Bolo de cenoura!

Olá, Coexpat!
Gostei do último post da também expatriada Aninha. Ela deixou o povo com água na boca ao servir uma série de delícias brasileiras. Pode parecer meio estranho, pra não dizer engraçado - dada a minha total falta de habilidade na cozinha - mas também vou listar a minha receita!
Bolo de cenoura! Pra falar a verdade não sei se o quitute é brasileiro, mas, no meu cardápio, ocupa lugar de destaque por adoçar a boca, as lembranças e os encontros. Minha irmã - com toda sua paciência e didática - bem que tentou, mas foi mesmo a minha mãe que me ensinou a fazer.
É tão simples que até eu acerto.

- Coloque em uma tigela:

  • 3 xícaras de farinha de trigo.
  • 2 xícaras de açúcar.
  • 3 colheres (sobremesa) de fermento em pó.
- Coloque no liquidificador:

  • 3 ovos.
  • 1 xícara de óleo.
  • 1 xícara de leite.
  • 3 cenouras médias (sei que isso é relativo, o que é médio pra mim pode ser grande pra você, enfim, siga seu coração).
Bata. Pare quando a mistura estiver como um creme. Ponha esse creme na tigela onde tem farinha, açúcar e fermento. Misture bem. Seja feliz, nada de batedeira, vá misturando com calma até não haver mais pontinhos brancos de farinha ou açúcar. Derrame a mistura, agora mais espessa, em uma forma média untada.
Coloque no forno. Você vai saber, até eu consigo ver, quando o bolo estiver pronto.
Eu gosto de fazer alguns furos com garfo no bolo e jogar por cima uma mistura de leite e chocolate. Depois cubro tudo com brigadeiro, que tem que ser mais cremoso - não pode estar no ponto de enrolar.
Sirva como quiser, mas o bolo fica ainda mais gostoso quando acompanhado de boa gente e bom papo!


Carmem Galbes

Pra inglês ver.

Olá, Coexpat!Água e esgoto encanados, luz, vacinas, geladeira, microondas, máquina de lavar, de secar, carro, metrô, avião, foguete, telefone, comida enlatada, bebê de proveta, televisão, computador, internet, clone...
O que me separa da minha bisavó ? Além do além - e que ela esteja no céu - muitos interruptores, patentes e aparatos marcam a distância.
Mas nunca me senti tão lá atrás na história e tão perto dela como hoje.
O país que se diz o mais aberto à igualdade de sexo teve que baixar uma lei para esclarecer de uma vez por todas que não pode existir discriminação salarial.
O presidente americano assinou a lei por causa da batalha de Lilly Ledbetter. A supervisora da Goodyear descobriu que o salário dela era 40% menor que o dos homens que exerciam a mesma função e tinham as mesmas responsabilidades.
Ela entrou na justiça, mas teve negado o pedido de equiparação salarial durante os 15 anos que ocupou a função. A justificativa: perda de prazo.
Fico pensando se o gesto de Obama vai vingar. Em época em que há mais peças que tabuleiro, qual a força dessa lei?
Que é muito vantajoso ter alguém que trabalhe por menos, isso até eu sei, mas dizer que uma lei vai ser capaz de dar início à formação de uma nova mentalidade é muita, mas muita sacanagem de quem ganhou a eleição sob a bandeira da mudança.
Não é pessimismo, é senso de realidade. Tudo bem, a batalha da supervisora deu gás ao debate, mas debate que vai esvaziar exatamente por causa da criação da lei. A assinatura pra mim quer dizer mais um “ok, fiz minha parte, agora vamos mudar de assunto”.
O Brasil também não permite discriminação salarial, seja entre homem e mulher, homem e homem, mulher e mulher.
Mas, na prática, quem vai ficar comparando holerite, quando o que se quer é ter as contas pagas?
Isso me lembra um número do universo “expatriático”. Em cada 10 profissionais transferidos, apenas um é mulher . Diante desse abismo, será que essa “sortuda” que está tendo a chance da vida vai levar adiante uma batalha contra o sistema se descobrir que um colega de companhia, guardada a igualdade de função e de responsabilidade, foi expatriado em melhores condições?
Sei não.
Você pode me pedir então uma saída. Eu não tenho. Só sei que é difícil proibir o que não se tem condições de controlar.


Carmem Galbes

Imagem: Site da Casa Branca

Clima e adaptação.

Olá, Coexpat!
Depois de uns dias de temperaturas que lembraram bastante a primavera, o frio voltou a encapotar os forasteiros desse mundão que é o Texas. Nada comparado, claro, à geladeira da parte de cima da terrinha do tio Sam.
Hoje pela manhã o meteorologista anunciava 1 grau. “Cruzis”. Mas é difícil de acreditar nesse povo. Não, até que eles acertam bastante a previsão. Mas não sinto em casa o frio que paralisa lá fora. E ainda bem, né?
Mesmo assim fico pensando no porquê de em São Paulo, por exemplo, mesmo no aconchego do meu, então, lar, quase congelava a uma temperatura de cinco graus e aqui nem a de 1 exige grandes providências de vestimenta.
Aquecimento não é a resposta, acionei pouquíssimas vezes o sistema por aqui.
Talvez seja o material dos imóveis, um misto de papelão, isopor e compensado - com o perdão da minha ignorância no que diz respeito ao setor da construção civil. Esse revestimento que, aos olhos brasileiros, parece frágil e assusta na temporada de furacão pode ser um grande aliado em dias gelados, fazendo com que o frio não entre e o calor não queira sair.
Pode ser também o fato de americano adorar carpete. Aqui quase todas as residências têm pelo menos no quarto, o que deixa o ambiente - no mínimo - com melhor acústica.
Outra coisa: o povo daqui odeia abrir janela. Algumas são mesmo só uma placa de vidro. É ar, quente ou frio, ligado o tempo todo e spray, vela ou incenso para disfarçar fedor e incrementar odor.
O fato é que, se não saio de casa, vejo o frio simplesmente derrubar as folhas. O que estaria de acordo com a minha teoria de que a vida aqui pode ser vivida, às vezes, em um grande cenário. Planta quase de verdade, gosto quase de verdade, sensações quase de verdade.
Mas como quem faz o circo é o palhaço, lá vou eu dar uma volta. Vou sentir a brisa açoitar a pele, porque daqui a pouco o inverno parte para outras bandas e verão aqui é quente que só.


Carmem Galbes

Foto: Charles Bertram: Lexington Herald-Leader.

Tempo e expatriação, da sobra ao excesso...

Olá, Coexpat!
O tempo está sempre em pauta. Normalmente ele é o assunto quando está em falta. Mas, dependendo do motivo da expatriação, ele é presença marcante pela abundância.
Adoro vagar por Eclesiastes e mudar a ordem e os pares de um dos clássicos sobre o tema : “Tempo para calar...tempo para bailar...tempo para curar...tempo para destruir...”
Gosto do som da palavra tempo, principalmente quando dita pelo “Seo Silvo Santis”: temmmmmpo.
E dessa brincadeira de imitar o inimitável saiu:
Temmmpo, temmpo, tempo.
Tempo, temperamento, tempestade.
Tempo, temperança, tem piedade.
Tempo, temperatura e pressão anormais.
Tempo, tempos, templo.
Temmmmpo.


Carmem Galbes

Imagem: SXC

Entre o que se fala e o que se entende.

Olá, Coexpat!
Não é novidade dizer que a fala - seja lá como for - está entre os recursos que fazem a separação entre o que é gente e o que é bicho. Indo um pouquinho além, também é possível dizer que ela é resultado de um trabalho complexo do corpo e que faz a ponte entre o sentir, o pensar e o agir.
Fora isso, na prática, a fala é o que permite a gente costurar e romper o tecido social. Sim, porque ô troço pra embaraçar, embaralhar, embasbacar como a fala!
Explico. Com o tempo a gente aprende que cada um dos zilhões de variações fonéticas da letra a, por exemplo, quer dizer uma coisa. Pode ser um “a” de susto, de tristeza, de lembrança - tipo: “a, não esquece de...” Pode ser ainda um” ã?”, sem contar no “aaaaaa, eu sabia!”
Essa denotação passeia sem cerimônia pelos diálogos vida afora. A gente vai aprendendo pouco a pouco. Aí, de repente, você tem que acessar um outro idioma. Você sabe as regras gramaticais, tem um bom vocabulário, mas se perde no sentido...
É que tem coisa que parece, mas não é.
No meu caso, tenho dificuldade com dois termos pelas bandas de cá.
Exemplo: a gente aprende logo nas primeiras lições as respostas básicas para um “thank you”. Numa versão seriam: You’re welcome - de nada, my pleasure - um prazer ou não por isso, that’s ok - tudo bem.
Mais aqui descubro que a resposta mais comum é: ahã. Sim, aquele sim rápido para perguntas simples da vida, sabe? “Você quer água? ahã.” Aqui, esse ahã é o mesmo que “de nada, um prazer!” Confesso que soa muito mal pra mim, é como se a alma do outro lado se importasse tanto com o meu agradecimento, mas tanto, que ela usa todo o seu potencial e simpatia para responder: ahã.
Descobri que isso é uma cisma de muitos brasileiros. Mas é também um jeito normal e educado de responder ao cumprimento por aqui.
O problema é que ouvido vai acostumando. Tem brasileiro que quer morrer depois que solta o primeiro ahã com o significado de “de nada”.
Outra situação de lascar. Você, feliz da vida, conta que vai passar um fim de semana em um local show. O sujeito vira e, em meio a um sorriso, lança um: “good for you.” Isso mesmo, bom pra você!
Bom pra mim?! Claro que é, mas isso não é coisa que se diga. Pior que aqui é! No inglês dessa região é um comentário sadio. Tudo bem que não é um bom pra você seco. Seria um boooooooom pra voeeeeê ou good for yyyyyyyooooouuuu!
Então tá,vou ficando por aqui. Good for meeeeeee! Ou seria good for you?
Imagem: SXC
Carmem Galbes

Expatriação e berço.

Olá, Coexpat!
Já falei desse autor por aqui. Mas como acho os estudos dele muito interessantes, vou trazer Dan Ariely de novo para a nossa conversa.
Em uma pesquisa feita nas mais tradicionais e bem conceituadas universidades dos Estados Unidos - Harvard, Princeton, Yale, UCLA e MIT - ele e equipe comprovaram o que a gente reluta em acreditar, mas acontece: quando tem chance, o ser humano costuma trapacear, isso em qualquer lugar do mundo e da esfera social - dada a miscigenação presente nos grupos da pesquisa.
O estudo envolveu basicamente situações em que os alunos tinham mais ou menos chances de colar nas provas. Resultado: quanto mais chance, mais cola - não importando muito o risco de ser pego.
Mas o que surpreendeu mesmo os pesquisadores foi o que aconteceu quando pediam aos alunos que, antes de começar o exame, anotassem na folha um dos dez mandamentos da lei de Deus ou um dos tópicos do código de ética da escola ou da profissão que se preparavam para exercer.
Segundo o estudo, dos alunos que entraram em contato com algum parâmetro ético antes da prova, nenhum colou, mesmo no grupo que teve a maior oportunidade de fazer isso.
O autor sugere, então, que o momento é de resgate de códigos de condutas, religiosas ou não - diz ele. “Quando estamos distantes de quaisquer modelos de pensamento ético, costumamos nos desviar para a desonestidade, mas, se nos lembrarem da moralidade no momento da tentação, então é bem mais provável que sejamos honestos”, defende Ariely em Previsivelmente Irracional, lá na página 173.
Dan Ariely mostra um grande coração, porque ao indicar tal receita para redução de tanta sacanagem no mundo, ele demonstra uma crença absurda de que o ser humano é, por essência, bom e que só precisa ser lembrado disso às vezes.
Mas o que tem a ver tudo isso com essa minha jornada?
Talvez o fato de perceber que realmente já não importa tanto o endereço, que a globalização deixa uniforme o bom e o ruim, que, no fundo, gente é gente, e que boas maneiras e honestidade vêm mesmo do berço, como dizia minha avó e continuam dizendo meus pais.


Carmem Galbes

Imagem: SXC

Brasileiro expatriado e a revisão de conceitos sobre segurança.

Olá, Coexpat!32 mil militares e US$ 150 milhões. Esses números sobre o esquema de segurança para a posse de Obama na última terça, em Washington, me fizeram parar para pensar sobre o meu esquema de proteção.
Não, não tenho mania de grandeza e também acho que, dadas as minhas condições de ser anônimo e desprovido de ambições político-empresariais, não careço de um aparato assim em lugar algum do mundo.
De qualquer forma, parei pra pensar.
Quem já viveu em cidades como São Paulo, Recife e Rio tem um esquema próprio, interno de vigilância permanente. A gente fica esperta ao entrar e sair de casa, ao tirar dinheiro do caixa eletrônico, ao andar a pé e de bicicleta, ao dirigir, ao pegar taxi e ônibus. A gente aprende a não ostentar, mesmo quando o valor do objeto é meramente emocional.
O conceito de perigo pelas bandas de cá é diferente. Hoje em dia, acho que Houston já não vive sob o medo da ameaça terrorista, mas tem os mesmos problemas de uma cidade grande, só que em uma escala diferente da que estou acostumada.
O Medo aqui está mais relacionado a não conseguir gastar como antes. Então toda informação que possa ser usada para roubar sua identidade e seu crédito é guardada como jóia. O povo fica atento até onde joga o lixo com esse tipo de informação.
Mas quando o assunto é segurança na rua, fica até engraçado. Ontem mesmo vi uma entrevista em que o Xerife aconselhava o povo a trancar a porta do carro e a não deixar objetos de valor expostos. Mais interessante ainda foi ver o “seo” guarda deixando bilhete nos veículos dos mais desligados: “feche o vidro na próxima vez”.
Outra coisa, aqui é raro ter porteiro nos edifícios residenciais e não se faz registro para subir nos comerciais. Cada escritório que se cuide. Além disso, a segurança em locais como shopping é pública. É polícia mesmo rondando, segurança particular só dentro das lojas mais caras.
Mas o que é incomum pra mim é não ver câmera pra todo lado. Tenho uma suspeita do motivo. É que o povo aqui, apesar de ser cada um na sua, não deixa de botar a boca no trombone. Denuncia mesmo. Chama a polícia! Então parece que todo mundo se vigia o tempo todo. É a lei do “se-eu-não-posso-ninguém-pode”.
Isso não quer dizer que não tem coisa errada. Tem sim, claro. Vou dar um exemplo de como o negócio pode ficar feio.
Outro dia, entrando em um restaurante bem conceituado, leio o aviso na porta: “proibido entrar armado”.
Ahh...lembrei de outra coisa: uma matéria, na época do ano novo, alertava para o fato de ser proibido dar tiro para o alto durante as comemorações da virada. Gente!!!
Resumindo, aqui não é normal alguém te apontar a arma no cruzamento, mas é normal andar armado. E ser humano é desequilibrado por definição. Então, fica difícil comparar...

Carmem Galbes

Imagem: SXC

O tempo e a paciência de quem é expatriado...

Olá, Coexpat!
Olha o “causo”.
A cena: inscrição para o curso de pronúncia aqui nos States.
A rotina: depois de avaliação oral e escrita, sigo para uma sala onde um primeiro ser humano anota dados pessoais e o código do curso. Sigo para uma segunda sala.
Percebo que o código do curso refere-se a outro horário. Em vez de um dois no final de sequência de 5 números, há um zero. Nessa segunda sala alerto para a questão. O segundo ser se limita à: “vamos ver como vai sair no recibo”, e me manda para o caixa.
Sigo assim para uma terceira sala, onde falo com um terceiro ser sobre o código do curso. Enquanto passa o cartão, o sujeito se limita: “não é minha área”. Claro que o recibo traz o curso com o horário errado.
Volto à segunda sala. O segundo ser diz: “vá à quarta sala”. Lá, um quarto ser preenche uma requisição de troca de horário e me diz: volte à segunda sala”.
Volto. O segundo ser me recebe com ar de que não se lembra de mim. Acerta o horário e diz: “volte ao caixa”.
Lá o terceiro ser arruma o horário e diz: “prontinho”.
Duração do percurso: não sei, foram tantos seres que esqueci de olhar para o relógio...
Burocratas eles? Não, eu é que sou. Deveria ter mudado o número à mão mesmo, antes de entrar na segunda sala!
Jeitinho brasileiro? Não, praticidade, economia de tempo e de rugas!


Carmem Galbes

Imagem: SXC

Esposa expatriada, desempregada, mas antenada: cobertura da posse lá e cá.

Olá, Coexpat!
Como você sabe, sou jornalista desempregada, mas que prefere dizer que vive um período fora do mercado para apoiar a carreira do maridão no exterior.

Sendo assim, não consigo desligar...então, não pude deixar de passar o dia perambulando entre TV e internet para acompanhar a posse de Obama. Minha ideia era tentar captar uma cobertura com os olhos aqui e ouvidos lá ou vice-versa.
Claro que não vou conseguir fazer uma comparação crítica entre o trabalho dos colegas americanos e brasileiros, isso, aliás, daria uma boa tese...
Mas, comparando...
O povo aqui passou a semana especulando sobre qual estilista a primeira-dama usaria. Interessante que hoje foram os brasileiros que se apressaram em falar em detalhes sobre o “visú” de Michelle Obama. Com semana de moda no Rio, ficou fácil cumprir a pauta!
Pascolato e cia desceram a boca no modelo assinado pela cubana Isabel Toledo. O que prendeu meu olhar foi a combinação que não me agrada, a não ser em copa do mundo: vestido amarelo + sapatos e luvas verdes!
Mas gente, a mulherada aqui adora brilho e cores vibrantes! Só fico pensando em que ocasião ela usaria aqueles sapatos verdes de novo...
Ok, tentei pensar em uma impressão mais elaborada sobre a cobertura, mas nã
o consegui. É que simplesmente não encontrei em português nenhuma análise um pouquinho mais profunda sobre o dia de hoje.
Bom, pelo menos até agora, não consegui ler, ouvir, ver... sentir nada sobre, por exemplo, qual o impacto no Brasil do discurso de posse do homem que vai tocar a economia mais influente do mundo.
Talvez essa falta não tenha cabimento. Talvez tudo já tenha sido dito e eu não acompanhei. Talvez ainda será dito...
Sei lá...
A cobertura em português fala em gastos com segurança na posse, em número de pessoas, traz o histórico do novo presidente, os desafios, o discurso traduzido, mas senti mesmo falta de contextualização.
Tudo bem, sei, ao menos, que o vestido da dona Obama não agradou lá no Brasil. Ouvi dizer que tinha bordado demais, que era sóbrio demais, que era elegante de menos...sei.


Carmem Galbes

Foto1: Susan Walsh - AP
Foto 2: CBSNEWS.COM

Todo mundo sente preguiça, mas expatriado tem preguiça e culpa...

Olá, Coexpat!
Meu propósito por aqui é ter uma conversa pelo menos uma vez por dia. 

Gosto de conteúdo. 
O problema é que nem sempre penso que tenho algo relevante que mereça seu tempo ou o meu. Pior, como é o caso hoje, quando não estou com muita disposição para desenrolar...
Sabe...os últimos dias têm sido especialmente simples. 

Rotinas biológica e social: comer, dormir, ler, passear, conversar e assim vai.
Tamanha simplicidade tem deixado tudo muito especial. 

Especial porque flui. Porque há apetite, há gosto e há vontade de esticar a conversa, nem que - às vezes - o silêncio marque uma frase ou outra.
Normalmente a escrita me preenche e me satisfaz, mas nem sempre consigo seguir em frente. Como estou expatriada, em uma fase que decidi que eu não tenho - necessariamente - que seguir em frente,  acho melhor deixar pra depois. Hoje vou ficar assim imóvel, só imóvel...e que que tem, né?
Perdão. Sei que é pecado. Mas hoje estou deliberadamente com preguiça, simplesmente preguiça.

Com preguiça e culpada, é que "esposa" expatriada já não faz nada, né? Priguiça de que? Será?
Vixe...
Carmem Galbes

Foto: João Marcos

Certo, certinho e certeiro. A expatriação de cada um!

Olá, Coexpat!
De um bate-papo descompromissado sobre a definição de certo e errado:
Kuwaitiano: certo é o que Alá diz que é.
Venezuelana: certo é o que está previsto nas leis e regras sociais.
Francesa: preferiu só ouvir.
Brasileira: certo deveria ser o que não fere ninguém.
Colombiano: é certo que é muito difícil estabelecer uma diferença entre certo e errado, porque é quase impossível saber o que existe no coração de uma pessoa. 

Tá certo!

Carmem Galbes

Imagem: SXC

Expatriação também tem dia delícia!

Olá, Coexpat!
Cada vez mais acredito que, apesar dos imprevistos, do trânsito, do tempo, das coisinhas da vida, só depende mesmo da gente o dia ser bom. E hoje foi mesmo, pelo menos pra mim.
Só à noite descubro que a quinta pelas bandas de cá foi braba! A queda de um avião em Nova York ganhou as m
anchetes e ressuscitou o pavor de um atentado.
Para nós cinco nada de estranho, simplesme
nte porque estávamos em outra frequência. Passamos o dia apreciando o visual pouco explorado de Houston. Tem gente, aliás, que jura de pé junto que se existe uma coisa que a cidade não tem é visual. Mas basta abrir os olhos...
O objetivo er
a almoçar, só que o roteiro teve vida própria. De parque a to
po de prédio. Da prefeitura ao zigue-zague nas calçadas, foi uma tarde calorosa, apesar do 14 graus.
O Hermann Park tem um pouco de tudo. De espelho d’água que lembra Washington à ponte que remete à uma cena no Central Park. O trenzinho que circunda a região é daquelas coisas que arrancam fácil um “nossa, que gracinha!”
Depois do curto trajeto de metrô, que aqui corre sobre a terra e liga o distrito médico ao centro, ancoramos no passado. A rua Texas é um esforço de preservação. Um árduo esforço, porque se tem uma coisa que as sedes das empresas gostam é de mostrar o sucesso pel
a altura dos prédios. Interessante que prédio ainda é raro por aqui. São poucos residenciais. Os que existem são de luxo. Os comerciais formam uma espécie de ilha no centro. Esses edifícios gigantes são, aliás, um dos poucos símbolos, além do trânsito, de que Houston é sim uma cidade grande, embora, numa primeira andada, seja difícil de acreditar.
Em meio aos arranha-céus está incrustada a sede da prefeitura, outro endereço histórico. O local abriga também o
centro turístico. Tem mapa de tudo, inclusive de shopping.
Acho a cidade bem simpática. Tenho me interessado por ela. Tenho me apegado até. Ainda não sei se isso é bom ou ruim, mas por enquanto serve de fermento. Sim, a cada descoberta dá mais vontade de descobrir.
Coisas de quem se propôs a tocar a vida com a melhor qualidade possível em 2009!


Carmem Galbes

Igreja cá e lá.

Olá, Coexpat!
Dia desses botei na cabeça que tinha que ir à igreja. É meio que um ritual turístico, se bem que moro em Houston. O fato é que ainda não havia ido a igreja por aqui. Tenho disso: católica desnaturada, de alma ecumênica e com menos fé do que preciso.
Gosto do ambiente das igrejas pelo que ele é e pelo que representa. Acho interessante a arquitetura e a decoração - se é que esse é o termo mais adequado. Gosto do silêncio.
Surpresa para mim foi a dificuldade para entrar num lugar desses. É que, diferente do que estou acostumada no Brasil, igreja aqui só fica aberta durante os rituais: missa, batismo e casamento.
Tentei dar uma espiada enquanto um funcionário da manutenção deixava o lugar e foi ele que me deu a dica.
“Quer rezar? Tem a capela ali. Para conhecer, só durante o tour”. 
Então tá, assim me juntei ao grupo de velhinhas.
Diz a história que a Catedral de Houston foi o primeiro espaço religioso oficial construído na cidade. Foi levantado no centro em 1839, quando Texas ainda era um país e Houston era a capital.
Como aconteceu com muita igreja por aí, o local também enfrentou seu incêndio, com prejuízo principalmente para as obras do altar, mas seus vitrais nunca se abalaram nem diante de um furacão.
Na contramão do que acontece em outros estados, o bispo fica aqui, e não na capital Austin. O motivo: o tamanho da cidade, a quarta mais habitada dos EUA.
Mas vamos às coisas que me chamaram a atenção:


  • A entrada principal fica na lateral e não no fundo da igreja. 
  • O local tem, claro, um memorial para os mortos em guerra. 
  • O espaço tem muito madeira. 
  • É tudo impecável. 
  • Tudo limpo, tudo bem cuidado. 

Achei a igreja muito bonita.
Mas não tem gente! Não tem vela acesa! Não tem reza! Não tem ninguém fazendo promessa!

Estranho...

Carmem Galbes

Fotos: arquivo pessoal

Que? Não tô entendendo nada e a culpa não é da expatriação!

Olá, Coexpat!
Tem coisa que acontece mesmo em todo canto do mundo. Talvez, porque seja mais uma característica pessoal que cultural, se bem que aprendi ser impossível a cultura não pesar no sujeito.
Mas, voltando na tal característica que considero global: a incapacidade de ouvir.
O exemplo me veio hoje pela manhã. Adoro tomar café em companhia dos matinais da TV americana. Não que sejam bons, nem ruins...são o que são.
Parei em um dos três mais assistidos por aqui - The Early Show.
No quadro “New Year, New You”, o convidado tentou muito, mas muito mesmo falar como poderíamos usar as informações a nosso favor, mas ele não conseguiu...
O autor Kenneth Davis me prendeu quando ele comentou que um dia bom é feito de lições e acrescentou: “se (Alan) Greenspan disse que tinha algumas crenças erradas, então por que não teríamos também?”
Tentei acompanhar o raciocínio dele, que continuou: “está na hora da gente saber o que realmente serve para o nosso dia dia, a nossa vida...”, mas o âncora Harry Smith não deixou a lógica ir pra frente.
Ele interrompeu tanto, que, apesar dos quase 4 minutos de conversa - dizem que um bom tempo para TV, o material ficou vazio.
Claro que fiquei em dúvida: será que eu não entendi? Será que não aprendi nada? Olha, assisti de novo e tive dificuldade em encontrar conteúdo ali.
Tudo bem que o âncora tem um currículo e tanto. Mas de que adianta tanta experiência e preparo se falta ouvido?
Dizem que a gente ouve só o que quer. Mas a coisa fica feia mesmo quando a gente não deixa falar.
Que coisa!


Carmem Galbes
Imagem: SXC

O X da questão.

Olá, Coexpat!
Quando ainda não existia o termo "coexpatriad@" e tratava todo mundo aqui como "X". Direto do túnel do tempo...
Dia desses estava pensado por quê, afinal de contas, acabei nos apelidando de X?
Se me lembro, buscava uma forma prática de me dirigir às navegantes que dividiam a condição de expatriada.
Mas, com o virar da bússola, esse diminutivo acabou restrito demais - exatamente o contrário da generalidade que o x costuma representar - engraçado, né?
O fato é que fiquei pensando na letra x e acabei encontrando motivos para ela continuar presente e maiúscula em cada saudação.
Primeiro vamos à abrangência fonética.
O x pode ser ouvido no chiado de uma caixa, no zumbido de um exercício, no tossido de um anexo ou no sopro de um máximo. Me acostumei a cumprimentá-la com o som de tossido: Olá équis!
O cromossomo X pontua que a letra está definitivamente associada à linhagem feminina.
Mas, de verdade, me incomoda essa restrição de gênero. Apesar do expatriadas, gosto de falar com o expatriado também. Esse "q" de unissex que essa letra tem me deixa mais traquila.
Acho, ainda, que a simbologia do x tem muito a ver com o meu momento de vida.
Pode representar contraposição: razão x emoção.
Pode indicar multiplicação: 70 x 7.
Também é 10 em algarismo romano. E 10 é sinônimo de sucesso. Mas, ao mesmo tempo, o x indica erro. Vai entender...
O x-man salienta que o x tem tudo a ver com mutação e estranheza.
A questão é que o x marca a incógnita e é isso que faz dele um xodó por aqui.
Então, até amanhã X

Carmem Galbes
Imagem: Tinta Azul

Feliz 9 de janeiro de 2009!

Olá, Coexpat!Quando eu era criança, aprendi que 6 de janeiro, além de ser dia de Reis, é data para desmontar árvore e recolher enfeites de natal. Todo ano era assim. Depois de festa, presente e visita, vinha o desmontar da cena natalina. Era um momento simbólico até. Uma nova fase começava. A sala voltava ao normal. As bolas voltavam para a caixa, os bonecos entravam em um sono de um ano, a árvore, se natural, iria se decompor ou ressuscitar por aí ou, caso imortal, voltava para o maleiro.
Aí cresci. Mudei, mudei, mudei, mudei. Tentei criar essa rotina de investir em um cenário de natal em casa. Mas nem sempre conseguia montar na data que aprendi ser a correta - 1 de dezembro - nem desmontava no dia certo. Isso me deixava culpada, em desacordo com o ritual. Esse ano não teve nem enfeite de porta, que ficaram empacotados no Brasil. Nem por isso deixei de prestar atenção nas decorações por aí.
Interessante que pelas bandas de cá ainda tem muita casa brilhando de longe, muita guirlanda na porta. Fico fantasiando. Imaginando se os moradores ainda estão viajando. Me pergunto se esqueceram, se estão muito ocupados, se não ligam...
Engraçado disso tudo é ver como o velho chega rápido. Até outro dia, esses produtos cintilavam nas prateleiras e pesavam no bolso. Agora são tralha com 75% de desconto.
Ok, sei que enfeite de natal, como acontece todo ano e há pelo menos 2 mil anos - têm data para entrar e sair de cena. Mas com esse negócio de excesso de produção chinesa sobra muita coisa. Aí os enfeites ficam presentes na vida da gente ainda por um bom tempo, nem que seja jogados numa cesta qualquer.
Fiquei tentada a levar um desses pra casa. 75% de desconto!
Dizem que a lógica de quem sabe ganhar dinheiro é comprar na baixa e vender na alta, não que fosse vender meu mimo...
Mas, não tem jeito, se é difícil - em pleno 40 graus - comprar agasalho pensando no frio que pode vir laaaaá longe, imagine enfeite de natal depois do ano novo!
Além do mais é muito tempo pra frente e foi isso que me fez parar. 300 dias e tralalá. É muito tempo. Não levei. Mas a pausa diante do bacião foi boa. Me trouxe de volta para o agora. Espero mesmo que seu ano todo seja bom, mas que tal a gente ir por partes? Então, feliz nove de janeiro de 2009!


Carmem Galbes
Imagem:SXC

Um brinde à expatriação!

Olá, Coexpat!
Tem coisa muito interessante na vida mesmo. Uma delas é como, com o tempo, a gente se acostuma com as coisas ou se encaixa nos costumes.
Pode parecer bobo ou simples demais, mas quando finquei bandeira na terra do tio Sam tinha uma coisa que me incomodava muito em restaurante: o fato de ter que pedir a bebida sem ter a chance de olhar o cardápio.
Isso mesmo. Geralmente acontece assim: você chega, a (o) hostess te acompanha até à mesa já com os talheres em mãos. Você senta e aí vem o garçom: “olá, meu nome é fulano e vou “estar atendendo” (aqui essa construção gramatical é correta) vocês hoje. E de cara já solta: “o que vão beber?”
Eu não sei! Acabei de chegar! Tenho que ver! Essa era a resposta que sempre calava. No começo esse negócio de ter que pedir a bebida de supetão me irritava um pouco. É que gosto de ver o cardápio, ver o que tem, apesar de sempre pedir a mesma coisa: água sem gás ou vinho tinto.
Uma opção seria dizer ao garçom que ainda não tinha decidido. A resposta comum era: “ok, vou trazer água assim você vai pensando.” Um minuto depois lá vinha o ser: “já decidiu a bebida?”
Adotei táticas. Pensava na bebida já no caminho. Assim, a resposta saia quase antes da pergunta. Também comecei a considerar a opção de só ficar na água, já que tem garçom que traz a água sem você pedir.
Outra estratégia para evitar estresse é não pedir sugestão para quem serve. Gente, parece um narrador de corrida de cavalo. Além de você não entender nada, ainda fica na dúvida se seu bicho realmente ganhou. E de pensar que basta olhar o cardápio...
O engraçado é que dia desses percebi que havia me acostumado tanto com esse esquema, que fiquei impaciente com a demora do garçom em perguntar o que eu iria beber.
Mas o que interessa mesmo é o brinde. Seja com água ou sei lá o que. Em cristal ou de plástico. O fato é que adoro brindar, coisa de filme, sabe...
Então, um brinde à expatriação, essa coisa que vira a gente do avesso, que carrega a semente de transformar a gente em gente melhor!

Carmem Galbes
Imagem: SXC

Expatriação e amor próprio.

Olá, Coexpat!
Eu sempre tive muita dificuldade em entender o relato de Mateus lá no capítulo 22 em relação ao que Jesus disse sobre o amor: “ama o seu próximo como a si mesmo.”
Eu me lembro que na adolescência achava isso improvável e na fase adulta passei acreditar ser impossível. Mas com as últimas mudanças de endereço e, por causa disso, a necessidade de me relacionar com gente bem diferente, voltei a pensar no assunto.
Pode mesmo acontecer de a gente amar outra pessoa como a gente se ama? Claro que não falo aqui de filho, marido, família e amigos, falo de ser humano no geral.
Hoje estou quase certa que sim. Mas, essa certeza não tem a ver com conversão espiritual ou coisas do tipo, não. Tem a ver com as descobertas práticas da vida.
Acho que a minha confusão com as palavras de Jesus tinha mais a ver com o fato de eu pressupor que a gente se ama incondicionalmente e no máximo grau que o amor possa existir, o que não é verdade.
Será, então, que a gente ama o próximo à medida que a gente conhece o amor para com a gente mesma? Se me amo pouco só posso amar outras pessoas na mesma intensidade? Então, será que quanto mais me amo, mais tenho a capacidade de amar os outros?
Tudo bem que esse negócio de se amar primeiro para depois amar o mundo pode parecer um clichezão brabo, mas vai tentar se amar de verdade, de verdade mesmo! É um árduo trabalho, mas é absolutamente possível!

Comece por parar de se sacanear, de se machucar, de se prejudicar. É difícil, às vezes a gente se esquece, às vezes a gente nem percebe a sabotagem. Mas mude a chavinha para o autoperdão, autopaciência. Trata-se com carinho, fale com você mesma com delicadeza, converse sendo a você adulta e madura lidando com a você criança, pronta para absorver todas as experiências. Entenda e explique para você mesma o que aconteceu e como você pode fazer diferente, fazer melhor. Pare com essa história: "você é uma burra mesmo, não faz nada direito, eu sabia que você ia desistir, você sempre faz isso..." Pare com isso já!
É um exercício diário e sem fim. Mas vale a pena. No fim das contas, somos nós com nós mesmas em uma jornada que existe única e exclusivamente para que a gente evolua!

Carmem Galbes

Choque cultural e suas cutucadas...

Olá, Coexpat!
Depois das dicas sobre como fazer bons negócios, esticar o dinherim, enfim, comprar melhor, a notícia agora nos programas matinais de TV nesse período pós natal é o que fazer com a mercadoria que você comprou e não quer mais.
Interessante esse negócio por aqui. Você vai à loja, gasta ou investe - como preferir - tempo, paciência e dinheiro e depois ainda tem a oportunidade de se arrepender.
Ainda não precisei apelar ao benefício, mas o fato é que isso pode ser bem legal. Às vezes acontece. Você acha que a blusa vai combinar com aquela saia, mas só quando chega em casa percebe que não caiu bem.
O fato é que tem muita gente que simplesmente compra e só decide se queria mesmo comprar dias e quilômetros depois. Deve ser por isso que o povo vive carregado de sacolas.
É simples. O sujeito arrependido, munido de nota fiscal e da mercadoria sem uso - é importante salientar isso aqui - volta à loja e diz que não quer mais brincar. Devolve o produto e a loja devolve o dindim. Isso mesmo, é verdinha na mão, não tem essa de ter que trocar por outro produto. É satisfação garantida ou seu dinheiro de volta - lembra do slogan da Sears?
Pois bem, tentei traduzir isso para a cultura brasileira. Será que funcionaria no mercado verde e amarelo? Será que as pessoas seriam realmente honestas a ponto de devolver a mercadoria sem uso?
A resposta: não sei e não ouso adivinhar. Sei que por aqui essa estratégia dá o que falar.
Dan Ariely, um renomado estudioso da relação do ser humano com as finanças, acredita que é a oportunidade que define o caráter. Ele traz em seu livro “Previsivelmente Irracional”, alguns dados sobre como o americano lida com a devolução de mercadorias.
De acordo com o livro, as lojas nos Estados Unidos perdem, em média, US$ 16 bilhões por ano com clientes que têm por hábito usar a roupa com a etiqueta escondida para não perder o benefício da devolução.
Esse valor, segundo o autor, é quase 30 vezes maior que a perda que os Estados Unidos têm por ano com os chamados roubos tradicionais, aquele em que o ladrão leva o carro ou invade a casa.
Engraçado que, apesar disso, o mecanismo não sai de cena. É sempre assim, um monte de gente comprando e devolvendo a mercadoria que não deveria, mas está usada.
Dan Ariely fala da perda para as lojas. Mas “pera lá”, será que o comércio perde mesmo ou passa a bola pra frente? Será que o benefício da devolução se mantém porque a mercadoria simplesmente volta para a venda como se fosse sem uso? Quanta gente está comprando o novinho em folha usado só algumas vezes? Será que o prejuízo se limita aos bilhões de dólares ou devemos incluir também outras perdas, como a de confiança nas pessoas e no sistema?
Então, fico aqui pensando...Será que tem muito...ah, deixa pra lá...vou dar uma volta.


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Minha primeira virada de ano como expatriada e as lições que aprendi!

Olá, Coexpat!

Depois de umas férias pra lá de divertidas, período cheio de rodopios e frio na barriga, cá estou. E de pensar que a gente se viu lá em 2008 e já é 2009. Interessante que dessa vez não tem essa de festa esticada, entende? Não tem carnaval para dar aquela preparada no recomeço. Quando o calendário pulou do 31 para o dia primeiro foram uns fogos ali, um brinde acolá e “vamo que vamo.” Isso pra quem é daqui dos States, porque pra quem não é, pra quem tem sangue brazuca na veia, houve fogos, brindes, festa, comida, brindes, fogos...e claro, retrospectiva!
E como dizem nos campos de futebol da vida, o retrospecto foi positivo.
Dentro da categoria “o que aprendi” tem bastante coisa.
Aprendi, por exemplo, novas palavras, sinônimos, antônimos e metáforas. Conheci regras gramaticais mais apuradas e termos mais atualizados.
Fui a lugares diferentes, encontrei pessoas diferentes, lidei com jeitos diferentes, mas nem por isso me senti estranha, só diferente.
Aprendi a blogar, mas sei que vai demorar para eu deixar de engatinhar no assunto.
Lembrei que carpete no quarto é uma delícia e que entrar sem sapato ajuda a conservá-lo limpo.
Aprendi que casa com menos móveis pode deixar a vida mais simples e que dirigir não é algo perigoso que te expõe à violência.
Também aprendi que varal não faz falta e que produto que tira mancha aqui pode substituir o vermelho do molho de tomate por um buraco. Nunca vi poder igual!
Espantada, vi que uma chave de fenda e um martelo são suficientes para aprontar a decoração da casa, ao mesmo tempo compreendi que o tamanho da nossa felicidade é proporcional à habilidade que temos em acumular ferramentas.
Comprovei que só depende da gente o dia ser bom, a experiência ser rica e o momento valer a pena. 
Aprender que só depende da gente dá um baita poder!
Claro que vai ter sempre alguém para dizer que não...mas só depende da gente!
Ah, também entendi que não é porque a gente está longe que tem que aturar certas situações, certas ocasiões, certas pessoas.. Mas também entendi que, definitivamente, sem gente por perto a gente é menos gente...
Mais uma vez vi que a mudança é inevitável e será mais tranquila à medida que não relutemos diante do que já está em curso.
Outra lição: nem tudo que enverga quebra!
Pera aí, esse é meu primeiro dia útil do ano, então chega de pretérito, vamos ao presente. Aliás, o melhor presente foi não ter que ficar batendo a cachola sobre o que dar de presente, apesar de adorar presentear...
Mas, sobre o dia de hoje, chuvoso, seis graus, arrumação geral...

Tenho certeza que vai ser um ótimo ano pra todos nós!

Carmem Galbes
Imagem: SXC

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...