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Diário de mudança: o dia que os móveis vão embora...

Faz cinco  meses que meu endereço mudou, mas lembro como se fosse hoje!
A semana foi assim: entre caixas, janelas e portas escancaradas, armários vazios, lembranças embaladas, pessoas indo e vindo, barulho de fita adesiva sendo cortada, poeira, as vezes um goool escapando em uma comemoração contida - é copa, tv fica intacta até o final. 
Fui "vendo" os quartos ganhando eco...Oi...oi...oi...

Por um tempo essa casa foi minha. Era alugada, mas totalmente minha! 
Abrigou minha história e de minha família. Nossas conquistas, nossa alegria, nossos anseios...acolheu nossas angústias, nossos amigos, nossos parentes. Quanta visita boa que trazia um pouco dos lugares que deixamos pra trás... As paredes tinham ouvidos, braços, coração...que casa delícia, amada! Agora ela será de outros e que siga feliz em sua missão!

De todas as cenas que me encheram os olhos nos últimos instantes, essa foi a que mais aqueceu meu coração: a bicicleta embalada. Veio como uma mensagem dos anjos que ficam voando em volta da gente: a vida é um passeio de bike, ora com o Sol assando, ora com a chuva rasgando, ora com a brisa relaxando. 
E assim sigo para um novo endereço. Será o fim da vida nômade? Quem sabe? E que diferença faz saber, já que partindo ou ficando, a bicicleta está sempre comigo! 

Como foi a sua última mudança
Como quer que seja a próxima? 
Carmem Galbes

A Teoria das Necessidades e as necessidades da esposa expatriada.

Quais são as necessidades da "esposa expatriada"?
O que falta na vida de quem está em uma realidade de renda familiar alta e com acesso aos benefícios do pacote de expatriação?
Alguns poderiam responder: não falta nada! 
Então por que tanta insatisfação, tanta dor de quem está nesse papel?
Flertei com a Pirâmide de Maslow para tentar desvendar esse enigma.
Criada pelo psicólogo norte americano Abraham H. Maslow, na metade do século passado, essa teoria atribui uma hierarquia ao que a gente precisa. Pelo esquema, nós só subimos na pirâmide conforme satisfazemos as necessidades de cada nível. Então, não adianta nada querer falar sobre autoestima para uma pessoa que passa fome. Primeiro ela tem que comer bem, dormir bem, para poder pensar em deixar uma situação de violência, por exemplo.

Fitando a pirâmide, quase acredito que a "esposa expatriada" já poderia estar bem lá no alto na satisfação de suas necessidades.
Mas sabe o que eu acho mesmo? Que essa mulher que está longe de casa para apoiar o sucesso do profissional transferido simplesmente toca o terror nessa pirâmide e bota tudo abaixo!
Começando pela base:

  • Necessidades Fisiológicas: comer, matar a sede, dormir e fazer sexo.

* Essa mulher está comendo bem? Sim a família tem dinheiro para comida, mas ela aceita a culinária do lugar onde está vivendo. Seu organismo recebe bem os condimentos, os ingredientes ou isso tem arrebentado com o estômago e o fígado dela
* Essa mulher está dormindo bem? Ou seu cansaço por ter que lidar com a casa e a rotina sem a rede de apoio a que estava acostumada tem lhe roubado horas de descanso? Será que seu sentimento por ter deixado carreira, renda, posição social tem mexido com a qualidade do sono?
* Será que essa mulher tem tido relações sexuais na quantidade e qualidade que precisa? Será que o casal está bem ou a mudança de vida na rotina da mulher e do homem tem mexido com a disposição dos dois?


  • Necessidades de Segurança: Liberdade, ausência de guerras, proteção contra violência, qualidade do meio ambiente.

* Será que essa mulher está vivendo em um local em que se sente segura ou tem que sair de casa em
carro blindado, apenas para uma determinada região, em determinado horário porque pode ser roubada, sequestrada, estuprada
* Será que ela está em um local em que os atos terroristas estão comuns
* Será que ela tem que viver em um determinado endereço, fechada em um condomínio por estar em uma zona de conflito, de guerra
* Será que ela se sente livre ou não pode usar a roupa que quer, não pode dirigir, não pode falar como gostaria por ser mulher, pela tradição local não permitir? 
* Será que essa mulher está sempre insegura porque mudou-se para uma área onde os terremotos são comuns? Onde há furacões? Ou é uma usina nuclear que atormenta a sua vida?

  • Necessidades Sociais: família, amigos, grupos sociais, comunidade.

*Onde estão os pais, os irmãos, tios, primos, amigos dessa mulher? Estão longe? Como ela lida com essa distância
* Ela conseguiu estabelecer uma rede de amizades com pessoas que ela realmente se identifica
*Como é o dia dessa mulher? Com quem ela conversa? Ela tem interação real, cara a cara com alguém? Ela sai de casa
*Ela consegue entender o que falam e se fazer entender no idioma local
*Ela consegue ter um diálogo adulto
*Ela consegue traduzir os códigos culturais
*Ela tem vizinhos? Conversa com eles

  • Necessidade de Estima: aprovação da família, aprovação dos amigos, reconhecimento das comunidades.

* Como a família encara a mudança? Aprova ou a expatriação é motivo de briga, de manipulação emocional, de distanciamento das relações
* Será que as decisões que tomou em nome da mudança são reconhecidas e o papel dela na expatriação é valorizado pela própria família?
* Será que os amigos entendem a decisão dela de mudar a própria vida em nome do desenvolvimento de outra pessoa, ou ela é julgada por ter tomado essa decisão
* Será que ela desenvolve alguma atividade que ela mesma atribui valor e que é valorizada
* Será que essa mulher pode trabalhar ou seu visto não permite, o diploma não pode ser validado?

  • Necessidade de autorealização: educação, religião, passatempos, crescimentos pessoal.

Dependendo da situação dos outros níveis, como imaginar que uma mulher que tem suas necessidades não atendidas sistematicamente pode ter ânimo, ímpeto para buscar um crescimento pessoal, para ter fé em algo, para relaxar, se divertir e aproveitar para também se desenvolver com a expatriação?

Nossa, desenhando parece que fica tudo mais claro, né?
Não adianta exigir uma postura madura, de apoio ao processo de expatriação, quando necessidades tão básicas estão sendo sistematicamente negligenciadas.
Ok, Carmem, mas quem tem que olhar para isso?
Todos, todos os envolvidos em uma transferência e vou além, todos que são próximos da família transferida. 
É preciso identificar e entender os desafios de um processo de expatriação para que a família tenha chance de perceber como ela pode se preparar para eles. Isso é papel da própria família e de quem está trabalhando para transferí-la. 
É preciso que as pessoas próximas tenham um olhar atento para apoiar essa família e fortalecer a mulher. Pode ser pai, mãe, amigo, faxineira, professora do filho, profissional de Global Mobility, esposa expatriada do colega de trabalho expatriado...não importa, expatriação é para ser feita em rede!
Cônjuge apoiado, apóia!
Cônjuge olhado, olha!
Cônjuge reconhecido, reconhece!
Cônjuge abraçado, abraça!
Cônjuge feliz, família bem, expatriação também!

Carmem Galbes

De verdade, qual é a verdade que você acredita?


"E a verdade vos libertará."
E que verdade é essa que vai me libertar?
Fui pensando nisso enquanto pendurava a roupa, ainda de olho na unha do meu indicador, pintada ontem de vermelho - uma raridade - e que tinha acabado de ganhar uma lasquinha depois de esfregar a camiseta de futsal do meu moleque. Cadê as luvas de borracha?!
Era um olho na unha, outro no varal e outro no relógio. Três olhos? Quatro! Porque ainda estava de olho na tomada onde o bob quente estava plugado - conhece? Uma maravilha, deixa o cabelo pronto para qualquer evento!
E a verdade?
A verdade é que transitar sem se arrebentar entre expectativa x realidade exige muita maturidade, principalmente quando deixamos os nossos planos em segundo plano para apoiar o parceiro que foi transferido para outra cidade, outro país.
Decidimos sempre a partir da expectativa - que teremos uma nova vida mais tranquila, saudável, de descanso, sem stress... mas é na realidade, no dia a dia, que vivemos.
No dia a dia de fartura - sim,  de alegria - sim, mas também de falta de inspiração, de falta de paciência, de incidentes, de acidentes, de desencontros, de desânimo, de perda de referências e da própria identidade.
Talvez muitos projetos fiquem pela metade, talvez muitos sonhos nem saiam da fantasia porque nos pautamos pela expectativa de que o processo de realização pessoal é linear, num ascendente lindo, liso, em velocidade constante. 
Vivemos com a expectativa de - como num passe de mágica - dar conta de todos os papéis: mulher, mãe, esposa, filha, amiga, profissional. Mas na realidade somos uma só e esses papéis não se separam. 
Tomamos decisões sobre a carreira, por exemplo, a partir de uma expectativa com relação ao casamento ou a maternidade. Isso dá mesmo certo? Ou o caminho seria decidir a partir do que realmente somos, como realmente vivemos? O caminho seria decidir a partir do que a realidade vai nos mostrando?
Quantas vezes na prática a teoria é outra?
Por isso a importância da atenção constante com relação à nós mesmas, às nossas necessidades, aos nossos limites.
Ok, mas qual é a tal da verdade?
A verdade, a minha verdade, é que não há vida em vão, não há presença nesse mundo que não tenha um motivo de estar aqui. Minha verdade é que cada ser é único, é uma raridade e onde há raridade não há receita.
A verdade que me deixa livre é que o que cabe em você pode não servir em mim. O que te realiza pode não me satisfazer. E tudo bem! Posso seguir me amando e te amando!
Isso liberta porque faz com que eu volte o olhar para mim e deixe a sua grama em paz. Isso liberta porque me libera da necessidade de perseguir objetivos que não são desejados genuinamente por mim. 
E você, qual é a sua verdade?

Carmem Galbes

A expatriação, o cocô e a arte de ficar bem em qualquer lugar.

Olá, Coexpat!
Spoiler: palavrões no caminho, licença poética em nome da clareza da minha tese. Perdão às mais sensíveis, não é um recurso que goste, jamais havia usado em texto, mas senti ser necessário. Vamos lá!
Como se preparar para uma expatriação? 
Eu dei um google. 174.000 resultados. Resumindo: qualifique-se, viaje, estude inglês, aprenda o idioma do país para onde a família poderia ser transferida, matricule as crianças em escola internacional, faça cursos no exterior, seja adaptável, estude a cultura do país dos sonhos e mapeie as diferenças e por aí vai.
Isso é importante? Sem dúvida, mas não vai fazer a menor diferença se a pessoa não investir na conquista e manutenção da primeira característica de quem se propõe a "sair do ninho": a autonomia.
Eu poderia trazer a etimologia da palavra, apontar o significado no dicionário, destrinchá-la pelo olhar da filosofia, da psicologia ou da mecânica. Não vou te aborrecer com isso. Mas vou, sim, recorrer à linguagem dos youtubers  - que as crianças amam e os pais desdenham - para simplificar o discurso e, assim,  não deixar dúvidas sobre o que quero dizer.
Autonomia = a capacidade de limpar a própria bunda!
Ok, sei que você estranhou, até eu estranhei em "falar" assim, calma...essa frase chula é pra lá de didática!
Quando a criança aprende a limpar o bumbum, um mundo se abre. Um grande e importantíssimo passo é dado rumo à autonomia. O cocô deixa de ser um evento público. Agora é totalmente privado. A criança não precisa mais avisar que vai ao banheiro, não precisa mais gritar que já acabou. Já não tem mais seu produto inspecionado, comentado, criticado. Também não precisa mais prestar contas sobre já ter feito ou não o número dois naquele dia. Ela sente vontade, vai, faz, se limpa e dá a descarga. Tudo porque ela aprendeu a lidar com a própria higiene! E assim  -  no mundo ideal - ela segue agindo a partir de suas necessidades e cuidando dela mesma: passa a comer sozinha, a arrumar a própria bagunça, a tomar banho sem ajuda, a fazer o próprio prato, a arrumar a própria cama, a limpar o próprio quarto...e vai crescendo...e aprende a cozinhar o que quer comer, a cuidar da própria roupa, a cuidar da própria saúde, a reconhecer os próprios objetivos, os próprios limites, aprende a buscar o próprio sustento...e vai crescendo...
Aí, quando surge uma oportunidade de mudança - não importa se através da carreira de outra pessoa - ela vai e se adapta!
Sabe por que? Porque ela sabe se limpar sozinha. 
Ela sabe que pode dar a maior merda do mundo, que ela vai saber lidar com isso. 
Se ainda não sabe falar o idioma, ela vai se virar com algum app de tradução. Se não conhece ninguém, ela vai se meter em um grupo de rede social até acessar a própria tribo. Se o local não tem transporte público, ela vai dirigir um carro, uma bike, vai a pé, de Uber...Se ela não tem empregada doméstica, ela vai pesquisar um jeito de simplificar a rotina e fazer a casa funcionar a favor dela, porque ela não passou a ser dona de casa com a expatriação do marido, ela sempre foi a dona da casa e domina todos os seus processos. Se não tem mais o próprio salário, ela não vai se sentir diminuida, porque a família esclareceu como vai lidar com as finanças, além disso, ela sabe quanto a família ganha, quanto gasta, o preço e o valor das coisas. Se deixou o modo de vida que ela amava, ela vai buscar outro tão apaixonante quanto. Se está com tempo de sobra, ela vai estudar, aprender algo, vai se reinventar. Porque ela é autônoma, ela é senhora dos próprios desejos, necessidades e valores, ela tem a capacidade de identificar o que fazer e energia para aprender como fazer. 
A gente sabe que as cagadas da vida são diferentes, né?
Nem sempre a gente sabe lidar com elas logo de cara, mas se a gente aprendeu o básico, vai tentando. Pode ser que, no começo, a coisa não fique assim tão limpinha, mas com o tempo, a gente pega o jeito e tudo volta ao normal.
Juro que não pensava avançar tanto na escatologia assim, mas, às vezes, sinto que só exemplos mais concretos, mais palpáveis, mais fedidos para provocar a ação.
Acha que é tarde demais para aprender a lidar com você mesma nessa expatriação? Nunca é tarde pra nada! 
Carmem Galbes

Imagem: Projetado pelo Freepik

Esposa expatriada, não embarque nessa viagem sem um norte, sem um objetivo!


Qual a diferença entre sonho e objetivo? 
No meu dicionário é isso: sonho a gente fantasia, objetivo a gente realiza. 
E todo sonho pode virar objetivo? Se você quer mesmo, de verdade, com certeza absolutamente todos!
Como?
Faço o seguinte exercício: 

  • Visualizo o objetivo conquistado. Exemplo: Eu participando de um workshop em Dubai.
  • Mentalmente volto no tempo e anoto todas as ações que me levaram a conquistar o meu objetivo. Exemplo: Estou em Dubai, no Workshop. O que eu fiz imediatamente antes? Cheguei no aeroporto. O que eu fiz imediatamente antes? Viajei. O que eu fiz imediatamente antes? Organizei minha bagagem e a rotina para a família ficar sem mim. Como é essa rotina? Combinei com meus pais de ficarem com meu filho. Meu marido combinou de sair mais cedo do trabalho nessa semana para pegá-lo na escola. Combinei com a faxineira de ela vir todos os dias da semana que eu vou ficar fora. O que fiz antes disso? Comprei o pacote de viagem. Como paguei? Fiz o seguinte planejamento financeiro...e assim por diante. Faça as perguntas até você chegar no agora.
  • Com tudo anotado, essas "ações mentais" viram metas e com prazo estipulado por você. Exemplo:   19/06 - Planejar, junto com a família, a minha viagem e as decisões necessárias, anotar. 20/06 - fazer planejamento financeiro para viagem. 21/06 - Fazer pré-incrição no workshop. 22/06 - Reservar as passagens...e assim por diante.
Então o que você tem que fazer a partir de agora? Realizar o passo a passo que você anotou pra chegar no ponto em que você quer.
No coaching,  esse "caminho" é chamado de roadmap, a rota que vai te levar do sonho ao objetivo.
Toda esposa de um profissional transferido deveria ter, pelo menos, um documento desses em mãos! É que ter um planejamento assim de um objetivo te mantém focada também em você! Te ajuda a mostrar que você existe e que merece ter uma realização pessoal, só sua, apesar de a mudança ter sido provocada pelo sucesso de outra pessoa. 
Agora já sabemos como transformar sonho em objetivo. E objetivo pode virar sonho e ficar real só na nossa imaginação? Também, claro! Basta você não se organizar, não se comprometer com as metas, acreditar piamente que as conqusitas são uma questão de sorte, são coisas para "os outros" e que você não "merece" o que deseja. Mas aí a gente já está entrando na seara das crenças que limitam e da autossabotagem, papo pra outra hora...
E você, tem sonhado alto? Sonhado muito? Tem conseguido transformar seus sonhos em objetivos?Tem conquistado o que deseja? Perdeu o foco do que você quer ao decidir apoiar a carreira do seu marido em outro lugar? Não sabe como voltar a olhar para você mesma? Vamos conversar, o coaching é um processo super poderoso para te ajudar nesse resgate. 
 
Carmem Galbes

Mais um pouco sobre o tempo de quem é expatriado...

Olá, Coexpat!Ainda no esquema de usar o meu tempo pesquisando o que melhor fazer com ele, encontrei uma sugestão interessante para quem tem se sentindo perseguido por essa coisa que dizem não passar de um conceito.
No blog Mais Tempo, no post de hoje, o consultor especializado em administração do tempo - Christian Barbosa - abre uma clareira. Ele sugere uma trilha para quem está tentando dar a largada para horas mais bem aproveitadas e para você não ser pego de surpresa se a sua agenda virar de ponta cabeça.
Entre as provocações estão:
- Você está realizando atividades que vão fazer você se destacar em sua área de atuação profissional?
- Você está investindo algum tempo no desenvolvimento de um Plano B, para o caso de mudanças bruscas na sua rotina profissional ou pessoal?
- Você está conseguindo tempo para você mesmo equilibrar sua vida pessoal, seus relacionamentos importantes e sua saúde?
- Você sente que sua vida está evoluindo na direção de seus objetivos ou apenas agindo frenéticamente para resolver as urgências diárias?
Então, se está podendo, aproveite para pensar no assunto. 

E, por favor, espalhe se conseguir respostas simples.
Carmem Galbes

Imagem: SXC

Entre o que se fala e o que se entende.

Olá, Coexpat!
Não é novidade dizer que a fala - seja lá como for - está entre os recursos que fazem a separação entre o que é gente e o que é bicho. Indo um pouquinho além, também é possível dizer que ela é resultado de um trabalho complexo do corpo e que faz a ponte entre o sentir, o pensar e o agir.
Fora isso, na prática, a fala é o que permite a gente costurar e romper o tecido social. Sim, porque ô troço pra embaraçar, embaralhar, embasbacar como a fala!
Explico. Com o tempo a gente aprende que cada um dos zilhões de variações fonéticas da letra a, por exemplo, quer dizer uma coisa. Pode ser um “a” de susto, de tristeza, de lembrança - tipo: “a, não esquece de...” Pode ser ainda um” ã?”, sem contar no “aaaaaa, eu sabia!”
Essa denotação passeia sem cerimônia pelos diálogos vida afora. A gente vai aprendendo pouco a pouco. Aí, de repente, você tem que acessar um outro idioma. Você sabe as regras gramaticais, tem um bom vocabulário, mas se perde no sentido...
É que tem coisa que parece, mas não é.
No meu caso, tenho dificuldade com dois termos pelas bandas de cá.
Exemplo: a gente aprende logo nas primeiras lições as respostas básicas para um “thank you”. Numa versão seriam: You’re welcome - de nada, my pleasure - um prazer ou não por isso, that’s ok - tudo bem.
Mais aqui descubro que a resposta mais comum é: ahã. Sim, aquele sim rápido para perguntas simples da vida, sabe? “Você quer água? ahã.” Aqui, esse ahã é o mesmo que “de nada, um prazer!” Confesso que soa muito mal pra mim, é como se a alma do outro lado se importasse tanto com o meu agradecimento, mas tanto, que ela usa todo o seu potencial e simpatia para responder: ahã.
Descobri que isso é uma cisma de muitos brasileiros. Mas é também um jeito normal e educado de responder ao cumprimento por aqui.
O problema é que ouvido vai acostumando. Tem brasileiro que quer morrer depois que solta o primeiro ahã com o significado de “de nada”.
Outra situação de lascar. Você, feliz da vida, conta que vai passar um fim de semana em um local show. O sujeito vira e, em meio a um sorriso, lança um: “good for you.” Isso mesmo, bom pra você!
Bom pra mim?! Claro que é, mas isso não é coisa que se diga. Pior que aqui é! No inglês dessa região é um comentário sadio. Tudo bem que não é um bom pra você seco. Seria um boooooooom pra voeeeeê ou good for yyyyyyyooooouuuu!
Então tá,vou ficando por aqui. Good for meeeeeee! Ou seria good for you?
Imagem: SXC
Carmem Galbes

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...