatriação?
Vi - Definitivamente conhecer pessoas. Digo isso porque só pude começar a frequentar uma escola (onde aprendemos a cultura mais rapidamente e o próprio idioma para podermos nos aproximar das pessoas) depois que saiu meu visto. Esse processo demorou mais de 3 meses. O fato de a gente não ter filhos na época atrasou o processo de socialização. A escola da criança é uma porta aberta de oportunidades para você conhecer a cultura, o idioma e as pessoas. Você tem que entrar no país “pedalando” para que seu filho se adapte prontamente e com isso você também acelera seu processo de adaptação.
Outro fator muito difícil para mim foi ficar doente. Toda vez que eu adoecia era deprimente. Foi a maior sensação de desamparo já sentida em toda minha vida. Sem amigos, sem falar o idioma, sem entender a cultura e o sistema de saúde do país, sem saber como funcionava minha assistência médica, sem conhecer os hospitais, as clínicas e debilitada fisicamente, tinha que procurar serviços médicos. Nossa, isso me faz chorar só de pensar. Horrível.

Leve - O que faria diferente?
Vi - Certamente estudaria mais. Se ocorrer novamente esse processo conosco, tratarei de vasculhar a internet procurando informação sobre o novo país. Tentarei me comunicar previamente com famílias brasileiras que vivem no local, etc.

Leve - Toparia ser expatriada de novo?
Vi - Sem sombra de dúvida. Foi o processo de desenvolvimento mais rico que já sofri em toda minha vida. Saber outras línguas é fantástico e te libera para se comunicar com o mundo, mas ser multicultural enriquece sua alma, te libertando de preconceitos e te fazendo entender e sentir que “o diferente” é você e não o outro.

Leve - Quais expectativas se concretizaram e quais viraram pó depois da mudança?
Vi - Felizmente a expectativa de que eu, um dia, poderia falar quase que perfeitamente outro idioma que não o meu se eu tivesse a oportunidade de viver em outro país. Isso, modéstia a parte, se concretizou.
O que rapidamente virou pó depois da mudança foi achar que facilmente eu me adaptaria em outra cultura por me achar uma pessoa aberta às mudanças. Duramente descobri que sou um ser humano 100% resistente à mudança. Cheguei muito feliz no meu destino, cheia de amor pra dar, e desmoronei quando percebi que nada servia de referência para mim. Até um simples arroz com feijão eu não tinha mais.

A boa surpresa:Deixei marcas!! Desenvolvi um processo de trabalho num curto espaço de tempo. Pude implantá-lo em uma universidade e fui reconhecida por isso. Fui a 1ª estrangeira a ganhar uma bolsa de estudos de 100% nessa universidade. Isso falando da vida profissional, porque a grande surpresa na minha vida pessoal foi descobrir que também sou uma excelente dona de casa! Amei.

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Estranho.

Olá, Coexpat!
Sabe aqueles períodos em que as ideias estão meio desordenadas, em que a gente parece meio atrapalhada, em que a segunda acabou e você nem viu? Hoje é - ou foi - um dia desses.
Gosto de reservar uma parte do dia para pensar e conversar sobre essa nossa condição “expatriática”. Mas hoje não deu! Não, não foi falta de tempo. Hoje, estranhamente, não me ocorreu nada.
A vida segue. Entre familiaridade e tropeços vou construindo esse eu que vive longe...E está tudo bem, tudo ótimo!
Sei lá o que aconteceu. Deve ser a Lua - aliás, que Lua linda que faz aqui. Deve ser o Sol, que hoje não deu as caras. Deve ser alguma coisa...
Até que essa ausência do que dizer é boa. Mostra que nem sempre a gente tem algo para falar. Mostra que o silêncio é amigo e que ele existe exatamente para calar o que não faz falta nenhuma...Mostra que tem momento em que se deve apenas parar, ou ouvir...
Mas amanhã já é hoje e hoje é outro dia. Espero ter algo mais útil para dividir mais tarde...

Carmem Galbes


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Infomaníaca.

Olá, Coexpat!
Expatriação e vida profissional são temas que costumam caminhar bem juntinhos. Uma explicação para isso pode estar no fato de, geralmente, o trabalho ser - diretamente ou não - o veículo para levar a gente pra longe.
Assim fui parar no artigo “O humanismo revisitado nas empresas”.
Me chamou a atenção o fato da autora, Andréa Sebben, pontuar algo que parece, mas não é tão óbvio assim: não importa o endereço, ser alguém aberto ao diferente facilita a vida em outra cultura e também no próprio país, na relação familiar, entre amigos, "quanto mais evitarmos o claustro do individualismo, numa forma monocultural de ver e perceber o mundo e de nos relacionar com as pessoas de forma mecânica, ausente ou distante, tanto menos nos fossilizaremos e mais prepararemos o terreno para uma mentalidade intercultural, onde a tolerância será o recurso para seu desenvolvimento de um ponto de vista de maior humanização”, diz a especialista em expatriação.
A autora concorda que esse não é um exercício fácil e diz que a evolução das mídias sociais não facilitou esse processo como o esperado. Para ela “se por um lado o mundo se estreitou e nos deu essa possibilidade de contato e informação, por outro lado trouxe-nos dimensões de vida, valores, práticas, crenças que ainda não sabemos ordenar em nosso sistema cultural local.”
Interessante é que uma dica bem comum quando se está para encarar o novo é destrinchar o desconhecido, ir fundo na pesquisa, procurar saber, saber, saber.
De que adianta, então, tudo isso? Pelo jeito a gente sabe colecionar informação, o problema é o que fazer com ela!
Mesmo assim vou continuar coletando, é mania, ou vai que um dia eu descubro pra que serve...


Carmem Galbes
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Crise e ódio.

Olá, Coexpat!
Crise, desvalorização, desemprego, desânimo...
Paro na nota do Valor Online. A IBM, que já havia cortado 4.600 vagas em janeiro, nos Estados Unidos, vai demitir mais 5 mil funcionários por aqui.
O assunto me faz resgatar um estudo da Organização Internacional para Migração. O trabalho busca prever o impacto da crise financeira para quem vive longe de casa.
De acordo com o documento, os imigrantes – não só eles, claro – podem esperar aumento de desemprego, especialmente nos setores da construção, finanças, comércio e serviços. Para quem conseguir segurar a vaga, a ameaça é de redução de salário e de benefícios.
Na avaliação da Organização, há ainda a possibilidade de aumento da imigração ilegal. Resultado da decisão política de limitar a distribuição de vistos de trabalho, como já fizeram Itália e Reino Unido. Um erro na análise dos especialistas. As crises do petróleo, na década de 1970, e da Ásia, em 1988, indicam que turbulência econômica não impede o vai-e-vem global. De algum jeito as pessoas vão seguir por aí, com permissão ou não...
Outra coisa perigosa, segundo o estudo: há grande chance de aumento da discriminação e do ódio ao estrangeiro – o ladrão do emprego aos olhos dos nativos.
Aí vem o Lula e diz que foi gente branca e de olhos azuis que causou a crise. Mas essa é outra história. Aqui as pessoas não têm ódio de quem - só um exemplo, ok? - distribui bônus rechonchudo depois de ter sido salvo pelo dinheiro do contribuinte.
Nesse caso parece que sentir ódio não é nobre...


Carmem Galbes

Inventariando...

Olá, Coexpat!

Estou em uma fase de inventariar. Isso faz parte do meu exercício de saber exatamente as coisinhas e “coisonas” que existem em casa para organizar ou, se for o caso, descartar. Aí a gente descobre que tem roupa que não serve mais, sapato fora de moda, casaco mofado. Basta uma revirada nas gavetas sem espaço para esbarrar em brinco sem tarraxa, pote sem tampa, tesoura sem corte, cola vencida.
É aquela mania de achar que tudo é importante, que tudo exige uma avaliação mais aprofundada para chegar à decisão: serve ou não. Pior que isso só a crença em que a tralha um dia vai ser útil. E a casa vai entulhando. Dizem que esse é um cenário ruim, de energia parada. Já que alguém tocou nesse assunto esotérico, os astros apontam que meu desafio em 2009 é deixar o passado para trás.
Gente, não é isso que nós expatriadas fazemos constantemente, deixar coisas para trás? Nos últimos tempos deixei casa, móveis, emprego, rotina. Alguns costumes, algumas pessoas, certos medos e muitas certezas também ficaram lá longe.
Mas acho que está sendo bom. Não ia ter espaço. Tem também aquilo que não pode ficar no mesmo ambiente, não combina, dá choque!
É claro que tem coisa que não abro mão e ponto. Não vou deixar de participar da minha família, apesar da distância. Não vou deixar o Português, nem as novas regras vão me impedir de - ao menos - tentar acertar nessa língua! Não vou deixar de tomar suco de maracujá, apesar de ser quase impossível achar a fruta fresca. Não vou deixar de tentar comer direito, apesar do apelo dos “gordurames”. Outra coisa - essa aprendi aqui - não vou deixar de me perguntar se vale a pena persistir. Seria triste não perceber que enjoei de maracujá!


Carmem Galbes
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Cinco perguntas e uma boa surpresa! Inglaterra e EUA.

Olá, Coexpat!Não foi decisão da Alana Leahy-Dios a primeira expatriação. Foi a especialização da mãe dela que motivou a saída de toda a família do Brasil. Depois do colegial em Londres, faculdade no Rio e doutorado em New Haven, a engenheira química estabeleceu residência em Houston onde fica até...quem sabe? Em “Cinco Perguntas e Uma Boa Surpresa”, a cidadã do mundo e coisa nossa - como diria seu Sílvio - fala um pouco da suas estratégias de adaptação, construídas em meio a tanto vai-e-vem. Obrigada Alana!

Cinco perguntas:
Leve - Como foi o processo até você realmente se sentir em casa em outro país, ou isso nunca aconteceu?
AD - Nunca me senti completamente em casa fora do meu país. Morei na Inglaterra dos 15 aos 18 anos. Voltei ao Brasil e - depois de quase 3 anos - fui para Michigan passar um ano; não me senti em casa em nenhum momento durante esse tempo. Voltei ao Brasil e, passados outros 3 anos, retornei aos Estados Unidos. Dessa última vez, apesar de planejar voltar ao meu país, tinha a nítida impressão que não voltaria mais para casa tão cedo (e ainda não voltei). Nessa última saída do Brasil, acho que demorei uns 3 anos para me sentir confortável onde eu morava, me sentindo relativamente pertencendo ao lugar. Agora que mudei de estado dentro dos Estados Unidos, me sinto de novo estrangeira, e sei que vou levar anos novamente para me sentir inserida na cultura. Interessante que as voltas ao Brasil também exigiam processos de adaptação, ainda que mais fáceis. Depois que eu casei com um verdadeiro cidadão do mundo, tenho dúvidas se voltarei algum dia a me sentir parte integral de um lugar ou cultura, inclusive no Brasil.

Leve - O que é ou foi mais difícil durante a sua expatriação?
AD - A saudade do Brasil, dos amigos e da cultura para mim são as partes mais difíceis. Saber que eu não faço mais parte ativa da vida das pessoas que eu amo, e vice-versa, sempre me doeu.

Leve - O que faria diferente?
AD - Difícil dizer... Acho que tentaria ser tão aberta aqui fora como sou no Brasil.

Leve - Toparia ser expatriada de novo?
AD - Acho que está no sangue! Não só toparia, como quero muito! De preferência um lugar bem diferente do que eu conheço, para aprender bastante.

Leve - Quais expectativas se concretizaram e quais viraram pó depois da mudança?
AD - Não criei expectativas para não me decepcionar e para não ficar ansiosa, então não sei dizer quais se concretizaram. A única certeza que eu tinha era da volta ao Brasil depois de 5 anos. Essa certeza virou pó!

A boa surpresa dessa experiência foi:Desde a primeira experiência de expatriação, a melhor surpresa foi a abertura da cabeça e o aprendizado de que não existe cultura, costumes e povo melhores ou piores.
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Expatriação do mal.

Olá, Coexpat!
Palavra para mim é algo que vai além do conteúdo. Tem forma, aparência, cor, cheiro, sabor. O radical expatri, por exemplo, carrega uma aura positiva. Tem um som que remete a desafio, aventura, mudança, sucesso. Essa combinação de letrinhas, não importa a desinência - se expatriação, expatriado, expatriadas, expatriar - vem sempre em cores vibrantes, tem cheiro de chuva batendo na terra seca.
Quando tocamos no assunto, falamos - geralmente - em pacote de incentivos, programa de adaptação, plano de carreira...
Mas existe um aspecto bem sombrio do tema. Não falo do lado B da expatriação, sobre os efeitos colaterais dessa vivência que mexe para sempre com ideias e sentimentos.
Falo da expatriação para o mal.
A rede de TV MSNBC exibiu nesse domingo o documentário “Undercover: Sex Slaves in America”, algo como o submundo da escravidão sexual nos Estados Unidos. Veja aqui e aqui.
O material mostra como a oferta de emprego e de estudo no exterior pode esconder um poderoso e bilionário esquema de tráfico de pessoas e de exploração da prostituição.
Mulheres que conseguiram fugir, hoje testemunhas em investigações policiais e feitas pelo congresso americano, contam como caíram nessa.
A jornada começa com oferta de emprego que exige pouca qualificação ou de programa de estudos em universidade atrelado a um trabalho para pagar os custos. Já em solo americano, com pouco domínio do idioma e com fé cega, as “selecionadas” ouvem falar em mudança de planos e seguem todas as orientações que recebem.
Em uma cidade desconhecida e com o passaporte em poder da quadrilha, as vítimas são informadas da “dívida” que têm com os “empregadores” e como vão pagá-la. É aí que a ficha cai!
Sem dinheiro, sem contato, trancadas em locais como casas de massagem ou cantinas mexicanas - caso de Houston, sob a vigilância de câmeras, e envolvidas em uma atmosfera de violência física e emocional - com ameaças à família que ficou, a experiência de expatriação dessas mulheres vai se resumir à prostituição forçada.
No relato de uma universitária ucraniana, que acreditava ter embarcado para estudos na Virgínia, a indignação por não ter desconfiado de nada. Ela disse que ouvia falar desse tipo de esquema , mas que não imaginava que poderia ser vítima dele.
É realmente difícil entender. Como pode?! Penso que o sonho e a expectativa pintam de rosa o perigo.
Os defensores dos acusados de tráfico argumentam que as mulheres escolhem estar nessa situação. É mesmo? Resgato um alerta da ucraniana: “sorriso no rosto não significa que a pessoa faz o que faz por livre e espontânea vontade.”
Aproveitando esse mês em que se costuma fazer um balanço das conquistas das mulheres: vejo que ainda estamos batendo pedra para fazer fogo. Que mundo é esse?


Carmem Galbes
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Caminho do meio.

Olá, Coexpat! 
Sonhei em deixar muita coisa de lado para dar suporte à carreira de outra pessoa? Planejei abrir mão do meu próprio sucesso profissional em nome do sucesso de outra pessoa? Quis isso? Gostei?  Tô aproveitando? Tô me superando, qualificando, reinventando? Tô feliz? Mudei? Melhorei? Acostumei? E a carreira? O futuro?
É-tudo-ao-mesmo-tempo-agora! Interrogações passeando em meio à exclamações, vírgulas e reticências.
Normal! Faz parte da tentativa de aprender a perguntar para conseguir ter algumas respostas que façam sentido.
Ao mesmo tempo não sei se importa tanto buscar essas respostas, porque as escolhas já foram feitas. Talvez a pergunta de ouro seja: o que eu posso fazer com tudo isso para produzir a melhor versão de mim? 

O tempo todo ou se vai para a direita, para a esquerda, para frente ou para trás. Dizem que o melhor é o caminho do meio. Mas vai tentar pegar essa estrada, tem que matar e morrer mil vezes para se manter nela...
Aliás, que negócio é esse de caminho do meio? Caminho do meio para mim é meio-fio, coisa que a gente só pega de brincadeira, por pouco tempo e exige muita técnica, treino, equilíbrio e atenção para não cair. E quem tem tudo isso junto? Vou procurar lá no céu...
Tudo bem que tem morno entre quente e frio, bermuda entre calça e shorts, tem bege entre branco e marrom, dia nublado entre Sol e chuva, tem limonada entre água e limão, tem bonitinha entre linda e feia...
Pausa. Olho para o celular com meia carga. É meio do dia, está meio calor, estou meio sem ideia e meio com fome. Acho que isso!

Escrever sempre traz um alívio!! Já tentou?
Carmem Galbes
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Tentei falar das flores.

Olá, Coexpat!

Hora de acordar, de comer, de dormir. Uma pequena alteração na rotina, e nosso relógio fica maluquinho da Silva. Assim como temos um despertador interno, acho que o corpo também guarda espaço para um calendário biológico.
Para mim sempre foi muito claro, calor é coisa de dezembro, janeiro, fevereiro, março e abril. Frio só lá para o começo de maio.
Mas a expatriação acabou criando aberrações climáticas. Meu último ano, dado que fiquei entre Rio de Janeiro e Texas, teve uns 10 meses de verão! Consegui pegar todo o calor lá e cá. Mesmo criada em um país em que o clima é meio doido - como faz falta o ciclo das estações! Parece que o corpo pede: “ok, o Sol já deu, é hora do aconchego de um cobertor” ou “o gelo foi bom, agora preciso de Sol.”
Mas aos poucos o calendário vai se ajeitando. Depois de um inverno com direito à neve - uma exceção em Houston - amanhã começa a primavera no hemisfério norte. Como é característico da estação, a temperatura está instável, friozinho pela manhã e um calor de agitar a alma à tarde.
Por falar em primavera, o período é de pausa nas salas de aula daqui. O spring break funciona como a nossa semana do saco cheio, em outubro.
Os parques em Houston estão lotados. Congestionamento também nos shoppings, apesar da crise...
Universitários usam o período para viagens. Cancún é o destino predileto.
Mas a coisa está estranha. É que além da crise econômica e do escândalo do pagamento de bônus aos executivos da AIG, a guerra contra o tráfico de drogas no México é o outro assunto com grande destaque por aqui.
Uma situação que não deve ficar tranquila pelo menos até agosto, acredita o Departamento de Estado americano. O órgão alerta para o perigo de viajar para o México, especialmente para locais próximos à fronteira. O cenário é de disputa pelo controle do tráfico, com aumento de índices de assaltos, sequestros e assassinatos. Nossa, que familiar!
Mas esse texto ficou esquisito! A ideia era falar das delícias da estação das flores...


Carmem Galbes
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Entre o perigo e a paranóia.

Olá, Coexpat!

Não sei se você já teve a honra de passar por uma dessas simulações de incêndio. Para mim esse é um daqueles troços que pertencem à lista das coisas mais estranhas do planeta. Todo mundo fica sabendo quando o alarme vai soar. A função é sair sem pânico. Fácil! Já que a gente sabe que tudo não passa de treinamento. Elevador? Nem pensar. E a cada degrau a mesma fala de sempre: “preciso voltar aos exercícios...”
Sei de gente que odeia essas simulações porque - não raro - acontecem em meio a um mundaréu de trabalho. Tem também gente que ignora sem culpa o chamado e há aqueles que não esquentam a cabeça e aproveitam para resolver alguma coisa na rua.
Lembro que no começo da minha experiência "expatriática" achava estranho esse sistema de endereço comercial dentro de casa: detectores de fumaça, sprinklers e alarmes como parte da decoração. Mas prestando atenção você vê que o cuidado não é exagero. O ambiente é altamente inflamável. É que imóvel nos States costuma ser de papelão - com o perdão da minha ignorância no tema.
O problema é quando tal sistema entra em ação e não há nenhum treinamento agendado.
Pois é, aconteceu hoje onde eu moro. Cinco da manhã! Confesso que demorou um pouco para entender se era despertador, celular ou buzina. A primeira reação foi interessantíssima. Custou a acreditar que poderia ser uma emergência. Só pensava em desligar aquela maldita sirene...
O zum-zum-zum no corredor foi o que funcionou como aquele aviso do anjinho, sabe? “Olha...pode ser fogo”.
Alguns “serás?” aqui e ali depois, o estalo: nossa, é de verdade, “simulação” de verdade. Corre!
Deu tempo de trocar de roupa, pegar carteira e chave do carro.
Lá embaixo, depois do susto e de não ver fumaça, diversão de graça. Todos, no mínimo, com cara inchada e bafão. Tinha também marmanjo com pijama de bichinho, além de gente enrolada em cobertor, morador ainda na porta do apartamento perguntando o que estava acontecendo e gente com mala pronta, como se fosse passar um ano fora. E as histórias? Um disse que na tentativa de desligar o alarme disparou outros. O vizinho da frente contou que a primeira reação foi ligar o exaustor. Ã?!?!
Entre ti-ti-ti na garagem e no hall de entrada, os bombeiros vasculhavam a área. O alarme continuava ensurdecedor.
Depois de 1 hora mais ou menos, o diagnóstico: algo aconteceu no segundo andar... nada de fogo. Nada de grave.
Putz! Bem melhor assim.
Passada a agressão de pular da cama aos “berros” da dona sirene, fiquei pensando: “ok, foi só um susto, mas será que estou mesmo preparada para enfrentar emergências?” Não, claro que não! A gente se prepara só para as coisas boas, para o que a gente planeja e quer, não fica pensando no que pode dar errado, tem guru que diz até que dá azar!
Engraçado é que mesmo assim passamos a vida elaborando mecanismos de prevenção, previsão e alerta. Apesar de todo esforço para driblar o que pode dar errado, hoje percebi como somos resistentes em acreditar no perigo.
Tudo bem que, se tomar por base o acontecido, tenho reforçada a ideia de que esses mecanismos têm mais chances de falhar do que de alertar. Mas pensar assim é, no mínimo, perigoso.
O sistema de previsão dos estragos que o furacão Ike, por exemplo, iria causar em Houston, setembro passado, ajudou a “estancar” o número de vítimas. Saber o tamanho do bicho não fez dele algo maior ou pior.
Por outro lado, levar ao pé da letra estatísticas de violência no trânsito e nas ruas tem feito muita gente refém das próprias suposições.
Acho que esse é o ponto. Saber separar o iminente do possível. Antecipar situações que podem causar estragos e enfrentá-las é maturidade. Supor que estamos o tempo todo correndo risco e conduzir nosso dia a dia a partir dessa premissa é pedir para pirar.
Como selecionar, então? Não sei.
Essa foi minha primeira “simulação” de verdade! Até que rendeu! Rendeu coisa pra falar, coisa pra pensar e a memória do som estridente da sirene. Ô coisa chata!


Carmem Galbes
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Cinco perguntas e uma boa surpresa! Estados Unidos.

Olá, Coexpat!
Alma livre, mente aberta, profissional pra lá de preparada. Adriana Reis sempre pensou na possibilidade de ter uma experiência fora do país. A carreira do marido foi impulso que faltava para ela seguir viagem.
Há quase dois anos em Houston, Texas, a jornalista está envolvida com mil atividades. Trabalha, faz mestrado, é mãe...ou é mãe, trabalha, faz mestrado, enfim, ela toca tudo com um entusiasmo e um senso de perfeccionismo de deixar a gente encabulada.
Mas ela não é dada a mal-estar. Um dos seus talentos, aliás, é facilitar o aconchego. A Dri foi uma das primeiras a me detalhar Houston, uma gentileza e tanto para quem tinha acabado de chegar e precisava lidar com tanta coisa ao mesmo tempo!
Em “cinco perguntas e uma boa surpresa” ela divide com a gente como vem encarando esse tempo longe da cidade maravilhosa. Obrigada Dri!


Cinco perguntas:
X - Como foi o processo até você realmente se sentir em casa em outro país, ou isso nunca aconteceu?
AR - Não sei se isso acontecerá algum dia. A única razão pela qual me sinto confortável aqui é o fato de que aqui vivem também meu marido e meu filho e que todos temos a nossa rotina por aqui agora. No entanto, lembro que sou estrangeira sempre que me faltam palavras para expressar algum sentimento ou opinião, sempre que sou mal-interpretada ou vivencio algum choque cultural.
Da mesma forma, ser carioca sem acompanhar o Big Brother Brasil, a novela das 8, o Jornal Nacional e o Fantástico me fazem sentir um pouco turista quando vou ao Brasil.
Imagino que a tendência natural é que eu me sinta cada vez mais turista no meu país de origem, sem deixar de me sentir estrangeira por aqui. Aliás, não pretendo deixar que isso aconteça! Quando estamos longe da nossa pátria, aprendemos a valorizar mais as coisas boas. Pretendo deixar bem claro que sou estrangeira sempre que pintar uma oportunidade para esclarecer que o idioma no Brasil é o Português (e não Espanhol), que churrasco tem que ter farofa e que o fio dental não é o traje típico do meu país.

X - O que é ou foi mais difícil durante a sua expatriação?
AR - A saudade da família e dos amigos que ficaram no Brasil. Tive que aprender na marra a difícil lição de que não precisamos estar perto para amar e ser amado. Felizmente, minha expatriação aconteceu na Era da Mídia Social, portanto, a saudade tem sido bastante aliviada graças ao Skype, ao Orkut e ao email.

X - O que faria diferente?
AR - Antes de vir morar aqui fui orientada a deixar todos os eletrodomésticos no Brasil. Disseram-me que nada funcionaria aqui e que os preços eram tão baixos que valia a pena comprar tudo de novo. Mentira! Para usar os aparelhos do Brasil, basta comprar um adaptador para colocar na tomada. Além disso, os hábitos alimentares aqui são bem diferentes, portanto, encontrar um espremedor de laranja, por exemplo, não é uma tarefa tão simples assim. Qualquer mercadinho vende máquina de waffle, mas não espremedor de laranja.

X - Toparia ser expatriada de novo?
AR - Com certeza!

X- Quais expectativas se concretizaram e quais viraram pódepois da mudança?
AR - Lidar com a saudade é realmente a parte mais difícil da expatriação. Não lembro de nenhuma expectativa que tenha virado pó...
A boa surpresa:
Foi perceber que o lado bom de deixar tudo para trás é ter a chance de refletir antes de recomeçar, sonhar antes de reconstruir e reavaliar antes de fazer novas escolhas.

Leve Entrevista. Imposto de renda.

Olá, Coexpat!
Se tem uma coisa que expatriado logo aprende é a organizar um arquivo com todos os documentos gerados pela burocracia entre lá e cá.
O primeiro trimestre do ano reserva mais um encontro com a papelada. O período é de acerto de contas com a Receita Federal e de envio de dados ao Banco Central.
O Banco Central começa a receber as informações sobre bens em outro país a partir de 30 de março. Todo brasileiro com patrimônio superior a US$ 100.000 pra lá da fronteira deve entregar ao BACEN a Declaração de Capitais Brasileiros no Exterior. Aqui está o link para página que traz uma cartilha sobre o tema, além de perguntas e respostas.
Quem não atende ao chamado do Banco Central, está sujeito, além de outras punições, à multa de R$ 250.000.
Quanto ao Imposto de Renda, a Receita Federal recebe as declarações até 30 de abril. Atrasadinhos pagam multa de R$ 165,74. Todo contribuinte que vive no país tem que prestar contas. Isso pode incluir você. É que mesmo expatriada, você ainda pode ser considerada residente no Brasil.
Por isso a presença aqui do contador e professor da Puc-Campinas, José Roberto Vicinança filho. Ele nos ajuda, entre outras coisas, a entender melhor essa história de residência.
Para maiores detalhes, o professor sugere visitar essa página de perguntas e respostas da receita. Outras informações aqui.
Vale lembrar que é obrigado a apresentar a declaração o contribuinte que no ano-calendário de 2008 recebeu rendimentos tributáveis superiores a R$ 16.473,72. Teve rendimentos isentos, não-tributáveis ou tributados exclusivamente na fonte com soma acima de R$ 40.000,00. Foi sócio ou acionista de empresa, inclusive inativa, ou de cooperativa. Quem operou em bolsa e quem teve a posse ou a propriedade de bens ou direitos no valor total superior a R$ 80.000,00.
Aproveite a entrevista.


X - Apesar de morar fora, o expatriado ainda pode ser residente brasileiro?
JRV - Considera-se residente no Brasil, entre outras situações, a pessoa que se ausente do país em caráter temporário, ou seja, retire-se do território nacional sem entregar a Declaração de Saída Definitiva do país durante os primeiros doze meses consecutivos de ausência. Desta forma, a pessoa que deixa o país definitivamente deverá entregar a declaração de saída definitiva, do contrário será considerada residente.

X - Mesmo morando em outro país e recolhendo imposto de renda no exterior, em quais situações é necessário declarar imposto de renda no Brasil? A declaração de quem está fora segue os mesmos moldes do residente brasileiro?
JRV - Deverá entregar a declaração no Brasil quem não entregou a Declaração de Saída Definitiva. Para fins de Imposto de Renda, o contribuinte é residente no país.

X - Quais os principais erros do contribuinte brasileiro que vive em outro país?
JRV - Creio que o principal erro é não fazer a Declaração Definitiva para o ausente há mais de 12 meses.

X - Quais as conseqüências para o expatriado que não faz a declaração?
JRV - A Receita Federal não sabe do paradeiro deste contribuinte e a ausência da entrega deverá gerar multa e a impossibilidade de negócios com Instituições Financeiras, uma vez que o CPF poderá ser considerado “omisso”.

X - Houve alguma mudança na declaração desse ano para quem está fora do Brasil?
JRV – Não houve nenhuma mudança no último ano.

Carmem Galbes

A crise e a volta antecipada.

Olá, Coexpat!

Onde cortar, onde investir, onde se proteger. Essa crise vem estimulando exercícios e conversas mundo afora. Para quem vive em endereço gringo, a crise sustenta ainda outra dúvida, será que o cronograma da expatriação vai mudar?
Essa semana, o New York Times abordou o assunto. Com o título “A longa viagem para casa”, a matéria traz que muitas empresas - especialmente as do setor financeiro - estão antecipando a volta de seus expatriados de olho na economia que podem conseguir com isso.
Já conversamos um pouco aqui sobre o retorno ao lar. Especialistas no assunto dizem que a repatriação deve receber a mesma atenção que foi dada à família quando ela seguiu para um outro canto do mundo.
O problema é que empresas e funcionários ainda acreditam que voltar para casa é sempre muito mais fácil que partir. Uma pesquisa da KPMG, por exemplo, mostra que apenas 4% dos executivos de Recursos Humanos acham que preparar a família para a repatriação não é um investimento que traga lá tantos benefícios.
O fato é que quem já voltou diz que o retorno não é tão simples como o esperado e que a inserção em outra cultura pode abrir horizontes, mas dificulta a adaptação no próprio país.
Na matéria do NYT, Margery M. Marshall, presidente da Vandover, empresa de suporte à transição de expatriados, acrescenta que a atual situação está difícil para quem foi transferido e assustadora para quem largou tudo para acompanhar um expatriado. É que retomar a carreira na volta não é tarefa fácil e pode ficar ainda pior em meio à turbulência econômica.
Fazer o que? O jeito é tentar controlar as expectativas - isso para quem vem ou vai. Como? Minha estratégia tem sido acreditar que situações do momento, por mais difíceis que sejam, servem sempre de preparação para acontecimentos mais complexos. Resumido: relaxa, porque a tendência é que a vida enrole mais e mais... Culpa sua! Quem mandou embarcar nessa viagem?


Carmem Galbes
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Etiqueta, receitas e preguiça.

Olá, Coexpat!Quando a gente assume um novo caminho na vida é natural ir em busca de receitas. Saber como proceder em meio ao desconhecido traz segurança, alívio e preguiça. Sim! Preguiça de encontrar o nosso próprio jeito de fazer.
Não falo de etiqueta - guia resumidinho aqui. Claro que é muito útil saber que é uma tremenda falta de educação não abrir o presente que você acabou de receber de um italiano e um ultraje abrir quando o pacote vem de um japonês. É muito bom ainda saber que na Finlândia chegar um pouco antes da hora é motivo de elogio, que os árabes não toleram ver a sola do sapato de alguém e que comer com a mão esquerda no Senegal é ofensivo. Cultura é cultura!
Mas adotar a cartilha de como se vive lá e achar que isso é uma grande coisa não garante sucesso no relacionamento longe de casa, aliás, nada garante nada nessa vida!
Antes de chegar às bandas texanas, por exemplo, especialistas em vender caminhos pavimentados alertaram que o povo daqui gosta - além de bota, chapéu e espora - de comer bastante, de hierarquia e de um bom papo.
Confesso que gostei desse “bom papo”. Deu a impressão de um povo aberto, disposto a decifrar sotaques e maneiras.
Até que encontrei gente assim. Mas depois de um tempo puxando papo, desconfio que essa disponibilidade vem muito mais de quem é estrangeiro, seja lá de onde.
Vou usar o clássico exemplo do elevador. Sobre os nativos: tem gente que dá um oi rápido, tem gente que conversa, tem o que desembesta a falar, tem o outro que não responde ao cumprimento, tem também quem não está nem aí para o próprio cachorro e que entra rápido no elevador e fecha a porta só para ir sozinho. Tem de tudo!
Aí vou vendo que é difícil se apegar muito às formulas quando o assunto é gente. Vou vendo que etiqueta ajuda a tropeçar menos, que receita ajuda a baixar o estresse, mas vejo também que “ops” , ombros contraídos e gelo na barriga são figurinhas fáceis nesse cenário “expatriático”.


Carmem Galbes
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A urgência e o tchau. O tchau e a urgência.

Olá, Coexpat!Essa semana uma amiga querida voltou para a França, o país dela. Nossa despedida me fez pensar em como a urgência invadiu minha vida desde que virei expatriada.
Falo de uma urgência diferente da vivenciada no estresse da vida profissional, por exemplo. Essa pressa que ronda agora tem mais a ver com não poder desperdiçar nada de uma fase que tem data para acabar - apesar de dizerem que o calendário para quem é expatriado não é tão certinho como prometem...
Desde que deixei o Brasil, passou a ser urgente conhecer lugares e pessoas. Virou prioridade absoluta experimentar, aproveitar, aprender. Resultado: acabei mudando o modo de me relacionar com o mundo e com os outros.
Eu sei que sempre precisei de um período, longo por sinal, para me aproximar e deixar chegar perto, mas a ideia de que - mais dia, menos dia - alguém vai voltar para casa, me obrigou a ignorar regras e marcadores. O milagre, no meu caso, foi ver amizades crescerem e ficarem fortes, apesar do pouco tempo.
Aí vem a partida. Gosto de chamar de exercício da partida. É que a expatriação te põe em contato com gente que está sempre andando por aí, indo e vindo. Normal! Não é preciso ser expatriada para saber que, desde que nascemos, sempre tem alguém que chega, acrescenta, tira ou revira e some. A diferença é que a expatriação faz com que isso aconteça em um curto intervalo. Por isso o exercício. Porque conforme as despedidas vão se acumulando, é possível ir aprendendo como lidar com elas.
Não gosto muito de ficar acumulando. Adoro aqueles dias que a gente tira para jogar as coisas fora. Mas não tem jeito, não encontrei outra estratégia: para engolir tanto tchau diferente passei a cultivar fotos, cartões, badulaquinhos, enfim, a memória do que foi bom. “Porque não somos puros espíritos, e sim seres feitos de carne, precisamos de objetos que encarnem uma realidade que já não existe e que testemunhem o que fomos ou o que acreditamos ter sido”, lembra Marcel Rufo em ‘Me larga! Separar-se para Crescer’.


Carmem Galbes
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Cinco perguntas e uma boa surpresa! Inglaterra e França.

Olá, X!
A internet é um bicho estranho mesmo. Tem gente que rechaça! Acho que pode ser do bem e do mal, depende de quem usa. Para mim é pra lá de útil. Encurta distância, ajuda a matar a saudade e me coloca em contato com gente bem interessante. Foi navegando em blogs de expatriados que encontrei a Ingrid Mantovani.
Comunicadora social, ficou 2 anos entre Londres e Paris para estudar inglês e acompanhar o namorado envolvido com um mestrado.
Hoje Ingrid já está de volta ao Brasil, precisamente em São Paulo, mas carregará para sempre a marca da expatriação. Deve ser por isso que ela mantém o Brasil com Z e dá uma baita ajuda para a troca de informações sobre a vida em outro país.
Na ilustração, obra de Gabriel Shiguemoto, e nas respostas a seguir, você conhece um pouco mais dessa expatriada. Obrigada Ingrid!

Cinco Perguntas:
X - Como foi o processo até você realmente se sentir em casa em outro país, ou isso nunca aconteceu?
IM - Fiz dois intercâmbios, o primeiro foi em Londres onde sofri bastante nos primeiros meses, mas depois, quando fui conhecendo o ritmo da cidade, arrumando um trabalho fixo e fazendo amigos, comecei a ter um carinho especial por Londres, não sei ao certo se me senti em casa, mas me senti bem, o que já é importante. O segundo intercâmbio foi em Paris, mas acredito que nunca me senti muito confortável por lá. Tenho carinho por determinadas coisas, como o valor pela cultura e arte, mas no geral não me adaptei bem na capital francesa.

X - O que é ou foi mais difícil durante a sua expatriação?
IM - Em Londres, acredito que nada em si foi realmente muito difícil. A dificuldade estava na união de pequenas coisas, busca por emprego, a língua, busca por acomodação e etc. A mudança de pais já é complicada por si só. Em Paris o mais difícil foi entender como as coisas funcionavam. O cruzamento de informações é enorme e nunca se chega à uma conclusão. Cada pessoa fala uma coisa e te manda para um lugar diferente. Parece um labirinto.

X - O que faria diferente?
IM - Nada.

X - Toparia ser expatriada de novo?
IM - Toparia sim.

X - Quais expectativas se concretizaram e quais viraram pó depois da mudança?
IM - Eu nunca tive grandes expectativas da viagem. A única que eu tinha era de aprender inglês, e essa se concretizou. Todo o resto foi além das expectativas. O aprendizado, o amadurecimento, as amizades. O que virou pó foi à visão que eu tinha com relação aos europeus e a Europa em geral.

A boa surpresa:
Descobri uma Ingrid que não sabia que existia antes de viajar.

Conferência de famílias expatriadas.

Olá, Coexpat!De hoje a domingo, aqui em Houston, expatriados e experts no assunto se encontram para trocar experiências e informações sobre o dia-a-dia de quem está tocando a vida em outro país.
A Conferência Internacional de Famílias Expatriadas é promovida pela Families in Global Transition.
Essa edição traz duas palestras de graça e via internet, portanto podem ser acompanhadas de qualquer lugar.
Essas palestras acontecem no sábado, a partir do meio-dia, horário de Brasília. Inscrições aqui.
O primeiro painel trata das crianças expatriadas e como lidam com a vida longe de casa. O segundo fala sobre o uso das chamadas mídias sociais, como blogs e páginas de relacionamento, para facilitar a comunicação de quem está longe.
Families in Global Transition é uma organização sem fins lucrativos. Nasceu há sete anos, aqui nos Estados Unidos, a partir de encontros entre esposas de profissionais expatriados. A organização divulga que tem por objetivo ajudar a fazer da expatriação uma experiência positiva para toda a família.

Carmem Galbes

Voltando? Será mesmo?

Olá, Coexpat!
Fitando a parede, depois de um dia de tagarelice em diferentes sotaques, em meio às últimas providências de amigas que se preparam para embarcar rumo ao país de origem, uma palavra sequestrou meus miolos: voltar.
Todo mundo sabe o que voltar quer dizer, mesmo assim fui dar uma espiada no dicionário.
Há no mínimo 30 significados para esse verbo que pode ser transitivo, intransitivo, direto ou não, né - como diria um baiano.
O sentido mais usado faz referência ao passado. Usamos voltar quando queremos retornar a ou de algum lugar ou retornar para um estado anterior. Voltar tem ainda o sentido de manifestar-se de novo, de repetição e de reprodução. “Volta-me a saudade ao coração. É o passado que volta”, exemplifica o dicionário Michaelis.
Mas sempre tive um pouco de dificuldade com o sentido dessa palavra. É que, no fundo, penso que não existe volta, só ida. Na estrada da foto, por exemplo, o voltar é diferente da ida, as curvas à direita na ida estão à esquerda na volta. Então, considerando a definição do dicionário, nessa estrada a gente só consegue ir para um lado ou para o outro, não conseguimos ir e voltar! Assim vejo a vida, um ir constante, porque tudo muda, todos mudam. Ok, isso é coisa que Heráclito disse faz tempo, “não nos banhamos duas vezes no mesmo rio.”
Seguindo na leitura do dicionário, atentei que voltar tem sim esse sentido com mais lógica para mim, o voltar carregado de bagagem.
Beleza! Sigo indo, então, deixando um pouco do que juntei sobre voltar, no sentido “expatriático” da coisa: dirigir para outro lado, virar, volver: voltar a cabeça, voltar os olhos. Mudar de posição por um movimento em linha curva. Apresentar-se de frente. Agitar-se, mover-se, revolver-se, expondo ora um lado ora outro. Retroceder para atacar. Acometer, investir: voltar-se a, contra, sobre alguém. Mostrar-se contrário. Pôr do avesso. Remexer. Aplicar, dirigir, encaminhar: “voltou todo o interesse para os seus negócios.” Apelar, dirigir-se, recorrer: "voltou-se então para Deus o meu espírito" (Gonçalves Dias). Devolver, restituir, dar em troco. Dizer em resposta, retrucar: “a tantas perguntas nem uma só palavra lhe voltou.” Converter, mudar, transformar: “voltar em positiva uma emoção negativa”. Indenizar ou recompensar: “que prêmio lhe voltaram por sua abnegação?”


Carmem Galbes
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Cinco perguntas e uma boa surpresa! Estados Unidos.

Olá, Coexpat!
A Cris, ou Cristiane Seco Marques da Costa, é uma dessas pessoas que parecem sempre estar de bem com a vida. Talvez isso tenha ajudado no processo de expatriação. Mas vou deixar ela mesma contar como tem sido essa experiência.
Há nove anos longe do país, a analista de sistemas deixou o Brasil rumo aos States por causa da carreira do marido, mas logo ela conquistou o próprio espaço no mercado americano e hoje toca a vida na gelada, nem por isso fria, cidade de Hamden, em Connecticut.
Na foto, suspeito que um click meu, em frente ao Guggenheim, nesse inverno, em Nova York, ela e o marido - o Leandro - mostram uma das delícias da expatriação: o monte de coisas para conhecer, o monte de lugares para ir.
Obrigada Cris!

Cinco perguntas:Leve - Como foi o processo até você realmente se sentir em casa em outro país, ou isso nunca aconteceu?
Cristiane - Para mim o processo de me sentir em casa demorou um pouco. Sempre tive a sensação de estar aqui temporariamente, quase que "a passeio" e que depois voltaria pra casa, para o Brasil.
Mas até que não demorei a me adaptar, pois sempre me senti muito confortável e feliz aqui desde o primeiro dia.
Nos primeiros anos tinha a impressão que a minha estada era temporária, depois veio a impressão de ter duas casas - aqui e no Brasil.
Acho que comecei a sentir que a minha casa era realmente aqui depois de uns 5 anos, mais ou menos 1 ano depois que compramos a nossa casa.

Leve - O que é ou foi mais difícil durante a sua expatriação?
Cristiane - Para falar a verdade não sofri nesse processo. Mesmo porque não me via como expatriada, mas como numa viagem explorando um novo território, uma cultura.
No começo tudo era novidade e muito interessante e depois se tornou parte do meu dia a dia.
Acho que por ter a impressão de ser temporário, tentei aproveitar tudo o que pude.
Bom, pensando bem, teve uma coisa difícil que me marcou, estar desempregada no inverno de Connecticut.
Como normalmente faz muito frio eu acabava ficando muito em casa e isso não me agradou nada.
Depois que comecei a trabalhar o inverno deixou de parecer assim tão brutal. Ainda prefiro o verão, no entanto.

Leve - O que faria diferente?
Cristiane - Não sei dizer...

Leve - Toparia ser expatriada de novo?
Cristiane - Sim, achei que me adaptei fácil e curti muito o processo, então não teria problema começando de novo em outro lugar. Só uma ressalva, dependendo muito de onde fosse.
Não toparia ir para qualquer  país. Teria que ser um pais que me interessasse.

Leve - Quais expectativas se concretizaram e quais viraram pó depois da mudança?
Cristiane - Continuar a evoluir na minha carreira foi uma expectativa que felizmente se concretizou e que ainda continuará se concretizando, se Deus quiser.
Passar todos os finais de ano no Brasil e ter total controle de quando visitar o país foram expectativas inocentes que rapidamente viraram pó.

A boa surpresa:
As boas surpresas pra mim foram descobrir que existem pessoas boas e ruins em todos os lugares, que se pode fazer verdadeiros bons amigos em qualquer lugar e que esses amigos se tornam a sua família no seu novo lar.


Carmem Galbes

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...