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Esposa expatriada e a invisibilidade social.


Invisibilidade Social. Já ouviu falar? 
O termo passou a ser usado em 2004 depois que o pesquisador Fernando Braga da Costa constatou em seu de trabalho de conclusão de curso que - ao usar um uniforme de gari no campus - ficava invisível, inclusive para quem o conhecia, como colegas e professores. A definição do pesquisador: a invisibilidade pública é uma construção psíquica e social. O homem aparece a partir daquilo que ele produz e do preço e valor de sua produção, e a forma como tratamos e somos tratados segue a lógica de mercado.
Os estudiosos do assunto argumentam que essa invisibilidade atinge principalmente o trabalhador de baixa renda, como lixeiro, empregada doméstica, porteiro etc e tals. 
Concordo e vou além. 
Acredito que todos, em algum grau, em algum momento, estamos sujeitos a desaparecer aos olhos do outro, tudo depende da visão de mundo da outra pessoa. E é a nossa visão de mundo que vai nos impedir - ou não - de ser afetada pela deficiência alheia.
Ai penso: invisibilidade ou cegueira social?
Já vi assistente jurídico reclamar da invisibilidade, coordenador de marketing dizer que estava invisível, gerente de comunicação denunciar que não era vista. Já vi gente doente, gente mais velha, gente mais gorda, gente mais baixa reclamar que parecia não ser vista. 
Tenho pensado que deparacer para o outro não é única e exclusivamente uma questão de renda, de instrução. É uma questão do que o grupo em que estamos envolvidas, as pessoas com que nos relacionamos valoriza. 
Percebo muita coexpat sofrer de e com a invisibilidade. Afinal, quem fica no teatro depois que a peça acaba para ver o trabalho de quem arruma o cenário? 
Dizem que só existimos através dos olhos da outra pessoa. Mas em um mundo de cegos, como vamos existir?
Eu já me senti muito invisível. Na época não sabia que tinha esse nome, dizia que eu me sentia "café com leite".
Mas consegui reaparecer!
Como? Quando abri meus olhos para mim mesma, quando passei a olhar para dentro. É certo que não me livrei da produção, mas passei a produzir algo que fizesse sentido para mim.
Ainda tem gente que não me enxerga? Com certeza! Mas essa cegueira deixo pra essa pessoa resolver. Decidi não dar ouvidos a quem não me vê. E assim, valorizando um sentido, acalmando outro, sigo para que eu seja real, totalmente a mostra para mim mesma. E quando eu me percebo, eu me vejo e produzo algo que faz sentido não há cegueira que me afete!

Carmem Galbes

A casa demolida a cada expatriação.

Ainda naquela linha de mudança de endereço,  casa dos sonhos e casa possível, móveis, aluguel, improviso por tempo indeterminado.
Para ajudar a bagunçar...tenho visto algumas coisas sobre o impacto da imagem na formação dos conceitos e da memória.
Tem os tempos líquidos que sempre pautam meus devaneios.
Enfim...parece que quanto mais falo, mais complicado fica.
Espero que Yuri Firmeza e um de seus trabalhos de 2008 ajudem nesse processo de elaborar essa coisa de não ter endereço fixo.
"Do Lugar Onde Estou, Já Fui Embora. Casa Que Se Desmancha."


















 



Precisa de ajuda para organizar a casa, a rotina e as ideias? Fale comigo. Sei como te ajudar! Estou sempre no contato@leveorganizacao.com.br.
Mais informações: www.leveorganizacao.com.br

Carmem Galbes

Depois da repatriação, a bagagem!

Olá, Coexpat!
Minha repatriação está fazendo aniversário. Um ano de "reBrasil"!
Balanço: impossível!
É que não dá para comparar coisas diferentes.
Explico: partimos com mente e coração de um jeito e voltamos com tudo revirado.
E no caso da minha família tem um "plus a mais", e bota a mais nisso - se é que você me entende...
É que deixamos o país "a dois" e voltamos "a três"!
Então, já viu, nem que tivesse congelado meus pensamentos e sentimentos, a vida voltaria a ser como era antes de cruzar a fronteira.
Mas de concreto mesmo sobre a ida e a volta: a bagagem acumulada! Desculpe o "clichê metafórico", mas não acho outro recurso que mostre tão claramente o resultado das últimas mudanças de endereço.
E se você está se preparando para voltar, aproveite - mas aproveite mesmo - cada segundo!
Visite lugares, visite os amigos "nativos", exagere nas suas receitas prediletas, vá às compras!
Só pense em alguns pontos antes de mandar embrulhar:
- A mudança pode demorar meses para chegar, então certifique-se de que não vai ter pressa para usar as novidades. Geladeira, fogão, cama fazem falta.
- Avalie se as aquisições vão caber na sua casa. Se você ainda não sabe onde vai morar no Brasil, comprar uma mega máquina de lavar pode se transformar em um big problema.
- Faça as contas! Às vezes, coisas como Real mais valorizado, taxa de excesso de bagagem e imposto encarecem o produto a ponto de o negócio não valer à pena.
No mais, como já disse, aproveite cada segundo! Porque expatriação um dia acaba, e fica a bagagem!

Está de volta ao Brasil e acha que não "cabe" mais aqui? Está tudo revirado? Você já não sabe mais responder de onde é, para onde vai, o que quer? Converse comigo que eu sei como te ajudar!
Estou no contato@leveorganizacao.com.br
Carmem Galbes

Acho que eu "vou não ir"...

Olá, Coexpat!
Essa é para quem está em dúvida se casa ou compra a bicicleta, se fica com um pássaro na mão, se aceita o convite de expatriação.
Água e sabão, capacete, cinto de segurança, filtro solar, mosquiteiro, vacina, camisinha...
A fala, ou o raciocínio - como preferem alguns - pode até distinguir o humano dos outros animais, mas é a capacidade de previnir que nos torna supremos nessa selva.
O porém é que, às vezes, é tanta proteção, que parece que a gente só consegue respirar tranquila sob o aval de uma grande apólice.
É seguro saúde, de vida, de casa, de carro. Tem seguro de perna, de bumbum, e um gênio já deve ter segurado o próprio cérebro.
É um tal de ligar o alarme, trancafiar os portões, soltar os cachorros.
E pega o antiácido. Renova o antivirus.
Panela? Só antiaderente!
Ai de quem esquece de tomar o anticoncepcional.
E quem não se rende ao antiruga, antiolheira, anticelulite?
E como gastamos com shampoo antiqueda, anticaspa, antifrizz.
Tá certo que o piso antiderrapante só ajuda, que corrimão é fundamental, que apartamento com criança tem que ter grade na janela, que poupança pode ser uma aliada para um bom sono.
Mas, sinceramente, quem consegue usar a tal da garantia estendida?
E esse negócio de pagar uma taxa anti-inadimplência em financiamento caso você fique desempregada? Se você acredita que pode ser despedida, não se endivide!
Seja você mesma a sua corretora de seguros, porque entre "uma-pequena-taxa-extra" e outra gasta-se tanto para afastar o risco que não sobra nada, nem energia, para aventurar-se!
Ok, acho fundamental pesquisar, ponderar, planejar.
Mas, no fim das contas, muitas vezes, o jeito é dar um upgrade na coragem e cair na vida!
No mínimo, você vai ter muita coisa pra contar!
Pode até ser um "causo" de carro batido, de alarme de incêndio...mas capítulo na sua história de vida é o que não vai faltar!
E tenha sempre em mente que nada é garantia de nada.
Se você não está feliz longe de casa, apesar de todo o potencial de enriquecimento que uma expatriação traz, não se convença que é assim mesmo. Converse comigo que eu sei como te ajudar!
Estou no contato@leveorganizacao.com.br
Não desperdice nenhuma chance de viver a vida que você quer!
Carmem Galbes

Quando nem o google resolve...

Olá, Coexpat!
Eu sei, eu sei, tô atrasada! Essa conversa deveria ter começado na sexta passada...
Você pensa: "prove da sua própria rigidez, nada de desculpas!"
Tudo bem, odeio atrasos, inclusive os meus, mas o fato é que ainda me sinto perdida, tenho passado os dias - também - empenhada em me localizar.
Você: "mas a repatriação aconteceu há um ano!"
Tá, desembarquei no Brasil, mas não voltei pra casa. Aliás, pensando bem, desde 2001 que não tenho lá endereço muito fixo...
Depois que saí de Campinas, onde cresci, estudei, casei...ainda não tive tempo de ficar em um lugar o suficiente pra me sentir em casa.
E sentir-se em casa pra mim é ter pontos de referência: os bairros bons, a padaria boa, o mercado mais barato, o restaurante mais gostoso, a rua mais complicada...saber do dia de feira, da cafeteria que abre até mais tarde, da linha de ônibus que corta caminho, do comércio especializado, do médico de confiança, do dentista...
Você: "e daí?"
E daí que meu filhote tá crescendo! Entrou na fase dos sólidos - ô termo feio...
Traduzindo, começou a papar mais que leite materno! Aí, mamãe quer tudo fresquinho...Onde estão as melhores frutas? Qual é o melhor açougue?
Ai gente, em Campinas, se eu não sei, minha mãe sabe!
Entendeu o drama? Tô no Rio, falamos todos português, mas ainda não domino o território, não conheço os "exquemas" da fruta fresquinha, do pão quentinho...
E tem mais...
Peço pra fazer a barra da calça, a costureira não entende, porque no Rio é bainha.
Peço para tirar a borda da fatia do peito de peru, a balconista me olha com cara de ué, porque aqui é casca.
Eu soletro meu sobrenome: gê-a-ele-bê-Ê-esse. A atendente: gê-a-ele-bê-É-esse, porque carioca não fala com circunflexo, é "éxtra" e não "êxtra"...
Fico perdida com referências do tipo: "vai no açougue do Zé, em frente à farmácia do Tito, esquina com a dona Dalva, a da bala de côco...ainda preciso de rua, número e, se bobear, até do cep...
O duro é que não sou mais expatriada, condição que ajuda a ver toda dificuldade com mais calma...
Sou o que então?
"Extaditada!"
Isso mesmo, uma espécie de expatriada, só que em vez de outro país, o endereço novo está em outro estado...
Você pode interromper: "não, minha filha, não inventa moda, você é migrante, como milhões de brasileiros."
Sou, também!
Mas usando esse neologismo, quem sabe as pessoas - físicas e jurídicas - não passem a considerar que a mobilidade dentro de um país "megamulticultural" não é algo tão simples quanto parece...
Assim, quem sabe, as empresas criem departamentos de "extadição", organizem encontros com as "extaditadas", e passem a participar da adaptação das famílias que não cruzam fronteiras, mas deixam pra trás muita história.
Claro que falar a mesma língua ajuda. Claro que temos desenvoltura para captar logo as diferenças e semelhanças. Claro que a gente resolve tudo, porque a gente tem a expatriação no currículo da vida e isso favorece!
Mas se a mudança - pra onde quer que seja - pode ficar mais fácil, mais simples, mais tranquila, por que não investir no processo de "extadição"?
Se você não está feliz longe de casa, apesar de todo o potencial de enriquecimento que uma expatriação traz, não se convença que é assim mesmo. Converse comigo que eu sei como te ajudar!
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Carmem Galbes

A melhor viagem de todas!

Olá Coexpat!
“A vida é curta demais para ser pequena”, disse o escritor inglês Benjamin Disraeli.
Mas o que é mesmo uma grande vida? Ficar rico, ter prestígio, ser bem sucedido na carreira?
Apesar de tentar não me apegar às respostas religiosas, foi na Bíblia que encontrei a minha definição.
Para mim uma grande vida é ser como os lírios do campo, e compreender por que nem só de pão vive o homem.
É confiar na promessa de que os mansos, os misericordiosos e os puros de coração herdarão o céu e é ainda perdoar setenta vezes sete.
Ter uma grande vida é conseguir não desperdiçar um dia de alegria e, ao mesmo tempo, aceitar que há tempo pra tudo sobre a terra.
Há oito anos descobri que uma grande vida é poder deixar pai e mãe rumo à uma só carne.
Há um mês percebi que uma vida realmente grandiosa tem a ver com crescer e multiplicar.
Depois de um ano intenso, recheado de experiências e mudanças, pude enxergar claramente que uma vida plena requer entregar o caminho a Deus, confiar Nele e crer que o mais Ele fará.
Cara Coexpat, obrigada pela rica companhia durante esta viagem.
Estou começando uma nova jornada, a mais desafiadora, longa - Deus queira - e prazerosa que já experimentei: a jornada da maternidade.
Então é quase certo supor que minhas aparições por aqui não serão tão rotineiras como antigamente, mas sempre que der, aterrisso, desembarco minhas impressões e sigo.
Um delicioso 2010 pra você, cheio de vistos, bagagens, embarques e desembarques!

Carmem Galbes

Senta que lá vem mais lista...

Olá, X!Sigo matutando na lista de itens e atitudes fundamentais na bagagem de quem cruza a fronteira.
Encontrei mais sete:
- Livros, para você se atualizar e não perder o contato com as formalidades da língua materna.
- MP3,4,5..., porque as músicas preferidas são um santo remédio para a melancolia.
- O telefone de alguma brasileira legal - aquela amiga da amiga - um socorro e tanto no início.
- Estoque de lentes de contato, porque tem país que não vende sem receita.
- Resultados de exames de rotina, para facilitar a sua conversa com o médico.
- Produtos típicos do Brasil, porque - como ensinaram os portugueses - as lembrancinhas abrem caminho.
- Santos, amuletos, patuás, porque fé e proteção suavizam o processo.
Imagem: SXC

Listas, que expatriada não faz?

Olá, X!Eu amo listas. Elas são minhas amigas. Me ajudam, no mínimo, a lembrar do que esqueci de fazer. Sim, eu checo listas.
Listinhas são úteis, reduzem desperdício de tempo, dinheiro, recursos...
Pensando sobre a minha expatriação, rascunhei uma lista básica com tudo que aprendi ser importante levar do Brasil. São itens e atitudes necessários já no desembarque, porque no meio do processo as coisas se perdem...
São 19 sugestões. Por que 19? Para fugir do óbvio, 10, 100, 1000...
Se tiver alguma dica, fique à vontade para compartilhar!
Então, ao preparar a mudança separe para a mala de mão:
- Disposição, para começar de novo.
- Coragem, para experimentar o novo.
- Desapego, para abrir espaço para o novo.
- Saúde, para aproveitar o potencial que existe no novo.
- Dicionário, para entender, ser entendido e se entender.
- Carteira de motorista, para ter a chance de se perder.
- Mapa, para se encontrar.
- Organização, para se localizar.
- Bom humor, para não perder a piada...que é você.
- Noção, para saber quando dar um tempo.
- Apetite, para engolir - inclusive - alguns sapos.
- Gentileza, para amaciar.
- Paciência, porque dizem que é bom ter.
- Fotos, para matar a saudade.
- Diplomas, porque você nunca sabe o que pode acontecer.
- Remedinhos de homeopatia, para facilitar.
- Alicate de unha, por precaução.
- Pinça, para distrair.
- Aquele trapo de camiseta que você só usa em casa, para confortar.
Imagem: SXC

Quando a porta não é grande o bastante.

Olá, X!
A ideia hoje era conversar sobre o registro de filho de brasileiros que nasce no exterior.
Só que tinha me esquecido de como tem coisa que simplesmente muda o curso do dia, apesar de esse tipo de acontecimento não ter nada de grave.
Quer situação mais sacal que ficar esperando a entrega de algo, seja lá o que for?
Pois é, mudança tem disso. Hoje passei o dia à mercê do entregador do sofá. Ele poderia aparecer entre 8 da manhã e 6 da tarde. Perfeito. Assim não tem problema, pra ele, né?
O moço até que não judiou. Apareceu 2 da tarde. Mas o móvel era grande demais para as portas do Ap. Fez viagem de volta para ser desmontado. Ai que saudade do Ikea...isso pra ser bem suave...
Resuminho: tempo perdido para mim e para ele, irritação de saber que vou ter outro dia assim de espera e total falta de concentração para falar de qualquer coisa que exija um pouco mais de cuidado, caso da cidadania brasileira.
Eu sei, Deus é brasileiro. O assunto de cidadania por aqui parece simples, mas teve um período - até 2007 - em que muitos brasileirinhos nascidos pra lá da fronteira simplesmente ficaram sem pátria por causa de uma confusão na nossa lei.
Mas isso é assunto para amanhã...
A cada dia basta o seu sofá emperrado na porta!
Imagem: SXC

Endereço real, mundo virtual e o jeitinho brasileiro.

Olá, X!
Que saudades!
Eu juro que venho tentando manter uma certa regularidade em nossos encontros, mas a mudança de endereço vai além de acertos geográficos. É móvel pra comprar, utensílio pra lavar, roupa pra guardar, papelada pra organizar e serviços, muitos serviços para instalar. A rima - bem ordinária, aliás - é só para lembrar que essa rotina ameaça abalar até esse seu resistente bom humor.
Exemplo: o mundo virtual pode avançar o quanto quiser e na velocidade que puder, que o mundo real sempre vai estar lá para lembrar que as coisas não são tão fáceis quanto um click.
Só agora, depois de quase um mês na casa definitiva - até segunda ordem - tenho, finalmente, acesso à internet.
Tentamos a Oi. Mas parecia até uma espécie serviço pré-pago. A rede ficava disponível no máximo 15 minutos por dia e caía. Depois de algumas conversas no call center e muitos números de protocolos, decidimos mudar de fornecedor. Agora é torcer para dar certo!
O bom é que, se o Brasil segue pecando pela qualidade no fornecimento de serviço, ainda é possível encontrar gente com boa vontade, funcionários que querem resolver - independente do logo que representam, do salário que recebem, etc e tal.
Pode não parecer, mas isso ajuda enormemente. O tal do jeitinho - alvo de tanta crítica - é o que tem segurado a barra de muitas empresas, inclusive das gringas.
É muito interessante. Lá fora o protocolo soa muito profissional. O funcionário que entra na sua casa para prestar um serviço segue todo uma metodologia. Primeiro ele vai ter certeza de que o espaço pode receber o tal serviço. Se há algum empecilho, passa o caso para o apoio técnico, não tem muito essa de ficar buscando soluções criativas junto com você. Ele só segue em frente se está tudo ok. Aí sim separa equipamentos e ferramentas. Preenche os formulários. Faz a instalação. Ele não aceita água, não puxa conversa e procura ao máximo não agredir costumes. Lembro do caso de uma amiga japonesa que pediu para o instalador da TV a cabo tirar os sapatos para entrar na casa dela. Ele disse que não faria isso - entendo: o chulé, a unha grande, a meia rasgada, enfim...mas o fulano tinha uns saquinhos para envolver os sapatos que possibilitaram o desfecho diplomático para a cena. Sem crise.
Aqui o cara pede água, pede para usar o banheiro, aproveita para observar a casa enquanto procura o cabo da TV, brinca, sem crise também...A vantagem é que se a internet não funciona, o ser, sem cerimônia, bate à porta do vizinho, pede o moden emprestado para testar e descobre que o aparelho que está na sua casa tem defeito. E quando você percebe, o vizinho, o bichinho de estimação do vizinho, o ajudante do prédio...tá todo mundo na sua casa na batalha para você poder entrar na internet!
E assim as coisas vão se resolvendo e se encaixando. Assim a repatriação vai acontecendo. Assim a gente volta a se falar. Que bom!
Imagem: SXC

Pode acontecer...

Olá, X!
Tem coisa que pode acontecer em qualquer lugar do mundo, seja lá no idioma que for.
Pode acontecer de um comerciante conseguir manter seu negócio aberto mesmo sem alvará. Pode acontecer de a loja dele explodir. Pode acontecer de a explosão matar dois e deixar 100 desabrigados.
Também pode acontecer de um ladrão fazer como refém a dona da farmácia que iria assaltar. Pode acontecer de a polícia chegar. Pode acontecer de o atirador de elite não errar. Tiro na cabeça do bandido! E, pode acontecer, como ocorreria em qualquer parte do globo, de a imagem ser reprisada como um mantra.
Ah, pode acontecer ainda de um motorista bêbado matar uma pedestre.
Pode ser que o segurança do banco esconda uma câmera no uniforme dele. Grave toda a agência e passe aos bandidos à quadrilha que vão facilitar o roubo.
Também pode acontecer de você estar na fila para pagar seu pão na chapa com café. De a fulana cortar sua frente e ainda argumentar que você tem uma cara boa e que você não vai se importar.
Nossa, pode acontecer tanta coisa, em tantos lugares. Mas tudo em um mesmo dia, em um mesmo país? Coincidência, né?
Quem sabe um dia pode acontecer de eu me acostumar de novo com tudo isso...
Imagem: SXC

Quando a manicure não vai na bagagem.

Olá, X!
Diante da complexidade da experiência, você pode pensar com os seus cantinhos do dedão: “quem está preocupada com as unhas em meio à tanta coisa nova?”
Pode acreditar, se você é uma fiel cliente das profissionais brasileiras vai, sim - entre um suspiro e uma espiada para a cutícula gritando - sentir no peito a dor da saudade de quem deixava você pronta para dedilhar por aí.
Mas o interessante mesmo é perceber de que forma um episódio carregado de pecado - a vaidade - pode indicar como o preconceito ameaça deixar seu dia-dia em terras distantes menos produzido e, portanto, um pouco mais difícil.
Lembro que deixei o Brasil com a plena convicção de que ou aprenderia a cuidar das minhas próprias unhas ou iria ter de aceitá-las como são. Motivos: o alto preço e a baixa qualidade do serviço das manicures que atuam em outros países. Isso é o que falam por aí...Então, tentei de tudo: de unhas postiças - horrendas - ao faça você mesmo - um desastre.
Até que, abrindo a mente e batendo papo, consegui uma indicação. Cheguei a um salão de vietnamitas. Sim, em Houston, são elas as experts no assunto.
Claro, claro, elas tiram cutícula, lixam as unhas e fazem uma massagem que avança até ao antebraço. Nada de esmalte borrado. Trinta minutos, 15 dólares e 20% de gorjeta depois, você está pronta! Pé e mão saem por 25 dólares. Com o suporte de uma conta bem rápida, você argumenta: 50 Reais pé e mão, fora a gorjeta? Um absurdo!
Eu digo: enlouquecedor é ficar convertendo os gastos sem fazer o mesmo com os ganhos...mesmo assim rola uma culpa...O que pode acontecer é você não se dar esse trato toda semana...
Mas nem é esse o ponto que eu quero chegar. O fato é que, de volta para casa, fui, sem medo de ser feliz, para a manicure. Pasme! As duas experiências foram frustrantes até agora: as “magas” no assunto arrancaram cada bife que vou te falar.
Não sei se é a cultura americana de processar todos por tudo, se é o cuidado ou a delicadeza das profissionais, sei lá, mas nunca vi uma pontinha de sangue enquanto o alicate trabalhava no salão que eu ia em Houston!
Ok, manicure é cargo de confiança, vou ter que encontrar a minha! Será que tem vietnamita por aqui?
Olha o preconceito, menina!
Imagem: SXC

Por aí...

Olá, Coexpat!
Vida de expatriada que embarca "numas" de atriz coadjuvante tem, sim, suas delícias. Agora, por exemplo, estou ziguezagueando por aí. Um luxo, ou um mimo - como preferir - para quem teve que aprender, mas nunca se acostumou, a dividir a vida entre dias úteis e não...
Vou parando por aqui, porque converso a partir de um teclado configurado para gringo: sem acento agudo, cedilha e coisas do tipo. Que trabalhão ficar nesse copia e cola de letras de textos antigos!
Voltamos a conversar na segunda!


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Estranho.

Olá, Coexpat!
Sabe aqueles períodos em que as ideias estão meio desordenadas, em que a gente parece meio atrapalhada, em que a segunda acabou e você nem viu? Hoje é - ou foi - um dia desses.
Gosto de reservar uma parte do dia para pensar e conversar sobre essa nossa condição “expatriática”. Mas hoje não deu! Não, não foi falta de tempo. Hoje, estranhamente, não me ocorreu nada.
A vida segue. Entre familiaridade e tropeços vou construindo esse eu que vive longe...E está tudo bem, tudo ótimo!
Sei lá o que aconteceu. Deve ser a Lua - aliás, que Lua linda que faz aqui. Deve ser o Sol, que hoje não deu as caras. Deve ser alguma coisa...
Até que essa ausência do que dizer é boa. Mostra que nem sempre a gente tem algo para falar. Mostra que o silêncio é amigo e que ele existe exatamente para calar o que não faz falta nenhuma...Mostra que tem momento em que se deve apenas parar, ou ouvir...
Mas amanhã já é hoje e hoje é outro dia. Espero ter algo mais útil para dividir mais tarde...

Carmem Galbes


Imagem:SXC

Inventariando...

Olá, Coexpat!

Estou em uma fase de inventariar. Isso faz parte do meu exercício de saber exatamente as coisinhas e “coisonas” que existem em casa para organizar ou, se for o caso, descartar. Aí a gente descobre que tem roupa que não serve mais, sapato fora de moda, casaco mofado. Basta uma revirada nas gavetas sem espaço para esbarrar em brinco sem tarraxa, pote sem tampa, tesoura sem corte, cola vencida.
É aquela mania de achar que tudo é importante, que tudo exige uma avaliação mais aprofundada para chegar à decisão: serve ou não. Pior que isso só a crença em que a tralha um dia vai ser útil. E a casa vai entulhando. Dizem que esse é um cenário ruim, de energia parada. Já que alguém tocou nesse assunto esotérico, os astros apontam que meu desafio em 2009 é deixar o passado para trás.
Gente, não é isso que nós expatriadas fazemos constantemente, deixar coisas para trás? Nos últimos tempos deixei casa, móveis, emprego, rotina. Alguns costumes, algumas pessoas, certos medos e muitas certezas também ficaram lá longe.
Mas acho que está sendo bom. Não ia ter espaço. Tem também aquilo que não pode ficar no mesmo ambiente, não combina, dá choque!
É claro que tem coisa que não abro mão e ponto. Não vou deixar de participar da minha família, apesar da distância. Não vou deixar o Português, nem as novas regras vão me impedir de - ao menos - tentar acertar nessa língua! Não vou deixar de tomar suco de maracujá, apesar de ser quase impossível achar a fruta fresca. Não vou deixar de tentar comer direito, apesar do apelo dos “gordurames”. Outra coisa - essa aprendi aqui - não vou deixar de me perguntar se vale a pena persistir. Seria triste não perceber que enjoei de maracujá!


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Caminho do meio.

Olá, Coexpat! 
Sonhei em deixar muita coisa de lado para dar suporte à carreira de outra pessoa? Planejei abrir mão do meu próprio sucesso profissional em nome do sucesso de outra pessoa? Quis isso? Gostei?  Tô aproveitando? Tô me superando, qualificando, reinventando? Tô feliz? Mudei? Melhorei? Acostumei? E a carreira? O futuro?
É-tudo-ao-mesmo-tempo-agora! Interrogações passeando em meio à exclamações, vírgulas e reticências.
Normal! Faz parte da tentativa de aprender a perguntar para conseguir ter algumas respostas que façam sentido.
Ao mesmo tempo não sei se importa tanto buscar essas respostas, porque as escolhas já foram feitas. Talvez a pergunta de ouro seja: o que eu posso fazer com tudo isso para produzir a melhor versão de mim? 

O tempo todo ou se vai para a direita, para a esquerda, para frente ou para trás. Dizem que o melhor é o caminho do meio. Mas vai tentar pegar essa estrada, tem que matar e morrer mil vezes para se manter nela...
Aliás, que negócio é esse de caminho do meio? Caminho do meio para mim é meio-fio, coisa que a gente só pega de brincadeira, por pouco tempo e exige muita técnica, treino, equilíbrio e atenção para não cair. E quem tem tudo isso junto? Vou procurar lá no céu...
Tudo bem que tem morno entre quente e frio, bermuda entre calça e shorts, tem bege entre branco e marrom, dia nublado entre Sol e chuva, tem limonada entre água e limão, tem bonitinha entre linda e feia...
Pausa. Olho para o celular com meia carga. É meio do dia, está meio calor, estou meio sem ideia e meio com fome. Acho que isso!

Escrever sempre traz um alívio!! Já tentou?
Carmem Galbes
Imagem: SXC

Tentei falar das flores.

Olá, Coexpat!

Hora de acordar, de comer, de dormir. Uma pequena alteração na rotina, e nosso relógio fica maluquinho da Silva. Assim como temos um despertador interno, acho que o corpo também guarda espaço para um calendário biológico.
Para mim sempre foi muito claro, calor é coisa de dezembro, janeiro, fevereiro, março e abril. Frio só lá para o começo de maio.
Mas a expatriação acabou criando aberrações climáticas. Meu último ano, dado que fiquei entre Rio de Janeiro e Texas, teve uns 10 meses de verão! Consegui pegar todo o calor lá e cá. Mesmo criada em um país em que o clima é meio doido - como faz falta o ciclo das estações! Parece que o corpo pede: “ok, o Sol já deu, é hora do aconchego de um cobertor” ou “o gelo foi bom, agora preciso de Sol.”
Mas aos poucos o calendário vai se ajeitando. Depois de um inverno com direito à neve - uma exceção em Houston - amanhã começa a primavera no hemisfério norte. Como é característico da estação, a temperatura está instável, friozinho pela manhã e um calor de agitar a alma à tarde.
Por falar em primavera, o período é de pausa nas salas de aula daqui. O spring break funciona como a nossa semana do saco cheio, em outubro.
Os parques em Houston estão lotados. Congestionamento também nos shoppings, apesar da crise...
Universitários usam o período para viagens. Cancún é o destino predileto.
Mas a coisa está estranha. É que além da crise econômica e do escândalo do pagamento de bônus aos executivos da AIG, a guerra contra o tráfico de drogas no México é o outro assunto com grande destaque por aqui.
Uma situação que não deve ficar tranquila pelo menos até agosto, acredita o Departamento de Estado americano. O órgão alerta para o perigo de viajar para o México, especialmente para locais próximos à fronteira. O cenário é de disputa pelo controle do tráfico, com aumento de índices de assaltos, sequestros e assassinatos. Nossa, que familiar!
Mas esse texto ficou esquisito! A ideia era falar das delícias da estação das flores...


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Entre o perigo e a paranóia.

Olá, Coexpat!

Não sei se você já teve a honra de passar por uma dessas simulações de incêndio. Para mim esse é um daqueles troços que pertencem à lista das coisas mais estranhas do planeta. Todo mundo fica sabendo quando o alarme vai soar. A função é sair sem pânico. Fácil! Já que a gente sabe que tudo não passa de treinamento. Elevador? Nem pensar. E a cada degrau a mesma fala de sempre: “preciso voltar aos exercícios...”
Sei de gente que odeia essas simulações porque - não raro - acontecem em meio a um mundaréu de trabalho. Tem também gente que ignora sem culpa o chamado e há aqueles que não esquentam a cabeça e aproveitam para resolver alguma coisa na rua.
Lembro que no começo da minha experiência "expatriática" achava estranho esse sistema de endereço comercial dentro de casa: detectores de fumaça, sprinklers e alarmes como parte da decoração. Mas prestando atenção você vê que o cuidado não é exagero. O ambiente é altamente inflamável. É que imóvel nos States costuma ser de papelão - com o perdão da minha ignorância no tema.
O problema é quando tal sistema entra em ação e não há nenhum treinamento agendado.
Pois é, aconteceu hoje onde eu moro. Cinco da manhã! Confesso que demorou um pouco para entender se era despertador, celular ou buzina. A primeira reação foi interessantíssima. Custou a acreditar que poderia ser uma emergência. Só pensava em desligar aquela maldita sirene...
O zum-zum-zum no corredor foi o que funcionou como aquele aviso do anjinho, sabe? “Olha...pode ser fogo”.
Alguns “serás?” aqui e ali depois, o estalo: nossa, é de verdade, “simulação” de verdade. Corre!
Deu tempo de trocar de roupa, pegar carteira e chave do carro.
Lá embaixo, depois do susto e de não ver fumaça, diversão de graça. Todos, no mínimo, com cara inchada e bafão. Tinha também marmanjo com pijama de bichinho, além de gente enrolada em cobertor, morador ainda na porta do apartamento perguntando o que estava acontecendo e gente com mala pronta, como se fosse passar um ano fora. E as histórias? Um disse que na tentativa de desligar o alarme disparou outros. O vizinho da frente contou que a primeira reação foi ligar o exaustor. Ã?!?!
Entre ti-ti-ti na garagem e no hall de entrada, os bombeiros vasculhavam a área. O alarme continuava ensurdecedor.
Depois de 1 hora mais ou menos, o diagnóstico: algo aconteceu no segundo andar... nada de fogo. Nada de grave.
Putz! Bem melhor assim.
Passada a agressão de pular da cama aos “berros” da dona sirene, fiquei pensando: “ok, foi só um susto, mas será que estou mesmo preparada para enfrentar emergências?” Não, claro que não! A gente se prepara só para as coisas boas, para o que a gente planeja e quer, não fica pensando no que pode dar errado, tem guru que diz até que dá azar!
Engraçado é que mesmo assim passamos a vida elaborando mecanismos de prevenção, previsão e alerta. Apesar de todo esforço para driblar o que pode dar errado, hoje percebi como somos resistentes em acreditar no perigo.
Tudo bem que, se tomar por base o acontecido, tenho reforçada a ideia de que esses mecanismos têm mais chances de falhar do que de alertar. Mas pensar assim é, no mínimo, perigoso.
O sistema de previsão dos estragos que o furacão Ike, por exemplo, iria causar em Houston, setembro passado, ajudou a “estancar” o número de vítimas. Saber o tamanho do bicho não fez dele algo maior ou pior.
Por outro lado, levar ao pé da letra estatísticas de violência no trânsito e nas ruas tem feito muita gente refém das próprias suposições.
Acho que esse é o ponto. Saber separar o iminente do possível. Antecipar situações que podem causar estragos e enfrentá-las é maturidade. Supor que estamos o tempo todo correndo risco e conduzir nosso dia a dia a partir dessa premissa é pedir para pirar.
Como selecionar, então? Não sei.
Essa foi minha primeira “simulação” de verdade! Até que rendeu! Rendeu coisa pra falar, coisa pra pensar e a memória do som estridente da sirene. Ô coisa chata!


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Etiqueta, receitas e preguiça.

Olá, Coexpat!Quando a gente assume um novo caminho na vida é natural ir em busca de receitas. Saber como proceder em meio ao desconhecido traz segurança, alívio e preguiça. Sim! Preguiça de encontrar o nosso próprio jeito de fazer.
Não falo de etiqueta - guia resumidinho aqui. Claro que é muito útil saber que é uma tremenda falta de educação não abrir o presente que você acabou de receber de um italiano e um ultraje abrir quando o pacote vem de um japonês. É muito bom ainda saber que na Finlândia chegar um pouco antes da hora é motivo de elogio, que os árabes não toleram ver a sola do sapato de alguém e que comer com a mão esquerda no Senegal é ofensivo. Cultura é cultura!
Mas adotar a cartilha de como se vive lá e achar que isso é uma grande coisa não garante sucesso no relacionamento longe de casa, aliás, nada garante nada nessa vida!
Antes de chegar às bandas texanas, por exemplo, especialistas em vender caminhos pavimentados alertaram que o povo daqui gosta - além de bota, chapéu e espora - de comer bastante, de hierarquia e de um bom papo.
Confesso que gostei desse “bom papo”. Deu a impressão de um povo aberto, disposto a decifrar sotaques e maneiras.
Até que encontrei gente assim. Mas depois de um tempo puxando papo, desconfio que essa disponibilidade vem muito mais de quem é estrangeiro, seja lá de onde.
Vou usar o clássico exemplo do elevador. Sobre os nativos: tem gente que dá um oi rápido, tem gente que conversa, tem o que desembesta a falar, tem o outro que não responde ao cumprimento, tem também quem não está nem aí para o próprio cachorro e que entra rápido no elevador e fecha a porta só para ir sozinho. Tem de tudo!
Aí vou vendo que é difícil se apegar muito às formulas quando o assunto é gente. Vou vendo que etiqueta ajuda a tropeçar menos, que receita ajuda a baixar o estresse, mas vejo também que “ops” , ombros contraídos e gelo na barriga são figurinhas fáceis nesse cenário “expatriático”.


Carmem Galbes
Imagem: SXC

A urgência e o tchau. O tchau e a urgência.

Olá, Coexpat!Essa semana uma amiga querida voltou para a França, o país dela. Nossa despedida me fez pensar em como a urgência invadiu minha vida desde que virei expatriada.
Falo de uma urgência diferente da vivenciada no estresse da vida profissional, por exemplo. Essa pressa que ronda agora tem mais a ver com não poder desperdiçar nada de uma fase que tem data para acabar - apesar de dizerem que o calendário para quem é expatriado não é tão certinho como prometem...
Desde que deixei o Brasil, passou a ser urgente conhecer lugares e pessoas. Virou prioridade absoluta experimentar, aproveitar, aprender. Resultado: acabei mudando o modo de me relacionar com o mundo e com os outros.
Eu sei que sempre precisei de um período, longo por sinal, para me aproximar e deixar chegar perto, mas a ideia de que - mais dia, menos dia - alguém vai voltar para casa, me obrigou a ignorar regras e marcadores. O milagre, no meu caso, foi ver amizades crescerem e ficarem fortes, apesar do pouco tempo.
Aí vem a partida. Gosto de chamar de exercício da partida. É que a expatriação te põe em contato com gente que está sempre andando por aí, indo e vindo. Normal! Não é preciso ser expatriada para saber que, desde que nascemos, sempre tem alguém que chega, acrescenta, tira ou revira e some. A diferença é que a expatriação faz com que isso aconteça em um curto intervalo. Por isso o exercício. Porque conforme as despedidas vão se acumulando, é possível ir aprendendo como lidar com elas.
Não gosto muito de ficar acumulando. Adoro aqueles dias que a gente tira para jogar as coisas fora. Mas não tem jeito, não encontrei outra estratégia: para engolir tanto tchau diferente passei a cultivar fotos, cartões, badulaquinhos, enfim, a memória do que foi bom. “Porque não somos puros espíritos, e sim seres feitos de carne, precisamos de objetos que encarnem uma realidade que já não existe e que testemunhem o que fomos ou o que acreditamos ter sido”, lembra Marcel Rufo em ‘Me larga! Separar-se para Crescer’.


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...