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Leve Entrevista: filhos bilíngues.

A família recebe o convite para expatriação: tira vistos, organiza documentos, doa móveis, compra roupa, vende o carro, cancela serviços, desocupa a casa e vai todo mundo para um intensivão para tentar captar algo do idioma local até a chegada ao novo endereço.
Com gente grande é assim. Mas quando tem expatriadinho na mudança? E quando o pequeno "aparece" no meio da missão? Que língua usar? É melhor deixar pra lá o português? Com um idioma em casa e outro fora, a criança pode ficar confusa, perdida, gaga, começar a falar mais tarde, ter dificuldade para aprender a ler e escrever? São tantas dúvidas e caraminholas. O fato é que transformar pensamento, emoção, sentimento em palavras e frases coerentes não é tarefa fácil nem no idioma em que se nasceu ouvindo, por isso tanta aflição em torno da educação dos pequenos que estão longe do nosso burburinho. Colin Baker - considerado um dos maiores especialistas em bilinguismo infantil - diz que há muito mais benefícios que desvantagens em se aprender mais de um idioma ainda na infância. Ele acrescenta que o bilinguismo no começo da vida acaba levando a culpa por problemas que não causou. Nessa linha, a pesquisadora Ivana Brasileiro salienta que o sistema de percepção de sons é mais aguçado na primeira infância, daí a maior possibilidade dos pequenos atingirem a vida adulta com um alto nível de proficiência em uma língua estrangeira. Na tese de doutorado - concluída em 2009 no Instituto de Linguística da universidade de Utrecht, Holanda - Ivana investigou como as crianças fazem para aprender dois idiomas ao mesmo tempo. Dos seus estudos, nasceu um trabalho para ajudar as famílias que vivem pra lá e pra cá. "Tão interessante quanto a pesquisa em si foi o contato que tive com essas crianças e com seus pais. Um "eye-opener" e fonte de inspiração. Tanto que um ano após encerrar a pesquisa comecei a organizar workshops - juntamente com duas colegas - para pais interessados em educar seus filhos bilíngues."

Leve - Quando apresentar ao bebê - filho de brasileiros - o idioma local? 
Ivana Brasileiro - Tanto para o aprendizado do idioma local quando para o aprendizado da língua materna o ideal é que se inicie o quanto antes. Se possível até mesmo antes do nascimento, já que várias características linguísticas - como por exemplo o ritmo, que varia entre idiomas - alcançam o bebê ainda no útero. Isso não quer dizer que a criança não seja capaz de aprender um idioma mais tarde, para várias crianças - e mesmo adultos - isso acontece muito naturalmente.

Leve - Em família, o Português. Fora de casa, o idioma local. Como lidar com o bilinguismo entre as crianças que ainda estão aprendendo a falar? 
Ivana - Da forma mais natural possível. Se levarmos em consideração que no mundo existem mais crianças bilíngues do que monolíngues, podemos concluir que monolinguismo é exceção e bilinguismo a regra. Para uma criança aprender uma língua - local ou materna - a única coisa que ela precisa é exposição nessa língua. Muita exposição: em diferentes contextos, com diferentes pessoas, sobre assuntos diferentes etc. Essa exposição também deve ser ativa, com interação.
Televisão e internet são ótimos meios como suporte para aumentar o vocabulário da criança ou mesmo o interesse dela nessa língua, mas não são substitutos para a interação. Nenhuma criança vai aprender uma língua simplesmente assistindo televisão.
Existem vários mitos sobre o bilinguismo e isso - às vezes - assusta os pais. Um dos mitos mais conhecidos é de que crianças bilíngues começam a falar mais tarde. Pesquisas recentes, entretanto, revelam que crianças bilíngues alcançam todos os marcos linguísticos na mesma idade que crianças monolíngues.
Nos anos 60, até achava-se que crianças bilíngues eram menos inteligentes que crianças monolíngues.
Para os pais é necessário que eles estejam firmemente convictos de que bilinguismo não afetará o seu filho de maneira negativa. Talvez até pelo contrário: um dos efeitos mais espetaculares do bilinguismo é a proteção contra a demência. Uma pesquisa feita no Canadá revela que idosos que foram criados bilíngues desenvolvem demência em média mais tarde e de forma mais leve do que idosos que foram criados monolíngues. Outro problema com o qual pais de crianças bilíngues são confrontados é com a recusa por parte da criança de falar o idioma materno, principalmente quando a criança começa a ir para escola ou quando atinge a adolescência. O meu conselho seria para continuar falando sua língua materna sem dar importância excessiva à recusa. É também importante que a criança tenha contato com outras crianças, família, outros adultos que falem a língua dos pais.

Leve-  Como introduzir o idioma local entre as crianças que ainda estão em processo de alfabetização da língua materna? Ivana - O ideal é que a criança entre em contato com a língua primeiramente em um ambiente informal, com amigos, família etc. Essa é também a forma mais eficiente de se ensinar um idioma para uma criança. Diferente dos adultos, que aprendem uma língua com mais facilidade na escola do que na rua.
Além disso, especialistas recomendam que uma criança seja primeiramente alfabetizada na língua na qual ela é mais fluente e só posteriormente na(s) outra(s) língua(s). Muitas das habilidades e estratégias que a criança desenvolve para aprender a ler e escrever em uma língua serão transferidas para o aprendizado na outra língua, o que significa que o processo de alfabetização não recomeçará do zero. Isso dito, gostaria de acrescentar que a alfabetização bilíngue não é prejudicial para a criança.

Leve - Quais o prós e contras de uma alfabetização bilíngue? Ivana - Com relação somente à alfabetização bilíngue, o benefício mais observado é o da questão econômica: no nosso mundo globalizado saber ler e escrever em vários idiomas aumenta suas chances de trabalho. Não podemos esquecer também a questão cultural: saber ler e escrever em várias línguas significa acesso à uma literatura muito mais vasta. Mas na minha opinião, a maior vantagem da alfabetização bilíngue é o suporte ao bilinguismo de um modo geral. Ou seja, crianças que aprendem a ler e escrever na língua dos pais - no caso dessa língua não ser a língua local - tendem a falar melhor essa língua e, quando adultos, continuarem a falar. Os contras ficam mais na parte prática. Tanto para os pais quanto para as crianças a alfabetização em uma língua que não seja a língua usada na escola da criança custa tempo, e - às vezes - dinheiro. Para a criança, por exemplo, pode ser frustrante ter que ir à escolinha no sábado enquanto todos os seus amiguinhos estão brincando. É necessário tomar cuidado para a que a criança não desenvolva uma atitude negativa com relação a esse idioma.
Carmem Galbes  

Acho que eu "vou não ir"...

Olá, Coexpat!
Essa é para quem está em dúvida se casa ou compra a bicicleta, se fica com um pássaro na mão, se aceita o convite de expatriação.
Água e sabão, capacete, cinto de segurança, filtro solar, mosquiteiro, vacina, camisinha...
A fala, ou o raciocínio - como preferem alguns - pode até distinguir o humano dos outros animais, mas é a capacidade de previnir que nos torna supremos nessa selva.
O porém é que, às vezes, é tanta proteção, que parece que a gente só consegue respirar tranquila sob o aval de uma grande apólice.
É seguro saúde, de vida, de casa, de carro. Tem seguro de perna, de bumbum, e um gênio já deve ter segurado o próprio cérebro.
É um tal de ligar o alarme, trancafiar os portões, soltar os cachorros.
E pega o antiácido. Renova o antivirus.
Panela? Só antiaderente!
Ai de quem esquece de tomar o anticoncepcional.
E quem não se rende ao antiruga, antiolheira, anticelulite?
E como gastamos com shampoo antiqueda, anticaspa, antifrizz.
Tá certo que o piso antiderrapante só ajuda, que corrimão é fundamental, que apartamento com criança tem que ter grade na janela, que poupança pode ser uma aliada para um bom sono.
Mas, sinceramente, quem consegue usar a tal da garantia estendida?
E esse negócio de pagar uma taxa anti-inadimplência em financiamento caso você fique desempregada? Se você acredita que pode ser despedida, não se endivide!
Seja você mesma a sua corretora de seguros, porque entre "uma-pequena-taxa-extra" e outra gasta-se tanto para afastar o risco que não sobra nada, nem energia, para aventurar-se!
Ok, acho fundamental pesquisar, ponderar, planejar.
Mas, no fim das contas, muitas vezes, o jeito é dar um upgrade na coragem e cair na vida!
No mínimo, você vai ter muita coisa pra contar!
Pode até ser um "causo" de carro batido, de alarme de incêndio...mas capítulo na sua história de vida é o que não vai faltar!
E tenha sempre em mente que nada é garantia de nada.
Se você não está feliz longe de casa, apesar de todo o potencial de enriquecimento que uma expatriação traz, não se convença que é assim mesmo. Converse comigo que eu sei como te ajudar!
Estou no contato@leveorganizacao.com.br
Não desperdice nenhuma chance de viver a vida que você quer!
Carmem Galbes

Entre terremotos e imposto de renda.

Olá, Coexpat!

Dizem que dá azar pensar no pior. Que atrai desgraça! Será? Será mesmo que o fato de um prédio ter uma rota de fuga atrai terremoto? Será que uma reserva de água potável e comida enlatada provoca furacão? Desde quando sair com guarda-chuva traz tempestade e levar a blusa chama o frio? 

Depois do Haiti e Chile, a precaução não parece ser um quadro tão neorótico como alguns adoram pintar . Mas é só depois que a terra treme, afunda, inunda que fica a pergunta," mas por que eu não fiz isso antes?"Enfim, também não dá para passar a temporada no exterior tentando se esquivar de todos os riscos. Mas só para garantir, vai que...a dica é deixar bem claro onde você está, como pode ser contatado e onde encontrar seus parentes no Brasil.
Um caminho para isso é a matrícula consular. O registro é de graça. Cada consulado tem seu procedimento, por isso consulte a página do consulado da região onde você está. Mais informações aqui.
Agora se você quer mesmo que o mundo te esqueça, bico fechado...cada um é cada um, né?
Você só não vai conseguir se livrar é do leão.Toda temporada de caça é a mesma coisa, expatriados com muitas dúvidas.
A receita federal  disponibiliza alguns canais para as questões de quem está longe.
- Email: residente.exterior@receita.fazenda.gov.br
- Telefones: 0055 61 3412 4100 / 4116 / 4119- Fax: 005561 3412 4141


Pelo que acompanho, a maioria quer saber mesmo quão dolorosa vai ser a mordida sobre o patrimônio acumulado no exterior.
O consultor Lázaro Rosa da Silva, do Cenofisco - Centro de Orientação Fiscal, é quem nos ajuda com essa angustiante dúvida.


Leve- O que acontece com os bens e a riqueza acumulados no exterior? É preciso recolher imposto sobre esse patrimônio?
Cenofisco - Os bens e riquezas acumulados no exterior deverão ser informados na declaração de bens. Para evitar variação patrimonial negativa o mesmo valor deverá ser informado na ficha "Rendimentos Isentos e Não-Tributáveis". Neste caso não é necessário recolher imposto de renda.


Leve - Mesmo depois de entregar a declaração de saída definitiva., quando voltar a viver no Brasil, o repatriado passa a ser residente automaticamente? Quando deve voltar a entregar a declaração de IR normalmente?
Cenofisco - Sim, o brasileiro que adquiriu a condição de não-residente no Brasil e retorne ao País com ânimo definitivo, na data da chegada, é considerado como residente. A partir desse momento estará obrigado à apresentação da Declaração de Ajuste Anual de acordo com as regras estabelecidas pelo fisco Federal.
Carmem Galbes

Leve Entrevista: expatriação e negociação.

Olá, Coexpat!
Negociação. Ô conceito difícil de aplicar, isso em qualquer setor da nossa vida. E negociar pode ser ainda mais complicado quando acontece em meio ao tão desejado e - às vezes - tão batalhado convite para expatriação.
O que pedir? O que recusar? Quando retroceder?
O expert em negociação, Márcio Miranda, aterrissa aqui no blog da Leve e dá uma ajudinha nessa escala tão importante dessa viagem que é a mudança para outro país.
O especialista fala da importância do controle das emoções, do risco do "fio do bigode" e da necessidade de esclarecer tudo antes do embarque.
Aproveite!

Leve - O convite para uma expatriação, geralmente, está aliado à ideia de promoção, mesmo assim a transferência requer muita negociação. Como deve ser essa negociação, em que - aparentemente - a empresa está em uma situação superior?
MM - Nem sempre a empresa tem mais poder no caso de um convite para expatriar o funcionário. Possivelmente a escolha de quem vai ser transferido é criteriosa e a empresa tem mais a perder do que o funcionário. Cada ponto deve ser negociado cuidadosamente e sem se perder o controle da emoção. Mesmo que a expatriação pareça bem atraente para o funcionário, ele deve administrar a ansiedade e pedir alto. Não é o momento de mostrar fragilidade.

Leve - O entusiasmo pode embaçar pontos que devem ser devidamente acordados. Quais tópicos não podem faltar quando se negocia a ida para o exterior?
MM - Tudo deve ser negociado antes da partida. Depois do fato consumado, o poder muda de lado e fica totalmente a favor da empresa. Acordos verbais são esquecidos, a direção da empresa pode mudar e fica tudo mais difícil. O funcionário tem mais poder antes de dizer o “sim” e se mudar.

Leve - Quando retroceder? Deixar para negociar alguns pontos - como aumento de subsídios para moradia e estudos - quando já se está no exterior pode ser uma boa estratégia?
MM - O mundo moderno requer um processo de negociação contínuo porque a situação muda de uma hora para outra. Usar o bom senso para não passar a imagem de uma pessoa só preocupada com o próprio salário e não com a situação da empresa.

Leve - Crises econômicas, mudanças de foco na empresa, alteração de chefia. Como fazer valer a negociação em um mundo tão volátil, já que muitos acordos funcionário-empresa são verbais?
MM - Tudo o que é negociado de forma verbal é não-profissional. Não existe a postura de “fio de bigode” porque o negociador do outro lado pode mudar e o novo chefe, sem todos os detalhes do acordo, pode duvidar de tudo o que não foi registrado.

Leve - Estar longe das decisões, de casa - às vezes, da família, em outra cultura. Muitos profissionais buscam se preparar para viver a situação crítica, mas não para revertê-la. Em termos de técnicas negociação, o que o expatriado deve levar na mala?
MM - O mais importante é ter bastante jogo de cintura e capacidade de adaptação - cultura, clima, comida, costumes, etc. Se houver uma sensação contínua de perda, muitas saudades do Brasil, etc. provavelmente esta pessoa não tem o perfil adequado para trabalhar no exterior. Adaptabilidade é a palavra chave para o sucesso.

Leve - Poderia dar dicas de leitura-pesquisa sobre o tema?
MM - Livros de autores como Roger Dawson, Chester Karrass e o Negociando Para Ganhar, de minha autoria.

Leve - O blog da Leve aproveita a presença de Márcio Miranda para ajudar nessa dúvida de um expatriado. A identidade dele foi preservada.
“Eu trabalhava em uma multinacional no Brasil e surgiu uma oportunidade de trabalho em uma das filiais no México. Aceitei a proposta para trabalhar aqui no México por um período de 2 anos. Devido à crise internacional a empresa está me mandando de volta para o Brasil com apenas um ano de contrato cumprido. A empresa no Brasil disse que não tem vaga para mim no momento lá. O que devo fazer?”
MM - No caso da pessoa que está no México existe a possibilidade de se procurar uma nova transferência para outro país, ficar no México em outra empresa ou voltar ao Brasil e claro, receber o que foi combinado. Novamente, se o acordo foi meramente verbal é quase impossível negociar a partir de uma posição de força. Se estiver tudo bem registrado, o melhor é nem negociar e partir para receber o que a empresa lhe deve.


Carmem Galbes

Leve Entrevista. Expatriação e alimentação.

Olá, Coexpat!
Você organiza tudo. Pesquisa os costumes no novo endereço, procura imóvel pela internet, faz as contas, prepara a mudança, fecha as 500 malas, separa os documentos e embarca nessa aventura.
Depois de um tempo você percebe que entrou para o time de Xs! Mas nem tudo é tão saboroso...Tem algo estranho na cozinha. Pode acontecer com você, com o parceiro ou parceira, com algum filho...A comida simplesmente não cai bem.
Por isso a conversa hoje com a nutricionista Pérola Ribaldo. A especialista em qualidade e segurança dos alimentos argumenta como é importante dedicar atenção especial às refeições pra lá da fronteira, mesmo antes de partir.
Para quem busca mais ingredientes sobre o tema: http://www.perolaribaldo.com.br/
Bom apetite!

Leve - O turbilhão das providências que antecedem uma expatriação desvia o foco de algo essencial, as refeições no novo endereço. É possível se preparar para reduzir os impactos de uma nova cultura alimentar?
PR - Procure pesquisar um tempinho antes quais as opções alimentares do seu novo endereço. É importante chegar sabendo o que é o que para não cair em "armadilhas". Busque na Internet, converse com amigos ou conhecidos que já moraram no país para onde você pretende mudar e tente vislumbrar os alimentos que se parecem com aqueles aos quais você está acostumado. Depois de algum tempo "adaptando" o que a região te oferece aos seus hábitos, aí sim é hora de experimentar. Em resumo, primeiro você deve buscar os alimentos mais próximos possíveis do seu hábito e só depois acrescentar a nova cultura à sua rotina... assim o choque é menor e os riscos também.

Leve - Produtos desconhecidos, temperos exóticos, preparo diferente. A culinária a que o expatriado passa a ter acesso pode ser um sonho ou um pesadelo. Os extremos podem resultar em excesso ou perda de peso, sem contar nas infecções. Como não adoecer?
PR - Nunca experimente aquilo que você não conhece. Colegas de trabalho e outras pessoas que estejam na mesma situação que você, de expatriado, podem te dar dicas e até ajudar com experiências positivas ou negativas que tiveram com a cultura alimentar local. Depois de saber o que você deve ou não comer, é hora de conhecer os novos alimentos, mas sempre em pequenas quantidades. Lembre sempre que cada corpo reage de forma diferente aos alimentos, portanto use sempre doses pequenas até estar seguro! Nunca chegue querendo conhecer tudo imediatamente, tenha calma e aos poucos vá se incorporando aos hábitos locais.

Leve - Especialistas da área de saúde insistem na atenção que os expatriados devem dar ao consumo da água, que pode estar contaminada. Quais os cuidados com a alimentação?
PR - Comida sempre deve ser feita com água fervida. Já os vegetais devem ser lavados com água filtrada e fervida ou deixados em imersão de água com água sanitária (1 colher de sopa de água sanitária para cada litro de água) por pelo menos 15 minutos. A água de beber deve ser filtrada e fervida.

Leve - Durante essa outra entrevista sobre cuidados com a saúde, a enfermeira Adélia Apareceida Pinto fala da importância do brasileiro preparar uma “farmacinha particular” antes de deixar o país. O mesmo valeria para a cozinha? Existe algum ingrediente ou produto que facilite a adaptação alimentar em outro país?
PR - É sempre interessante ter produtos que façam a esterilização dos vegetais (tipo Puriverde) para garantir a higienização adequada dos alimentos que comemos crus. No mais, vale a pena manter alguns temperos que você goste muito e que não são fáceis de encontrar, como louro desidratado e coentro em pó. Porém, dependendo do país para onde você irá se mudar, é possível encontrar uma gama enorme de condimentos...por isso vale sempre pesquisar antes!!

Leve - Preparar a própria comida pode ser uma boa dica para o expatriado que não consegue se adaptar ao cardápio estrangeiro. Ocorre que nem sempre é fácil encontrar ingredientes que estamos acostumados. Quais as dicas para resolver essa “congestão”?
PR - Para o cardápio ficar mais leve, vale uma regrinha: as refeições devem ser sempre compostas por um carboidrato (arroz, batata, mandioca, mandioquinha ou macarrão), folhas verdes (que podem ser refogadas), legumes (que podem ser cozidos mesmo após congelados), leguminosas (feijão, ervilha, lentilha, soja ou grão de bico) e uma opção de carne ou ovo. Procure fazer a receita da forma mais simples possível, usando óleo e sal, sem arriscar condimentos que você não conhece. Evite carne mal passada e molhos que você desconhece os ingredientes. Se puder use tudo o mais fresco possível ou busque alimentos coringa, como os congelados e enlatados. Depois de algum tempinho no país, com certeza você estará mais à vontade para "testar" receitinhas locais.

Leve - Com relação às crianças, qual a estratégia para apresentá-las à nova culinária sem que isso resulte em grandes traumas?
PR - Manter ao máximo a rotina da família, oferecendo receitas simples, sem muitos molhos e temperos. O cardápio acima é uma forma simples de se alimentar, que certamente não terá "erros".

Leve - Quanto às grávidas, comer “longe de casa” pode ser um desastre. Quais as orientações para quem precisa se alimentar, mas não consegue engolir as receitas do país em que vive?
PR - Procure fazer a própria comida. Não dá para buscar em outro país a comida que temos aqui, a menos que a façamos nós mesmas. Mantendo um preparo pouco elaborado fica mais simples (ex: macarrão com molho de tomate fresco ou tomate pelado batido no liquidificador, arroz e carne grelhada, batatas assadas e filé de frango, purê de batatas e lombo suíno...)

Leve - Sugere alguma fonte de pesquisa?
PR - Sites de receitas, como o Mais Você e o Tudo Gostoso, contam com receitas internacionais "adptadas" ao nosso paladar. Podem ser boas fontes de pesquisa para quem mora em outros países utilizar os ingredientes disponíveis, mas sem perder o "jeitinho brasileiro".

Leve - Gostaria de acrescentar algo?
PR - Gostaria de reforçar a idéia de, antes de arriscar, primeiro conhecer o país , conversar com nativos e especialmente com pessoas que estejam na mesma realidade que você. Assim o risco de "entrar numa fria" é bem menor.

Leve Entrevista. Expatriação e saúde.

Olá, Coexpat!
Não tem jeito, a gente só lembra como é bom ser saudável quando fica mal...
E se tem uma coisa que a gente precisa quando entra em processo de expatriação é estar com o corpo e a alma em equilíbrio. Mas a tal da correria...
Quem nos ajuda a entender melhor como toda essa mudança afeta o bem estar e dá algumas dicas para organizar a agenda da saúde é a enfermeira Adélia Aparecida Pinto.
Com pós em Emergência, Saúde Pública e Enfermagem do Trabalho, Adélia é quem coordena a equipe que acompanha de perto o estado de saúde dos expatriados da Petrobrás.
Ela fala de cuidados básicos - como ficar atenta à qualidade da água que se bebe, lembra da importância de se montar a famosa “farmacinha” antes de partir e ressalta os cuidados necessários em relação à gripe que se espalha pelo mundo. Acompanhe o mapa de avanço da doença aqui.
Aproveite a entrevista!


Leve - Quais os cuidados necessários para quem se preparara para “embarcar” em um processo de expatriação?
AP - O primeiro é que toda a família visite médico e dentista. É importante solicitar um histórico pregresso - por escrito - da saúde, das doenças, as vacinas que já tomou, os medicamentos que toma, se for o caso, além de alertas como alergias, diabetes, hipertensão, etc. O ideal é que este histórico seja em inglês, para que tenha mais chances de ser entendido em mais países.Feitas as visitas, quem está no Rio de Janeiro pode marcar uma outra consulta no CIVES (Centro de Informações em Saúde para Viajantes). O Centro fica no Hospital Universitário da UFRJ- Fundão- 5o. andar. Os telefones são 21 - 2562 6205 e 21- 2562 6213. A consulta pode ser marcada por email - detalhes no
www.cives.ufrj.br - a família é atendida toda junta.
A equipe é formada por médicos e enfermeiros, um pessoal excelente, que está acostumado a orientar viajantes para o mundo inteiro.
Lembrando que o serviço é gratuito, inclusive as vacinas indicadas. Para alguns países há a exigência da carteira internacional para a vacina de Febre Amarela, mais detalhes na Anvisa. Vale lembrar que a vacina é fornecida nos postos de saúde e que é preciso pedir o comprovante. Os medicamentos e as vacinas obedecem um critério muito particular de cada pessoa, depende das características de saúde de cada indivíduo e das condições sanitárias de cada destino.

Leve - A automedicação é culturalmente difundida no Brasil. Em outro país, o brasileiro pode ter dificuldade para enfrentar doenças que ele mesmo diagnosticava e tratava com uma ida à farmácia. Como lidar com um novo cenário de restrição à venda de medicamentos? A velha farmacinha particular “made in Brazil” é uma boa dica para quem vai passar um período em outro país?
AP - Uma dica é levar na mala de mão um "estoque" de medicamentos mais usuais para uns 6 meses, lembrando de carregar junto a receita destes medicamentos em inglês, pois as aduanas podem pedir.
Atenção meninas: não é para levar uma farmácia inteira, o "estoque" é só para dar tempo de vocês se adaptarem aos medicamentos vendidos no país. Não se pode levar uma “farmacinha” para dois anos, até porque a autoridade aduaneira pode achar que você está fazendo um contrabando de medicamento, já pensou?
Mas aqui vai uma dica simples, barata e que eu já fiz, funcionou e pode ajudar a aliviar bastante a sensação de mal-estar... Quando chegar ao novo endereço, jogue as malas no chão e exclame: "amiga...este é seu novo lar doce lar". Chore se tiver vontade, enxugue as lágrimas, tome um banho demorado, ponha-se linda, saia para conhecer a redondeza e mergulhe aliviada na nova aventura!

Leve - O estresse causado por tantas providências que envolvem uma expatriação, e as novas condições ambientais a que o corpo estará sujeito podem fragilizar a saúde? A expatriação também exige um preparo da mente?
AP - Pode sim prejudicar a saúde, assim como todo processo que gera ansiedade, insegurança, mudança e providências. O ideal é ir arrumando as coisas aos poucos, guardando o que não vai usar no dia a dia, marcar as consultas com antecedência, procurar informações da cidade onde vai morar (hoje não há nada no mundo que o Google não ache...), conversar com outras expatriadas que estão ou já estiveram lá. Isso não resolve tudo, mas diminui bastante a ansiedade. O estresse gera sempre uma baixa da imunidade, deixando o organismo mais vulnerável às doenças.

Leve - É possível dizer que os expatriados brasileiros têm um perfil em comum no desenvolvimento de algumas doenças no exterior?
AP - Há algumas doenças que são comuns em qualquer lugar do mundo, mesmo na Suíça ou na França! São as diarreias, normalmente adquiridas por ingestão de alimentos e água contaminados, ou por tipos de alimentos que não estamos habituados. Por isso a orientação é sempre comer em lugares limpos e conferir a procedência da água e dos sucos.Viver a cultura de um país é uma experiência inigualável.
A comida e a música são as principais características locais, mas devagar com o andor...

Leve - Quais as regiões do mundo que exigem mais atenção na expatriação?
AP - Em especial os países da África, Oriente Médio e alguns da América do Sul.Conforme já disse, você terá de se alimentar com o que tem no lugar, vale então, no início, ter em mãos endereços de supermercados para estrangeiros.
Independentemente do país, é bom tomar todos os cuidados de higiene com os alimentos, e também ficar atento ao tipo de comida.
No começo, procure fazer refeições parecidas com as que estava acostumada no Brasil, depois vá se adaptando com os tipos locais.
Dica: "enfiar o pé na jaca" só depois de algum tempo, se fizer isso no começo a diarreia é certa...

Leve - Sobre a repatriação, a volta também exige alguma atenção especial à saúde?
AP - Exige sim, porque você já está adaptada à outra realidade, em condições melhores ou piores que no Brasil. Independentemente desta condição, o processo de repatriação é igual ao da expatriação.

Leve - Sugere alguma leitura ou fonte de pesquisa sobre o tema?
AP - Sugiro sempre consultar o link da OMS, com orientações importantes sobre saúde e viagens. A OMS é bastante restritiva, é bom ler sem entrar em pânico, principalmente em relação a vacinas e medicamentos. Vale mais se ater às orientações de medidas de prevenção, que são bem bacanas.

Leve - O vírus H1N1 pode ficar ainda mais assustador para quem está tão longe de casa. Daria alguma outra recomendação aos expatriados, além das já difundidas?
AP - As orientações continuam as mesmas de acordo com a OMS. Algumas informações seguem logo depois da entrevista.

Leve - Na sua opinião, a doença pode atrapalhar os planos de expatriação,tanto das empresas como dos funcionários?
AP - Segundo a OMS as viagens não estão impedidas, mas devem ser feitas em caso de extrema necessidade, isto vale para os Estados Unidos e México. Exceto para estes dois países, no momento, todas as viagens estão liberadas. A informação sobre a prevenção da doença é a melhor medida. Nunca é demais lembrar que ficar doente é horrível, ainda mais no exterior...Um transtorno para profissionais e empregadores.
Sobre a influenza A (H1N1).
É uma doença respiratória aguda (gripe), causada pelo vírus influenza A (H1N1). É transmitido de pessoa a pessoa, principalmente por meio de tosse ou espirro e de contato com secreções respiratórias de pessoas infectadas. Os sinais da doença podem se manifestar de 3 a 7 dias após contágio.Os sintomas são febre acima de 38º - de maneira repentina - tosse, além de dor de cabeça, dores musculares e nas articulações, e dificuldade respiratória.
Recomendações do Ministério da Saúde para os viajantes internacionais.
Aos viajantes que se destinam aos países afetados:
* Em relação ao uso de máscaras cirúrgicas descartáveis, durante toda a permanência nos países afetados, seguir rigorosamente as recomendações das autoridades sanitárias locais.
* Ao tossir ou espirrar, cobrir o nariz e a boca com um lenço, preferencialmente descartável.
* Evitar locais com aglomeração de pessoas.
* Evitar o contato direto com pessoas doentes.
* Não compartilhar alimentos, copos, toalhas e objetos de uso pessoal.
* Evitar tocar olhos, nariz ou boca.
* Lavar as mãos frequentemente com água e sabão, especialmente depois de tossir ou espirrar.
* Em caso de adoecimento, procurar assistência médica e informar história de contato com doentes e roteiro de viagens recentes a esses países.
* Não usar medicamentos sem orientação médica.
* Atenção! Todos os viajantes devem ficar atentos também às medidas preventivas recomendadas pelas autoridades nacionais das áreas afetadas.

Viajantes procedentes de outros países, independente de ter ou não casos confirmados, que apresentarem alguns dos sintomas da doença até 10 dias após saírem dessas áreas afetadas devem:
* Procurar assistência médica na unidade de saúde mais próxima.
* Informar ao profissional de saúde o seu roteiro de viagem.

Medidas adotadas com relação aos vôos internacionais.
Dentro da aeronave, as tripulações estão orientadas a informar os passageiros, ainda durante o voo, sobre sinais e sintomas da doença. Adicionalmente, a tripulação solicitará que passageiros com esses sintomas se identifiquem aos comissários.
Esses passageiros serão encaminhados para os postos da Anvisa ainda no aeroporto.
Ao desembarcar, todos os viajantes procedentes de países afetados recebem um panfleto com informações, em português, inglês e espanhol, sobre os sinais e sintomas, medidas de proteção, de higiene e orientações para procurar assistência médica. A Infraero ainda veicula nos aeroportos um informe sonoro.
Todos os passageiros vindos de outros países tem suas Declaração de Bagagem Acompanhada (DBA), retidas pela ANVISA. A DBA atua como fonte de informações para eventual busca de contatos se for detectado caso suspeito na mesma aeronave.
O passageiro procedente de país afetado que sentir os sintomas em casa após 10 dias de retorno da viagem deve procurar assistência médica na unidade de saúde mais próxima e informar ao profissional de saúde o seu roteiro de viagem.

Carmem Galbes

Leve Entrevista. Crianças expatriadas.

Olá, Coexpat!
Conversamos bastante por aqui sobre os impactos da expatriação. Se para gente grande a coisa pode ser complicada, imagine para os pimpolhos.
Na década de 1960, a socióloga Ruth Hill Useeem passou a classificar como Cross Culture Kid a criança que vive o período escolar, ou de formação, em outro país.
O sociólogo David Pollock fala em Third Culture Kid. Segundo ele, a criança com uma terceira cultura carrega características do país de origem e do local onde está vivendo, formando um cenário todo particular, uma cultura que não pertence a nenhuma região específica.
A psicóloga Simone Eriksson é quem nos ajuda a entender um pouco mais sobre o que se passa com os expatriadinhos durante as mudanças.
Com vivência nos Estados Unidos, Suécia, Polônia e Itália, ela foi fundo nas angústias de mãe para armazenar experiência profissional e poder auxiliar famílias que estão de partida, através de programas e workshops desenvolvidos pela Interculturalplus.
Simone salienta que o impacto no desenvolvimento da criançada é inevitável, e pode ser positivo ou negativo dependendo da experiência de cada família e da cada criança. “A minha experiência de 13 anos no exterior com meus dois filhos, agora com 8 e 15 anos, me ensinou que precisamos levar a sério as crianças, uma vez que elas não conseguem explicar a complexidade da experiência que estão vivendo, e, na maioria das vezes, não sabem dar nome ao que sentem. Devemos estar atentos e caso tenhamos dúvidas, recomendo sempre procurar profissionais com experiência própria em expatriação”, salienta.
Aproveite a entrevista!


Leve - A sra. concorda que ainda se dá pouca atenção à criança brasileira que vive um processo de expatriação?
SE - Infelizmente tanto as empresas quantos alguns pais despreparados ainda subestimam as dificuldades das crianças. Isso acontece porque esquecemos que a percepção das crianças e adolescentes é diferente das dos adultos. A minha pesquisa com crianças na fase de adaptação confirma que existem processos psicológicos específicos afetados pela mudança, fases de transição e adaptação das crianças dependendo da idade.

Leve – Como o processo de expatriação atinge a criança?
SE - O processo de expatriação atinge as crianças, de modo geral, nos processos psicológicos típicos de seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Ou seja, esta experiência é vivida e interpretada a partir do nível de desenvolvimento de cada criança.

Leve – Como a mudança deve ser abordada?
SE - Eu costumo dizer que uma mudança terá sempre seu impacto, ela pode ser bem ou mal sucedida, dependendo da assistência familiar, das diferenças culturais e de aspectos da personalidade de cada criança. Existem, no entanto, instrumentos práticos a serem usados para auxiliar pais e professores durante as fases de transições. Esses instrumentos aumentam a probabilidade que esta experiência seja vivida como algo estimulante e positivo.

Leve - Os autores Adrian Furnham e Stephen Bochner apontam que o expatriado passa por quatro fases durante o processo: euforia com a nova situação, choque cultural, adoção da rede social local até atingir o relacionamento intercultural. As crianças também passam por essas fases?
SE - Com certeza as crianças passam pelas mesmas fases, a diferença é que elas têm uma percepção mais concreta e egocêntrica da situação e isso pode dificultar seu entendimento.

Leve - Quais os maiores desafios na expatriação de uma criança? Há casos de expatriação mal-sucedida? Como identificar que algo não vai se encaixar?
SE - Durante uma expatriação, especialmente para pais de primeira viagem, os desafios estão em acompanhar atentamente os sintomas, informar a criança em uma linguagem infantil, e saber como ajudá-las. Os casos mal-sucedidos são - infelizmente - mais comuns que imaginamos. Tenho casos onde a criança para totalmente de falar, casos que elas vomitam todos os dias para não ir à escola, perdem os cabelos, etc. Porém, vale ressaltar que mesmo os casos não tão extremos necessitam de acompanhamento e esclarecimento para os pais.

Leve - É possível falar em idade crítica ou melhor fase para expatriação?
SE - A idade por si só não facilita nem piora o processo, são somente desafios diferentes. Aliás, a expatriação tem seu impacto - positivo ou negativo - tanto na infância e adolescência quanto na idade adulta.

Leve - A criança brasileira é preparada para viver em outro país? Como pode ser feita tal preparação?
SE - É muito difícil generalizar, mas a qualidade do preparo dos pais influencia a experiência dos filhos independente da nacionalidade. Desenvolvi um método chamado Expat Kid Plus®, que será lançado em breve, juntamente com um livro infantil, que auxilia os pais e também crianças e jovens de 5 a 18 anos no processo de expatriação.

Leve - Faz alguma indicação de leitura?
SE - Eu começaria pelo livro Third Culture Kids, de David Pollock & Ruth Van Reken.

Carmem Galbes

Leve Entrevista. Serviço de Orientação Intercultural - USP.

Olá, Coexpat!

Temos conversado bastante nos últimos dias sobre a mobilidade internacional e como essa crise econômica tem feito muita gente voltar para “casa”.
A questão é que não importa se você está indo ou voltando, aventurar-se longe do ninho exige, além de todo o planejamento das questões práticas, cuidado com os próprios sentimentos durante o processo.
Mas você não precisa passar por essa sozinha.
A Universidade de São Paulo disponibiliza o Serviço de Orientação Intercultural, um atendimento desenhado para dar suporte a quem está de partida ou está com passagem de volta.
Uma das fundadoras e coordenadora do programa, a psicóloga Sylvia Dantas, dá mais detalhes sobre o atendimento. A pesquisadora buscou na própria experiência de expatriada as respostas para muitas dúvidas e dilemas que atravessam a vida de estrangeiro.
O serviço de Orientação Intercultural é gratuíto, mais informações aqui ou pelo telefone 11 3091-4360.
Aproveite a entrevista!


Leve - Como nasceu o Serviço? Houve uma demanda específica? Qual o objetivo do trabalho e quantas pessoas já foram atendidas pela equipe?
SD - Morei fora por de 12 anos, entre idas e vindas para os EUA. Na última vez fiquei 7 anos no exterior, período em que realizei minhas pesquisas de mestrado e doutorado sobre famílias brasileiras imigrantes nos EUA. A tese foi publicada em forma de livro nos EUA, “Changing gender roles: Brazilian immigrant families in the US”.
Quando voltei para o Brasil passei pelo processo do retorno e também realizei
pesquisa sobre isso, o resultado dos estudos faz parte do livro “Psicologia, E/Imigração e Cultura”.
O serviço nasceu assim, da minha percepção da necessidade de um acompanhamento psicológico desse processo de mudança de país a partir de minha experiência pessoal e de pesquisa.
Idealizei um projeto de pesquisa junto com Professor Geraldo Paiva no departamento de Psicologia Social da USP. Assim, ao mesmo tempo em que estudamos as implicações psicológicas do contato entre culturas, prestamos um serviço de auxílio ao expatriado e repatriado.

Leve - Qual o perfil do público atendido?
SD - A procura por atendimento no Serviço de Orientação Intercultural se dá por pessoas das mais diversas nacionalidades e ascendências, e de pessoas que se preparam para partir para outro país ou que estão voltando para o local de origem.
Até o momento assistimos imigrantes da Bolívia, Japão, Peru,
México, Espanha, EUA, Alemanha, Congo, Angola, Guiné-Bissau, que vinham dos Estados Unidos, Japão, Alemanha, Israel, Portugal e Canadá.
Também já atendemos brasileiros descendentes de imigrantes do Japão, Coréia, China, Bolívia e pessoas que iriam emigrar para Austrália, Canadá, Alemanha, Cuba, Irlanda e França.
A faixa etária varia entre 21 e 58 anos, a maioria tem grau superior.
Cabe ressaltar que todos que nos procuraram relataram sentir-se aliviados ao perceberem que os questionamentos pelos quais estavam passando eram compreendidos e acolhidos pelos profissionais do Serviço de Orientação Intercultural.

Leve - Qual a metodologia do trabalho? Que tipo de orientação o expatriado ou repatriado recebe no Serviço?
SD - Trabalhamos com psicoterapia breve e orientação individual, grupal e familiar, e preparo de quem vai para fora. Realizamos também assessorias e parcerias no sentido de oferecer workshops de preparo intercultural a grupos de expatriados e famílias.

Leve - Sei que cada caso é uma caso, mas é possível falar em um padrão quando nos referimos aos impactos de uma experiência internacional?
SD - Sim. Todos sofrem um choque cultural quando entram em contato com uma nova cultura. Todos passam por um processo de estresse de aculturação que vai depender de uma série de fatores que podem influir para que esse estresse seja maior ou menor, como por exemplo, a similaridade ou não entre uma cultura e outra - quanto mais diferentes as culturas maior o estresse que isso ocasiona – a idade da pessoa na mudança, a fase de vida e assim por diante.

Leve - Costumo comparar a experiência de expatriação com a experiência de saída do corpo. Longe de “casa”, entramos em contato com novas sensações, novos valores estéticos, novas formas de pensar, de agir e de classificar o mundo. É tudo tão novo que, muitas vezes, é difícil dimensionar o quanto nossa vida pode mudar. Sendo assim, como preparar alguém para viver algo tão novo para os próprios padrões, algo complicado de elaborar, inclusive na prática?
SD - Sua pergunta é ótima. O preparo tem uma parte informativa e outra formativa. A partir do que sabemos do impacto que o contato ocasiona transmite-se isso à pessoa. Contudo, é necessário que esse trabalho seja também interativo e não apenas informativo a fim de que possa ser elaborado, refletido e assimilado.

Leve - O especialista Demetrios Papademetriou disse que há indícios de que a crise econômica está provocando um retorno para “casa”. O repatriado tende a classificar a volta como um processo mais tranquilo, como a sra. avalia essa tendência de minimizar os efeitos do reingresso na própria cultura?
SD - O retorno é uma nova migração. Em geral as pessoas tendem a crer que voltam para casa, para o conhecido, o familiar. Contudo, elas mudaram e quem ficou também não parou no tempo. Afinal, estamos falando de cultura o que é algo dinâmico.
O olhar daquele que foi para fora mudou em relação ao país de origem. As experiências por que passou não são compartilhadas por aqueles que ficaram, isso cria um certo hiato.
Há, portanto, um período de reajuste no retorno e a comparação com o que foi vivido e o que é encontrado é inevitável.
Por isso, falo que se trata também de um processo de ajuste, uma aculturação de retorno.

Leve - Faz alguma sugestão de leitura?
SD - Mencionei o livro Psicologia, E/Imigração e Cultura da Editora Casa do
Psicólogo, que publicamos em 2004.

Leve - Gostaria de acrescentar algo?
SD - Essa é uma área relativamente nova no Brasil, mas que tem sido percebida como fundamental com a crescente internacionalização das instituições, empresas e organizações.


Leve Entrevista. Imposto de Renda.

Olá, Coexpat!
A poucos horas do prazo limite para a entrega da declaração do imposto de renda, ainda tem expatriado remando duro por aí em busca de informações para preencher o formulário.
Dessa vez, a orientação vem do advogado tributarista do Cenofisco, Lázaro Rosa da Silva.
Outras informações na página da receita federal, aqui.


Leve - Em quais situações o expatriado deve recolher imposto no Brasil sobre bens e rendimentos obtidos no exterior?
LS - Desde que seja contribuinte brasileiro, em qualquer circunstância por ocasião do recebimento do rendimento.


Leve - Qual é a alíquota que incide sobre os ganhos externos?
LS - Os rendimentos recebidos do exterior estão sujeitos ao carne leão no mês do recebimento. O imposto é calculado pela aplicação da tabela progressiva vigente na ocasião do recebimento. Portanto, em 2008, as alíquotas correspondem a 0%, 15% ou 27,5%, conforme o montante auferido.

Leve - Qual a regra usada para a conversão em Real dos valores obtidos em outra moeda?
LS - A conversão deve ser feita pela cotação do dólar de compra do último dia útil da primeira quinzena do mês anterior ao do recebimento.

Leve – De alguma forma, a taxação que o capital já sofre no exterior pode ser usada no abatimento do imposto no Brasil?
LS - Sim, se o país de origem mantiver com o Brasil acordo para evitar a bitributação ou de reciprocidade.

Leve - A entrega da Declaração de Saída Definitiva isenta o expatriado de recolher imposto no Brasil sobre os ganhos no exterior?
LS - A Declaração de Saída Definitiva é entregue somente pelo contribuinte brasileiro que pretenda sair definitivamente do País. Portanto, não é instrumento que possa conceder isenção.

Leve - No que se refere ao expatriado, qual a punição em caso de não comprimento das regras tributárias?
LS - O não cumprimento das regras tributárias pode impedir a pessoa de praticar alguns atos da vida civil, seja brasileiro ou expatriado, como, por exemplo: obtenção de empréstimos; movimentação de conta corrente bancária; obtenção de crédito para compra a prazo; recebimento de prêmios de loterias, etc.


Carmem Galbes

Leve Entrevista. Seu dinheiro.

Olá, Coexpat!
Em meio a um período de rendimentos escassos, de nó na garganta nas bolsas e de disposição do governo em taxar a poupança, Xs! espalhados pelo planeta - não apenas nós, claro - seguem em busca de alternativas para, ao menos, proteger o que se tem no porquinho.
Como a distância costuma embaçar impressões e sensações, a saída foi buscar auxílio entre os especialistas em finanças pessoais.
O consultor Gustavo Cerbasi - autor dos livros Casais Inteligentes Enriquecem Juntos e Investimentos Inteligentes - é o nosso guia de hoje nessa viagem por alguma direção.
Aproveite!


Leve - Imóvel, ouro, poupança, renda fixa, ações. Tem especialista que diz que essa é a hora de se proteger, outros dizem que o momento é bom para arriscar. Que orientação o sr. dá para o brasileiro que vive em outro país, mas tem dinheiro no Brasil?
GC - A proteção e a busca do risco para obter resultados diferenciados devem andar sempre juntas. O ideal é ter a maior parte de nossa poupança investida com muita segurança, em renda fixa, ouro ou imóveis para aluguel, e uma parcela menor de nossos investimentos em renda variável, como ações e imóveis em construção ou para revenda. As alternativas de renda variável sempre se transformam em boas oportunidades durante as crises, e não devem ser desprezadas. Para saber quanto poupar em uma e em outra alternativa, uma regra que sigo e recomendo é a chamada regra dos 80, em que devemos subtrair nossa idade do número 80. O resultado da conta é o percentual de nossa carteira de investimentos que deveria estar em renda variável, indicando que devemos nos tornar mais conservadores à medida que envelhecemos.

Leve - O fato de ter conta em mais de um país pode ser usado pelo expatriado como uma estratégia de diversificação, reduzindo os riscos e as chances de perdas? Como? Pode-se falar em percentuais, que parcela o sr. sugere deixar no Brasil e quanto no exterior?
GC - O fato de o Brasil ser uma economia em desenvolvimento com fundamentos bastante sólidos, já testados durante uma grave crise, faz do país um porto seguro. Por ainda estar em um processo de consolidação de seu desenvolvimento, seus títulos públicos rendem bem e as ações são promissoras. Apesar de uma tendência de queda na rentabilidade desses ativos, ainda há muita margem de ganho acima dos mercados desenvolvidos, porém, com grande volatilidade presente, o que incomoda quem está acostumado com mercados mais estáveis. Quem poupa com objetivos bem estabelecidos, deveria deixar no país em que trabalha os recursos para as reservas de emergências e para as compras de curto e médio prazo, e enviar ao Brasil os recursos para usos previstos no longo prazo. Porém, há duas ressalvas: o envio internacional de recursos não é barato, por isso recomenda-se enviar o dinheiro em grandes lotes, após certo acúmulo. E quem não tem planos de retornar ao Brasil deve ter uma reserva maior no país em que vive, permitindo o crescimento de seu relacionamento bancário local.

Leve - Atualmente, quais economias o sr. considera mais arriscadas para manter investimentos?
GC - As economias que foram muito liberais no controle do mercado financeiro foram as que mais levaram seus investidores a perdas, sendo também as que mais estão socializando prejuízos nessa fase de recuperação. No atual estágio da crise, não é correto apontar que uma economia tem mais risco do que outra, porque o risco está, na verdade, nas empresas. Porém, direcionar as reservas financeiras para um país que foi menos afetado pela crise, como o Brasil, significa contar com uma provável recuperação mais rápida nos investimentos.

Leve - A crise pode ter diminuído o ritmo de transferências, mas ainda há empresas expatriando. Que orientações financeiras o sr. dá para quem se prepara para deixar o país?
GC - A recomendação é que não se faça planos de mudança definitiva antes de viver pelo menos 12 meses no exterior. Muitas pessoas não se acostumam com a falta da família e de seus hábitos, e por isso é sempre recomendável deixar as coisas preparadas para uma possível volta. Em termos financeiros, significa manter uma poupança no Brasil, equivalente a, pelo menos, três ou quatro meses do consumo pessoal, necessários para uma possível recolocação. Também é recomendável viajar com reservas para se manter por pelo menos três meses, permitindo ao expatriado se estabelecer em uma atividade que lhe interesse, sem a pressão das contas para pagar. Na prática, é como montar uma empresa: não basta o investimento na empreitada; é preciso contar com algum capital de giro, para que suas escolhas sejam racionais, e não emotivas.

Leve - E quanto ao caminho inverso, que dicas o sr. dá para o expatriado que se prepara para voltar ao Brasil? Vale a pena manter investimentos fora?
GC - Normalmente, a decisão de voltar ao país é mais definitiva do que a de partir. Nesse caso, desmontar a estrutura de vida mantida no exterior é uma escolha menos arriscada. Quanto à uma eventual poupança formada e investida fora do país, é preciso levar em consideração se a família não voltará a fazer viagens internacionais, podendo contar com esse conveniente saldo no exterior, tanto como forma de ter liquidez em gastos fora do país, quanto como forma de diversificação de risco nos investimentos.

Leve - Gostaria de acrescentar algo?
GC - É importante ressaltar que a atual solidez econômica da economia brasileira diferencia o país como oportunidade de multiplicação de poupança. O que diferencia um país emergente de país mais desenvolvido, em termos de comportamento dos investimentos, é a maior volatilidade, ou sobe-e-desce dos indicadores. Isso é decorrência do menor tamanho dos mercados, o que faz com que as decisões de grandes investidores tragam maior impacto de curto prazo. Porém, as boas perspectivas do país nos induzem a reconhecer que, após algum tempo, teremos muito mais subidas do que descidas nos indicadores.

Leve – Além de seus livros, faz alguma sugestão de leitura?
GC - Além dos seis livros que tenho publicados, incluindo Cartas a um Jovem Investidor, para quem está começando, e Investimentos Inteligentes, para quem já procura montar uma estratégia de se diferenciar da média dos investidores, recomendo a leitura dos livros da Coleção Expo Money, todos escritos pelos maiores especialistas em finanças pessoais do Brasil e revisados por mim. Mais informações sobre todos esses livros pode verificar as sinopses que publiquei em meu site,
http://www.maisdinheiro.com.br/livros/

Carmem Galbes

Leve Entrevista. Imposto de Renda.

Olá, Coexpat!
Depois da internet, parece que virou meio que obrigação a gente saber tudo ou achar toda informação que precisa. Mas esse marzão é grande que só, e quantas vezes a gente sai dele sem muitas respostas? O expatriado Eduardo, que vive na Inglaterra, comentou dias desses sobre a dificuldade de encontrar informações mais completas para o contribuinte que vive no exterior. A gente já conversou sobre o tema aqui. Mas o assunto é complicado e rende! Na busca de mais esclarecimentos, encontrei Claudia Petit Cardoso. A advogada, especialista em direito tributário, fala mais sobre o tema nesse artigo. Sei que o assunto não é dos mais agradáveis, mas quem consegue fugir do leão? Obrigada Eduardo pelas perguntas. Espero que ajude!

Ed- Digamos que o cidadão, após 1 ano fora do Brasil, entregue a Declaração de Saída Definitiva. Após 10 anos morando no exterior, ele volta ao Brasil. E agora? A saída "definitiva" não foi tão definitiva assim, então o que ele deve fazer?
CC - A pessoa física que se retire, em caráter permanente do Brasil, sem a entrega da Declaração de Saída Definitiva do País ou em caráter temporário é considerada:

I - como residente no Brasil durante os primeiros 12 meses consecutivos de ausência;
II - como não-residente a partir do 13º mês consecutivo de ausência.

Ed - O repatriado vira residente automaticamente?
CC - Quando saiu nas condições acima expostas é tido como residente quem ingressa no Brasil:
a) com visto permanente, na data da chegada;
b) com visto temporário:

1. para trabalhar com vínculo empregatício, na data da chegada;
2. na data em que complete 184 dias, consecutivos ou não, de permanência no Brasil, dentro de um período de até doze meses;
3. na data da obtenção de visto permanente ou de vínculo empregatício, se ocorrida antes de completar 184 dias, consecutivos ou não, de permanência no Brasil, dentro de um período de até doze meses;

c) o brasileiro que adquiriu a condição de não-residente no Brasil e retorne ao País com ânimo definitivo, na data da chegada;

d) o brasileiro que se ausente do Brasil em caráter temporário, ou se retire em caráter permanente do território nacional sem entregar a Declaração de Saída Definitiva do País, durante os primeiros doze meses consecutivos de ausência.

Ed - Quando o repatriado deve voltar a entregar a declaração de IR normalmente?
CC - Quando ele passar a ser considerado residente, nos casos da resposta acima.

Ed - O que acontece com os bens e a riqueza -acumulados nos últimos 10 anos no exterior? O cidadão terá que pagar imposto em cima disso?
CC - É preciso avaliar se os bens estão no Brasil ou não e se foram adquiridos quando era residente no Brasil ou não. A advogada fala mais sobre esse assunto nesse
artigo.

Carmem Galbes

Leve Entrevista. Repatriação.

Olá, Coexpat!
Não importa o estágio da expatriação, se no início ou já bem vivido, o tema retorno sempre ronda as conversas de quem está longe do ninho, ainda mais em tempos assim de crise generalizada.
Por isso a conversa de hoje é sobre repatriação. Pode parecer difícil entender por quê, às vezes - apesar da alegria de regressar ao país de origem - é tão doloroso voltar para casa.
A psicanalista e psicóloga Leila Rockert de Magalhães é quem vai desenrolar um pouco esse assunto hoje.
Consultora nas áreas de negociação internacional, desenvolvimento e preparação de expatriados e familiares, Leila salienta a importância de dedicar devida atenção ao retorno e nos ajuda a compreender porque nunca mais voltaremos para mesma casa, apesar das circunstâncias geográficas serem as mesmas.
Nossa entrevistada fala com a experiência de quem viveu na pele esse processo. Em 1992 deixou carreira e mestrado para trás para, junto com os filhos, acompanhar a empreitada do marido na Malásia, onde a psicanalista fundou uma associação de brasileiros.
Além do capital cultural, a vivência rendeu para ela a especialização no tema expatriação, com a tese de mestrado “Senda do Capital: A Expatriação dos Executivos Brasileiros e Respectivas Famílias 1956-2005” e com o livro “Conquistando o Mundo, um Guia para quem vai trabalhar e estudar no exterior.”
Aproveite a conversa.

Leve - A repatriação exige tanta atenção quanto a expatriação? Por que?
Leila - Como assinalado em meu livro (Magalhães 2000), a repatriação ou retorno, como algumas empresas preferem, é um momento que exige bastante atenção e cuidados, em virtude de várias questões. Diversos fatores se aglutinam nesse momento tornando a experiência do retorno mais impactante para uns, menos para outros e até mesmo um alívio em raríssimos casos. Dentre as razões que dificultam esse novo momento podemos destacar a dificuldade do profissional em adaptar-se à planta de origem, a falta de apoio psicocultural por parte da maioria das empresa, a perda do leque de benefícios e principalmente a falta de identificação cultural e social em seu próprio país.

Leve - Quais os principais desafios da repatriação?
Leila - Para a organização:
* Transformar a experiência adquirida pelos seus profissionais no processo de expatriação, alocando internamente o conhecimento absorvido, transformando-o em um diferencial competitivo.
*Criar programas de coaching e mentoring que funcionem efetivamente, poucas são as empresas que apresentam resultados concretos sobre esses programas.
*Acompanhar lado a lado, o processo de adaptação na saída e no retorno.
- Para os profissionais:
* As dificuldades são ainda maiores, pois a readaptação implica na reiteração dessas pessoas com o meio profissional e social. Uma das razões é que a nova bagagem cultural - hibridismo - faz com que o indivíduo veja as situações por um novo prisma.
* Lidar com a frustração de retornar para o mesmo cargo ou função anteriormente desempenhada.
* Conviver com a perda dos benefícios, dos espaços e do status quo conquistado na cultura hospedeira.
* Demanda tanto do profissional, como da família em formar novas redes sociais.

Leve - Sabemos que há expatriações que não dão certo. A sra. conhece casos de repatriação malsucedida? Quais foram as consequências disso?
Leila - Sim. Exemplo: o caso de um profissional que durante a expatriação teve muita dificuldade de adaptação, ao contrário da família, que teve excelente trânsito cultural. A empresa fez o processo de repatriação, entretanto, esse retorno antecipado significou uma marca negativa para o profissional, que além de amargar o sentimento de fracasso frente à família, se sentiu desconfortável dentro da organização. A consequência, foi o pedido de demissão e a vivência de um período de "inferno astral" profissional e familiar, uma vez que a condição de retorno foi potencializada.

Leve - Quais as dicas para a família que está prestes a voltar para a casa?
Leila - Ter em mente que nada será como antes ao voltar. Fazer um balanço do aprendizado nessa experiência e criar situações que esse aprendizado possa ser aplicado. Também ajuda evitar comparar os países com seus interlocutores, pois quem não viveu a experiência não entende o sofrimento. E sempre buscar e valorizar os ganhos com esse retorno.

Leve - Gostaria de acrescentar algo?
Leila - Gostaria de salientar a necessidade das empresas tratarem a questão intercultural como tema prioritário, uma vez que os efeitos produzidos pelo choque cultural tanto no momento de saída, como no retorno ao país de origem, trazem efeitos psicológicos muito diferentes entre si, dependendo da pessoa envolvida e do quanto a situação exige dela.


Carmem Galbes

Leve Entrevista: Expatriação e Casamento.

Olá, Coexpat!
Já trocamos aqui algumas impressões sobre como ficam as relações pessoais com a expatriação, especialmente o casamento. O assunto é delicado e pode arrasar vidas pessoais e profissionais. Esse é um dos pontos dessa entrevista.
Faz dez anos que a professora da Fundação Getúlio Vargas, Maria Ester de Freitas, vem estudando o assunto. Com o olhar de quem também viveu fora, período em que concluiu seu pós-doutorado, a professora já estudou o impacto da expatriação tanto em famílias brasileiras no exterior, quanto de estrangeiros que vivem no Brasil.
Com 6 livros na bagagem e vários artigos publicados, Maria Ester nos ajuda na reflexão sobre esse tema, nem sempre tratado com devida atenção e carinho durante a expatriação. Também por isso, a vida longe de casa pode ser “uma experiência que pode trazer o céu ou o inferno”, alerta a pesquisadora.
Aproveite!

Leve: A expatriação pode mudar, e em que sentido, a relação familiar e conjugal?
M.Ester: Uma expatriação é um acordo feito entre um profissional e sua empresa, fundada na necessidade de cumprir uma missão em outra unidade da organização, não raro em outro país. Ora, a experiência de turista nos mostra como é bom e gostoso rodar o mundo e descobrir coisas novas, mas quando o programa fica chato a gente simplesmente se manda para outra coisa que nos dê prazer; então viajar é para turista. A vida do expatriado difere da do turista em vários sentidos, pois ele não pode se desligar quando as coisas não lhe agradam, ele tem que conviver no código do outro e dar respostas rapidamente que sejam aceitáveis, ele tem que conviver com parâmetros e interpretações diferentes, precisa ser aceito pelo grupo etc. Existe um nível enorme de ajustes necessários na vida profissional que são mais ou menos catalogadas no ambiente da empresa. Na vida da família, a coisa se passa de maneira mais difusa, as regras não são tão claras, os apoios são escassos, a paciência alheia é menor que a dos colegas de trabalho e geralmente é a mulher quem segura toda a carga. Na maioria das vezes a mulher (caso mais comum) abre mão de seu projeto profissional e não tem direito ao visto de trabalho, ficando somente com o universo da casa. Não é incomum que ela não fale o idioma do país de destino, pois as empresas são negligentes em relação a isto e acabam favorecendo curso apenas para o profissional. Sem falar o idioma, sem ter amigos, sem entender nada da cidade, sem ter maiores apoios para as decisões que ela estava acostumada a tomar quase automaticamente (escola dos filhos, supermercado, marcas de produtos, serviços diversos, empresas...), a mulher fica extremamente sobrecarregada e forçada a dar respostas imediatas, pois tão logo chega ao local ela deve organizar a vida e a rotina da família. Não raro os maridos enfiam a cara no trabalho, pois são cobrados desde o inicio, ou se acham na obrigação de ser mais realista que o rei, de forma que o nativo não fique se perguntando “por que precisaram trazer aquele cara do Brasil se a gente tinha pessoal aqui?”, ou seja, o cara precisa se legitimar e aí se esquece da família, da mulher e do resto... Acho que isto muda a relação mesmo do casal que é bem ajustado, que se ama e que quer que tudo dê certo, imagine dos que têm algum problema mal resolvido. Em relação aos filhos, eles absorvem toda a carga de insegurança da mãe e se forem adolescentes que viajaram deixando namoradas para trás, é o inferno que desponta no horizonte.

Leve: A expatriação pode acabar com um casamento?
M.Ester: Pode. Se o projeto de expatriação é de uma pessoa e não do casal, a outra parte ficará se sentindo lesada e toda a carga de sacrifícios será potencializada. É muito duro alguém ser culpado o tempo todo por algo. Por outro lado, expatriação é para quem tem disponibilidade para viver outra vida e não para quem gosta de viajar, isso significa que vai ter que conviver com coisas estranhas, vai ter que passar dias sem conversar com outras pessoas, vai perceber a sua fragilidade frente ao desconhecido e qualquer pequeno detalhe idiota pode lhe desestabilizar emocionalmente. Nas minhas pesquisas vi alguns casamentos que foram por água a baixo e vi alguns que foram salvos pelo gongo, vi casais ficarem quase um ano sem transar porque a mulher estava ressentida, vi esposas querendo ir embora com os filhos, fiquei sabendo de esposas que se mandaram e o marido foi atrás e demitido em seguida... tem um pouco de tudo. Vi casal aguentar o tranco enquanto estava lá e quando voltou para casa o peso era tamanho que eles não se suportavam mais, passou do ponto.

Leve: E o casamento pode atrapalhar a ponto de interromper uma expatriação?
M.Ester: Qualquer situação que leva um parceiro a dizer para o outro “ou eu ou a empresa” fica muito difícil de ser sustentada. Veja acima.
Por outro lado, as minhas pesquisas mostram que embora os casados demorem mais a se adaptar na nova cultura, quando isto ocorre é um processo mais seguro e aí tudo vai bem. Os solteiros, ainda que sejam mais baratos para as empresas no curto prazo, são mais arriscados no longo prazo, pois ficam muito sozinhos e infelicidade crônica dá zebra e eles chutam o pau da barraca. Então, projetos acima de 1 ano não são muito recomendados para solteiros, cuja adaptação acaba sendo alimentada apenas pela fonte do trabalho e as interações na sociedade podem ser mais complicadas. Em alguns lugares solteiros ainda despertam sérias suspeitas.

Leve: Pesquisas indicam que as empresas que transferem seus funcionários para o exterior estão investindo cada vez mais na adaptação das famílias. O suporte vai do financiamento do aprendizado do idioma ao apoio nas primeiras visitas ao supermercado. As empresas realmente consideram o grau de influência da família na transferência do funcionário?
M.Ester: Acho de bom tamanho que as empresas comecem a se dar conta de que elas não expatriam apenas 1 profissional mas uma família inteira, ela desarranja os relacionamentos e influencia a forma de vida dessas pessoas. É estranho que algo tão óbvio tenha sido tão negligenciado por tanto tempo, mas à medida que os fracassos começaram a ficar caros, as empresas perceberam que não estavam fazendo tudo o que podiam para que o seu expatriado fosse um sucesso e quem garante o sucesso dele é uma família ajustada. Quanto mais rapidamente os membros da família estiverem cuidando de sua própria vida, com agenda própria e independente, mais rapidamente este expatriado estará livre para dar o melhor de si. É simples assim. Existem algumas empresas que ainda acham que isto não é problema delas, mas isso faz parte da burrice organizacional que acontece em qualquer lugar. Não creio que seja demais que uma empresa que quer que eu vá trabalhar em outro local faça o investimento necessário para que isto ocorra sem maiores riscos, faz parte do acordo, pois eu só posso trabalhar direito se eu tiver condições. Cada vez mais o apoio psicológico é um requisito importante in loco, daí também nesta área muitos psicólogos estão se diferenciando por falar vários idiomas.

Leve: Apesar do relacionamento estar na esfera pessoal, em que sentido as empresas de transição cultural poderiam ajudar a vida do casal a ser bem-sucedida longe de casa?
M.Ester: O relacionamento do casal é pessoal, mas a variável que alterou tudo foi um evento profissional, portanto as empresas têm obrigações não apenas morais, mas objetivas e contratuais. Existem muitas empresas de consultoria que hoje se ocupam dessas questões preparatórias e vendem pacotes de 10, 20, 80 horas para ajudar uma família a ser organizar noutro lugar. É um mercado que vem crescendo muito, pois geralmente as empresas que expatriam fazem uso de terceirizados para isto. Além dessas questões de natureza prática da vida quotidiana, as empresas poderiam aproveitar melhor estas experiências e construir uma base de dados com feedback, mas geralmente o cara volta e ninguém quer saber dele, a experiência dele é invalidada e não gera nenhuma aprendizagem organizacional. Ora, cada vez mais hoje somos instados a trabalhar com pessoas de outras formações, origens étnicas e culturas, portanto devemos desde cedo aprender a ser tanto bons anfitriões quanto bons hóspedes, pois se você não vai o estrangeiro vem; penso que as empresas ainda são um pouco cegas para a importância da questão intercultural como parte de seus valores, mas isto tende a mudar.

Leve: Gostaria de acrescentar algo?
M.Ester: Uma das coisas mais interessantes revelada na minha pesquisa com brasileiros na França foi o fato de eles considerarem a educação dos filhos uma das principais razões para aceitar a expatriação e olhe que Paris é um espetáculo; então me parece que o intercultural é uma questão que veio para ficar e tende a ser irreversível. De um lado, creio que isto nos melhora como seres humanos, nos faz enxergar e respeitar o outro diferente de nós, nos conscientiza de nossas verdades relativas e do quanto somos frágeis quando estamos fora da nossa casca cultural; de outro, cada vez mais tende a se acentuar fanatismos, patriotismos burros, preconceitos e medos do outro. Quero crer que a nova geração será mais desencanada em relação a estes preconceitos se ela aprender a conviver com a diferença desde cedo, isto não é uma descoberta extraordinária, mas um fato da vida, uma evidencia quotidiana de que a vida é feita mais de coisas diferentes que iguais e isso não significa melhor ou pior, apenas diferente.

Carmem Galbes

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...