Com a palavra, outra Coexpat!

Oi, sou uma ex - Coexpat, entende?
Atualmente me dedico a refletir sobre os ótimos e péssimos momentos que tive nos meus 4 anos no México.
Tem sido um excelente exercício. Traz um prazeroso sentimento de valeu a pena, um enorme desejo de ser expatriada novamente e muita risada! Risada pelos momentos ridículos que passei até aprender o idioma e, principalmente, até saber mais sobre a cultura local.
Aqui vai apenas uma dessas experiências  

Eu e meu marido havíamos planejado almoçar. Sabe como é, lugar novo, gente nova, vida nova...fomos então a um ambiente universal: shopping.
Chegando lá, humm, estranho...não era natal, nem dia das mães, nem nada em especial. Mesmo assim a fila para entrar no estacionamento estava enorme. Nossa, nunca vou me esquecer daquela fila.
Imagine só: a fome a pico e aquela fila que não andava. A irritabilidade estava a flor da pele. Os insultos ao país começaram aí. Bom, prefiro pular esse detalhe...Depois de mais de 20 minutos na fila chegamos à suposta entrada do shopping e - tchan tchan tchan tchan - estava escrito BURGER KING - DRIVE THRU.
Noooooooossa, que vexame!!! Isso não foi o pior. Quando alcançamos a “janelinha do pedido” só nos ocorreu um no, gracias. Nos equivocamos.

Tinha umas duas semanas de México e aí começaram as minhas aulas de paciência, humildade e bom humor. Acho que sem esses itens, ou pelo menos o desejo por eles, a vida de um expatriado seria insuportável.
Vívian Galbes, São Paulo - Brasil.

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Meus amigos, meus espelhos!

Olá, Coexpat!
Sou da turma que apoia a necessidade do ser humano ter sempre - pelo menos - um objetivo. É que objetivo é como combustível, move a gente. Ele pode ser nobre, simples, rápido, coletivo, instável, insano, como queira.
Conversando por aí tive acesso a alguns propósitos de outr@s coexpatriad@s.

Tem sempre alguém que quer aprender o idioma local. Também já ouvi que tem gente que quer aproveitar esse tempo na 'gringa' para buscar uma especialização, ganhar uma grana, fazer trabalho voluntário, ter filho, aprender uma atividade, levar uma vida do avesso, expandir a consciência, ler tudo o que não teve tempo, meditar, fazer nada, emagrecer, enfim... cada um é cada um, ou não ?
Uma coexpatriada confessou que está mesmo é exercitando a paciência. Tá esperando com toda boa vontade do mundo a repatriação chegar! Que fase ela deve estar passando...

Meu objetivo está focado em outra virtude: a amizade.
Eu sei, fazer amigos não é fácil. Quando se está expatriada então...Eu sei que tem gente que promete a si mesm@ nunca mais confiar em ninguém depois de ficar ferid@ com uma amizade.
Aristóteles diz que a amizade depende de outras qualidades.

Há um pessoal que defende que a amizade pode ser até um vício quando impede a expressão de virtudes como a justiça, por exemplo.
Ai...isso pode ir longe...

O importante é ter amigas e amigos. Não importa a forma, mas o conteúdo. Não importa como eles chegam, mas se ficam - pelo menos na lembrança. Não importa quantos, nem onde estão, nem há quanto tempo são...
Aos poucos a gente aprende que manter um relacionamento assim exige dedicação das duas parte. É uma cosntrução diária, árdua, algumas vezes sofrida, algumas vezes cansativa.
Pensando bem, a amizade me deixa até em uma condição desagradável, a de eterna devedora. É que devo à amizade a noção de bem, de mal, de satisfação, de ausência, de engano, de perda...

Mas a amizade compensa. Compensa porque me dá o melhor que posso ter nessa vida: a noção de mim mesma.

Carmem Galbes


Café com leite.

Olá, Coexpat!
Não tem jeito, o sotaque dá uma condição muito interessante para quem está longe do lugar de origem. Ele faz da gente uma personagem quase café com leite, aquele tipo que não tem muita vez, não tem muita voz, pelo menos no dia a dia gringo.
Um exemplo: numa loja, uma vendedora me perguntou: turista? 

Eu disse que não. 
Ignorando a resposta negativa e atenta ao sotaque ela simplesmente disse, ah, desculpe, essa promoção só vale a pena pra quem vai passar um bom tempo aqui.
Como a oferta da moça não me interessava em nada, nem insisti. 

Mas a cena foi interessante.
Me fez pensar que não basta ter orelhas e ouvir bem, tem que saber escutar. Escutar o que o outro diz, não o que já dissemos internamente pra gente.
Mas a escuta é algo que não se ensina por aí,

A gente aprende a falar, aprende a ler, a escrever, mas a escutar não. 
A audição, quando tudo corre bem, nasce com a gente.
Mas a escuta, essa a gente tem que desenvolver! A gente tem que dedicar tempo, atenção e amor ao próximo para escutar de verdade. Para entender o que se fala.
Mas quem está mesmo disposto a escutar de verdade? 
Bom, tome para você a responsabilidade.
Treine a escuta! No mínimo, você vai se ouvir melhor!

Carmem Galbes

Entre o belo, o útil e o indispensável.

Olá, Coexpat!
O período aqui nos States é de volta às aulas. 
Nada novo, isso acontece no mundo todo pelo menos uma vez no ano. Mas uma cena me cativou. 
No supermercado uma mãe tentava convencer a filha sobre os benefícios de uma mochila mais em conta, porém menos atraente esteticamente em relação ao modelo que a menininha havia escolhido.
Esse nhe-nhe-nhem na seção de material escolar também não é novidade. Aliás, o mais comum em período assim é acompanhar verdadeiras batalhas por causa de caderno, borracha, canetinha e apontador.
Não, essa conversa não é sobre a luta da aluninha pelo belo e nem pretendo abordar o esforço da mãe na defesa do útil.
O fato é que mais um clichê bateu à porta. 

Dizem por aí que não importa o que acontece na vida da gente mas no que transformamos esses acontecimentos. 
A menininha não será a única com a mochila mais útil que bonita na escola. Uma legião de colegas deverá estar na mesma situação, mas como cada uma vai se acertar com as experiências do cotidiano isso é outra coisa...
Gosto dos 'causos' da astrônoma Maria Mitchell. Ela viveu sob os mandos e desmandos dos costumes, como todas as mulheres no século 18. 

Como ela administrou isso
Ela poderia ter decidido seguir o que determinava a sociedade, poderia ter ficado deprimida, poderia ter ficado apática e ter deixado tudo pra lá...
Mas ela preferiu posicionar-se ativamente - porém de forma pacífica - em relação ao que não concordava.
Um exemploParou de usar roupa de algodão para protestar contra o trabalho escravo.
E nessa jornada pela própria liberdade e pela liberdade de outros seres humanos, Mitchell fez muitas descobertas! Descobriu até um cometa - que leva o seu nome!
Sim, também temos um universo a explorar. 
E não precisamos estar tão longe, tão só, tão...Basta coragem para simplesmente olhar. É que, como dizia Michell, quanto mais vemos, mais estamos capacitados para ver.
Então abra os olhos, inclusive os da alma, para perceber a beleza e a utilidade dessa incrível experiência que é uma expatriação. Essa fantástica experiência de estar em um lugar desconhecido - dentro e fora de você -  pronto para ser desbravado!

Carmem Galbes

Que sucesso essa gata que sabe latir.

Olá, Coexpat!Não, não é só você...
Por mais que alguém seja fluente em um outro idioma, essa tal língua não deixa de ser estrangeira e sempre tem uma hora que cansa...
Aí pode acontecer de você soltar uns fonemas em Português, não dar algumas respostas e deixar de fazer certas perguntas.
Tudo bem, pode ser que você não esteja pra conversa hoje e deve estar cansada até para falar na língua materna. Mas a história é pequena e bonitinha. Ouvi agora a pouco.
A gata seguia com sua prole pela rua quando apareceu um cachorrão, o mais invocado da vizinhança. Os filhotes ficaram assustados com o bicho e surpresos com a reação da mãe.

Em vez de recuar, a gata seguiu toda empinada e parou em frente ao Rex. Encheu o pulmão e, em vez de "miauuu", deu uma bela latida. 
O Rex nem tentou enfrentar, virou a esquina e sumiu. 
A bichana, muito sábia, virou para a cria e disse: viu como é bom saber uma segunda língua?
Então não desanima! Aproveite sua estada em outro país para seguir com seus estudos no idioma! Fale sem medo de passar vergonha! Meta as caras! Fique fera em latido, mugido e o que for necessário! E, se um dia precisar latir, o "au au" pode sair até com sotaque, mas que o receptor vai entender a mensagem , isso vai!

Carmem Galbes

Desejo e gozo.

Olá, Coexpat!
Numa sexta-feira dessas defendi a importância do ócio, do lazer, do papo pro ar ou o nome que você preferir para o famoso “dar um tempo”.
Engraçado, como é difícil aceitarem - me incluo - que me propus a ficar um período sem seguir a cartilha sócioprofissional. 

Sempre chega a pergunta, 'e aí o que tem feito?' 
É muito estranho responder: nada!
Mas eu estou fazendo nada mesmo. Nada do que dizem que deveria fazer nesse período de coexpatriada. 

Não, não estou fazendo trabalho voluntário. Também não, não participo de grupos de mulheres de-sei-lá-o-que. E não, não estou grávida. 
Desculpe, não, não e não. 
Ok, estou estudando, quero viajar o que puder e experimentar, experimentar e experimentar. Adoro número primo!
Mas não é que envolvida nesse meu projeto bloquímico, sim - porque, pra mim, lidar com tal tecnologia é quase tão difícil quanto entender química - lembrei de uma palestra da psicanalista Maria Rita Kehl.
Ela falava sobre passividade quando soltou a trovoada: "até a morte estamos entre o desejo e o gozo, queremos estar muito mais tempo no gozo, mas a vida é mais valiosa à medida que dedicamos mais esforços em alimentar o desejo."
Não tem jeito, o desejo é o combustível do dia seguinte. A gente morre é de prazer!
Claro que batalho para não cair no desejo comum, alienado. Aqui, pelo menos aqui, quero desejar para o bem, para o meu bem. Busco o desejo que resulte - tomara - em uma satisfação realmente plena e pessoal.
Mas hoje é sexta. E só posso desejar uma coisa: que o mundo tenha um fim de semana de gozo total.


Carmem Galbes

Sobre cuidado, paciência e carinho.

Olá, Coexpat!
Eu juro que venho tentando mudar de assunto essa semana, mas começo meu tour diário e dou de cara com o gasto recorde de conterrânereos em férias fora do Brasil. Viu? A resistência é árdua...
E olha que o dia a dia longe de casa tem ficado cada vez mais caro. Se bem que São Paulo e Rio estão entre as campeãs do continente em preços salgados.
Falando em tempero - agora sim mudando o tema - uma pesquisa pode apimentar a discussão sobre a monogamia. O resultado sugere que um homem com várias esposas tem mais chances de viver além do que é casado com uma só. Gente... e foi uma mulher que concluiu isso!
Pra ajudar, o antropólogo da Universidade de Cornell, Chris Wilson, vira e fala que "não surpreende que homens nessas sociedades vivam mais que homens em sociedades monogâmicas, onde eles ficam viúvos e ninguém cuida deles". Então, se eu entendi, se o homem morre antes do que deveria a culpa ainda é do cônjuge?
A mesma pesquisa diz que a expectativa de vida da mulher aumenta por causa dos netos. Então tá. O negócio é ter paciência e esperar pela terceira geração. Aliás, a atacante Marta disse que faltou calma na busca pelo ouro na China. Mulher + calma? Sei lá, já ouvi dizer que essa equação não existe.
Mas o que importa é que já temos uma mulher na presidência do Brasil. Verdade! Palavras do Lula: "Ah, as mulheres são as mulheres. Por isso é que eu sou cada vez mais mulher". O presidente disse isso depois de chamar meio mundo de babaca.
Bom, tenho que ir. Vou cuidar com carinho!


Carmem Galbes

Azedume, espartilho e disciplina...coisas da vida.

Olá, Coexpat!
Que dia burocrático! Mas, fazer o que? Fila, carimbo, cara azeda e síndrome de “otoridade” tem no mundo todo, não é?
E se temos que passar por isso, que seja com estilo.
Aha, eu sei que você adora esse tema e, vez ou outra, abraça com a força de espartilho o lema "sim, eu quero mais é inflacionar.

Então, bora às compras!
Se você está chegando e gosta de ter o controle das coisas e das contas, não se esqueça da regrinha 'o dinheiro que entra na conta do banco deve ser maior do que o que sai', assim ninguém surta, nem sofre! Olha menina...isso é sério...
Se está em dúvida se você está fazendo um bom negócio onde você está vivendo, me passaram uma calculadora de custo de vida, mas o cálculo está restrito à algumas cidades dos Estados Unidos.
E se você ainda insiste em pensar em Reais, têm alguns conversores online por aí. O processo é simples, rápido mas, com o Real fraquinho assim, só não garanto que será indolor...
Ah, continua chovendo muito...

Carmem Galbes

A cartilha é de graça!

Olá, Coexpat!
Depois da visita ao post abaixo, uma amiga me acusou de colaborar para inflação aqui nos Estados Unidos. Como eu sou igual a bonequinho de sinal em São Paulo - odeio ficar piscando - eu disse educadamente: ah, vá pra Zimbábue! Explico: lá sim tem inflação - 11.200.000% nos últimos doze meses. Interessante é a explicação do ministro das Finanças, "continuamos a lutar contra a inflação tentando garantir que os preços cobrados sejam realistas", oi?
Mas cara amiga, a inflação deve cair um pouco. 

É que desde ontem está chovendo muito, bastante mesmo, então estou acampada em casa, navegando!
Entre uma parada e outra descubro que, pelas contas do governo, 4 milhões de brasileiros vivem fora do país. Outro dado: o mundo tem 200 milhões de expatriados. Nossa, que alegria - adoro número, gente!
Mais? Não tem! O que encontrei foi uma cartilha para os que estão longe.

O material foi lançado em março deste ano pelo Ministério do Trabalho e Emprego. O texto reserva bastante espaço para a questão da imigração ilegal. Aborda também temas como o sistema de saúde em outros países, envio de dinheiro ao Brasil e retorno ao país, além de reunir links que podem ser úteis.
Agora vou ver se parou de chover!

Carmem Galbes

A minha estratégia "facinha" de adaptação...

Olá, Coexpat!
Na vibe de revisitar o passado, tenho me divertido com as minhas estratégias - algumas bem ordinárias -  para me adaptar à vida no exterior.
Segue um pouco do meu início em uma nova cultura...
Há dez anos, direto do túnel do tempo...

Em linha com a moda de supervalorizar o presente e ainda traumatizada pela experiência pouco agradável de esvaziar uma casa repleta de certeza de um futuro definido, resolvi que meu novo endereço - com data definida para expirar - refletiria o espírito fugaz do tempo. Me propus só ao necessário: poucos móveis, linhas retas, sem adornos...tudo muito prático para facilitar a mudança de volta!
Mas como já disseram, estamos entre o tempo e a eternidade.
Então eu simplesmente juntei a necessidade de satisfação urgente dos meus desejos consumistas, com a busca imediata de prazer e a fantasia de viver nesse novo endereço para sempre. Resultado...vou falar baixinho: compras para a casa.
Se você ainda se sente culpada por se render ao consumo nesse início de carreira como expatriada, sugiro uma dose de Santo Agostinho:
“O que agora claramente transparece é que nem há tempos futuros nem pretéritos. É impróprio afirmar que os tempos são três: pretérito, presente e futuro. Mas talvez fosse próprio dizer que os tempos são três: presente das coisas passadas, presente das presentes e presente das futuras”.

Então bora providenciar as coisas do presente e do futuro!
Ai...que alívio...

Breve atualização: o consumo pode ser uma estratégia para fazer você sair de casa e ver a vida lá fora. Se isso ajudar, vá em frente, mas consuma de forma inteligente! 
Para não se aborrecer com dificuldades no idioma ou com o comportamento dos vendedores locais, faça uma pesquisa antes: procure traduzir o nome do produto que você quer, separe uma foto e pesquise lojas e preços.
Se for fazer compras para a casa e se o atual endereço for por tempo definido, invista em itens de decoração que tragam aconchego e sejam fáceis de instalar e transportar, como almofadas e tapetes.
Se for adquirir um móvel, prefira os de menor padrão possível. É mais versátil ter - por exemplo - duas estantes iguais pequenas do que uma grande. Em um próximo endereço, você pode colocar uma estante em cada cômodo. 
Teste possibilidades! Permita-se organizar a casa de um jeito que você sempre quis, mas nunca se permitiu! É a chance que você está tendo de fazer tudo diferente!
No mais, divirta-se
Espero que ajude!

Carmem Galbes

Sem grandes coisas...

Olá, Coexpat!
Em mais um dia de expatriada - nunca exilada! -  transitando entre a Mística Feminina, da Betty Friedan e seu filhote The Feminine Mistake, da Leslie Bennetts, estava disposta - apesar da sexta-feira - a trocar idéias sobre o destino da mulher como ser pleno, que precisa de alimentos que incluem compromissos sociais e pessoais, como família feliz, relacionamento saudável e carreira.
Mas aí leio uma coisa de dar dó e não posso deixar de manifestar minha solidariedade aos homens franceses. Eles estão em plena campanha
 para poder usar saia.
Gente, como é bom viver em um país onde o vinho é ótimo e a primeira-dama é linda! Esqueça a economia e a tensão social.
Aliás, falando nisso, me deu uma vontade de mudar de assunto...

Sabe aquelas matérias sem pretensão, resuminho básico de livro que está sendo lançado, em que você passa o olho e ok?
Então, um desses textos me fez pensar sobre o risco de uma combinação que parece estar ficando comum por aí: inteligência mediana e muita ambição.
Na verdade, não cheguei a nenhuma conclusão, mas acho essa combinação reveladora. Revela os ideais de hoje em dia, as buscas, os traumas. Talvez explique por que o homem que quer usar saia simplesmente não coloque uma e saia por aí - com o perdão do trocadilho. Acho que pode explicar também o motivo de, com tanta coisa nova pra descobrir, eu parar justamente para ler sobre os homens que querem usar saia. 

Sei lá...

Carmem Galbes

Um minuto de silêncio, você consegue?

Olá, Coexpat!
Nesse mundo em que a gente acha que tem tanto a dizer e em que o tempo todo é convocad@ a falar, ficar em silêncio é quase uma derrota.
Ok, poder falar e conseguir dizer o que se pretende é tudo de bom.
Mas hoje queria conversar um pouco sobre aquele outro silêncio. Eu sei...esse tema é quase clichê de tão debatido, estudado, explorado - até. Mas, na prática, quem consegue encontrar o silêncio interno, a tal da quietude?
Engraçado, é quase um autoelogio falar: “nossa, não consigo ficar quieta!” Isso tende a soar como "nossa, sou super esperta, agitada, envolvida com o mundo, bacana, jovial, legal..."
Mas, será que se a gente fechar os olhos e abrir os ouvidos não vai conseguir ouvir um: "nossa, não consigo parar cinco minutos para dar espaço ao nada."

Que fuga é essa do nada?
Será que o fato de estar assim tão longe de casa, do ninho, eu não posso ficar quieta?
É que a gente sabe que isso pode doer,

O silêncio dói, a pausa dói!
É que a gente sempre acha que no silêncio ouve assombração...
Mas como tudo é uma questão de foco, de para onde direcionamos a nossa atenção, a gente pode ouvir passarinho também... e grilo... e miados & latidos... e ideias... e respostas que não conseguiríamos prestar atenção em meio a tanto barulho...
Então acho que vou pedir ao Supremo, não ao Tribunal Federal, mas ao Supremo Poder do Universo que me conceda o direito - ou a coragem - de ficar calada. Que me conceda o privilégio de não dizer nada, apesar das exigências internas e das expectativas alheias, apesar das urgências, dos receios, da angústia, dos questionamentos. 

Tudo porque quero ter a chance de ouvir o que o silêncio tem a me dizer!

Carmem Galbes

Banana-maçã e manicure, que dia bom!

Olá, Coexpat!
Ontem foi dia de boas descobertas!

Descobri um local que vende banana-maçã - que eu adoro, descobri mais uma loja com preços ótimos, caminhos mais curtos E, eu disse E gritando mesmo, manicure a la brasileira.
Tá certo que as que me atenderam eram chinesas. 

Tudo muito eficiente. 
No começo foi difícil conseguir explicar que não queria a unha nem quadrada e nem redonda, mas a gente se entendeu. Fiquei desconfiada até tirarem a cutícula. Foi perfeito! 
Elas se espantaram com a minha escolha da cor, e naquele inglês de cebolinha - que já traduzo - ousaram: "blanco tlanspalente, tem certeza que não quer um pink?"
Resumindo a experiência:
As diferenças: a manicure que me atendeu foi tão precisa na hora de pintar que nem precisou limpar o excesso de esmalte. E a massagem nas mãos? Ela se estendeu da mão para o braço e do pé foi até o joelho, muito boa!
A diferença marcante: o preço, o que não é novidade. No mínimo o dobro do que estava acostumada a pagar no Brasil.
Mas acho que faz sentindo, sabe? Faz sentido pagar pelo talento. Ok, aprendemos que o preço "bem precificado" já contém o valor do trabalho, da capacidade, inovação e o capacete a quatro. Mas a gente é bem acostumada a pagar pequenas fortunas por produtos em série e dar esmolas pelo talento, falo daquele talento presente no dia a dia, traduzido - geralmente - em serviço.
Tudo bem, também defendo a idéia de que seria muito bom precisar de menos dinheiro para fazer as coisas e também não acho que aqui a relação capital trabalho seja mais justa , o que não é.
Mas não é por essa porta que eu quero entrar, não. 
 

Para mim, ter ido à manicure longe de casa foi simbólico. Representou respeito à diversidade, crença na capacidade alheia e, lógico, aumento da autoestima, porque unha bem feita é tudo de bom e eu não sou de ferro...
Carmem Galbes

Quase morro!

Olá, Coexpat!
Eu nunca vivi uma experiência de quase morte, como aquela em que dizem que você entra em um túnel iluminado, tem uma profunda sensação de conforto, de leveza e resiste em voltar, embora a voz insista: vooolte, vooolte.
Em mais um lero-lero mental cheguei à conclusão de que a gente vive várias experiências de quase morte mesmo sem, necessariamente, passar por um incidente ou acidente.
Quase morremos quando nascemos, quando saímos da infância, da adolescência e da juventude. Quase morremos quando perdemos o emprego, quando somos ignorados, abandonados. Quase morremos de ódio, de medo, de frio, de fome, de saudade, de ciúme, de dó, de rir, de comer, de cansaço , de alegria, de orgulho, de prazer...
Vendo por esse lado, ser ou estar expatriad@ pode ser uma experiência de quase morte.  Fica-se tão à flor da pele, que parece que se pode quase morrer quase todo dia.
Não sei se isso é bom ou ruim. Mas quase morrer dá uma baita sensação de estar viva, não um morto-vivo, mas vivinha da Silva.
É que nessa condição de quase morte não há meio termo. A vida distante do que é familiar deixa tudo intenso, profundo, em detalhes. Nada passa em branco, nada se deixa pra lá.
É, como diz o Xandico, um dos colegas mais engraçados e estressados com quem já trabalhei:  “ai... essa vida ainda me mata.”

Carmem Galbes

Colecionadora de pennies.

Olá, Coexpat!
De onde eu vim, milhas é aquilo que você acumula ao viajar de avião
Pé serve para por sapato. 
Libra é o signo da minha mãe. 
E polegadas dita o preço da TV.
Mas as coisas têm mudado e, como uma digna infanta - condição readquirida pela expatriação -  meu propósito é sempre facilitar.
Já aprendi que no trânsito a velocidade não pode ultrapassar o número 35, o mph - milhas por hora - eu deixo pra lá.
O pé aqui tem 30 centímetros. Eu nunca vi um pé desse tamanho, mas de repente me vi encolher. Virei uma centopéia manca com pouco mais de cinco pés - de altura, estranho? 

Estranho é meu peso que só aparece em centena. Quantas libras...Isso é angustiante!
Pensando bem, angustiante mesmo é pedir peito de peru fatiado. Estava acostumada com 200 gramas. Agora fico naquela continha mental de mais um, menos um, sobe dois.
E para saber a temperatura então? Já suei tanto que cheguei a perder dois quilos transformando Fahrenheit em Celsius.
Como lido com as polegadas? Ignoro. 

Agora imagine você no mercado, na fila do peito de peru, tentando saber se está calor e tendo que se concentrar na hora de espirrar? 
Lembre-se, atchum em vez de atchim
Se doer é ouch e não ai.
Mas mudando de assunto, uma coisa que eu gosto é dos nomes das moedas. Penny para um centavo, dime para dez e quarter para 25. 

Sabe, tenho uma amiga que coleciona penny. Ela já juntou 257 pennys (sic). Bom, ?
Moral da história: sem bom humor, a expatriação pode te matar...de saudade, de raiva, de medo...

Carmem Galbes

Todo dia é sexta-feira - pelo menos aqui, vai!


Olá, Coexpat!

Estava aqui visitando uns textos que escrevi lá no comecinho da minha expatriação para os Estados Unidos.
Cheguei em um que falava mais ou menos assim: 
Sexta-feira! Estava aqui pensando que de uns tempos para cá meus dias têm sido um fim de semana contínuo, já que estou na condição de 'esposa de profissional expatriado' e faço parte do time que deixou tralalá e etc & tal para acompanhar o maridão.
Engraçado que tenho tido compromissos, sim. Escola, casa, compras, contas, só que parece que tudo flui mais leve.
Mas conversando com mulheres que estão na mesma condição que a minha, percebo que lidar com o fato de poder desacelerar e fazer coisas que não tinham tempo nenhum de fazer porque trabalhavam como camelo é algo que incomoda.
É como tomar gelado assim que a garganta cura ou não resistir ao vinho, mesmo recém-saída de uma paulada no fígado. Quero dizer que não tem nada demais, a doença passou, bola pra frente, mas tem aquela coisa de culpa que não larga do pé.
Aí na leitura diária encontro uma entrevista com um especialista em lazer, é mole? Resumindo, o cara diz que você é quem decide se a sua vida vai ser legal ou não.

Em uma entrevista para a Folha, Christopher Edginton garante que até no trabalho, até em um bate-papo, até em casa, até quando a conta bancária não ajuda é possível “descer pro play”, porque lazer é um estado de espírito.
Se você está aí se sentindo um nada porque não tem mais ninguém mandando no seu relógio e na sua agenda pense um pouco sobre as palavras do especialista. “Tudo que ocorre na vida de alguém tem um potencial de transformação. O lazer é um momento especial porque livra as pessoas de suas obrigações e lhes dá uma oportunidade de refletir, redefinir valores, aprender novas habilidades. Pense em lazer como liberdade - quando você é livre para escolher, para mudar a sua vida e seguir numa direção diferente”.
Então não deixe que esse seu fim de semana termine no domingo, ok?


Carmem Galbes

Expatriação e o teletransporte para a primeira infancia.

Olá, Coexpat!
Com o propósito sempre de integração cultural e de pesquisa antropológica - claro (#sqn) -  hoje dei uma de americana e fui às compras logo depois do almoço.
É estranho, você entra nas lojas e parece final de semana ou grande liquidação, está sempre tudo cheio. Acho que é porque o clima aqui é de fim de férias. Bom, só vou saber quando mudar a estação.
O ritmo na loja é diferente. Não tem aquela paquera com a mercadoria. O pessoal vai olhando tudo de forma acelerada. O som é de cabide batendo, tac-tac-tac uma peça após a outra. De repente uma pausa. A loira ao lado acha uma blusa linda! Vai ter olho clínico assim lá longe.
Peguei 327 milhões de itens...e nada! É que ainda não me acertei com meu número...
Mas, sabe aquela história da azeitona da empada? Pois é, tanta roupa linda e um soutien que sobrava na frente e apertava nas costas acabou disparando um blá-blá-blá mental. Sim, tenho tido muito disso ultimamente.
Sinto que eu nasci ontem. Não sei mais meu manequim, a noção de caro e barato complicou, sem contar o bê-á- em tudo, no restaurante, no trato e no destrato... Usar moeda então é exercício de paciência, imagina para o caixa...
Mas a gente cresce, ?


Carmem Galbes

Expatriad@ ou exilad@?

Olá, Coexpat!
A definição básica de expatriad@ e exilad@ é  a mesma: viver fora do país de origem. 
Mas a gente sabe que as conotações são diferentes. 
O exílio vem carregado de obrigação, de ter que deixar seu país. Já a expatriação está inserida na atmosfera do triunfo, do desejo, da conquista, da autonomia, escolhe-se ou não sair do país, podendo voltar quando quiser.
Independente da motivação, se a saída é detestada ou desejada, estrangeir@ é estrangeir@. Como encarar essa condição é uma escolha pessoal.
O fato é que, ao cruzar as fronteiras da zona de conforto, não tem muito como escapar da dor que a maioria sente em outra cultura. Que tipo de dor? O professor brasileiro Idelbar Avelar, um expatriado de carteirinha, dá o tom: “o expatriamento mexe com as vísceras e produz terríveis distorções de percepção. Vacilos, dúvidas, culpas vão produzindo uma racionalização da saída, através da qual a pátria deixada para trás se transforma num inferno do qual se escapou ou num paraíso perdido”.
Aí está a questão. Se você saiu com a alma de expatriad@, esses comportamentos tendem a ir se diluindo com o passar do tempo. Passamos a gostar da nossa condição, a de poder transitar, sem mágoas, arrependimentos e ilusões, entre as duas culturas: a brasileira e a estrangeira.
Difícil fica para quem aceita uma expatriação, mas parte como se fosse para o exílio. Aí, Avelar diz que “se, por um lado, a conflitante sombra de muitas culturas e idiomas pode estimular a inventividade verbal, por outro lado, também pode levar ao silêncio quase absoluto.”
E aí, com que alma você encara a experiência de viver em outro país, a de expatriad@ ou exilad@?
Só pra falar mais uma coisinha... sou fã da ideia de que a palavra nos salvará, seja ela qual for. Então, dê nome aos sentimentos, deixe a palavra sair, nem que pra isso você enrole um pouco a língua... 


Carmem Galbes
 

Edouard, meu primeiro furacão foi só uma garoa.


Olá, Coexpat!
O alerta começou ontem. A tempestade tropical que vinha do oceano poderia virar furacão.
Então, seguindo a maré, corri para o mercado. Estoque de água, comida enlatada, lanterna e pilha. Boa lembrança da amiga Adriana: "não se esqueça do abridor de lata".
O kit é necessário em caso de danos na rede elétrica e de abastecimento de água, com risco de dias de "acampamento", sem energia e sem água potável.
Seguindo o procedimento de quem já viveu a fúria da natureza, escolas, empresas e repartições não abriram nesta terça-feira. Na televisão, plantão 24 horas.
Edouard chegou pela manhã acompanhado de chuva e vento de até 100 quilômetros por hora em alguns pontos da costa Texana.
Mas ao contrário das previsões pessimistas, nada de danos. Edou - sou íntima - trouxe coisa boa, como temperatura mais amena. Pela primeira vez em um mês o termômetro ficou abaixo dos 30 graus durante o dia.
No fim, meu querido Edouard foi a causa de um dia mais calmo, mais lento, diria recluso até.
É, para quem está acostumada com as enchentes paulistanas e viveu a confusão com o fechamento do carioca Rebouças no ano passado, o Edouard foi só uma garoa...

Carmem Galbes

O salto e o pé-de-meia.


Olá, Coexpat!
Não é que andando por aí eu achei alguns dados sobre o universo “expatriático”. Tudo bem que os números não são dos mais recentes, foram divulgados em 2006, mas talvez ajudem @s neurótic@s por estatística - sim é o meu caso!
Primeiro as formalidades: a pesquisa é da Mercer consultoria de Recursos Humanos e foi feita em 104 empresas do mundo todo.
O dado que me chamou a atenção foi que sete em cada 10 empresas pagam custos com cursos de idiomas e sobre a cultura local, por exemplo, mas a maioria – dois terços – informa não ter mecanismos para fazer com que a família expatriada sinta-se de fato em casa. Um dos diretores da Mercer , Gareth Williams Bom, diz que a “falta de tempo e restrições de custo fazem com que as empresas concentrem seus esforços em um suporte mais prático e do dia a dia do funcionário” .
Bom, acho que não precisamos mais de números para perceber uma coisa, para assuntos relacionados à saudade, ansiedade, insegurança, etc e tal o suporte vai estar mesmo na nossa capacidade - diria até mágica - de lidar com tudo isso sem descer do salto.
Mas caso hoje você já tenha jogado as tamancas para o alto, que tal mais um dadinho?
A pesquisa revela que os incentivos em dinheiro para compensar o funcionário pela inconveniência de ser transferido continuam a ter um papel importante na política de expatriação das companhias.
Então car@ Coexpat, se o dia estiver um pé...se a noção de experiência que você está acumulando estiver no chinelo, fique descalç@ de vez e lembre-se da meia, isso, do pé-de-meia que você, ou vocês estão fazendo longe da terrinha...

Carmem Galbes

Em que Lua você está?

Olá, Coexpat!
Meu propósito hoje era trazer um conteúdo mais formal, com alguns numerinhos – coisa de jornalista. O fato é que não encontrei nada que traduzisse numericamente o cotidiano dos profissionais e suas famílias no exterior.
O que me chamou a atenção foi uma tese que citava um livro de 1986 - Culture Shock: Psychological reactions to Unfamiliar Environments, London: Methuen. Um alívio...até que enfim uma visão mais humana do processo.
Na obra, os autores Adrian Furnham e Stephen Bochner dizem que @ expatriad@ passa por quatro fases:
O começo é de euforia, lembra muito aquelas férias em um lugar novo.
Mas...no fim de três semanas - mais ou menos - vem a segunda fase , a do choque, quando o desencanto começa a marcar o dia a dia.
Os autores garantem que isso normalmente passa.
Bom, então se o esquema deles funcionar mesmo, eu sei que vou entrar na fase três quando passar a adotar - sem crise - as regras e os valores do novo país e tiver confiança para me aventurar na rede social.
E como quando a gente conversa a gente se entende, eis a fase quatro, a de relacionamento intercultural e de estabilidade emocional.
Perceba que da fase dois em diante nossos amigos não detalham o tempo de duração. Portanto, cada caso deve ser um caso, como tudo na vida!
Mas se na teoria a tese é fácil, os escritores lembram que o a integração pode ser tamanha, que corremos o risco de abandonar a própria cultura - aí complica na volta.
E você, em que fase está?
Carmem Galbes

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...