Mostrando postagens com marcador choque cultural. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador choque cultural. Mostrar todas as postagens

Expatriação e experiência de quase morte.

Olá, Coexpat!
Experiência de Quase Morte.
Você já teve uma EQM?
Eu já!
Foi há uns 10 anos...
Apesar de o voo ter sido tranquilo, sem nenhum incidente, alguns dias depois do pouso eu entrei em choque. Não estava preparada para a paulada que é mudar tanto uma vida em nome do desenvolvimento da carreira de outra pessoa!

De repente eu me vi sem chão, flutuando...às vezes me sentia bem, às vezes confusa. Às vezes ia em direção ao túnel de luz, às vezes me sentia puxada para um lodo, onde só havia desespero. Não sei ao certo quanto tempo essa experiência durou...
Foi uma EQM diferente. Não teve coma - aliás eu estava vivendo, cumprindo a rotina diária - não teve gente revezando ao lado de um leito de hospital, porque não teve hospital. Eu sentia que meu pai e minha mãe seguravam minha mão e rezavam - pai e mãe sempre rezam pra filho, com ou sem EQM. Mas, no geral, foi uma EQM solitária. Só eu sabia que estava vivendo uma EQM - quer dizer, descobri isso depois que renasci.

Eu voltei como uma criança. Tive que aprender a andar de novo com as minhas próprias pernas, a me comunicar, a comer a comida local, a me vestir para o clima e costumes locais, a me posicionar, a encontrar novos interesses e novas paixões.
Interessante que essa EQM ocorreu após nossa mudança de São Paulo para o Rio de Janeiro.
Alguém poderia dizer: "quanto drama! Isso porque você não mudou de país, de idioma, não ficou longe de verdade de gente querida..."
Olha, eu digo que eu até mudei de país depois dessa EQM...e de idioma...e fiquei longe. Mas minha EQM aconteceu - por total falta de informação adequada de todos os envolvidos - em uma simples mudança dentro do país, num eixo em que as pessoas dizem ser igual, mas tem diferenças profundas de um polo ao outro.
No meu caso, acredito que a EQM tenha sido provocada por um choque de identidade. Eu tive quer mudar muitas coisas na minha vida ao mesmo tempo: de endereço, de casa própria para alugada, de jeito de lidar com a rotina, com as pessoas, perdi minha rede de apoio e de contato.. Fiquei desempregada, mudei de função para me recolocar. Odiei essa nova atividade.
Se foi difícil?
Até hoje eu penso como consegui sair dessa de forma saudável...
Acho que a expatriação para os Estados Unidos um ano depois da chegada ao Rio me ajudou muito. Encarei - no começo - como uma forma de fugir daquela dor. Mas antes de embarcar, me agarrei à uma estratégia para não sentir em Houston o que eu havia sentido no Rio. Funcionou!
Apesar da dor, minha EQM resultou em uma expansão da consciência! Não sei se voltei uma pessoa melhor, mas voltei diferente, munida de outras perspectivas. Eu gosto mais de mim depois da minha EQM!
Se é de metáfora que você precisa para entender o que pode estar acontecendo com você nessa mudança de endereço para apoiar a carreira de outra pessoa, escrevi esse texto pra você!
E você já viveu - direta ou indiretamente - uma EQM causada por uma expatriação? Como foi?

Carmem Galbes

Expatriação e a criação da realidade que você quer!

Olá, Coexpat!

Você cria a sua realidade!
Muita gente acredita que isso é balela, que é papo de autoajuda...
É não!
Exemplo?
Até ontem essa flor simplesmente não existia para mim. Não existia porque eu nunca tinha prestado atenção de fato em uma orquídea sapatinho.
Bastou que eu parasse, olhasse com mais cuidado para cada detalhe da planta para que ela passasse a compor a minha realidade. 
Simples assim: em um momento não existia, em outro já era fundo de tela do meu celular...
Acontece com flor, com uma gordurinha no corpo, com um olhar de alguém, com uma palavra, com uma situação, com uma emoção, com um pensamento: nós decidimos o que fará parte da nossa realidade, o que vai ganhar a nossa atenção, com qual intensidade. 
A realidade é como um som, se será melodia ou barulho depende das nossas escolhas.
Eu poderia ter deixado a orquídea pra lá e ter focado em outros aspectos do jardim: talvez numa erva daninha, numa praga...preferi a flor. Preferi porque estava atenta, pronta para direcionar a minha energia para o que traz beleza e alegria para o meu dia. 
Você não está feliz com a sua expatriação?
Não está se sentindo bem no lugar em que está vivendo?
Não está curtindo as pessoas com as quais está se relacionando?
Está odiando a sua rotina no novo endereço?
Para onde exatamente você está olhando? 
Para quais aspectos você está direcionando a sua atenção?
Se voltar para a sua antiga vida, antiga cidade não é uma opção, como você poderia melhorar seus sentimentos a partir da realidade em que você está?
O que te faria bem?
Será que isso já não estaria à sua disposição, só está a espera de que seja olhado?
Você cria a sua realidade! Isso é fato! A questão é: você está gostando da sua criação?

Carmem Galbes

A importância da proteção para cônjuge de um profissional expatriado.

Olá, Coexpat!
Você já fez o seu hedge?
Hé o que?!
Calma...eu explico...
Vamos do começo:
Quem gosta de correr risco, de ter prejuízo?
Ninguém!
Por isso tem tanta gente que trabalha exatamente para identificar e reduzir o risco de perdas.
Tem gente especialista em botar preço no risco.
Tem gente especialista em criar produto para reduzir o risco.
Quando uma empresa vai fazer um grande negócio tem um povo que atua só para atenuar o risco desse negócio.
Exemplo: uma empresa encomenda um equipamento no exterior a ser pago metade no ato e metade na entrega do equipamento. Ela faz uma projeção do preço, mas não pode ou não quer correr o risco de pagar por um dólar muito acima do que ela previa. Então ela vai no mercado financeiro - no "setor" chamado de mercado futuro e faz um hedge (proteção): ela determina em contrato que em uma data X ela tem o direito de comprar um dólar na cotação Y, independente da cotação que esteja naquele momento.
Como?
Eu poderia discorrer sobre o sagaz trabalho de quem ganha na especulação, nas apostas de alta ou queda do dólar, mas vou poupar vocês dessa onda de economês que me atacou nos últimos dias...😂🤪
Quer ver um outro exemplo de hedge só que mais presente no nosso dia a dia: quando você vai viajar para o exterior e compra a moeda local em vez de deixar para pagar suas despesas no cartão, você está se protegendo contra uma alta, está fixando o preço da moeda ao compra-la antes da viagem.
Bom...
Meu objetivo aqui é só mostrar que existem recursos concretos para reduzir o risco. E é aí que eu quero chegar: como trazer esse conceito de hedge - ou de proteção contra perdas - para o universo das Coexpats?
O que uma coexpat pode fazer para se proteger contra os riscos de perda ao apoiar a carreira do amado em outra cidade, outro país?
Vou usar o meu caso:
Na minha primeira coexpatriação - que foi de São Paulo para o Rio - eu não fiz hedge nenhum e quase me estrepei, quase me afundei de verde amarelo - seja lá o que isso quer dizer...😂
Já na segunda coexpatriação - do Rio para os Estados Unidos - eu me agarrei ao meu blog. Na época, ferramenta ainda desconhecida para a maioria - inclusive para mim - ele me salvou da invisibilidade social e me ajudou a dar palavra ao que eu sentia naquele processo.
Na coexpatriação de Houston para o Rio eu protegi a minha saúde física e emocional me entregando de corpo e alma à maternidade.
Na minha coexpatriação do Rio para Recife fiz meu hedge contra perdas me desvendando espiritualmente.
Na coexpatriação do Recife para o Rio meu hedge está na descoberta das minhas facetas profissionais.
E você tem um hedge? Qual é? Contra quais danos ele tem te protegido?

Carmem Galbes

Expatriação ou expatraição?

Olá, Coexpat!
É uma coisa muito engraçada. 
Toda vez que escrevo a palavra expatriação, meus dedos se perdem no teclado e acaba saindo expaTRAIÇÃO.
Ato falho?
Ai...santo Freud!
Mas é de se pensar...
Estamos em um processo de expatrIAção ou expatrAIção?
A resposta é pessoal e intransferível.
Sabe o que pode ser mais libertador - ou dolorido - dependendo do ponto de vista?
Só depende da gente posicionar essas letrinhas!
O que você tem feito para não se trair nesse processo de apoiar a carreira do seu parceiro em outra cidade, outro país?
Carmem Galbes

Fragmentos da rotina do cônjuge expatriado...

Olá, Coexpat!
O clima mudou, o cabeleireiro ficou no Brasil: cabelo sem corte, mal tratado... Depilação - antes sempre em dia - agora sempre por fazer... Manicure acessível é "privilégio" de brasileiras: vergonha das mãos, com unhas lascadas e cutículas gritando... E tem as atividades da casa que frustram... E a energia vai baixando... E tem a carreira pausada... Qual será o motivo de tanto desânimo e cansaço? Não sei...o exame de sangue está impedido pelo medo de abrir a boca em outro idioma... E tem o jeito mais distante do pessoal da escola das crianças... E tem a ausência do cafezinho com os colegas, do bate-papo tête à tête com as amigas, do futebol com os amigos, da sopa na casa da mãe, da ajuda da "secretária do lar"... E tem o marido tão ausente, a esposa tão distante com as novas funções na empresa... Frescura? Imaturidade? Despreparo? Dê o nome que quiser. Fato é que tudo isso aí de cima pode arrebentar com uma expatriação tão cara para a empresa. O que fazer, então? Trabalhar com a perspectiva de que a expatriação é um processo em família, portanto todos os envolvidos são profundamente afetados pela mudança, já é um bom começo.
Valorizar o papel de todos os envolvidos é um tremendo passo.
Incluir no processo todos os envolvidos é estratégico.
Reconhecer o esforço e entender as dores de quem está "longe de casa" é humano.

Carmem Galbes

Mudança de endereço e o cuidado com os novos vizinhos.

Olá, Coexpat!
Como você quer que seja a sua vizinhança nessa nova cidade, nessa expatriação?
Que tenha escola que atenda seus valores, segurança, mercado, lazer...?
Nisso os profissionais de relocation são craques em localizar!
Como você quer que os seus vizinhos sejam?
Educados, amáveis, gentis, solícitos?
Isso depende de como você chega ao novo endereço.
Mudança é um caos: atrapalha o fluxo do trânsito, dos elevadores, emperra os corredores, rompe com a paz...
Então apresentar-se antes da chegada do caminhão, desculpar-se e colocar-se a disposição para incomodar o mínimo possível mostra mais que educação e preparo intercultural. Mostra que você se importa com o outro e isso vale ouro!
Meus pais me ensinaram também  a levar comigo lembrancinhas do Brasil para presentear, incrível como isso abre sorrisos, portas e corações.
Como chegar aos vizinhos? Pode ser acessando o síndico, a administradora, pode ser batendo na porta, por bilhete na caixa de correios, embaixo da porta. É preciso estudar a cultura local. Mas a ideia básica é preparar a vizinhança para o incômodo que você vai causar. Isso é uma boa semente para o início de uma relação, no mínimo, respeitosa.
Mudar de endereço é mais que ir de um local para o outro, é fincar a sua bandeira - da forma mais positiva possível - em um novo território!
Carmem Galbes

Expatriação e sinônimos, quando só uma hashtag explica!

Olá, Coexpat!
Expatriação! 
Toda vez que esse conjunto de letras e sons vibra na minha mente, um monte de palavras-chaves pipoca nos meus olhos e ouvidos.
Acho palavras-chaves incríveis, elas abrangem e resumem ao mesmo tempo. Explicam e abrem possibilidades.
Ótimo, porque expatriação é mais do que sair do nosso local de origem, é mais do que cruzar uma fronteira. Expatriação é mais do que ser transferido pela empresa para um outro país, é mais do que receber um pacote de benefícios, mais do que apoiar a carreira de outra pessoa em outro lugar. 
Expatriação é sobre:

  • Mudar.
  • Aprender.
  • Permitir.
  • Experimentar.
  • Ousar.
  • Avançar.
  • Virar.
  • Desafiar.
  • Empreender.
  • Assumir.
  • Abraçar.
  • Romper.
  • Gerar.
  • Construir.
  • Demolir.
  • Apoiar.
  • Fazer.
  • Lançar.
  • Inventar.
  • Reinventar.
  • Questionar.
  • Responder.
  • Renascer.
  • Amar.
  • Evoluir.
Sinuoso assim...sem ordem assim...sem lógica assim...
E tem muitas outras palavras-chaves que agregam significado à expatriação. Tudo depende do repertório e da disposição de cada expatriada, de cada expatriado ao viver essa experirência.
Que sua vida em outra cidade, outro país, longe do conhecido seja pautada por muitas e muitas hashtags!
Carmem Galbes

Expatriação e a arte de aceitar o presente como um presente!

Olá, Coexpat!
É um passo que se dá.
É apenas uma decisão.
Uma única escolha e toda uma história pode mudar.
Outro dia assisti a um filme, sou péssima para indicar porque sempre me esqueço dos nomes...enfim - o enredo era mais ou menos assim: uma criança morre...muitos anos depois uma família - pai, mãe e filha - vai morar na casa que essa criança vivia. A mãe - de alguma forma - consegue viajar no tempo e contactar essa criança em vida. Ela consegue evitar a morte do garoto, mas isso muda toda a história da vida dela e de outras pessoas. Ela age certa de que fazia um bem. Mas nessa mudança ela perde seu maior tesouro: a própria filha. 
A história se desenvolve e tem um final feliz. 
Dei o spoiler para não perder a sua atenção com o fim do filme. 
O que quero mesmo é jogar luz sobre o que chamo de comparação cruel, uma postura muito comum entre parceiras e parceiros de profissionais transferidos: "a...se eu tivesse feito outra escolha...a...se eu não tivesse topado apoiar a carreira de outra pessoa...a...se eu não tivesse deixado o Brasil, a minha cidade, o meu emprego...a minha vida seria beeeem melhor do que é."
Seria mesmo?
Dois pontos:
Chegou o convite para a expatriação, sua vida mudará para sempre, aceitando ou não a proposta. Vez ou outra você - ou seu parceiro ou sua parceira -  irá fazer o exercício do "e se..." e isso pode ser bem angustiante, além de ter alta capacidade para ferir e provocar ressentimentos.
Sobre a comparação com o passado: o que a sua vida era é realmente o que era ou passou a ser uma criação bem florida da sua imaginação a partir da dor e do desconforto que você sente hoje?
Estudos mostram que memória não é memória de fato, mas uma versão, uma interpretação do passado a partir das emoções que sentimos ontem e hoje.
Essa abordagem que faço, essa provocação é mais para propor uma reflexão sobre as expectativas que você cria com relação ao novo endereço, à nova vida a partir de um passado que pode não ter sido assim tão maravilhoso como hoje você pinta.
Não estou duvidando da sua história, não é isso.
Também não tenho a loucura de acreditar que o passado não nos influencia, nem proponho que você tenha que amar logo de cara essa nova vida longe de tudo o que é conhecido.
Só penso que deixar o passado um pouco em seu devido lugar, reduz comparações, expectativas, cobranças e abre  espaço para as experiências do agora.
Taí um exercício bem legal: como seria sua vida hoje se você deixasse de viver no passado e se mudasse de vez para o presente?

Carmem Galbes

Expatriação: controle x direção.

Olá, Coexpat!
Tá tudo sob controle!
Vou perder tantos quilos em x meses.
Vou começar o curso tal.
Já estou fazendo a poupança para viajar para aquele lugar da moda!
Até o segundo semestre financio uma casa e um carro.
Já sei onde estarei daqui a cinco anos!
Sério?!
Está tudo dominado?
Tudo controlado?
Por quem?
Por você? Sério mesmo?!
Até que ponto os seus desejos são seus desejos mesmos ou só estão atendendo a uma demanda do seu entorno, do seu mundo?
Eu tenho que!
Eu tenho que gostar logo do meu novo endereço. Eu tenho que fazer amigos logo! Eu tenho que fazer logo uma coisa que pareça útil aos olhos dos outros. Eu tenho que ficar sorridente logo! Eu tenho que achar tudo lindo logo! Essa coleção de tenhos causa uma dor danada, paralisa e mina um dos processos mais mágicos de uma mudança de endereço: o processo de se reinventar!
Desligue o controle e assuma a direção!
Por menos cobrança e mais experimentação em uma mudança de cidade, de país, de ares!

Carmem Galbes

Repatriando...

Olá, Coexpat!Algumas ponderações sobre repatriação e minhas constatações nas mudanças que já fiz dentro do Brasil:
Que carioca não fica de bochecha para o ar ao cumprimentar a paulista acostumada a um beijo no rosto em vez de dois? 

E que paulista não fica sem graça com essa situação? 
Dizem que em alguns lugares do Paraná o oi é com três beijinhos.
E o vocabulário? Saber que bergamota é mixirica no Rio Grande do Sul e que macaxeira é mandioca no nordeste facilita a alimentação.
Agora pedir um pãozinho pode exigir um alto grau de envolvimento com a rica cultura brasileira.
Peça o francês em São Paulo, o cacetinho no Rio Grande do Sul e na Bahia. No Ceará esse pão é o carioquinha. Em Belo Horizonte é pão de sal, e por aí vai...
Mas isso se resolve com o tempo. O que vai ser difícil de empurrar goela abaixo é o tal do jeitinho...essa coisa de querer fazer a lei valer para um lado só.
Um exemplo bem bobo que escutei de enxerida um dia desses. O dono de um imóvel dizia que punha no contrato de aluguel multa de 20% por atraso no pagamento. Ele sabia que a lei permite até 10%. Mas se o contratante reclamava da taxa ele logo dispensava o possível inquilino, porque isso já era um bom sinal de que o sujeito iria atrasar o pagamento.
Incrível! A lei diz X mas faz-se Y para testar a conduta alheia!
Voltar a viver em um ambiente em que fazer valer a lei é sinal de calote e de trapaça assusta um pouco...
O jeito é seguir nesse processo de repatriação, tentando resgatar o que já é irresgatável: a tal da sensação de pertencimento a algum lugar, se é que isso - em sã consciência - seja realmente possível
...
Como já disse: até segunda ordem, a gente se fala amanhã.


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Voltando? Será mesmo?

Olá, Coexpat!
Fitando a parede, depois de um dia de tagarelice em diferentes sotaques, em meio às últimas providências de amigas que se preparam para embarcar rumo ao país de origem, uma palavra sequestrou meus miolos: voltar.
Todo mundo sabe o que voltar quer dizer, mesmo assim fui dar uma espiada no dicionário.
Há no mínimo 30 significados para esse verbo que pode ser transitivo, intransitivo, direto ou não, né - como diria um baiano.
O sentido mais usado faz referência ao passado. Usamos voltar quando queremos retornar a ou de algum lugar ou retornar para um estado anterior. Voltar tem ainda o sentido de manifestar-se de novo, de repetição e de reprodução. “Volta-me a saudade ao coração. É o passado que volta”, exemplifica o dicionário Michaelis.
Mas sempre tive um pouco de dificuldade com o sentido dessa palavra. É que, no fundo, penso que não existe volta, só ida. Na estrada da foto, por exemplo, o voltar é diferente da ida, as curvas à direita na ida estão à esquerda na volta. Então, considerando a definição do dicionário, nessa estrada a gente só consegue ir para um lado ou para o outro, não conseguimos ir e voltar! Assim vejo a vida, um ir constante, porque tudo muda, todos mudam. Ok, isso é coisa que Heráclito disse faz tempo, “não nos banhamos duas vezes no mesmo rio.”
Seguindo na leitura do dicionário, atentei que voltar tem sim esse sentido com mais lógica para mim, o voltar carregado de bagagem.
Beleza! Sigo indo, então, deixando um pouco do que juntei sobre voltar, no sentido “expatriático” da coisa: dirigir para outro lado, virar, volver: voltar a cabeça, voltar os olhos. Mudar de posição por um movimento em linha curva. Apresentar-se de frente. Agitar-se, mover-se, revolver-se, expondo ora um lado ora outro. Retroceder para atacar. Acometer, investir: voltar-se a, contra, sobre alguém. Mostrar-se contrário. Pôr do avesso. Remexer. Aplicar, dirigir, encaminhar: “voltou todo o interesse para os seus negócios.” Apelar, dirigir-se, recorrer: "voltou-se então para Deus o meu espírito" (Gonçalves Dias). Devolver, restituir, dar em troco. Dizer em resposta, retrucar: “a tantas perguntas nem uma só palavra lhe voltou.” Converter, mudar, transformar: “voltar em positiva uma emoção negativa”. Indenizar ou recompensar: “que prêmio lhe voltaram por sua abnegação?”


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Leve Entrevista. Expatriação e administração do tempo de sobra.

Olá, Coexpat!
Dizem que o tempo começou a ser medido há 5 mil anos. Antes disso, o homem não tinha muito mais que a claridade e a escuridão para saber quando caçar e quando se recolher. O relógio que conhecemos hoje é uma invenção recente, dos anos 20 do século passado. Até a criação do mecanismo tic-tac, muita criatividade rondou o relógio, que já funcionou a base do Sol, fogo, azeite, água e areia.
Esse negócio de minutos, horas, dias, enfim...me deixa um pouco atordoada. Meu foco, apesar da vida em um mundo que parece girar cada vez mais rápido, tem sido o que fazer quando descobrimos que - sim! - estamos com tempo livre. Acostumados com a correria, temos respostas na ponta da língua. Mas também podemos ficar embananados quando conquistamos uma agenda generosa em espaço a ser preenchido.
Na tentativa de ter algo prático sobre o tema, conversei com o consultor Christian Barbosa. Ele defende que a agenda livre também precisa de organização.
Como tempo é coisa rara, ele falou rapidamente sobre o assunto.
Em tempo, parto hoje de férias. Voltamos a conversar depois do dia 23. Até lá!


Leve - Tempo de sobra, hoje em dia, é sintoma de que algo está errado?
CB - Tempo de sobra é o desejo de qualquer pessoa estressada nesse mundo sem tempo!! O problema não é a sobra, é a falta de um uso que leve na direção dos seus maiores sonhos e objetivos.

Leve - Da mesma maneira que existem metodologias para administrar um dia cheio, há esquemas para lidar com tempo de sobra?
CB - O princípio é o mesmo seja para tempo cheio ou sobra dele, pois o conceito é usar seu tempo com sabedoria, seja ele abundante ou não. Viver o tempo com sabedoria significa evoluir na direção de seus objetivos e principais sonhos. Quando você tem tempo de sobra precisa definir uma meta e trabalhar o tempo vago para dar passos na direção da sua realização.

Leve - Mas como usar o tempo com sabedoria em um mundo em que, dificilmente, temos autonomia sobre os rumos da nossa agenda?
CB - Temos que controlar nossa vida ou alguém fará isso por nós. Ter autonomia significa planejar sua agenda com base no que é importante e deixar um tempo para os imprevistos que possam surgir. A dica é reservar uns 20 minutos do fim de semana para planejar toda a semana, colocando no papel os compromissos com papéis, projetos e metas. Algumas dicas para focar seu tempo na direção certa:

1 - Escolha uma ferramenta - digital ou física - que faça com que você tire as pendências e tarefas da cabeça e centralizem em um lugar confiável.

2 - Estabeleça objetivos - se você quer ter mais tempo na sua vida é importante saber o que você gostaria de alcançar.

3 - Reserve 15 minutos na semana para planejar os próximos 7 dias. Antecipe eventuais problemas que possam surgir, veja se pode antecipar algo para suas reuniões e crie atividades importantes para seu equilíbrio pessoal.

4 - Organize seu local de trabalho, sua papelada, suas revistas e seus armários. Estima-se que uma pessoa gasta 40 minutos por dia localizando informações... e isso é muito tempo perdido.

Carmem Galbes

Xenofobia.

Olá, Coexpat!
Se tem uma coisa que a gente aprende desde pequenininho é respeitar a casa dos outros. E somos aconselhados a levar essa lição por toda vida, porque dizem que assim será mais fácil de sermos respeitados.
Mas não há garantia de nada. Por mais que você tenha cumprido toda a burocracia, tenha todos os vistos e documentos, tenha intimidade com o idioma e batalhe para adequar-se à cultura local, você não está livre de ser vítima da aversão ao estrangeiro, a xenofobia.
Segundo matéria do Estado de São Paulo, a advogada brasileira Paula Oliveira, de 26 anos, que trabalha para o grupo Moeller/Maersk na Suiça, foi atacada por um bando de sei lá o que (me recuso a dizer um bando de gente ou de bicho), ontem à noite, quando voltava do trabalho.
O Itamaraty disse à reportagem do Estadão que Paula estava no terceiro mês de gravidez e que os gêmeos não resistiram aos 15 minutos de agressão que a mãe sofreu. Nada material foi roubado.
Para a cônsul-geral do Brasil em Zurique, Vitória Clever, Paula foi atacada porque era estrangeira.
Coincidência ou não, o ataque ocorreu no dia seguinte ao referendo em que a maioria dos suíços disse sim à entrada de trabalhadores búlgaros e romenos no país. Além disso, Paula teve todo o corpo marcado com as iniciais SVP, mesma sigla de um partido político que quer limitar a nacionalização de estrangeiros e quer dificultar a entrada de trabalhadores imigrantes na Suíça.
Já ouvi a tese de que o ódio ao estrangeiro é a tentativa de marcar a própria identidade em um mundo globalizado. A justificativa atual para episódios de barbárie como o de ontem é de que a crise econômica tem feito o povo pensar duas vezes antes de abrir os braços para quem ameaça roubar a renda. Mas o avanço da intolerância a quem vem de fora não é um debate de agora.
Claro que o atentado ao corpo e a alma dessa mulher pode intimidar quem está pensando ou se preparando para a experiência em outro país. Não dá para digerir tamanha violência!
É muito difícil ter uma opinião sobre o assunto olhando para apenas um fato, que repito, não se justifica. A relação entre o povo local e imigrantes sempre foi tensa, sempre foi marcada pela dificuldade de se estabelecer o que é justo para todos os lados, apesar das leis e das exigências.
Só sei que, se confirmada a agressão por esse motivo, nem Paula, ninguém - aliás - merece ser garoto de recado dos insatisfeitos com os imigrantes.

Carmem Galbes

Imagem: Estadão

Só não vale ficar mudo!

Olá, Coexpat!
Se tem uma coisa que expatriado aprende na marra é pensar antes de falar. Não, isso não tem nada a ver com amadurecimento, embora acredite que a experiência em outro país tende a abrir a cabeça.
Essa coisa de pensar antes de dar com a língua nos dentes está mais no nível básico de tentar ter domínio sobre a fala e se esforçar para ser compreendido.
Já conversamos aqui sobre o peso do idioma natal e como pode ser dolorida a adaptação à nova gramática, ao novo vocabulário e ao sentido das frases em uma língua estranha.
Mas o jeito é mesmo não ficar afobado. É que sempre tem alguém pra mandar pra longe o balde e o pau da barraca. Já vi gente fazendo mistureba de dicionários e metendo desenho, mímica, pirueta e até dança onde deveria haver simplesmente voz. E tudo bem, isso se for “no estrangeiro” e em prol da boa comunicação.
Porque tem gente que diz que no Brasil esse negócio de importar termos não pode!
Então expatriados, repatriados - ou seja lá qual for sua condição - atenção redobrada na tradução!
Como resgatado na última edição da revista Você SA, ficar aportuguesando outro idioma no Brasil pega super mal. Primeiro porque falam que é petulante, segundo porque aumenta o risco de mal-entendidos. Mas, pelo jeito, who cares - ops - quem se importa?
O fato é que por mais que isso machuque tradicionalistas, puristas e todos os istas não lembrados aqui, a língua é o que os falantes querem que ela seja e não, necessariamente, o que a norma diz que ela é. 

Carmem Galbes

Imagem: SXC

Leve Entrevista: Expatriação e Casamento.

Olá, Coexpat!
Já trocamos aqui algumas impressões sobre como ficam as relações pessoais com a expatriação, especialmente o casamento. O assunto é delicado e pode arrasar vidas pessoais e profissionais. Esse é um dos pontos dessa entrevista.
Faz dez anos que a professora da Fundação Getúlio Vargas, Maria Ester de Freitas, vem estudando o assunto. Com o olhar de quem também viveu fora, período em que concluiu seu pós-doutorado, a professora já estudou o impacto da expatriação tanto em famílias brasileiras no exterior, quanto de estrangeiros que vivem no Brasil.
Com 6 livros na bagagem e vários artigos publicados, Maria Ester nos ajuda na reflexão sobre esse tema, nem sempre tratado com devida atenção e carinho durante a expatriação. Também por isso, a vida longe de casa pode ser “uma experiência que pode trazer o céu ou o inferno”, alerta a pesquisadora.
Aproveite!

Leve: A expatriação pode mudar, e em que sentido, a relação familiar e conjugal?
M.Ester: Uma expatriação é um acordo feito entre um profissional e sua empresa, fundada na necessidade de cumprir uma missão em outra unidade da organização, não raro em outro país. Ora, a experiência de turista nos mostra como é bom e gostoso rodar o mundo e descobrir coisas novas, mas quando o programa fica chato a gente simplesmente se manda para outra coisa que nos dê prazer; então viajar é para turista. A vida do expatriado difere da do turista em vários sentidos, pois ele não pode se desligar quando as coisas não lhe agradam, ele tem que conviver no código do outro e dar respostas rapidamente que sejam aceitáveis, ele tem que conviver com parâmetros e interpretações diferentes, precisa ser aceito pelo grupo etc. Existe um nível enorme de ajustes necessários na vida profissional que são mais ou menos catalogadas no ambiente da empresa. Na vida da família, a coisa se passa de maneira mais difusa, as regras não são tão claras, os apoios são escassos, a paciência alheia é menor que a dos colegas de trabalho e geralmente é a mulher quem segura toda a carga. Na maioria das vezes a mulher (caso mais comum) abre mão de seu projeto profissional e não tem direito ao visto de trabalho, ficando somente com o universo da casa. Não é incomum que ela não fale o idioma do país de destino, pois as empresas são negligentes em relação a isto e acabam favorecendo curso apenas para o profissional. Sem falar o idioma, sem ter amigos, sem entender nada da cidade, sem ter maiores apoios para as decisões que ela estava acostumada a tomar quase automaticamente (escola dos filhos, supermercado, marcas de produtos, serviços diversos, empresas...), a mulher fica extremamente sobrecarregada e forçada a dar respostas imediatas, pois tão logo chega ao local ela deve organizar a vida e a rotina da família. Não raro os maridos enfiam a cara no trabalho, pois são cobrados desde o inicio, ou se acham na obrigação de ser mais realista que o rei, de forma que o nativo não fique se perguntando “por que precisaram trazer aquele cara do Brasil se a gente tinha pessoal aqui?”, ou seja, o cara precisa se legitimar e aí se esquece da família, da mulher e do resto... Acho que isto muda a relação mesmo do casal que é bem ajustado, que se ama e que quer que tudo dê certo, imagine dos que têm algum problema mal resolvido. Em relação aos filhos, eles absorvem toda a carga de insegurança da mãe e se forem adolescentes que viajaram deixando namoradas para trás, é o inferno que desponta no horizonte.

Leve: A expatriação pode acabar com um casamento?
M.Ester: Pode. Se o projeto de expatriação é de uma pessoa e não do casal, a outra parte ficará se sentindo lesada e toda a carga de sacrifícios será potencializada. É muito duro alguém ser culpado o tempo todo por algo. Por outro lado, expatriação é para quem tem disponibilidade para viver outra vida e não para quem gosta de viajar, isso significa que vai ter que conviver com coisas estranhas, vai ter que passar dias sem conversar com outras pessoas, vai perceber a sua fragilidade frente ao desconhecido e qualquer pequeno detalhe idiota pode lhe desestabilizar emocionalmente. Nas minhas pesquisas vi alguns casamentos que foram por água a baixo e vi alguns que foram salvos pelo gongo, vi casais ficarem quase um ano sem transar porque a mulher estava ressentida, vi esposas querendo ir embora com os filhos, fiquei sabendo de esposas que se mandaram e o marido foi atrás e demitido em seguida... tem um pouco de tudo. Vi casal aguentar o tranco enquanto estava lá e quando voltou para casa o peso era tamanho que eles não se suportavam mais, passou do ponto.

Leve: E o casamento pode atrapalhar a ponto de interromper uma expatriação?
M.Ester: Qualquer situação que leva um parceiro a dizer para o outro “ou eu ou a empresa” fica muito difícil de ser sustentada. Veja acima.
Por outro lado, as minhas pesquisas mostram que embora os casados demorem mais a se adaptar na nova cultura, quando isto ocorre é um processo mais seguro e aí tudo vai bem. Os solteiros, ainda que sejam mais baratos para as empresas no curto prazo, são mais arriscados no longo prazo, pois ficam muito sozinhos e infelicidade crônica dá zebra e eles chutam o pau da barraca. Então, projetos acima de 1 ano não são muito recomendados para solteiros, cuja adaptação acaba sendo alimentada apenas pela fonte do trabalho e as interações na sociedade podem ser mais complicadas. Em alguns lugares solteiros ainda despertam sérias suspeitas.

Leve: Pesquisas indicam que as empresas que transferem seus funcionários para o exterior estão investindo cada vez mais na adaptação das famílias. O suporte vai do financiamento do aprendizado do idioma ao apoio nas primeiras visitas ao supermercado. As empresas realmente consideram o grau de influência da família na transferência do funcionário?
M.Ester: Acho de bom tamanho que as empresas comecem a se dar conta de que elas não expatriam apenas 1 profissional mas uma família inteira, ela desarranja os relacionamentos e influencia a forma de vida dessas pessoas. É estranho que algo tão óbvio tenha sido tão negligenciado por tanto tempo, mas à medida que os fracassos começaram a ficar caros, as empresas perceberam que não estavam fazendo tudo o que podiam para que o seu expatriado fosse um sucesso e quem garante o sucesso dele é uma família ajustada. Quanto mais rapidamente os membros da família estiverem cuidando de sua própria vida, com agenda própria e independente, mais rapidamente este expatriado estará livre para dar o melhor de si. É simples assim. Existem algumas empresas que ainda acham que isto não é problema delas, mas isso faz parte da burrice organizacional que acontece em qualquer lugar. Não creio que seja demais que uma empresa que quer que eu vá trabalhar em outro local faça o investimento necessário para que isto ocorra sem maiores riscos, faz parte do acordo, pois eu só posso trabalhar direito se eu tiver condições. Cada vez mais o apoio psicológico é um requisito importante in loco, daí também nesta área muitos psicólogos estão se diferenciando por falar vários idiomas.

Leve: Apesar do relacionamento estar na esfera pessoal, em que sentido as empresas de transição cultural poderiam ajudar a vida do casal a ser bem-sucedida longe de casa?
M.Ester: O relacionamento do casal é pessoal, mas a variável que alterou tudo foi um evento profissional, portanto as empresas têm obrigações não apenas morais, mas objetivas e contratuais. Existem muitas empresas de consultoria que hoje se ocupam dessas questões preparatórias e vendem pacotes de 10, 20, 80 horas para ajudar uma família a ser organizar noutro lugar. É um mercado que vem crescendo muito, pois geralmente as empresas que expatriam fazem uso de terceirizados para isto. Além dessas questões de natureza prática da vida quotidiana, as empresas poderiam aproveitar melhor estas experiências e construir uma base de dados com feedback, mas geralmente o cara volta e ninguém quer saber dele, a experiência dele é invalidada e não gera nenhuma aprendizagem organizacional. Ora, cada vez mais hoje somos instados a trabalhar com pessoas de outras formações, origens étnicas e culturas, portanto devemos desde cedo aprender a ser tanto bons anfitriões quanto bons hóspedes, pois se você não vai o estrangeiro vem; penso que as empresas ainda são um pouco cegas para a importância da questão intercultural como parte de seus valores, mas isto tende a mudar.

Leve: Gostaria de acrescentar algo?
M.Ester: Uma das coisas mais interessantes revelada na minha pesquisa com brasileiros na França foi o fato de eles considerarem a educação dos filhos uma das principais razões para aceitar a expatriação e olhe que Paris é um espetáculo; então me parece que o intercultural é uma questão que veio para ficar e tende a ser irreversível. De um lado, creio que isto nos melhora como seres humanos, nos faz enxergar e respeitar o outro diferente de nós, nos conscientiza de nossas verdades relativas e do quanto somos frágeis quando estamos fora da nossa casca cultural; de outro, cada vez mais tende a se acentuar fanatismos, patriotismos burros, preconceitos e medos do outro. Quero crer que a nova geração será mais desencanada em relação a estes preconceitos se ela aprender a conviver com a diferença desde cedo, isto não é uma descoberta extraordinária, mas um fato da vida, uma evidencia quotidiana de que a vida é feita mais de coisas diferentes que iguais e isso não significa melhor ou pior, apenas diferente.

Carmem Galbes

Mais um pouco sobre o tempo de quem é expatriado...

Olá, Coexpat!Ainda no esquema de usar o meu tempo pesquisando o que melhor fazer com ele, encontrei uma sugestão interessante para quem tem se sentindo perseguido por essa coisa que dizem não passar de um conceito.
No blog Mais Tempo, no post de hoje, o consultor especializado em administração do tempo - Christian Barbosa - abre uma clareira. Ele sugere uma trilha para quem está tentando dar a largada para horas mais bem aproveitadas e para você não ser pego de surpresa se a sua agenda virar de ponta cabeça.
Entre as provocações estão:
- Você está realizando atividades que vão fazer você se destacar em sua área de atuação profissional?
- Você está investindo algum tempo no desenvolvimento de um Plano B, para o caso de mudanças bruscas na sua rotina profissional ou pessoal?
- Você está conseguindo tempo para você mesmo equilibrar sua vida pessoal, seus relacionamentos importantes e sua saúde?
- Você sente que sua vida está evoluindo na direção de seus objetivos ou apenas agindo frenéticamente para resolver as urgências diárias?
Então, se está podendo, aproveite para pensar no assunto. 

E, por favor, espalhe se conseguir respostas simples.
Carmem Galbes

Imagem: SXC

Fragmentos de uma vida expatriada.

Olá, Coexpat!
Venho de um exercício cansativo de digitar e deletar, digitar e deletar. Comecei vários assuntos hoje, mas não consegui concluir nenhum.
Tentei dar as minhas impressões sobre o trânsito daqui, que, apesar de regras interessantes - como poder virar a direita mesmo com o sinal fechado - também tem suas maluquices e grosserias - como acelerar para não dar lugar para o cara que está há mil anos com a seta ligada.
Também dei uma navegada para ver se encontrava algo novo sobre o mundo “expatriático”. Nada!
Enquanto a máquina de secar chacoalha a roupa e deixa a casa com um barulho que acho que incomoda, consulto unhas e cutícula, que clamam por uma especialista brasileira.
Olho para um lado, para o outro, procuro inspiração.
Lembro do trecho de uma conversa com uma amiga do peito, também expatriada: “na vida a gente tem a obrigação de tentar, não - necessariamente - de conseguir”.
Revejo umas fotos.
Folheio uma papelada.
Olho para o teto e me prendo ao negocinho que esguicha água em caso de incêndio. Interessante ter esses ornamentos de escritório em casa.
De repente um som que lembra sinal do recreio da escola. É a secadora que terminou o serviço. Corro para tirar e dobrar a roupa. O ar quente facilita a vida. Basta uma ajeitada com a mão, pronto! Nem precisa de ferro de passar! Essa é uma parte boa daqui: os equipamentos que te ajudam.
Daqui a pouco tenho que sair, e não consigo dar liga para os fragmentos que tingem o papel virtual.
Hoje acho que vai ser só isso mesmo, retalhos...

Carmem Galbes

Imagem:SXC

Pra inglês ver.

Olá, Coexpat!Água e esgoto encanados, luz, vacinas, geladeira, microondas, máquina de lavar, de secar, carro, metrô, avião, foguete, telefone, comida enlatada, bebê de proveta, televisão, computador, internet, clone...
O que me separa da minha bisavó ? Além do além - e que ela esteja no céu - muitos interruptores, patentes e aparatos marcam a distância.
Mas nunca me senti tão lá atrás na história e tão perto dela como hoje.
O país que se diz o mais aberto à igualdade de sexo teve que baixar uma lei para esclarecer de uma vez por todas que não pode existir discriminação salarial.
O presidente americano assinou a lei por causa da batalha de Lilly Ledbetter. A supervisora da Goodyear descobriu que o salário dela era 40% menor que o dos homens que exerciam a mesma função e tinham as mesmas responsabilidades.
Ela entrou na justiça, mas teve negado o pedido de equiparação salarial durante os 15 anos que ocupou a função. A justificativa: perda de prazo.
Fico pensando se o gesto de Obama vai vingar. Em época em que há mais peças que tabuleiro, qual a força dessa lei?
Que é muito vantajoso ter alguém que trabalhe por menos, isso até eu sei, mas dizer que uma lei vai ser capaz de dar início à formação de uma nova mentalidade é muita, mas muita sacanagem de quem ganhou a eleição sob a bandeira da mudança.
Não é pessimismo, é senso de realidade. Tudo bem, a batalha da supervisora deu gás ao debate, mas debate que vai esvaziar exatamente por causa da criação da lei. A assinatura pra mim quer dizer mais um “ok, fiz minha parte, agora vamos mudar de assunto”.
O Brasil também não permite discriminação salarial, seja entre homem e mulher, homem e homem, mulher e mulher.
Mas, na prática, quem vai ficar comparando holerite, quando o que se quer é ter as contas pagas?
Isso me lembra um número do universo “expatriático”. Em cada 10 profissionais transferidos, apenas um é mulher . Diante desse abismo, será que essa “sortuda” que está tendo a chance da vida vai levar adiante uma batalha contra o sistema se descobrir que um colega de companhia, guardada a igualdade de função e de responsabilidade, foi expatriado em melhores condições?
Sei não.
Você pode me pedir então uma saída. Eu não tenho. Só sei que é difícil proibir o que não se tem condições de controlar.


Carmem Galbes

Imagem: Site da Casa Branca

Expatriação e berço.

Olá, Coexpat!
Já falei desse autor por aqui. Mas como acho os estudos dele muito interessantes, vou trazer Dan Ariely de novo para a nossa conversa.
Em uma pesquisa feita nas mais tradicionais e bem conceituadas universidades dos Estados Unidos - Harvard, Princeton, Yale, UCLA e MIT - ele e equipe comprovaram o que a gente reluta em acreditar, mas acontece: quando tem chance, o ser humano costuma trapacear, isso em qualquer lugar do mundo e da esfera social - dada a miscigenação presente nos grupos da pesquisa.
O estudo envolveu basicamente situações em que os alunos tinham mais ou menos chances de colar nas provas. Resultado: quanto mais chance, mais cola - não importando muito o risco de ser pego.
Mas o que surpreendeu mesmo os pesquisadores foi o que aconteceu quando pediam aos alunos que, antes de começar o exame, anotassem na folha um dos dez mandamentos da lei de Deus ou um dos tópicos do código de ética da escola ou da profissão que se preparavam para exercer.
Segundo o estudo, dos alunos que entraram em contato com algum parâmetro ético antes da prova, nenhum colou, mesmo no grupo que teve a maior oportunidade de fazer isso.
O autor sugere, então, que o momento é de resgate de códigos de condutas, religiosas ou não - diz ele. “Quando estamos distantes de quaisquer modelos de pensamento ético, costumamos nos desviar para a desonestidade, mas, se nos lembrarem da moralidade no momento da tentação, então é bem mais provável que sejamos honestos”, defende Ariely em Previsivelmente Irracional, lá na página 173.
Dan Ariely mostra um grande coração, porque ao indicar tal receita para redução de tanta sacanagem no mundo, ele demonstra uma crença absurda de que o ser humano é, por essência, bom e que só precisa ser lembrado disso às vezes.
Mas o que tem a ver tudo isso com essa minha jornada?
Talvez o fato de perceber que realmente já não importa tanto o endereço, que a globalização deixa uniforme o bom e o ruim, que, no fundo, gente é gente, e que boas maneiras e honestidade vêm mesmo do berço, como dizia minha avó e continuam dizendo meus pais.


Carmem Galbes

Imagem: SXC

Brasileiro expatriado e a revisão de conceitos sobre segurança.

Olá, Coexpat!32 mil militares e US$ 150 milhões. Esses números sobre o esquema de segurança para a posse de Obama na última terça, em Washington, me fizeram parar para pensar sobre o meu esquema de proteção.
Não, não tenho mania de grandeza e também acho que, dadas as minhas condições de ser anônimo e desprovido de ambições político-empresariais, não careço de um aparato assim em lugar algum do mundo.
De qualquer forma, parei pra pensar.
Quem já viveu em cidades como São Paulo, Recife e Rio tem um esquema próprio, interno de vigilância permanente. A gente fica esperta ao entrar e sair de casa, ao tirar dinheiro do caixa eletrônico, ao andar a pé e de bicicleta, ao dirigir, ao pegar taxi e ônibus. A gente aprende a não ostentar, mesmo quando o valor do objeto é meramente emocional.
O conceito de perigo pelas bandas de cá é diferente. Hoje em dia, acho que Houston já não vive sob o medo da ameaça terrorista, mas tem os mesmos problemas de uma cidade grande, só que em uma escala diferente da que estou acostumada.
O Medo aqui está mais relacionado a não conseguir gastar como antes. Então toda informação que possa ser usada para roubar sua identidade e seu crédito é guardada como jóia. O povo fica atento até onde joga o lixo com esse tipo de informação.
Mas quando o assunto é segurança na rua, fica até engraçado. Ontem mesmo vi uma entrevista em que o Xerife aconselhava o povo a trancar a porta do carro e a não deixar objetos de valor expostos. Mais interessante ainda foi ver o “seo” guarda deixando bilhete nos veículos dos mais desligados: “feche o vidro na próxima vez”.
Outra coisa, aqui é raro ter porteiro nos edifícios residenciais e não se faz registro para subir nos comerciais. Cada escritório que se cuide. Além disso, a segurança em locais como shopping é pública. É polícia mesmo rondando, segurança particular só dentro das lojas mais caras.
Mas o que é incomum pra mim é não ver câmera pra todo lado. Tenho uma suspeita do motivo. É que o povo aqui, apesar de ser cada um na sua, não deixa de botar a boca no trombone. Denuncia mesmo. Chama a polícia! Então parece que todo mundo se vigia o tempo todo. É a lei do “se-eu-não-posso-ninguém-pode”.
Isso não quer dizer que não tem coisa errada. Tem sim, claro. Vou dar um exemplo de como o negócio pode ficar feio.
Outro dia, entrando em um restaurante bem conceituado, leio o aviso na porta: “proibido entrar armado”.
Ahh...lembrei de outra coisa: uma matéria, na época do ano novo, alertava para o fato de ser proibido dar tiro para o alto durante as comemorações da virada. Gente!!!
Resumindo, aqui não é normal alguém te apontar a arma no cruzamento, mas é normal andar armado. E ser humano é desequilibrado por definição. Então, fica difícil comparar...

Carmem Galbes

Imagem: SXC

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...