Expatriação, quando a dependência do casal não é uma questão financeira.

Hoje eu tô polemicona!
Por isso o tema (in)dependência financeira, o dito cujo que arranca lágrimas de mágoa e raiva até dos casais expatriados mais descolados, apaixonados e maduros, principalmente nessa época de visita de família, de compras de natal...
Que tal a gente começar com calma, pelo começo, pelo significado das palavras?
Na definição do Michaelis independência é:

  • Estado, condição ou característica daquele que goza de autonomia ou de liberdade completa em relação a alguém ou algo.
  • Caráter ou qualidade de alguém ou daquilo que não se deixa influenciar ao fazer julgamento; isenção, imparcialidade.
  • Caráter ou qualidade de alguém ou daquilo que rejeita conceitos, ideias, regras predeterminados; autonomia.
  • Caráter ou qualidade de quem rejeita qualquer tipo de submissão.
  • Caráter de um estado que não se acha submetido à soberania política de uma outra nação; autonomia política.
  • Condição financeira favorável de alguém ou de uma instituição, sem que precise depender de outrem; independência financeira suficiente.
Dito isso, pergunto: 
  • Quem na face dessa terra é independente?
  • Quem goza de autonomia ou de liberdade completa em relação a alguém ou algo?
  • Quem não  se deixa influenciar?
  • Quem rejeita conceitos, ideias, regras?
  • Quem rejeita qualquer tipo de submissão?
  • No mundo globalizado, abarrotado de títulos financeiros, existe mesmo separação entre política e economia? Sendo assim, existe mesmo soberania política?
  • Quem, senhor, quem tem independência financeira, quem não precisa do dinheiro do outro?
Me explico:
Vamos pensar na independência financeira, o tipo de independência que as pessoas mais valorizam. Imagine uma rede financeira começando por você, que se sente toda desgostosa da vida porque aceitou apoiar a expatriação do seu marido - deixando o próprio emprego de lado - e agora diz sofrer por estar dependendo financeiramente dele.
Você depende financeiramente da renda do seu marido → ele depende financeiramente do empregador dele → o empregador depende financeiramente dos clientes → os clientes dependem financeiramente de quem paga os salários → quem paga os salários depende financeiramente de quem recebe os salários...
É um ciclo! Interdependência financeira! 
Só consegue ter independência financeira quem não participa desse ciclo. Quem não precisa de dinherio para comer, beber, vestir-se e proteger-se.
Vez ou outra ouvimos histórias de gente que conquistou - ou pelo menos tentou conqusitar - a independência financeira de fato.
Caso de Thoreau, que em 1845, aos 28 anos, mudou-se para uma cabana no bosque e demonstrou minuciosamente que poderia tirar tudo o que precisava da natureza. Por dois anos ele viveu à parte do sistema financeiro, dependente (o que todos somos) direto - sem atravessadores - da natureza. 
Mas o ponto que eu quero chegar nem é como podemos nos libertar do uso da moeda ou de quem sustenta quem. 
Eu quero é conversar sobre essa ideia de hierarquia nas relações de dependência.
Esse negócio de a dependência financeira provocar/fomentar/facilitar outros tipos de dependência: de opinião, de decisão, de crença, de humor...
Entende onde quero chegar?
"Eu pago as contas então quem manda aqui sou eu." Essa frase é filha daquela que ouvimos desde a primeira birra/revolta: "quando você tiver o seu próprio dinheiro, você pode fazer o que quiser."
Posso mesmo?
Que tipo de sociedade é essa que diz que com dinheiro a gente pode tudo?
A gente aprende lá bem pequeno que dinheiro é o pai e a mãe de toda a liberdade e submissão.
Então, como não aceitar o fato de que quem tem mais dinheiro, quem recebe o salário é sim mais importante, melhor, superior e pode fazer e desfazer de quem e do que bem entender?
Bom, na minha humilde opinião, não pode e não consegue.
Porque a nossa dependência real - a dependência de que nenhum humano consegue se livrar - é de amor, de afeto, de olhar. Só acreditamos que existimos porque o outro diz que nos vê! E isso não está à venda. Amor autêntico, afeto de verdade, olhar genuíno não podem ser comprados.
Aaaa. você tá decepcionada porque diz que estou chovendo no molhado e esperava um outro desfecho.
Sim, estou chovendo no molhado e não, não há outro desfecho.
Desempenhamos diferentes e simultâneos papéis nessa vida e a dependência está presente em todos eles!
Durante uma expatriação, as relações de dependência ficam ainda mais escancaradas e a limitação do poder do dinheiro ainda mais evidente, tanto que chega uma hora que os pacotes de benefícios podem ficar ainda mais valiosos mas seu efeito não cresce na mesma proporção, porque não conseguem contemplar algo que pode fazer a diferença para o sucesso ou fracasso de uma expatriação: a dependência de apoio e a valorização - na mesma medida - desse apoio! 
"Eu apoio e valorizo a decisão de você trabalhar em outro pais ⇿ Eu apoio e valorizo a decisão de você mudar a sua vida para me apoiar."
Aceitar que a importância desses papéis sejam qualificados por montantes financeiros e origem da renda é pequeno demais para um processo tão complexo que é uma transferência profissional - que considero uma mudança de mundo, não apenas de país ou de cidade.
Penso que são muitos os processos que levam alguém a sentir-se inferior porque não é a fonte da renda, mesmo que esteja à frente de vários outros importantes papéis.
Você pode argumentar  que a relação direta de poder e dinheiro está no DNA do ser humano e que se você não reconhecer que o outro é sim mais importante porque é o "dono" da renda, você ficará desamparada, você passará fome. 
Well...
Tudo bem! Independência de opinião!
Resta saber, você tem fome de que?
Mas aí é muito assunto pra pouco espaço...
Carmem Galbes

O ritual para ver beleza em uma expatriação.


Escrevo esse texto enquanto aplico uma máscara no rosto.
Sim, sempre começo a escrever  mentalmente enquanto vivo a vida. Só depois o texto vai de fato para o papel.
E parece que quanto mais corriqueira a atividade, mais o texto flui...
Se bem que aplicar uma máscara no rosto não é algo tão trivial assim...
Primeiro de tudo, precisamos estar em harmonia com a gente mesma, porque só quando estamos bem com o nosso eu sentimos vontade de nos cuidar.
Ninguém que está no fundo do poço fala assim: aim... deixa eu ir lá no banheiro aplicar uma máscara no rosto para ver se eu melhoro...
Quando estamos mal, costumamos fazer coisas que nos agridem...nos entupimos de junk food, junk drink, junk feelings, junk thoughts...Mas, não! A ideia aqui não é falar de comida lixo, bebida lixo, sentimento lixo, pensamento lixo. A ideia é falar de boniteza.

Voltemos à máscara!
Como defendi, aplicar uma máscara requer um bom estado de espírito e um bocadinho de tempo. Você não chega e pá, lambuza a cara.
Vamos ao ritual:
  • Prender o cabelo.
  • Proteger o cabelo para a máscara não grudar nos fios.
  • Limpar a pele.
  • Aplicar a máscara.
  • Deixar agir por 20 minutos. Melhor se der para sentar, relaxar e curtir o processo.
  • Tirar a máscara.
  • Sorrir para o espelho.
  • Seguir a vida.


Então primeiro é necessário preparar a pele, limpar a pele, tirar a sujeira para que a pele possa usufruir dos benefícios da máscara. Ela tem que estar zerada de maquiagem, de poluição, de produtos, para que os princípios consigam agir. Definitivamente a máscara não vai surtir efeito sobre uma pele saturada de produtos. Ela tem que estar limpa.
E...nas minhas viagens lunáticas pelas atividades terrenas traço um paralelo entre a aplicação de uma máscara e uma expatriação.
Assim como os poros têm que estar abertos para que a pele possa aceitar os benefícios da máscara, a nossa cabeça e o nosso coração têm que estar abertos para percebemos  e incorporarmos os benefícios de uma mudança de cidade, de país, enfim, de vida.
Dá trabalho?
Claro!
Dá trabalho aplicar a máscara! Como vimos, tem um ritual antes, um passo a passo que exige atitude e tempo.
Dá trabalho ter acesso aos benefícios da expatriação?
Claro!
Mudar de casa, por si só, dá um trabalhão! Identificar riqueza nisso, nem se fale!
É que a gente tem que se preparar para perceber essa riqueza, os benefícios da expatriação. Tem que se limpar de algumas ideias, alguns sentimentos, alguns pensamentos, de alguns valores, de alguns conceitos, de alguns preconceitos. E tem também, como ao aplicar uma máscara, que relaxar e dar tempo ao tempo para que os efeitos possam começar a aparecer.
Nem sempre é possível ver o efeito de forma tão clara, tão rápida.
Pensa na máscara. Às vezes, é preciso aplicar mais de uma vez para sentir como a pele melhorou.
E é lógico que a máscara sozinha não faz milagre!
Uma expatriação, por si só, não vai fazer a vida ficar maravilhosa. Ela pode ser parte de um incrível processo de expansão da gente mesma, assim como a máscara pode ser parte de um amplo tratamento de beleza.
Claro que há peles mais sensíveis. Em alguns casos, a máscara pode causar coceira, irritação. Aí a importância de conhecer a própria pele, de ler a embalagem antes de aplicar o produto.
Mesma coisa com a expatriação. Importantíssimo  uma boa dose de autoconhecimento antes de desbravar outros territórios. Importante também ter informações sobre esse processo. Como funciona o mudar de cultura, de idioma, de costumes, de amigos, de rotina...o  que posso sentir? Como posso reagir? A quem posso recorrer caso a reação seja muito forte ou dolorida?
No fim das contas, o que importa é que os processos, sejam estéticos ou não, nos remeta à uma melhoria, nos remeta à beleza! Uma beleza que faça sentido e que seja bonita de fato para gente!
Carmem Galbes

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...