Nevou!

Olá, Coexpat!
Me sinto, às vezes, no Show de Truman. Aquele filme que a história de um Big Brother. Truman, “propriedade” da emissora de TV, tem a vida 24 horas por dia exposta em um episódio eterno em que, em tese, só acabaria com a morte do personagem principal. Diferente do que acontece no Big Brother que o Brasil conhece, Truman não sabe da tal exposição, para ele aquela é a vida real.
Tudo o que acontece na cidade cinematográfica está dentro de um roteiro. Lógico que a reação de Truman exige improvisos, mas fica muito difícil saber quem influencia quem, se os personagens contratados para forjar amigos, parentes e moradores da cidade dirigem as atitudes de Truman ou se as decisões de Truman é que têm grande peso no roteiro.
A questão é que tudo acontece em torno dele, um carro ou uma pessoa só passa pela rua porque Truman está lá. As alegrias, as tristezas, as surpresas só acontecem para provocar reações em Truman.
Então você pode pensar que quando digo me sentir em um Show de Truman estou na verdade tendo o mais dos egocêntricos sentimentos. Não é esse o ponto. Confesso que tenho aquela fantasia quase infantil de que, às vezes, tem alguém espiando o que faço...
Pois bem, essa impressão ficou ainda mais forte ontem.
É que aconteceu algo surpreendente aqui pelas terras texanas. Nevou!!!
Foi muito legal. A neve começou a cair no meio da tarde e invadiu a noite.
Houston não via neve há 4 anos. E, dizem os meteorologistas, desde 1944 não nevava já na primeira quinzena de dezembro.
Ui, que frio...muito frio. Mas me senti recebendo um presente...Pensei, ah...esse roteirista, mandou neve num lugar improvável, numa data improvável, ah esse roteirista...
Talvez eu viva, sim, em um Big Brother, mas talvez o sentido seja mais espiritualista. Deve ter, sim, um monte de gente - se é esse o nome que eu posso dar - sei lá, um monte de...ah, já sei, de anjos que estão atentos aos nossos desejos e, quando dá, mandam um mimo.
É isso, achei a neve de ontem um mimo, daqueles super gentis, delicados, que fazem a gente abrir um sorriso largo e tranquilo. Um mimo!


Carmem Galbes
Imagem:Melissa Phillip - Chronicle

O mico ficou doido!

Olá, Coexpat!
Sabe uma coisa que a condição de coexpat tem me proporcionado e que tenho adorado fazer? Pagar mico.
Isso mesmo, tenho bancado uma de cavalo em parada de 7 de setembro: cag..., andando e ainda sendo aplaudido!
Não tenho a melhor das vozes, aliás, cantar é um talento que não herdei de ninguém. Mas não é que hoje cantei um Jingle Bell Rock, num palco,com coreografia e tudo...
Mico total! Dói saber que isso pode parar em um Youtube da vida, mas atualmente sou um cavalo, lembra?
E por que é mesmo que a gente tem que estar sempre preocupado com que os outros vão pensar? Por que é mesmo que a gente só tem coragem de chutar o balde em um ambiente desconhecido? Por que a gente escolhe viver tão igual, seguindo os mesmos padrões, tentando atender às expectativas alheias, supondo - inclusive - que a gente sabe o que os outros esperam de nós?
Pera lá...Tudo bem que a fofoca é quase transcendental: foi, é e sempre será. Mas é fato que cada vez menos as pessoas ligam para quem está ao lado, cada vez mais é o próprio umbigo que interessa. No fundo, todo mundo adora falar, mas ninguém se importa...
Aí eu chego em um beco, será que a gente passa a vida toda tentando satisfazer as próprias expectativas? Expectativas, “inscrusive”, que foram enfiadas na nossa cabeça por outras pessoas.
Pra quem cantou e dançou Jingle Bell rock, esse papo tá cabeça demais...
Querida coexpat, ninguém escapa de pagar mico. Escolher pagar é palhaçada, fugir dele é insano, chorar dele é doentio, rir dele é a receita! Então, aproveite!!


Carmem Galbes

Foi-se...

Olá, Coexpat!

Pra morrer basta estar vivo. Pode ser o chavão mais cretino e cansativo de todos - desculpe o pleonasmo - mas hoje acho que ele é pra lá de útil.
Acabei de receber a notícia de que um amigo muito querido seguiu viagem. Foi pela manhã, enquanto se arrumava para o trabalho. O coração dele simplesmente parou de bater. Foi-se o amigo e um dos melhores companheiros de trabalho que já tive.
Uma coisa que acabei de aprender, então, é que dificilmente expatriada dá um último adeus. Quero dizer, não vou ao velório, não terá caixão, nem vela, nem troca de abraço...Também não haverá nenhum encontro, em que a gente aproveita pra aliviar a dor lembrando como a pessoa era mesmo especial.
Vai ficar a lembrança dele vivo, bem vivo. Vão ficar as brincadeiras, as piadas, os longos dias de plantão, de correria, de stress, de alegria...nunca mais terei a mesma equipe. Supondo que a vida pudesse voltar a ser como era, que eu voltasse a morar e trabalhar no mesmo lugar, exercendo igual atividade, não seria a mesma coisa. O Azeitona, nosso Azeite querido, não fará mais parte.
Fica a saudade. E que fique a lição também. Que eu viva intensamente cada momento, porque o segundo seguinte nunca será igual ao que passou. A gente muda, as pessoas mudam, o mundo muda demais. Que eu aproveite o máximo o agora e o aqui, porque o mundo gira...
O bom é que a mente é infinita. Tem lugar pra passado, presente e futuro tudo junto. O bom é que aqui dentro ninguém nunca morre...


Carmem Galbes

Pneu furado!

Olá, Coexpat!

Pelo meu tempo de direção, até que já vivi grandes emoções no trânsito. Já bati o carro, já fiquei a pé no semáforo por causa de bandido, já levei fechada e também já fiz muita barbeiragem...
Mas por uma coisa eu ainda não tinha passado: pneu furado!
A vontade é de trancar o carro e pegar um táxi.
Mas essa é uma situação em que não dá pra deixar pra depois. Você tem que trocar o bicho e pronto!
Dois trabalhadores de uma obra observavam de longe. Pensei: “minha salvação!”. Que nada. Sem cerimônia, me tacaram um baita não na cara depois do pedido de ajuda.
O jeito seria chamar o seguro. Mas esperar sei lá quanto tempo por causa de um pneuzinho - nossa - não estava nem um pouco a fim.
Ainda bem que existe o tal do cara apaixonado pela amiga. E ele trocou o pneu com sorriso no rosto, pode? De mim, ele ganhou eterna gratidão e dela uma carona esperta!
Fiquei tão aliviada que queria arranjar uma forma de agradecer, pagar de volta pela ajuda dos dois.
Mas tem coisa, como dizem por aí, que não tem preço. Quanto poderia pagar para uma pessoa que abre mão do próprio tempo, que se suja e tem que fazer força só para te ajudar?
Quanto poderia pagar para minha amiga que - já de saída - ficou lá no estacionamento por duas horas esperando meu carro estar em ordem de novo?
Não dá pra pagar porque tem coisa que simplesmente dinheiro nenhum do mundo paga.
Mas dá pra ser grata e dá pra passar pra frente. Adorei essa lição. Poderia dizer que faria o mesmo por eles, mas não desejo pneu furado pra ninguém!
Então essa é a política: ajudar, porque sempre vai ter gente precisando de ajuda e sempre gente pronta pra ajudar. Porque vira e mexe a gente muda de posição. Porque a vida muda o tempo todo e aquele senso de "sabe tudo" que existe dentro de todo mundo simplesmente desaparece...


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Depende...

Olá, Coexpat!

Tenho uma professora que costuma iniciar a aula com uma pergunta do tipo “qual você prefere?" São geralmente extremos: gastar ou guardar? Calar ou falar? Ir ou ficar? E quase sempre a resposta é depende.
Ela simplesmente não aceita. Quer argumentos para apenas um lado. O exercício é interessante. Escolhemos um lado, nos prendemos a ele, nos apaixonamos, criamos vínculos profundos para convencer a gente mesma de que o lado escolhido é definitivamente o melhor, mas sempre fica aquela pontinha de “por outro lado...”
E por que é mesmo que a gente tem que viver só em uma margem se uma outra está disponível, além de um rio no meio? Diz ela que é para treinar a argumentação. Ótimo exercício, péssima prática - no meu “humirde” ponto de vista.
É que acho que quanto mais a gente escorrega para um lado, mais a gente afunda, mais a gente complica, mais a gente se perde.
Alguém pode dizer, mas e os valores? Ok, se você preferir, pode repetir pra você mesma que os valores têm de ser imutáveis, mas que de tempos em tempos a gente tem que revisitar os motivos para determinadas filosofias de vida, ah isso a gente tem! Não que eu goste de sarna. O fato é essa cachola repleta de leis, regras, normas e condutas é como guarda-roupa, às vezes fica meio ultrapassado, sabe...Tem coisa que está fora de moda ou apertada, tem coisa que está gasta, tem muita tranqueira também, sem contar aquilo que você nem lembrava mais que tinha.
Botar o armário abaixo é um porre? Minha professora que me perdoe, mas só uma resposta é capaz de satisfazer esta coexpat aqui: DEPENDE!


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Black Friday pra lá de preto...

Olá, Coexpat!
Muito interessante a dinâmica por aqui. Depois de passar a penúltima quinta-feira de novembro em sintonia com a energia da gratidão - não, o propósito do dia de Ação de Graças não é só encher a pança de peru - o americano acorda na sexta pronto para fazer o que mais ama, comprar!
Dizem que os preços despencam. É um dia à La Magazine Luiza, em que as pessoas acampam na porta das lojas para ter a chance de comprar bens que pareciam inatingíveis.
Não consegui acompanhar de perto...mas quem enfrentou o Black Friday chegou com a sacola cheia.
No rádio, em vez da situação do trânsito, informações sobre a lotação dos estacionamentos nos shoppings, o tempo de espera por uma vaga e por aí vai...
A loucura é tamanha que esse ano saiu até morte. Um funcionário do Walmart foi pisoteado pelos consumidores.
Foi uma sexta pra lá de preta pra ele e, apesar da recessão, bem gorda para o comércio, que vendeu 1% a mais em relação ao mesmo dia do ano passado.
Não bastasse o Black Friday tem ainda o Cyber Monday, versão virtual da sexta, com vendas bombando pela internet, só que na segunda-feira. Resultado positivo também. Em média um celular foi vendido a cada 12 segundos nesse dia, um recorde diz o povo aqui.
Ouvi falar que o termo Black Friday vem do Black Tuesday de 29, aquela terça de 1929 em que a bolsa de Nova York quebrou. Começou a ser usado nos anos 60 para traduzir o caos no trânsito na volta do feriado. Como aqui a quinta de Thanksgiven é dia de passar com a família - mais ou menos como o nosso natal - o povo lota as estradas. Nos anos 70, o Black Friday virou sinônimo de lotação nas lojas. Porque é na sexta pós Thanksgiven que os comerciantes dão a largada à queima de estoque, já que ninguém aqui é adepto de mercadoria encalhada.
Mas o que me chama a atenção é essa história de você agradecer e depois praticamente galopar rumo às compras. Sei bem que quando dinheiro entra em cena a gente perde a compostura, parece que a gente fica com o diabo no corpo...e - não vem não - que isso acontece com todo mundo pelo menos uma vez na vida ou até um baita arrependimento bater...
Mas o que vem ao caso é que necessidade é essa? Que tanto a gente precisa comprar? Que bom negócio é esse que deixa o povo louco a ponto de não enxergar que tem um ser sob o sapato de alguém?
Ok, você pode argumentar que é fácil falar, que é difícil resistir ao apelo do bom negócio ou que estou dizendo isso porque não tive chance de cair nessa farra.
Sei não...acho que falta criar um dia da reflexão, tipo castigo de criança, sabe? “fica aí sentando pensando um pouco”. Mas a quem interessa isso? O comerciante fica feliz de vender e o consumidor satisfeito por pagar um preço de big Mac - porque banana aqui é cara pra caramba! Dessa vez até o cara da funerária ficou feliz! Ah, lembrou do funcionário do Walmart. Se ele gostou? Piadista você, hein... Depois desse Black Friday só mesmo uma mesa branca pra saber...


Carmem Galbes
Imagem: Paskova/Getty - Daily News

Blá-blá-blá fashion.

Olá, Coexpat!

Quanto tempo! É que no mais fiel modelo americano de ser, fiz as malas e parti para a casa de gente queridíssima para passar o dia de Ação de Graças, ou Thanksgiven Day.
Foi super bom, para não dizer supimpa. É muito interessante esse negócio de moda na língua, não é mesmo? Não, não tem nada a ver com piercing ou coisas do gênero. Tô falando do jeito de falar, mora?
Você sabe que vida a pessoa leva pelo jeito que ela fala. Ok, isso não é novidade, é, aliás, motivo de piada, quando não, de preconceito...
Mas o fato é que o povo que está longe acaba ficando meio démodé no “Portuga” - outros dois termos que entregam - no mínimo - a idade...
Mas gostei do flash back e vou continuar o lero nesses termos.
A viagem foi tranquila. Não enfrentamos congestionamento, dizem que é um feriado louco porque muitas firmas emendam na sexta e todos querem curtir...
Sobre o jantar, o peru estava do peru. Mas como a noite é uma criança, depois de alguns “drinques”, belisquetes e umas horinhas de sono, vestimos nossas japonas e caímos na night.
Claro que Nova York não está nem um pouco aí para o fato de alguém falar que a noite está quente ou que a noite está agitada, mesmo porque a noite bomba sempre.
O lance é que foi da hora poder tirar o dia para agradecer...e no maior estilo W de ser: WHATEVER*, outra que, segundo os mais plugados, já era...
Então já é, já foi, tô zarpando. Beijo nas crianças.
*Tanto faz, não me importo, não ligo e por aí vai...

Carmem Galbes
Imagem: SXC

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...