Leve Entrevista. Adaptação ao Diferente.

Olá, Coexpat!
Com uma bagagem que inclui a própria expatriação, a psicóloga Andrea Sebben fala sobre assuntos bem conhecidos de quem está longe do ninho, como medo e solidão. 
A profissional, especialista em ajudar @ brasileir@ a ser bem-sucedid@ lá fora, trata das dificuldades da expatriação e sugere caminhos para que essa seja, sim, a melhor viagem da vida. Aproveite!

Leve: O seu trabalho é uma prova de que as empresas estão empenhadas em investir na adaptação d@ expatriad@ e sua família. No que se refere à família, ela conseguem ter a noção dos desafios pessoais dessa experiência ou a maioria ainda subestima o futuro dia a dia em uma cultura diferente?
Andrea: Acho que a grande maioria ainda subestima as dificuldades da expatriação. Há algumas razões para isso, no meu ponto de vista. A principal delas é defender-se de seu próprio medo e angústia, afinal de contas, não se pode falar em migração sem falar em medo e insegurança. Portanto, menosprezar as dificuldades é uma forma também de sentir-se mais seguro e no controle da situação - o que é praticamente impossível. Migração é risco e é ambivalência também. Lidar com esses aspectos é muito difícil mesmo. Outra razão é a quantidade de aspectos burocráticos que precisam ser resolvidos não deixando tempo para uma reflexão mais consistente.

Leve: Assim como há pessoas que não possuem determinados talentos, é possível dizer que há profissionais que não têm e não conseguirão desenvolver um perfil para a expatriação?
Andrea: Sim, é possível dizer isso à luz da psicologia Intercultural, que define as personalidades migratórias. Existem pessoas que são naturalmente bem-sucedidas na migração por terem facilidade em criar vínculos, em experimentar coisas novas, em adquirir um novo idioma e, principalmente, porque conseguem participar de grupos muito facilmente. Fazer parte de uma comunidade e vincular-se ao país hospedeiro são cruciais para o expatriado - o que explica tantos grupos de expatriados ao redor do mundo.
Outra personalidade é aquela que sofre com a separação, que tem dificuldade em criar vínculos, em sentir-se parte do grupo, em aprender um novo idioma, em experimentar novos alimentos, enfim. Essa sofre na partida, durante a expatriação e quando volta - pois uma vez que se estabelece na cultura estrangeira, sofre demais também ao retornar ao país de origem.


Leve: No seu livro "Intercâmbio Cultural:um guia de educação intercultural para ser cidadão do mundo" a senhora fala sobre stress aculturativo, desentendimentos, gafes e retorno ao país de origem. Quais seriam as principais características da família e da escola preocupada em formar um expatriad@ feliz?
Andrea: Nesse caso você está falando d@ estudante estrangeir@ numa casa de família hospedeira. Acho que tanto os hospedeiros como as escolas deveriam fomentar a amizade com nativos - e não com estrangeir@s. Tenho uma certa resistência às escolas americanas - ou escolas internacionais como chamamos aqui no Brasil - que fazem uma grande reunião de estrangeir@s e falam outro idioma que não o português. É praticamente a criação de um gueto, porém, de estrangeiros.
@ estudante pode aprender a apreciar a escola, o idioma e a cultura local e é nesse sentido que se criam vínculos interculturais - na diversidade. De que adianta, por exemplo, ir aos Estados Unidos e frequentar uma escola de brasileiros e falar português? Quando isso acontece aqui no Brasil acho que todos perdem, sobretudo a criança.

Leve: Qual a sugestão para @ expatriad@ que ainda não conseguiu identificar as belezas e delícias dessa experiência?
AS: Abrir-se definitivamente. Não se entra na experiência intercultural com uma visão fechada, etnocêntrica, que nos convida apenas à comparação e ao julgamento. Enquanto não conseguirmos apreciar as pessoas, os sabores e as paisagens a partir do contexto local, não conseguiremos compreender, perceber e apreciá-los tais como são.


Andrea Sebben é psicóloga, mestre em Psicologia Social e membro da IACCP - International Association for Cross-Cultural Psychology. www.andreasebben.com.br

Carmem Galbes

Expatriação e a experiência de quase morte.

Olá, Coexpat!
Fiquei pensando que desbravar uma cultura diferente, seja ela estrangeira ou não, poder ser similar à experiência de sair do corpo, à experiência de quase morte...

Você, desorganizada nessa sua condição de coexpatriad@, deve estar pensando: isso mesmo, sou um@ mort@-viva.
Não! Não é esse o ponto! A ideia aqui é sempre deixar uma mensagem positiva!

Vamos lá!
Eu adoro ler as histórias: a pessoa está dormindo ou está em coma e sai por aí flutuando. Tenho preferência pela parte em que o ser flutuante narra a sensação de ver o próprio corpo, deitado, existindo independente da alma que agora está grudada no teto...
Bom, em geral, pelo que pesquiso, a pessoa que não vai em direção à famosa luz volta mais otimista, feliz e com energia para vencer desafios. Fruto, defendem os especialistas, de um aumento da noção do diferente, de que há vida na morte, que há possibilidade até no impossível.

É aí que eu acho que esse processo de quase morte pode ter muitos traços em comum com a expatriação.
Em uma nova cultura, praticamente deletamos nossa receita de vida. Não por que simplesmente abandonamos nossas referências, mas porque precisamos abrir espaço para perceber um mundo diferente, porém repleto de sinônimos do nosso antigo modo de viver.

Acho que o sinônimo não está só na fala e na escrita. Está na ação também.
Um exemplo besta: lavar roupa. No Brasil o esquema é máquina, varal e ferro. Aqui nos States é máquina de lavar, de secar e guarda-roupa, não tem que passar. Modos diferentes para um mesmo objetivo: roupa limpa.
Tudo bem, as pessoas adotam determinado esquema por motivos que vão da facilidade à viabilidade econômica. Pode ser por costume também...
O fato é que quando aceitamos fazer as coisas de outra forma ganhamos uma espécie de senha, uma chave capaz de abrir sem grandes traumas - pelo menos assim deveria ser - os cadeados que impedem a nossa inserção em um mundo que pode ser novo, louco, inacreditável e por aí vai, mas que carrega todo um potencial de alargar e aguçar os sentidos!

Então não tema a experiência de quase morte pela qual tod@ expatriad@ passa. Saiba que essa é só mais uma experiência, só mais uma. Depende de você acordar para essa nova vida ou não. 
É uma escolha!

Carmem Galbes

Adoro sexta!

Olá, Coexpat!
É, não tem jeito. Têm coisas que ficam com a gente pra sempre. Não importa a cultura, não importa o endereço, não importa o novo modelo de vida...

Exemplo? Sexta-feira pra mim é dia de faxina.
Interessante que mesmo com o passar do tempo e com a data da limpeza determinada mais pela agenda de quem me ajudava do que pelo meu calendário, a sexta ficou com esse ar de limpeza, de arrumação caprichada, de cheiro cheiroso, de purificação...
Engraçado que, apesar do encontro estafante com aspirador e companhia, costuma sobrar pique para coisas que adoro fazer em dias assim: dar uma volta por aí sem muita pretensão, encarar uma alimentação sem tantas regras dietéticas ou de etiqueta...

Claro que tem sexta de lascar!
Também tem sexta que tanto faz...
Mas na maioria das vezes esse último dia útil da semana carrega um mundo de possibilidades...
E quem não adora sexta-feira? 

Vinicius - o de Moraes -  preferia sábado. 
Sou gente comum! Então viva a sexta!
É que, apesar de estar na condição de apoiar a carreira do meu marido em outro lugar, e estar - por ora - "dispensada" daquele trabalho obrigatório de 8h às quando Deus quiser, está empregnado em mim que a sexta é autorização para descanço, ócio, delícias...
Preciso urgentemente mudar meus conceitos!
É...só uma coexpatriação mesmo para fazer a gente ver a diferença do que a gente realmente quer e o que querem pra gente...
Pensando bem, a impressão que tenho é que nessa condição que estou - de vida profissional em suspenso - segunda, terça, quarta e quinta são tão legais quanto a sexta e o sábado! E o domingo perdeu aquele fim de tarde rabujento!
Nossa!!
De qualquer forma, continuo adoranto sexta!

Carmem Galbes

Em busca do eu em outro idioma.

Olá, Coexpat!
Hoje entrei em contato com dois livros que jamais chamariam minha atenção não fosse esse estado 'expatriático'

É que se tem uma coisa que a gente não para muito pra pensar - apesar de isso ser a base da saúde emocional e social - é sobre a importância de compreender e de ser compreendid@, ao menos, na maioria das vezes.
O primeiro, Lost in Translation, trata da comunicação em sua forma mais ampla sob o ponto de vista de alguém que, para sobreviver, teve que aprender o -á- de uma língua estranha em plena adolescência.
O interessante é que Eva Hoffman acabou construindo sua carreira exatamente a partir da palavra estrangeira. Polonesa educada no Canadá e britânica por opção, a autora - cidadã americana - é professora em Havard e colaboradora do New York Times.
O livro de Eva marca porque trata da perda de referência, perda do suporte intelectual e, talvez, até perda de malícia quando é necessário adotar outro idioma. 

Lembra da história de ser café com leite?
O outro livro me fez pensar na questão da criançada que tem saído cedo de casa para acompanhar a escalada profissional dos pais.
The Rice Room traz a história de Ben Fong-Torres. Nascido nos Estados Unidos, o drama do escritor da Rolling Stones é a comunicação com os próprios pais, imigrantes chineses. Fong-Torres não aprendeu mandarim e seus pais nunca entenderam muito bem o inglês.“Sou um jornalista, meu trabalho é comunicar mas eu nunca consegui ter um contato bem sucedido com as pessoas mais importantes para mim”. 

Angustiante...
Para pensar como estamos lidando com o novo idioma, com o idoma materno, com a criação dos filhos, com a comunicação em casa e com a gente mesm@...

Carmem Galbes

Leve Entrevista. Estranho Idioma.

Olá, Coexpat!
O professor Fernando Megale avalia a experiência da expatriação sob o ponto de vista do psicólogo. Ele aborda aspectos como preconceito e expectativas, além de pontuar algumas características do processo de formação de um cidadão do mundo. Aproveite!

Leve: Com a globalização, a expatriação é uma realidade para um número cada vez maior de profissionais. Mas a experiência que promete ser rica em termos pessoal, profissional e financeiro pode não dar o resultado esperado. O Estudo Mobility Brasil  indica que de cada 4 expatriações  uma fracassa. A principal causa disso, segundo a pesquisa, é a falta de adaptação da família aos novos costumes e ao novo modelo de vida. Em um mundo onde a novidade é tão valorizada, por quê resistimos tanto às mudanças?
FM: Penso que a questão tem dois lados: um refere-se aquele que é o expatriado em sua posição de contato com cultura e costumes diferentes e estranhos. A globalização tenta dar uma idéia de que tudo e todos somos iguais, o que é falso. Então certamente nessas situações de encontro com o novo, a questão da diferença vai surgir.
Outro lado refere-se ao modo como o expatriado é recebido no país ou cidade, pois trata-se da entrada de um estranho no cotidiano, e as questões migratórias nunca são muito tranquilas.


Leve: De que forma o idioma estrangeiro interfere na elaboração da então condição de expatriado?
FM: Acho que é fundamental. A língua, além de ser o principal meio de nos comunicarmos, representa o marco de nossa identidade, o modo como nomeamos o mundo na origem. Em uma situação de expatriado, é lógico que a língua interfere em demasia nesta confusão de lugares, costumes e modos de agir no mundo.

X: Como expatriada, digo que o impacto da mudança é profundo. Ainda em "terra firme" é possível preparar-se para aproveitar a experiência de estrangeiro?
FM: Talvez a melhor preparação seja não imaginar que a solução da vida está no outro país, ou seja, acreditar numa espécie de solução mágica que se encontra no outro lugar. É uma forma de encarar a vida por lá de um modo mais realista, levando em consideração a certeza de que o expatriado está chegando em um lugar estranho, com tudo o que isso nos causa.

Leve: Com os olhos no futuro, qual o papel dos pais e da escola na formação de uma geração que tende a ter cada vez mais endereço não fixo?
FM: Podemos ampliar esta questão, pois há em cada um de nós algo de "endereço não fixo". Explico: a preparação passa por experiências nas quais as crianças tenham um real contato com coisas e costumes que são estranhos aos delas. A preparação passa por um questionamento de sua própria identidade para, em seguida, poder vislumbrar o diferente. Temas como preconceito, racismo, diferenças, estranhamentos, etc. são bons motores para tais discussões.


Fernando Megale é doutor em Psicologia. Atua nas área de Psicologia do Desenvolvimento Social e da Personalidade e coordena o curso de pós-graduação em Sócio-Psicologia da FESPSP.

Carmem Galbes

Maionese, minha viagem preferida!


Olá, Coexpat!
Hoje tive que falar sobre meu hobby. 
A lista de coisas que gosto de fazer até que é recheada. 
Percebi que minhas preferências variam com o clima, com a fase da Lua, com o vaivém das marés...
Sempre gostei de andar por aí. E nesse momento, especificamente nessa condição de visitante, tenho adorado ser turista.
Você pode pensar, ok, nada de novo, próximo assunto. Mas insisto. Tenho me divertido muito viajando. 
Viajando na maionese!
Só que viajar na maionese não é tão simples assim. Exige estômago para lidar com certo engodo que o excesso de novas experiências pode trazer. Também requer determinação, a maionese é escorregadia. É preciso ainda ter coragem, porque tod@s sabemos que maionese pode engordar.
Além disso, a viagem na maionese é uma experiência pessoal e intransferível. Por mais que eu fale desse percurso, é preciso estar preparad@ para saboreá-lo sem cobranças nem constrangimento.
Tem outra coisa. Nem todo mundo gosta de se lambuzar. Tem um pessoal que tem aversão a esse tipo de molho. Lógico que tem sempre alguém que vai lembrar dos riscos da salmonela...
O fato é que, como já disseram, não dá pra encarar uma maionese sem quebrar os ovos. Então preciso ir. É que mexer com claras e gemas ainda é um processo complicado para mim.

Carmem Galbes

Estou de folga! Folga de que?

Olá, Coexpat!
Feriado por aqui, dia do trabalho. 

Como no Brasil, é dia de o trabalhador aproveitar o tempo como bem entender.
Interessante, dia de folga por essas bandas está sempre associado à grandes promoções. A palavrinha sale - sempre em vermelho, sempre com letras gordinhas - é capaz de despertar sensações que vão do desejo à urgência num toque da seta do carro, num virar do volante.
Tem também o turismo, que pode ser mais um consumo desenfreado como outro qualquer. 

Quer uma indicação de passeio? 
Os roteiros que vêm acompanhados dos famosos "imperdível - o mais visitado - tem um monte de lojinhas" parecem justificar tanto esforço para vencer multidão e burocracia até o destino pretendido.
E enquanto arrumava a mochila para o Labor day longe de casa, as palavras do psicanalista francês Charles Melman sopraram em meus ouvidos: "somos escravos dos objetos destinados à satisfação. Somos todos escravos desses objetos."

A questão é: que satisfação é essa?
Alguém se habilita a ir contra o fluxo?

Carmem Galbes

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...