Frrrrioo...

Olá, Coexpat!

O friozinho chegou por aqui. Depois de uns quatro meses de temperatura além dos 30, a casa dos 10 entrou em cena. Por se tratar de Texas - quente que só - já estou bem feliz.
Outro dia comentei como uma francesa como estava sentindo falta de dias mais geladinhos. Sempre gostei muito de verão, mas acho o inverno fundamental na vida da gente.
Por causa da mudança de endereço, passei quase um ano só no verão e isso também cansa.
É como férias, tem roteiro que você volta exausta. É a mesma coisa. O que acontece no verão? A gente quer curtir, aproveitar o dia quente pra ficar até tarde na rua, pra fazer todos os passeios. Não sobra tempo pra simplesmente ficar à toa, sem fazer nada.
A francesa não entendeu muito bem o sentido figurado que eu pretendi dar para o inverno. Mas tudo bem...Como tá frio, fiquei com preguiça de me fazer entender.
Mesmo porque, quando você fala que adora inverno e dias cinzas, tem sempre uma pra dizer: “ah, você tá deprimida, vem cá que eu te dou um abraço.”
Ai, ai...vou confessar, vai: adoro frio porque amo lareira...


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Viva o canivete!

Olá, Coexpat!

Tem gente por aí especialista em criar ferramenta. A pedra, por exemplo, virou fósforo, depois isqueiro, acendedor automático e deve vir mais por aí...
Agora se tem uma coisa que todo muito é especialista é em improvisar ferramenta.
Já vi chiclete virar durex e durex fazer as vezes de band-aid. Já vi clips dar uma de botão e granpeador bancar máquina de costura. Já testemunhei também chapinha de cabelo passando barra de calça e lápis de escrever corrigindo sobrancelha falha. Essa é famosa: base de unha na meia-calça.
E acho que a vida é isso mesmo, um constante exercício de improviso.
Claro que é bom sonhar e planejar! Isso é bom e saudável. Mas é loucura achar que as coisas vão sempre sair como o desenhado. Aí, quando se espera um prego e vem um parafuso, o gênio não faz outra coisa com o martelo, além de segurar. Tem umas doidas que dão com ele na cabeça, mas isso é outra história.
Quando penso em mudanças, novidades e desafios, essa é a imagem que vem: uma grande caixa de ferramentas escancarada, com as coisas meio espalhadas, meio organizadas. Sei que vou em busca das mais adequadas, mas que vou ter sucesso mesmo se for criativa e se não abrir mão do meu canivete, daqueles cheios de surpresas. Mas o melhor da história é que muitas outras ferramentas vão passar a fazer parte da minha coleção.
E para que servem aquelas chavinhas do móvel novo senão para montar o próximo que a gente comprar? Pra que servem as experiências senão para preparar a gente para situações ainda mais complexas?
Tudo bem que as ferramentas certas facilitam a vida, e não sou contra pares perfeitos como martelo e prego, chave de fenda e parafuso. O fato é que nem sempre isso é possível. Além do mais sou - na maioria do tempo - do tipo que acha que a vida não é mesmo fácil, e por que seria?


Carmem Galbes

Sobre Houston!

HOUSTON
Nem como turista, nem como estudante, nem como expatriada. Jamais pensei em Houston como um endereço. Mas essa cidade me pegou de jeito e simplesmente adoro viver aqui. Por isso, prepare-se para um relato apaixonado e, obviamente, tendencioso. A cidade tem 162 anos, mas
dizem que o negócio começou a andar por aqui com a descoberta dos poços de petróleo em 1902, as más línguas preferem dizer que Houston só foi pra frente com a invenção do ar-condicionado, fato ocorrido também em 1902, que veneno...
A região é quente sim. No verão o Sol é capaz de provocar sensações que vão de “queimadura de panela” à sauna desregulada. Em compensação, o inverno não te prende em casa, você tem que tirar o casaco lá de cima, mas o frio não assusta.
Mas vamos aos fatos. Pelas contas oficias - a última feita em 2006 - Houston tem 2,2 milhões de habitantes, fora os outros 3 milhões da região metropolitana.
Se Texas é a mãe de Itu, como bem lembra uma amiga, Houston não poderia deixar de ser marcada por superlativos. Um dos mais famosos: aqui está o maior, e talvez o mais respeitado, centro médico do mundo.
A quarta maior cidade dos Estados Unidos tem, claro, uma das principais características de um grande centro: o congestionamento. Aliás, viver aqui sem carro exige muita, mas muita boa vontade . Não bastasse o grande intervalo entre os ônibus, isso quando a região é servida por algum, você se sente um alienígena fora da nave andando pelas ruas. É muito raro encontrar um pedestre. O bom é que a carteira de motorista brasileira vale um mês, tempo para você passar no exame de motorista daqui - aliás, bem tranqüilo.
Por falar em E.T.s, a cidade é o endereço do centro de controle das missões da Nasa. Cabeções - no bom sentindo - vivem por aqui. A terra da Beyonce - conhece? - reúne mais de 40 opções entre institutos, centros de pesquisa e universidades.
Talvez por não ter belezas naturais, a cidade se sinta na obrigação de se manter atraente. O calendário oficial de 2008, por exemplo, conta com 600 atrações. Tem de ópera, comédia, dança clássica e contemporânea, sinfônica e peças - em espaços fechados ou não - até exposições na região que concentra cerca de 20 museus - literalmente um em cada esquina.
E se der fome, é possível comer fora diariamente e passar os 365 dias do ano sem repetir restaurante. E se tem uma coisa que faz de Houston uma cidade cosmopolita - uma exceção texana, aliás - é restaurante. Outra coisa, um levantamento da prefeitura mostra que aqui são faladas - ou ouvidas - mais de 90 línguas. Aliás, a cidade é bilíngue, inglês e espanhol, e brasileiro não costuma ter problemas para se comunicar.
Quanto à limpeza e segurança, a chamada “área dentro do looping da 610”, ou do anel, reúne também beleza e organização.
Quer promoções? Houston é ótima. Adora uma marca? Houston reúne as mais famosas do mundo. Gente bonita? Seja esforçado. Gente legal? Seja legal. Gente educada? Com certeza.
Vou dando detalhes.


Carmem Galbes
Imagem: SXC
Site Prefeitura de Houston

Íntimo e pessoal, sobre dividir a experiência da expatriação nas redes sociais.

Olá, Coexpat!

Quando resolvi me emaranhar nas redes sociais tinha três objetivos: escrever regularmente - uma das atividades mais prazerosas para mim - estabelecer um ponto de encontro e de troca para expatriadas e arranjar o que fazer!
Mas no fim, quando a gente decide abastecer essa espécie de diário virtual, o que acaba fazendo mesmo é expor as experiências, sentimentos e opiniões.
Engraçado que isso é um tema que passa muito batido: exposição.
Não é de hoje que sabemos dessa era do “ser é parecer e aparecer”, mas o propósito aqui não é flertar com a teoria.
Venho pensando no que é íntimo e pessoal. Naquelas coisas que não devem ser mostradas, que são suas, que não têm que ser divididas. Naquelas opiniões que não têm que ser dadas. Naquela conversa que não tem que acontecer.
A expatriada sabe que a vida antes de partir é escarafunchada, principalmente, se o destino exige visto especial e cambalhota a quatro.
É preciso responder questões que vão desde o registro de alguma doença contagiosa, uso de drogas e posse de arma, até quanto você tem no banco.
Para te conhecer melhor, a empresa responsável pela sua adaptação quer saber dos seus anseios, gostos e objetivos.
Sem contar no povo que você vai cruzando e que tem uma curiosidade natural sobre sua história e vice-versa.
É como se fôssemos uma vitrine. Tá tudo ali, chamativo, fácil de conferir, acessível.
Acho que isso faz parte do jogo e isso pode ser fantástico: a nossa história pode ajudar muito gente em trânsito por aí. Mas chega uma hora que é preciso balizar. É preciso respirar fundo, olhar pra dentro, pra fora...
Tem gente que nunca terá problema com isso, nem com expor, nem com guardar. Tem gente que lida bem com os dois, que é mestre no domínio dos dois.
Eu sigo pensando sobre o tema, porque um outro objetivo com meu blog, com minhas redes é aproveitar para tentar pensar um pouco mais fora da caixinha.


Carmem Galbes
Imagem: SCX

Champanhe francês, endereço africano.

Olá, Coexpat!
Navegando por aí, fui parar na África e fiquei sabendo que Luanda - capital da Angola - é a cidade mais cara do mundo para o expatriado.
O levantamento foi feito por uma consultoria de RH, a ECA. A empresa avaliou o custo de vida em 370 cidades e concluiu que o expatriado gasta muito mais para viver lá porque a lista de compras é recheada de produtos importados. Vem comigo para a nossa conversa de ontem. Aí está a confirmação prática e literal do meu argumento. Quando a gente resiste às mudanças e impede a aproximação de novos costumes a gente pode pagar caro por isso. Lógico que não há como ignorar que Angola está sendo reconstruída, que por 26 anos enfrentou uma guerra civil de lascar e que os últimos cinco anos não têm sido um mar de rosas... Mas lembra daquele negócio de sair na chuva? Então, vou além: tá no inferno, dá um uta no capeta. Sei que essa é uma mudança radical. Ter que viver em meio a ameaças, escassez e escombros não é tarefa fácil, mas penso sempre na oportunidade da experiência. Sempre penso que - no mínimo - a gente vai ter história pra contar, nem que seja para o terapeuta... Você deve estar se perguntando, ok, mas o que tem a ver a meia com o cadarço? Tem a ver que expatriado costuma ter um impulso na renda e tende a achar que “uhu, to podendo!” Nessa, não sobra espaço para a tentativa, porque - geralmente - a gente tenta mesmo só quando aperta de verdade, quando a água bate na sunga... Mas é muito fácil falar, né? Se tivesse lá, provavelmente ajudaria a ratificar a conclusão do especialista. Mas só me resta mesmo dar pitaco, afinal estou nas bandas de cá, onde o povo tá meio assim de gastar, onde importado não passa de sinônimo para preocupado - exemplo: tenho me importado com os padeiros - onde todo dia tem uma ultra mega liquidação, a atual - aliás - é a do dia dos veteranos. A propósito, a segunda cidade mais cara para o expatriado é Oslo, capital da Noruega. Paris e Londres? Cara pra turista!

Carmem Galbes

90 segundos!

Olá, Coexpat!
Uma coisa que sempre ouvi nas “entrevistas da vida” sobre exportação é que o empresário brasileiro tem um enorme problema com prazo. O ser simplesmente não consegue organizar a agenda para entregar a encomenda na data combinada.
E eu - treinada para nunca deixar esperando, o que me faz odiar atrasos - pensava comigo, como assim, como a pessoa batalha pra caramba pra conquistar um espaço no mercado mundial e simplesmente morre na praia?
Talvez uma experiência dia desses tenha me dado uma pequena noção sobre o que passa na cabeça do cabeção - me incluo - quando o tema é: normas culturais...Por sinal, miopia aqui é uma boa palavra!
Sexta-feira. Para matar a saudade optamos por um restaurante brasileiro. Na porta ouvimos um sonoro “tá fechado”. Eu: fechado? A moça: sim, fechou às 2. Eram 2h25. Tentei argumentar...sem chance.
E a história de que o cliente tem sempre razão? Bom, deixa pra lá...
Dia seguinte, no café da manhã: quero isso, aquilo e aquilo outro. A moça do caixa: desculpe, não estamos mais servindo o café, passa das 11. Eu: mas cheguei antes das 11, estava na fila, agora são 11 horas, um minuto e 30 segundos! Ela limitou-se a um: sorry.
Fiquei fula!
Ahh...se fosse no Brasil...
Humm...mas não é!!!
Acho que esse é o pulo do gato. Não interessa se é uma coisa estranha, se não faz sentido falar não para o consumidor, se daria pra abrir uma exceção...
Esse é o ponto de quem se propõe a transitar pelo mundo: respeitar a cultura e os costumes locais. Não sei se concordo com eles, se gosto deles, se atentam contra meus valores, não sei se quero replicá-los por aí, não sei se são lógicos, mas há motivos (também não sei se concordo com eles) para regras, políticas, normas, condutas, jeito, mania...
Acho que uma boa receita pra mim pode ser primeiro identificar com mais tranquilidade o estranho e o diferente. Sim, é estranho e, sim, é diferente! Depois, tentar conviver com essa estranheza...aí sim, aos poucos, com a alma livre, tentar entender. Saber do histórico ajuda e ameniza o caminho para o senso crítico. 

Acontece que pesquisar, procurar saber sobre os motivos dá trabalho.
Pensar dá trabalho, permitir dá trabalho, ir um pouco além do óbvio, da opinião comum dá trabalho, pior, dá medo, porque o que a gente pode encontrar pode ser libertador, e quem quer ser livre? Liberdade dá trabalho, exige responsabilidade, controle sobre a vida...viver dá trabalho...

Não, essa não é uma conversa para defender as atrocidades cometidas em nome das crenças e costumes, esse é um tema grave que não faz parte desse bate-papo. 
Esse texto é só uma forma de dizer que esses pequenos atos irritantes e que parecem sem sentido não são nada contra você, porque - quando estamos na fase de adaptação à uma nova cultura temos a tendência de achar que estão de sacanagem com a gente!  
A moça da padaria não queria me irritar, apesar dos noventa segundos! Era apenas a regra que, ali, valeria para todos...
Pense nisso com carinho!  
Carmem Galbes

Imagem: SXC

Texas e a vitória de Obama.

Olá, Coexpat!Moro em um estado tradicionalmente republicano, então o som da festa ecoou baixo por aqui.
Os texanos que conversei encararam a vitória do Obama assim:
“Well, votei para o McCain, mas tenho certeza que o Obama fará um grande governo...”
“Ok, minha família é mais conservadora, também votei para o McCain, mas no fundo do meu coração acreditava na vitória da diferença...”
“O Obama venceu, mas estou feliz...”
Sei lá, entendi tudo isso como inveja sufocada, aquela dor de cotovelo que dói na alma...
Não ouvi lamentações, reclamações, pragas...apenas poréns...
Nos olhares conservadores foi possível - sim - perceber um misto de “ué” com “vixe”. Sabe quando o sorriso não combina com a feição dos olhos?
Uma outra disse que é natural, faz parte do rodízio, oito anos republicanos, agora oito anos democratas...
Ouvi um outro argumentar que está mais aflito com o fato incomum de ter um congresso alinhado às idéias do novo presidente, o que - na visão dele - pode gerar um descontrole dos gastos sociais nesse governo...
Nossa, deu uma vontade de falar: libera, chora, tira as calças e pisa em cima, mas estamos em uma região de hábitos mais rígidos, de fala moderada, de pequenos goles, de espirro baixo, de cabelo preso...
A questão é que todo mundo sabe que o buraco é mais embaixo. Gastos? E os recursos?
Pelo menos por aqui, na maioria, a quarta foi de “então tá, deixa eu ir, porque as prestações continuam chegando e o emprego caindo...”
Para quem já viveu essa experiência de ver o avesso chegar lá, é interessante recordar esse clima de desconfiança, de suspiro esticado, de sobrancelha suspensa...Interessante...

Carmem Galbes

Abduzida por terráqueos.

Olá, Coexpat!
Que saudade!
De volta à rotina, mala vazia, muita bagagem, pouco tempo de sono, muitas histórias, cabelo com corte...
Minha ideia era não parar de conversar, mas o período no Brasil foi curto demais, intenso demais e o computador acabou tirando folga...
De volta à gringolândia, dou de cara com um vírus. O bicho esculhambou meu HP, o menino ficou arrasado, confundia comandos, não aceitava ordens, ficou rebelde mesmo. Esse é o outro motivo para tamanho silêncio, o computador pifou!
Mas chega de desculpas, o fato é que - apesar da experiência prévia - cheguei com a sensação de não passar de uma Coexpat novata, virgem mesmo...
Explico, cheguei em um novo clima - já está geladinho. O relógio deu ré - o horário de verão acabou por aqui. Tenho também novos professores e colegas e, daqui a pouco, vou ler sobre um outro presidente!
Jet lag? Não deu tempo. Quem me abduziu foi profissa...Me arrancou e me jogou de volta feito espirro, quase nem senti esse trânsito pelas Américas...
Engraçado...pensando aqui... a casa da gente é onde a gente quer que ela seja!
Mas acho ainda cedo para ter certeza do meu novo endereço. Sabe o que pareço? Aquele velhinho na praia, do tipo já-vivi-um-monte-de-coisa-mas-tenho-que-andar-com-crachá-para-ao-menos-conseguir voltar...
O que interessa é que hoje, ontem para alguns - já que estamos a quatro horas de distância - é dia de votar.
Não, não voto. Aqui sou café com leite. Mas nada impede de acompanhar de perto algumas baixarias, desorganização e palhaçada. Ai que delícia...e não é que tem coisa que é super igual aqui e lá?!

Carmem Galbes

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...