Um brinde à expatriação!

Olá, Coexpat!
Tem coisa muito interessante na vida mesmo. Uma delas é como, com o tempo, a gente se acostuma com as coisas ou se encaixa nos costumes.
Pode parecer bobo ou simples demais, mas quando finquei bandeira na terra do tio Sam tinha uma coisa que me incomodava muito em restaurante: o fato de ter que pedir a bebida sem ter a chance de olhar o cardápio.
Isso mesmo. Geralmente acontece assim: você chega, a (o) hostess te acompanha até à mesa já com os talheres em mãos. Você senta e aí vem o garçom: “olá, meu nome é fulano e vou “estar atendendo” (aqui essa construção gramatical é correta) vocês hoje. E de cara já solta: “o que vão beber?”
Eu não sei! Acabei de chegar! Tenho que ver! Essa era a resposta que sempre calava. No começo esse negócio de ter que pedir a bebida de supetão me irritava um pouco. É que gosto de ver o cardápio, ver o que tem, apesar de sempre pedir a mesma coisa: água sem gás ou vinho tinto.
Uma opção seria dizer ao garçom que ainda não tinha decidido. A resposta comum era: “ok, vou trazer água assim você vai pensando.” Um minuto depois lá vinha o ser: “já decidiu a bebida?”
Adotei táticas. Pensava na bebida já no caminho. Assim, a resposta saia quase antes da pergunta. Também comecei a considerar a opção de só ficar na água, já que tem garçom que traz a água sem você pedir.
Outra estratégia para evitar estresse é não pedir sugestão para quem serve. Gente, parece um narrador de corrida de cavalo. Além de você não entender nada, ainda fica na dúvida se seu bicho realmente ganhou. E de pensar que basta olhar o cardápio...
O engraçado é que dia desses percebi que havia me acostumado tanto com esse esquema, que fiquei impaciente com a demora do garçom em perguntar o que eu iria beber.
Mas o que interessa mesmo é o brinde. Seja com água ou sei lá o que. Em cristal ou de plástico. O fato é que adoro brindar, coisa de filme, sabe...
Então, um brinde à expatriação, essa coisa que vira a gente do avesso, que carrega a semente de transformar a gente em gente melhor!

Carmem Galbes
Imagem: SXC

Expatriação e amor próprio.

Olá, Coexpat!
Eu sempre tive muita dificuldade em entender o relato de Mateus lá no capítulo 22 em relação ao que Jesus disse sobre o amor: “ama o seu próximo como a si mesmo.”
Eu me lembro que na adolescência achava isso improvável e na fase adulta passei acreditar ser impossível. Mas com as últimas mudanças de endereço e, por causa disso, a necessidade de me relacionar com gente bem diferente, voltei a pensar no assunto.
Pode mesmo acontecer de a gente amar outra pessoa como a gente se ama? Claro que não falo aqui de filho, marido, família e amigos, falo de ser humano no geral.
Hoje estou quase certa que sim. Mas, essa certeza não tem a ver com conversão espiritual ou coisas do tipo, não. Tem a ver com as descobertas práticas da vida.
Acho que a minha confusão com as palavras de Jesus tinha mais a ver com o fato de eu pressupor que a gente se ama incondicionalmente e no máximo grau que o amor possa existir, o que não é verdade.
Será, então, que a gente ama o próximo à medida que a gente conhece o amor para com a gente mesma? Se me amo pouco só posso amar outras pessoas na mesma intensidade? Então, será que quanto mais me amo, mais tenho a capacidade de amar os outros?
Tudo bem que esse negócio de se amar primeiro para depois amar o mundo pode parecer um clichezão brabo, mas vai tentar se amar de verdade, de verdade mesmo! É um árduo trabalho, mas é absolutamente possível!

Comece por parar de se sacanear, de se machucar, de se prejudicar. É difícil, às vezes a gente se esquece, às vezes a gente nem percebe a sabotagem. Mas mude a chavinha para o autoperdão, autopaciência. Trata-se com carinho, fale com você mesma com delicadeza, converse sendo a você adulta e madura lidando com a você criança, pronta para absorver todas as experiências. Entenda e explique para você mesma o que aconteceu e como você pode fazer diferente, fazer melhor. Pare com essa história: "você é uma burra mesmo, não faz nada direito, eu sabia que você ia desistir, você sempre faz isso..." Pare com isso já!
É um exercício diário e sem fim. Mas vale a pena. No fim das contas, somos nós com nós mesmas em uma jornada que existe única e exclusivamente para que a gente evolua!

Carmem Galbes

Choque cultural e suas cutucadas...

Olá, Coexpat!
Depois das dicas sobre como fazer bons negócios, esticar o dinherim, enfim, comprar melhor, a notícia agora nos programas matinais de TV nesse período pós natal é o que fazer com a mercadoria que você comprou e não quer mais.
Interessante esse negócio por aqui. Você vai à loja, gasta ou investe - como preferir - tempo, paciência e dinheiro e depois ainda tem a oportunidade de se arrepender.
Ainda não precisei apelar ao benefício, mas o fato é que isso pode ser bem legal. Às vezes acontece. Você acha que a blusa vai combinar com aquela saia, mas só quando chega em casa percebe que não caiu bem.
O fato é que tem muita gente que simplesmente compra e só decide se queria mesmo comprar dias e quilômetros depois. Deve ser por isso que o povo vive carregado de sacolas.
É simples. O sujeito arrependido, munido de nota fiscal e da mercadoria sem uso - é importante salientar isso aqui - volta à loja e diz que não quer mais brincar. Devolve o produto e a loja devolve o dindim. Isso mesmo, é verdinha na mão, não tem essa de ter que trocar por outro produto. É satisfação garantida ou seu dinheiro de volta - lembra do slogan da Sears?
Pois bem, tentei traduzir isso para a cultura brasileira. Será que funcionaria no mercado verde e amarelo? Será que as pessoas seriam realmente honestas a ponto de devolver a mercadoria sem uso?
A resposta: não sei e não ouso adivinhar. Sei que por aqui essa estratégia dá o que falar.
Dan Ariely, um renomado estudioso da relação do ser humano com as finanças, acredita que é a oportunidade que define o caráter. Ele traz em seu livro “Previsivelmente Irracional”, alguns dados sobre como o americano lida com a devolução de mercadorias.
De acordo com o livro, as lojas nos Estados Unidos perdem, em média, US$ 16 bilhões por ano com clientes que têm por hábito usar a roupa com a etiqueta escondida para não perder o benefício da devolução.
Esse valor, segundo o autor, é quase 30 vezes maior que a perda que os Estados Unidos têm por ano com os chamados roubos tradicionais, aquele em que o ladrão leva o carro ou invade a casa.
Engraçado que, apesar disso, o mecanismo não sai de cena. É sempre assim, um monte de gente comprando e devolvendo a mercadoria que não deveria, mas está usada.
Dan Ariely fala da perda para as lojas. Mas “pera lá”, será que o comércio perde mesmo ou passa a bola pra frente? Será que o benefício da devolução se mantém porque a mercadoria simplesmente volta para a venda como se fosse sem uso? Quanta gente está comprando o novinho em folha usado só algumas vezes? Será que o prejuízo se limita aos bilhões de dólares ou devemos incluir também outras perdas, como a de confiança nas pessoas e no sistema?
Então, fico aqui pensando...Será que tem muito...ah, deixa pra lá...vou dar uma volta.


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Minha primeira virada de ano como expatriada e as lições que aprendi!

Olá, Coexpat!

Depois de umas férias pra lá de divertidas, período cheio de rodopios e frio na barriga, cá estou. E de pensar que a gente se viu lá em 2008 e já é 2009. Interessante que dessa vez não tem essa de festa esticada, entende? Não tem carnaval para dar aquela preparada no recomeço. Quando o calendário pulou do 31 para o dia primeiro foram uns fogos ali, um brinde acolá e “vamo que vamo.” Isso pra quem é daqui dos States, porque pra quem não é, pra quem tem sangue brazuca na veia, houve fogos, brindes, festa, comida, brindes, fogos...e claro, retrospectiva!
E como dizem nos campos de futebol da vida, o retrospecto foi positivo.
Dentro da categoria “o que aprendi” tem bastante coisa.
Aprendi, por exemplo, novas palavras, sinônimos, antônimos e metáforas. Conheci regras gramaticais mais apuradas e termos mais atualizados.
Fui a lugares diferentes, encontrei pessoas diferentes, lidei com jeitos diferentes, mas nem por isso me senti estranha, só diferente.
Aprendi a blogar, mas sei que vai demorar para eu deixar de engatinhar no assunto.
Lembrei que carpete no quarto é uma delícia e que entrar sem sapato ajuda a conservá-lo limpo.
Aprendi que casa com menos móveis pode deixar a vida mais simples e que dirigir não é algo perigoso que te expõe à violência.
Também aprendi que varal não faz falta e que produto que tira mancha aqui pode substituir o vermelho do molho de tomate por um buraco. Nunca vi poder igual!
Espantada, vi que uma chave de fenda e um martelo são suficientes para aprontar a decoração da casa, ao mesmo tempo compreendi que o tamanho da nossa felicidade é proporcional à habilidade que temos em acumular ferramentas.
Comprovei que só depende da gente o dia ser bom, a experiência ser rica e o momento valer a pena. 
Aprender que só depende da gente dá um baita poder!
Claro que vai ter sempre alguém para dizer que não...mas só depende da gente!
Ah, também entendi que não é porque a gente está longe que tem que aturar certas situações, certas ocasiões, certas pessoas.. Mas também entendi que, definitivamente, sem gente por perto a gente é menos gente...
Mais uma vez vi que a mudança é inevitável e será mais tranquila à medida que não relutemos diante do que já está em curso.
Outra lição: nem tudo que enverga quebra!
Pera aí, esse é meu primeiro dia útil do ano, então chega de pretérito, vamos ao presente. Aliás, o melhor presente foi não ter que ficar batendo a cachola sobre o que dar de presente, apesar de adorar presentear...
Mas, sobre o dia de hoje, chuvoso, seis graus, arrumação geral...

Tenho certeza que vai ser um ótimo ano pra todos nós!

Carmem Galbes
Imagem: SXC

Amo presente de amigo secreto!

Olá, Coexpat!
Depois de um tempo, a gente topa algumas coisas só para fazer parte. O amigo secreto é uma delas. Eu até gosto dessa brincadeira, mas é preciso encarar o espírito do jogo: integração. Quantas vezes a gente não tira aquela pessoa que mal conhece, cuja relação nunca passou de um oi. Isso é que é legal nesse jogo, a gente tem a chance de prestar atenção nesse alguém, às vezes estranho, esquisito, diferente... Você observa o que seu amigo secreto quer, o que ele gosta, o que costuma usar. Isso deveria ser uma coisa do dia a dia, porque é um exercício muito prazeroso, mas seria muito fazer o mundo parar de girar só em torno da gente...
Pois bem, esse ano entrei em um amigo secreto gringo. Diferente do que ocorre no Brasil, em que o suspense gira em torno de quem vai ganhar o presente, aqui nos States, quem dá o presente é que é secreto. Os pacotes são colocados anonimamente em um local predeterminado. Cada embrulho é devidamente identificado com o nome do destinatário. O presenteado pega o embrulho e tenta adivinhar o papai Noel, daí o nome secret Santa (Claus).
O que achei interessante foi ver como quem dá o presente fica satisfeito quando o presenteado gosta do que ganhou. No meu caso, fiquei pra lá de feliz quando minha amiga abriu um sorriso largo ao ver a pulseira, biju - aliás - que descobri que ela adora.
Embora a gente viva na era “egoística”, no fundo o que todo mundo quer mesmo é agradar, é se sentir aceito e amado. Nem todo mundo sabe direito como fazer isso. Têm aquelas vezes em que a gente acha que está agradando, mas não está. O fato é que o gosto quando a gente acerta é doce, suave e dura por muito tempo.
Então é esse presente que desejo pra você nessa expatriação, que você consiga sentir mais vezes a satisfação de agradar e de ser aceito, seja lá como você for!
Também torço para que você tenha lucidez e independência!

Carmem Galbes
Imagem: SXC

Natal cá e lá.

Olá, Coexpat!
Quanto tempo...É essa época, parece que todo mundo fica doido. Até o relógio fica com pressa. Falta tempo pra tudo. Pra comer com calma. Pra falar com calma. Até o bom dia vira um bom diaaaa.
Então mais um tópico para minha lista “1000 coisas que são absolutamente iguais lá e cá”: espírito de natal. Como não tenho os dados compilados vou me limitar ao que tenho observado nesses últimos dias...
* Estacionamento em shopping: faz parte da cultura daqui as pessoas não se importarem com o fato de você já estar esperando pela vaga. Se tiverem chance, cortam mesmo a sua frente. Imagine essa característica em um ambiente superlotado. Engraçado que o povo briga para parar na porta da loja. Olha aí um exemplo de cultura competitiva, quanto menos se anda a pé mais o ser se sente um vencedor, o campeão das paradas mais próximas de lojas superengarrafadas...
* Decoração natalina: na maioria, os enfeites são bonitos e criativos, mas esse é mais um ponto em que a cultura competitiva entra em cena. Aí você vê coisas inacreditáveis, difíceis até de descrever. Mas que tem casa que deve ser visível da Lua nessa época, ah, isso tem...
* Papai Noel em shopping: o ser fica lá, horas e mais horas, fila grande de dar dó, molecada chorando, correndo, os pais de cara virada um para o outro...O que eu percebi de diferente é que a criançada não ganha balinha. Outra coisa: nada de pai fotógrafo. Fotos são permitidas só pela empresa autorizada. É click na máquina e crash no bolso.
* Folga: como é inve
rno, o povo não se anima muito para viajar. As escolas param apenas por duas semanas. Sei de escritório que vai funcionar pelo menos meio período no dia 24.
* Presente: deve ser igual em todo lugar, todo mundo gosta e todo mundo quer!
* Promoção: é preciso ter cuidado com as farsas. Tem lojinha engraçadinha que primeiro dobra o preço para depois cortar pela metade, espertinhos...
* Cartões de natal: as malas diretas de sempre.
* Comida: ainda não sei, só posso falar sobre isso depois de amanhã...
* Amigo secreto: aqui quem dá o presente é que é secreto. Quem recebe é que tem que descobrir quem deu. Mas esse é assunto para a nossa próxima conversa. Meu secret Sant foi muito interessante!


Carmem Galbes
Fotos: Greater Houston Convention and Visitors Bureau

Expatriação e casamento.

Olá, Coexpat!
“Expatriação não é para quem gosta de viajar, é para quem pode mudar o seu jeito de viver.” Com essa frase a professora da Fundação Getúlio Vargas, Maria Ester de Freitas, conclui uma pesquisa sobre como vivem os executivos expatriados e suas famílias.
Venho matutando sobre o tema não só porque sou esposa de expatriado, mas também porque tenho ouvido histórias de relacionamentos que se complicaram depois da mudança. Infelizmente, tenho acompanhado o sofrimento de uma coexpat que viu seu casamento afundar em terras estrangeiras...mas isso é coisa para o blog dela, se ela tiver um...
Navegando por aí, achei poucos, mas importantes dados sobre o tema. Um exemplo, a estabilidade familiar está entre os três principais fatores para o sucesso ou fracasso da expatriação e a principal causa para o retorno antecipado do expatriado é a não adaptação do cônjuge - traduzindo: happy wife, happy life!
Mas quem se importa? Ah, as empresas têm se importado sim. Afinal, fracasso na expatriação e prejuízo financeiro andam juntos. O fato é que ninguém fala claramente sobre o casamento no processo de expatriação.
As empresas contratadas para ajudar na transição cultural sabem muito bem como apresentar a cidade, mostrar escolas para os filhos e indicar a marca de sabão em pó. Mas não sabem preparar o terreno para o fator mais importante e que tende a ficar vulnerável nesse período: a relação familiar.
Em sua pesquisa, a professora Maria Ester de Freitas diz que “a esposa, ainda que compartilhe das esperanças do futuro promissor de seu marido, estará contabilizando as perdas... Ela se sente despojada de sua casa, onde tudo funcionava; da cidade, onde ela tudo conhecia; do idioma, que era a sua pátria; da sua profissão, que ela não pode exercer por razões burocráticas; do seu status pessoal e social, pois agora ela é apenas a esposa de alguém; de todo o seu conhecimento do cotidiano. A perspectiva do seu olhar é localizada no passado e no presente; o primeiro que lhe dá a segurança de que ela não é uma incompetente, o segundo que lhe atesta a necessidade de começar do zero, de descobrir o enigma existente em cada detalhe da vida diária. Nos momentos de desespero o presente vai ficar muito pesado, o passado será idealizado e o futuro não será visto. A sua energia emocional será investida em manter os pés no chão, de sobreviver ao teste da realidade, de ter os sonhos postergados. Não é de se estranhar que a vida não seja fácil durante os primeiros meses em que a esposa está gerindo as suas dificuldades, bem como se ressentindo do papel de coadjuvante onde a emoção positiva e o glamour ficou todo concentrado no outro personagem. A vida aqui vai girar em rotações diferentes e paradoxais... Temos expectativas sobre o comportamento do outro, mas não o temos sob controle e isso eleva o nível de nossa vulnerabilidade.”
Mas quem tem coragem de falar que vai doer? Por que não dizer que vai doer tudo, mas que passa e que a experiência pode estreitar laços e aumentar a cumplicidade? Mas quem tem a receita? Eis a delícia, não tem receita! Por um breve momento temos a chance de desenvolver nossos próprios métodos e isso pode ser uma gratificante aventura.
E sem puxar sardinha para nosso lado querida Coexpat, nas palavras da professora Maria Ester: “é a infraestrutura domiciliar quem vai dar o suporte para a produtividade e para as decisões criativas do nosso expatriado. O sucesso da empresa vai depender da esposa e não
do expatriado!”


Carmem Galbes
Imagem SXC

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...