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As mudanças que fiz por amor.

Cinco mudanças de endereço em uma década por causa da carreira do meu marido. 
Ainda tem cortina para pendurar e livro para organizar da última, há um mês.
Não tem como ignorar a pergunta que todo mundo que muda seus planos em nome da evolução profissional de outra pessoa  se faz: e eu?
Poderia ter adotado um "e euuuuu...?" com voz baixa, embargada que me colocaria na posição de vítima, de coadjuvante, de alguém predestinada a trabalhar nos bastidores em prol do brilho de outra pessoa.
Mas escolhi o "epa, e eu?!", que me lançou a ação, não importa se, no começo, mais para dar uma satisfação aos meus amigos, antigos colegas, aos meus pais: "tô longe, mas tô na área."
O fato é que a jornada do "e eu?!" me levou a uma outra pergunta : o que eu posso fazer pela valorização do papel dessas mulheres - que mudaram de cidade dentro do Brasil ou foram para o exterior - e  estão em condições similares à minha?
Ao olhar ao redor, me reinventei profissionalmente!
Olha que eu  cheguei a imaginar que tinha deixado o jornalismo (outro amor da minha vida) para lá...que nada!
Hoje vejo que nesse processo não houve rompimentos, só soma.
A Carmem organizadora profissional ajuda as esposas de profissionais transferidos a deixar a casa e a rotina em ordem e assim prepara o terreno para a Carmem coach ajudar essas mulheres a organizar as ideias, as metas e a alcançar objetivos em uma mudança que não foi provocada por elas.
A  Carmem jornalista? Nutre essas mulheres com conteúdo relevante em um grupo no Facebook, o Coexpatriadas, que tem por objetivo unir e fortalecer a "esposa expatriada".
Mudei muito? Sim
Mudei por amor? Sim, amor ao meu marido e, principalmente, por amor a mim.
Amor próprio nessas idas e vindas é fundamental para lidar com tanta coisa que pode nos atingir nesse processo, como a angústia do malabarista, a invisibilidade social e o tal do fracasso, que também está nessa história.
Fracasso: essa coisa que ninguém gosta, mas que - quando bem utilizada - faz a gente seguir adiante.
Um livro infantil lindo...e 50 nãos!
Eu já disse nesse texto como isso não me afundou, mas me inspirou. 
Espero que a minha história seja fonte de coisas boas para você! E que você possa encontrar nessa mudança provocada pela carreira do seu parceiro o caminho para você ter uma vida plena e fazer a diferença na vida de outras pessoas!
Não tem ideia de por onde começar?
Vamos conversar! Estou sempre no contato@leveorganizacao.com.br.
Mais informações: www.leveorganizacao.com.br
Siga em frente! Use as mudanças da vida - não importa o motivo - a seu favor!
Carmem Galbes

Esposa expatriada, a angústia do trapezista e a rede de proteção.

Angústia do trapezista. Já ouviu falar? 
É aquele momento em que o trapezista, lá no alto, voando, deixa um trapézio para pegar o outro. Nesse espaço de tempo tudo pode acontecer. Ele pode não ter força, não ter velocidade, perder o timing para pegar o outro trapézio. Ele pode cair, pode se machucar, a apresentação pode ser um fiasco...
Mas o trapezista, apesar da angústia, tem fé. 
Confia no seu conhecimento, confia na sua técnica, confia no seu tempo de treino e confia na mágica que faz tudo acontecer como o esperado: depois de uma linda acrobacia, agarrar o outro trapézio e voltar seguro para a plataforma.
Mas sabe o que eu acho? Que o trapezista confia mesmo é na rede de proteção! Ele confia que, em último caso, se necessário, ela estará lá para segurá-lo, para evitar que ele se arrebente. De alguma forma, ele sabe que, se o número der errado, não vai morrer se cair, não importa o tamanho da queda, porque a rede de proteção é forte, é bem cuidada e é de altíssima qualidade.
Para mim, tudo isso ilustra bem uma fase muito complicada da "esposa expatriada", quando ela decide deixar seus próprios projetos em segundo plano para apoiar a carreira do parceiro em um outro lugar. Ela deixa um trapézio para pegar o outro...e fica lá...voando e fazendo acrobacias até conseguir se agarrar em algo palpável de novo...
Se há autoconhecimento, técnica e treino envolvidos, a tendência é que tudo dê certo, que a transferência seja um sucesso e enriquecedora para o profissional e para quem o acompanha. Mas, como uma expatriação tem muitas variáveis e nem sempre é tratado com o cuidado que exige, tudo pode acontecer...alguém pode - sim - cair.
Por isso, nesse caso, a rede de proteção também é a estrela da história. Todo mundo quer que ela não seja usada. Mas se for acionada, ela tem que estar lá, pronta para salvar vidas.
E do que seria feita a rede de proteção de quem acompanha um profissional expatriado? De gente! De gente com sentidos apurados: com olhos para ver, ouvidos para ouvir e boca para disseminar apoio! De gente que pode ser de casa, da vizinhança, da escola das crianças, de um curso, de uma associação e, também, da empresa que mandou a família para longe, da equipe de mobilidade, dos colegas do expatriado e da liderança.
Por falar em quem lidera expatriados, ser uma liderança global é mais do que saber negociar em diferentes idiomas e transitar por diferentes culturas. É ser especialista em ser humano! É ter sensibilidade para entender que a empresa é feita de pessoas e que foram pessoas que foram transferidas, não caixas, não objetos...

Percebo ainda um desdém - ou seria um prazer doentio em menosprezar? - de algumas lideranças com relação às necessidades de quem acaba de chegar de outra cultura e traz na bagagem as angústias de quem veio junto com ele. Por que isso? Sócrates, Tesla, Yung, Pessoa, Clarice Lispector, Chomsky, Bauman, Rubem Alves, Papai Noel, Papai do Céu me ajudem, por favor, a entender como uma liderança pode atentar contra a produtividade de um colaborador? Colaborador cuja rede de proteção sabe que é? Uia...é a família que o acompanha! 
Carmem Galbes

Esposa expatriada, não embarque nessa viagem sem um norte, sem um objetivo!


Qual a diferença entre sonho e objetivo? 
No meu dicionário é isso: sonho a gente fantasia, objetivo a gente realiza. 
E todo sonho pode virar objetivo? Se você quer mesmo, de verdade, com certeza absolutamente todos!
Como?
Faço o seguinte exercício: 

  • Visualizo o objetivo conquistado. Exemplo: Eu participando de um workshop em Dubai.
  • Mentalmente volto no tempo e anoto todas as ações que me levaram a conquistar o meu objetivo. Exemplo: Estou em Dubai, no Workshop. O que eu fiz imediatamente antes? Cheguei no aeroporto. O que eu fiz imediatamente antes? Viajei. O que eu fiz imediatamente antes? Organizei minha bagagem e a rotina para a família ficar sem mim. Como é essa rotina? Combinei com meus pais de ficarem com meu filho. Meu marido combinou de sair mais cedo do trabalho nessa semana para pegá-lo na escola. Combinei com a faxineira de ela vir todos os dias da semana que eu vou ficar fora. O que fiz antes disso? Comprei o pacote de viagem. Como paguei? Fiz o seguinte planejamento financeiro...e assim por diante. Faça as perguntas até você chegar no agora.
  • Com tudo anotado, essas "ações mentais" viram metas e com prazo estipulado por você. Exemplo:   19/06 - Planejar, junto com a família, a minha viagem e as decisões necessárias, anotar. 20/06 - fazer planejamento financeiro para viagem. 21/06 - Fazer pré-incrição no workshop. 22/06 - Reservar as passagens...e assim por diante.
Então o que você tem que fazer a partir de agora? Realizar o passo a passo que você anotou pra chegar no ponto em que você quer.
No coaching,  esse "caminho" é chamado de roadmap, a rota que vai te levar do sonho ao objetivo.
Toda esposa de um profissional transferido deveria ter, pelo menos, um documento desses em mãos! É que ter um planejamento assim de um objetivo te mantém focada também em você! Te ajuda a mostrar que você existe e que merece ter uma realização pessoal, só sua, apesar de a mudança ter sido provocada pelo sucesso de outra pessoa. 
Agora já sabemos como transformar sonho em objetivo. E objetivo pode virar sonho e ficar real só na nossa imaginação? Também, claro! Basta você não se organizar, não se comprometer com as metas, acreditar piamente que as conqusitas são uma questão de sorte, são coisas para "os outros" e que você não "merece" o que deseja. Mas aí a gente já está entrando na seara das crenças que limitam e da autossabotagem, papo pra outra hora...
E você, tem sonhado alto? Sonhado muito? Tem conseguido transformar seus sonhos em objetivos?Tem conquistado o que deseja? Perdeu o foco do que você quer ao decidir apoiar a carreira do seu marido em outro lugar? Não sabe como voltar a olhar para você mesma? Vamos conversar, o coaching é um processo super poderoso para te ajudar nesse resgate. 
 
Carmem Galbes

Calorrrrrr!

Olá, Coexpat!
Barbaridade, guria. Que calor é esse?
Agora eu entendo perfeitamente porque Houston não tem pedestre: é que não dá para colocar ar condicionado na rua! Até o suor se recusa a sair do corpo! 33 graus no fim da tarde, sensação de 300.
Ainda é primavera...mas dizem que aqui só tem duas estações: inverno e inferno.
Já que em dias assim o melhor endereço é o refrigerado, por que não aproveitar para acompanhar o jogo da seleção?
Experiência mega bizarra!
E tudo é uma questão de ponto de vista mesmo. Por mais que falte ginga...o comentarista americano não podia deixar de falar que o time do tio Sam tinha boas chances...ok.
Mas o que deu nos nervos mesmo foi o narrador.
Ok, concordo que a parcialidade faz parte nesses casos. Mas sabe o que ouvi nos 3 gols do Brasil? Silêncio de hospital. O ser humano sequer avisou, deu um toque, emitiu um som tristonho de gol. Ficou mudo. Eu via o povo comemorando, a arquibancada pulando...até chequei o áudio da TV...
Mas também nem foi isso que incomodou tanto, o que irritou mesmo foi o cara falando Júlio Cesar.
Eu cronometrei! Em português, demoramos 1 segundo para falar JúlioCésar. É tudo junto com entonação em Jú e Cé: JúlioCésar. Repita comigo: JúlioCésar: 1 segundo!
Mas o ser falador insistia a cada lance em dizer GiuliouCéesarr: 5 segundos. Ai que vontade de dar uma chacoalhada:“fala JúlioCésar!”
Triiiiiiiiii. A sirene “expatriática” berrou em tempo de eu lembrar do meu próprio sotaque. Até porque o narrador falava direitinho Kaká e Dunga. Mas fiquei mesmo impressionada com a perfeição quando ele se referia ao Maicon. Que pronúncia!


Carmem Galbes

Leve Entrevista. Expatriação e administração do tempo de sobra.

Olá, Coexpat!
Dizem que o tempo começou a ser medido há 5 mil anos. Antes disso, o homem não tinha muito mais que a claridade e a escuridão para saber quando caçar e quando se recolher. O relógio que conhecemos hoje é uma invenção recente, dos anos 20 do século passado. Até a criação do mecanismo tic-tac, muita criatividade rondou o relógio, que já funcionou a base do Sol, fogo, azeite, água e areia.
Esse negócio de minutos, horas, dias, enfim...me deixa um pouco atordoada. Meu foco, apesar da vida em um mundo que parece girar cada vez mais rápido, tem sido o que fazer quando descobrimos que - sim! - estamos com tempo livre. Acostumados com a correria, temos respostas na ponta da língua. Mas também podemos ficar embananados quando conquistamos uma agenda generosa em espaço a ser preenchido.
Na tentativa de ter algo prático sobre o tema, conversei com o consultor Christian Barbosa. Ele defende que a agenda livre também precisa de organização.
Como tempo é coisa rara, ele falou rapidamente sobre o assunto.
Em tempo, parto hoje de férias. Voltamos a conversar depois do dia 23. Até lá!


Leve - Tempo de sobra, hoje em dia, é sintoma de que algo está errado?
CB - Tempo de sobra é o desejo de qualquer pessoa estressada nesse mundo sem tempo!! O problema não é a sobra, é a falta de um uso que leve na direção dos seus maiores sonhos e objetivos.

Leve - Da mesma maneira que existem metodologias para administrar um dia cheio, há esquemas para lidar com tempo de sobra?
CB - O princípio é o mesmo seja para tempo cheio ou sobra dele, pois o conceito é usar seu tempo com sabedoria, seja ele abundante ou não. Viver o tempo com sabedoria significa evoluir na direção de seus objetivos e principais sonhos. Quando você tem tempo de sobra precisa definir uma meta e trabalhar o tempo vago para dar passos na direção da sua realização.

Leve - Mas como usar o tempo com sabedoria em um mundo em que, dificilmente, temos autonomia sobre os rumos da nossa agenda?
CB - Temos que controlar nossa vida ou alguém fará isso por nós. Ter autonomia significa planejar sua agenda com base no que é importante e deixar um tempo para os imprevistos que possam surgir. A dica é reservar uns 20 minutos do fim de semana para planejar toda a semana, colocando no papel os compromissos com papéis, projetos e metas. Algumas dicas para focar seu tempo na direção certa:

1 - Escolha uma ferramenta - digital ou física - que faça com que você tire as pendências e tarefas da cabeça e centralizem em um lugar confiável.

2 - Estabeleça objetivos - se você quer ter mais tempo na sua vida é importante saber o que você gostaria de alcançar.

3 - Reserve 15 minutos na semana para planejar os próximos 7 dias. Antecipe eventuais problemas que possam surgir, veja se pode antecipar algo para suas reuniões e crie atividades importantes para seu equilíbrio pessoal.

4 - Organize seu local de trabalho, sua papelada, suas revistas e seus armários. Estima-se que uma pessoa gasta 40 minutos por dia localizando informações... e isso é muito tempo perdido.

Carmem Galbes

Xenofobia.

Olá, Coexpat!
Se tem uma coisa que a gente aprende desde pequenininho é respeitar a casa dos outros. E somos aconselhados a levar essa lição por toda vida, porque dizem que assim será mais fácil de sermos respeitados.
Mas não há garantia de nada. Por mais que você tenha cumprido toda a burocracia, tenha todos os vistos e documentos, tenha intimidade com o idioma e batalhe para adequar-se à cultura local, você não está livre de ser vítima da aversão ao estrangeiro, a xenofobia.
Segundo matéria do Estado de São Paulo, a advogada brasileira Paula Oliveira, de 26 anos, que trabalha para o grupo Moeller/Maersk na Suiça, foi atacada por um bando de sei lá o que (me recuso a dizer um bando de gente ou de bicho), ontem à noite, quando voltava do trabalho.
O Itamaraty disse à reportagem do Estadão que Paula estava no terceiro mês de gravidez e que os gêmeos não resistiram aos 15 minutos de agressão que a mãe sofreu. Nada material foi roubado.
Para a cônsul-geral do Brasil em Zurique, Vitória Clever, Paula foi atacada porque era estrangeira.
Coincidência ou não, o ataque ocorreu no dia seguinte ao referendo em que a maioria dos suíços disse sim à entrada de trabalhadores búlgaros e romenos no país. Além disso, Paula teve todo o corpo marcado com as iniciais SVP, mesma sigla de um partido político que quer limitar a nacionalização de estrangeiros e quer dificultar a entrada de trabalhadores imigrantes na Suíça.
Já ouvi a tese de que o ódio ao estrangeiro é a tentativa de marcar a própria identidade em um mundo globalizado. A justificativa atual para episódios de barbárie como o de ontem é de que a crise econômica tem feito o povo pensar duas vezes antes de abrir os braços para quem ameaça roubar a renda. Mas o avanço da intolerância a quem vem de fora não é um debate de agora.
Claro que o atentado ao corpo e a alma dessa mulher pode intimidar quem está pensando ou se preparando para a experiência em outro país. Não dá para digerir tamanha violência!
É muito difícil ter uma opinião sobre o assunto olhando para apenas um fato, que repito, não se justifica. A relação entre o povo local e imigrantes sempre foi tensa, sempre foi marcada pela dificuldade de se estabelecer o que é justo para todos os lados, apesar das leis e das exigências.
Só sei que, se confirmada a agressão por esse motivo, nem Paula, ninguém - aliás - merece ser garoto de recado dos insatisfeitos com os imigrantes.

Carmem Galbes

Imagem: Estadão

Mais um pouco sobre o tempo de quem é expatriado...

Olá, Coexpat!Ainda no esquema de usar o meu tempo pesquisando o que melhor fazer com ele, encontrei uma sugestão interessante para quem tem se sentindo perseguido por essa coisa que dizem não passar de um conceito.
No blog Mais Tempo, no post de hoje, o consultor especializado em administração do tempo - Christian Barbosa - abre uma clareira. Ele sugere uma trilha para quem está tentando dar a largada para horas mais bem aproveitadas e para você não ser pego de surpresa se a sua agenda virar de ponta cabeça.
Entre as provocações estão:
- Você está realizando atividades que vão fazer você se destacar em sua área de atuação profissional?
- Você está investindo algum tempo no desenvolvimento de um Plano B, para o caso de mudanças bruscas na sua rotina profissional ou pessoal?
- Você está conseguindo tempo para você mesmo equilibrar sua vida pessoal, seus relacionamentos importantes e sua saúde?
- Você sente que sua vida está evoluindo na direção de seus objetivos ou apenas agindo frenéticamente para resolver as urgências diárias?
Então, se está podendo, aproveite para pensar no assunto. 

E, por favor, espalhe se conseguir respostas simples.
Carmem Galbes

Imagem: SXC

Expatriação e a agenda cheia...de tempo livre!

Olá, Coexpat!
Fui dessas crianças que têm compromissos além do colégio. Natação, inglês, balé, teatro. Algumas atividades foram abraçadas por iniciativa própria, outras com o incentivo dos meus pais, mas, no fim das contas, todas ajudaram a dar um “upgrade” na caixa de ferramentas da vida.
É dessa caixa que tiro muitos utensílios que me ajudam a encarar situações de agora. Da prática diária da natação, por exemplo, tirei a disciplina. As aulas de inglês facilitaram - e muito - o meu processo de expatriação, e por aí vai.
E foi sempre assim. Agenda cheia. Se não era uma coisa era outra. Como muitos, trabalhei durante o dia e estudei a noite. Tive época de dois empregos ao mesmo tempo, de duas pós ao mesmo tempo. Hoje, de longe, vejo a loucura.
O fato é que, de repente, com a mudança de país e de perspectiva, a agenda lotada ficou cheia de tempo vago, livre para eu fazer o que bem quisesse da vida.
E a pessoa que fazia parte do time dos “sem tempo pra nada” ficou meio zonza com o tempo de sobra.
Já tinha ouvido falar nisso. Empreendedores dizem que é mais fácil, não necessariamente mais prazeroso, ter alguém mandando no seu tempo. O chefe diz a hora de começar a trabalhar, a escola diz a hora de começar a estudar, e - no tempo livre - sempre tem alguém para dizer o que há de divertido para fazer.
Sem a terceirização da administração do seu tempo, a coisa muda. No começo é muito bom, porque parece que todos vivemos em um cansaço extremo e bem longe do que nos agrada. Há espaço para sono, leitura, filmes, passeios tranquilos, almoços, conversas, cursos improváveis. Mas não demora muito para bater a sensação de culpa, de que a gente está perdendo algo nessa corrida da vida.
Ainda bem que em momentos de angústia a pesquisa me conforta. Li artigos e mais artigos sobre o manejamento de agenda, agora para saber como lidar com ou utilizar da melhor maneira a abundância de horas. Também fui atrás do outro lado da coisa, entrei em contato com o slow movement.
Concordo que temos inúmeras possibilidades e ninguém nessa vida pode reclamar que não tem nada para fazer. A diferença agora é que a iniciativa é exclusicamente minha. Se não rechear a agenda, ninguém vai fazer isso por mim. E isso cansa!
Pensando bem, sentir-se ok em uma sociedade que tem receita e modelo pra tudo é muito complicado. Se não é a falta é o excesso que atormenta! Como alertou Freud lá atrás, desde sempre e para sempre estaremos desencaixados, sentiremos a todo instante um mal-estar. 

Mesmo assim vou continuar pesquisando receitas, só para aproveitar o tempo...
Carmem Galbes

Imagem: SXC

Fragmentos de uma vida expatriada.

Olá, Coexpat!
Venho de um exercício cansativo de digitar e deletar, digitar e deletar. Comecei vários assuntos hoje, mas não consegui concluir nenhum.
Tentei dar as minhas impressões sobre o trânsito daqui, que, apesar de regras interessantes - como poder virar a direita mesmo com o sinal fechado - também tem suas maluquices e grosserias - como acelerar para não dar lugar para o cara que está há mil anos com a seta ligada.
Também dei uma navegada para ver se encontrava algo novo sobre o mundo “expatriático”. Nada!
Enquanto a máquina de secar chacoalha a roupa e deixa a casa com um barulho que acho que incomoda, consulto unhas e cutícula, que clamam por uma especialista brasileira.
Olho para um lado, para o outro, procuro inspiração.
Lembro do trecho de uma conversa com uma amiga do peito, também expatriada: “na vida a gente tem a obrigação de tentar, não - necessariamente - de conseguir”.
Revejo umas fotos.
Folheio uma papelada.
Olho para o teto e me prendo ao negocinho que esguicha água em caso de incêndio. Interessante ter esses ornamentos de escritório em casa.
De repente um som que lembra sinal do recreio da escola. É a secadora que terminou o serviço. Corro para tirar e dobrar a roupa. O ar quente facilita a vida. Basta uma ajeitada com a mão, pronto! Nem precisa de ferro de passar! Essa é uma parte boa daqui: os equipamentos que te ajudam.
Daqui a pouco tenho que sair, e não consigo dar liga para os fragmentos que tingem o papel virtual.
Hoje acho que vai ser só isso mesmo, retalhos...

Carmem Galbes

Imagem:SXC

Touchdown!

Olá, Coexpat!
Domingo me entreguei à "pesquisa antropológica" e entrei de cabeça no clima do Super Bowl.
Tv, appetizers, bebericos e olho no laaaance! Ééééééééé touchdown! Que essa cabeça de mulher traduz livremente como gooooooool!
Tudo bem, ainda não entendi direito as regras do jogo, mas deu pra perceber o peso do evento por aqui.
Aprendi que o negócio vai além de pura "pancadaria" em campo. Tem a ver com as premissas de todo esporte como dedicação e, no caso dessa modalidade, trabalho em equipe e tem a ver - claro - com altas cifras.
A final do campeonato nacional de futebol americano é uma festança.

Entre as curiosidades: dizem que é um dos dias em que o americano mais come, a data fica atrás apenas do dia de Ação de Graças.
O jogo não acontece necessariamente na casa de um dos finalistas. A cidade é eleita nos moldes da escolha para a sede da Olimpíada, ela se candidata e tem que provar que é capaz de receber o público, gente do país inteiro. Um grande negócio!
Por causa da grande audiência, algumas campanhas publicitárias são lançadas no horário da transmissão da final, que ocorre entre cinco da tarde e nove da noite - mais ou menos. Um espaço de 30 segundos na TV pode custar US$ 3 milhões!
Escutando rádio hoje, descobri que tem concurso depois para que os ouvintes escolham o melhor comercial.
No mais, lembra muito o que a gente está acostumado: comentaristas, convidados, bastidores.
Mas não tem jeito, no fim do jogo, mesmo sem entender lá muita coisa, já estava vibrando, xingando o juiz e reclamando de jogador folgado, acho que era saudade...Pode, saudade de futebol?!
Bom, o que eu mais gostei? Gosto de ver a paixão e o entusiasmo do povo. Mas o melhor foi mesmo a companhia durante o jogo e o show de 20 minutos do Bruce Springsteen durante o intervalo.

Carmem Galbes
Fotos: Jamie Squire - Getty Images.

Tempo e expatriação, da sobra ao excesso...

Olá, Coexpat!
O tempo está sempre em pauta. Normalmente ele é o assunto quando está em falta. Mas, dependendo do motivo da expatriação, ele é presença marcante pela abundância.
Adoro vagar por Eclesiastes e mudar a ordem e os pares de um dos clássicos sobre o tema : “Tempo para calar...tempo para bailar...tempo para curar...tempo para destruir...”
Gosto do som da palavra tempo, principalmente quando dita pelo “Seo Silvo Santis”: temmmmmpo.
E dessa brincadeira de imitar o inimitável saiu:
Temmmpo, temmpo, tempo.
Tempo, temperamento, tempestade.
Tempo, temperança, tem piedade.
Tempo, temperatura e pressão anormais.
Tempo, tempos, templo.
Temmmmpo.


Carmem Galbes

Imagem: SXC

Entre o que se fala e o que se entende.

Olá, Coexpat!
Não é novidade dizer que a fala - seja lá como for - está entre os recursos que fazem a separação entre o que é gente e o que é bicho. Indo um pouquinho além, também é possível dizer que ela é resultado de um trabalho complexo do corpo e que faz a ponte entre o sentir, o pensar e o agir.
Fora isso, na prática, a fala é o que permite a gente costurar e romper o tecido social. Sim, porque ô troço pra embaraçar, embaralhar, embasbacar como a fala!
Explico. Com o tempo a gente aprende que cada um dos zilhões de variações fonéticas da letra a, por exemplo, quer dizer uma coisa. Pode ser um “a” de susto, de tristeza, de lembrança - tipo: “a, não esquece de...” Pode ser ainda um” ã?”, sem contar no “aaaaaa, eu sabia!”
Essa denotação passeia sem cerimônia pelos diálogos vida afora. A gente vai aprendendo pouco a pouco. Aí, de repente, você tem que acessar um outro idioma. Você sabe as regras gramaticais, tem um bom vocabulário, mas se perde no sentido...
É que tem coisa que parece, mas não é.
No meu caso, tenho dificuldade com dois termos pelas bandas de cá.
Exemplo: a gente aprende logo nas primeiras lições as respostas básicas para um “thank you”. Numa versão seriam: You’re welcome - de nada, my pleasure - um prazer ou não por isso, that’s ok - tudo bem.
Mais aqui descubro que a resposta mais comum é: ahã. Sim, aquele sim rápido para perguntas simples da vida, sabe? “Você quer água? ahã.” Aqui, esse ahã é o mesmo que “de nada, um prazer!” Confesso que soa muito mal pra mim, é como se a alma do outro lado se importasse tanto com o meu agradecimento, mas tanto, que ela usa todo o seu potencial e simpatia para responder: ahã.
Descobri que isso é uma cisma de muitos brasileiros. Mas é também um jeito normal e educado de responder ao cumprimento por aqui.
O problema é que ouvido vai acostumando. Tem brasileiro que quer morrer depois que solta o primeiro ahã com o significado de “de nada”.
Outra situação de lascar. Você, feliz da vida, conta que vai passar um fim de semana em um local show. O sujeito vira e, em meio a um sorriso, lança um: “good for you.” Isso mesmo, bom pra você!
Bom pra mim?! Claro que é, mas isso não é coisa que se diga. Pior que aqui é! No inglês dessa região é um comentário sadio. Tudo bem que não é um bom pra você seco. Seria um boooooooom pra voeeeeê ou good for yyyyyyyooooouuuu!
Então tá,vou ficando por aqui. Good for meeeeeee! Ou seria good for you?
Imagem: SXC
Carmem Galbes

Expatriação e berço.

Olá, Coexpat!
Já falei desse autor por aqui. Mas como acho os estudos dele muito interessantes, vou trazer Dan Ariely de novo para a nossa conversa.
Em uma pesquisa feita nas mais tradicionais e bem conceituadas universidades dos Estados Unidos - Harvard, Princeton, Yale, UCLA e MIT - ele e equipe comprovaram o que a gente reluta em acreditar, mas acontece: quando tem chance, o ser humano costuma trapacear, isso em qualquer lugar do mundo e da esfera social - dada a miscigenação presente nos grupos da pesquisa.
O estudo envolveu basicamente situações em que os alunos tinham mais ou menos chances de colar nas provas. Resultado: quanto mais chance, mais cola - não importando muito o risco de ser pego.
Mas o que surpreendeu mesmo os pesquisadores foi o que aconteceu quando pediam aos alunos que, antes de começar o exame, anotassem na folha um dos dez mandamentos da lei de Deus ou um dos tópicos do código de ética da escola ou da profissão que se preparavam para exercer.
Segundo o estudo, dos alunos que entraram em contato com algum parâmetro ético antes da prova, nenhum colou, mesmo no grupo que teve a maior oportunidade de fazer isso.
O autor sugere, então, que o momento é de resgate de códigos de condutas, religiosas ou não - diz ele. “Quando estamos distantes de quaisquer modelos de pensamento ético, costumamos nos desviar para a desonestidade, mas, se nos lembrarem da moralidade no momento da tentação, então é bem mais provável que sejamos honestos”, defende Ariely em Previsivelmente Irracional, lá na página 173.
Dan Ariely mostra um grande coração, porque ao indicar tal receita para redução de tanta sacanagem no mundo, ele demonstra uma crença absurda de que o ser humano é, por essência, bom e que só precisa ser lembrado disso às vezes.
Mas o que tem a ver tudo isso com essa minha jornada?
Talvez o fato de perceber que realmente já não importa tanto o endereço, que a globalização deixa uniforme o bom e o ruim, que, no fundo, gente é gente, e que boas maneiras e honestidade vêm mesmo do berço, como dizia minha avó e continuam dizendo meus pais.


Carmem Galbes

Imagem: SXC

O tempo e a paciência de quem é expatriado...

Olá, Coexpat!
Olha o “causo”.
A cena: inscrição para o curso de pronúncia aqui nos States.
A rotina: depois de avaliação oral e escrita, sigo para uma sala onde um primeiro ser humano anota dados pessoais e o código do curso. Sigo para uma segunda sala.
Percebo que o código do curso refere-se a outro horário. Em vez de um dois no final de sequência de 5 números, há um zero. Nessa segunda sala alerto para a questão. O segundo ser se limita à: “vamos ver como vai sair no recibo”, e me manda para o caixa.
Sigo assim para uma terceira sala, onde falo com um terceiro ser sobre o código do curso. Enquanto passa o cartão, o sujeito se limita: “não é minha área”. Claro que o recibo traz o curso com o horário errado.
Volto à segunda sala. O segundo ser diz: “vá à quarta sala”. Lá, um quarto ser preenche uma requisição de troca de horário e me diz: volte à segunda sala”.
Volto. O segundo ser me recebe com ar de que não se lembra de mim. Acerta o horário e diz: “volte ao caixa”.
Lá o terceiro ser arruma o horário e diz: “prontinho”.
Duração do percurso: não sei, foram tantos seres que esqueci de olhar para o relógio...
Burocratas eles? Não, eu é que sou. Deveria ter mudado o número à mão mesmo, antes de entrar na segunda sala!
Jeitinho brasileiro? Não, praticidade, economia de tempo e de rugas!


Carmem Galbes

Imagem: SXC

Esposa expatriada, desempregada, mas antenada: cobertura da posse lá e cá.

Olá, Coexpat!
Como você sabe, sou jornalista desempregada, mas que prefere dizer que vive um período fora do mercado para apoiar a carreira do maridão no exterior.

Sendo assim, não consigo desligar...então, não pude deixar de passar o dia perambulando entre TV e internet para acompanhar a posse de Obama. Minha ideia era tentar captar uma cobertura com os olhos aqui e ouvidos lá ou vice-versa.
Claro que não vou conseguir fazer uma comparação crítica entre o trabalho dos colegas americanos e brasileiros, isso, aliás, daria uma boa tese...
Mas, comparando...
O povo aqui passou a semana especulando sobre qual estilista a primeira-dama usaria. Interessante que hoje foram os brasileiros que se apressaram em falar em detalhes sobre o “visú” de Michelle Obama. Com semana de moda no Rio, ficou fácil cumprir a pauta!
Pascolato e cia desceram a boca no modelo assinado pela cubana Isabel Toledo. O que prendeu meu olhar foi a combinação que não me agrada, a não ser em copa do mundo: vestido amarelo + sapatos e luvas verdes!
Mas gente, a mulherada aqui adora brilho e cores vibrantes! Só fico pensando em que ocasião ela usaria aqueles sapatos verdes de novo...
Ok, tentei pensar em uma impressão mais elaborada sobre a cobertura, mas nã
o consegui. É que simplesmente não encontrei em português nenhuma análise um pouquinho mais profunda sobre o dia de hoje.
Bom, pelo menos até agora, não consegui ler, ouvir, ver... sentir nada sobre, por exemplo, qual o impacto no Brasil do discurso de posse do homem que vai tocar a economia mais influente do mundo.
Talvez essa falta não tenha cabimento. Talvez tudo já tenha sido dito e eu não acompanhei. Talvez ainda será dito...
Sei lá...
A cobertura em português fala em gastos com segurança na posse, em número de pessoas, traz o histórico do novo presidente, os desafios, o discurso traduzido, mas senti mesmo falta de contextualização.
Tudo bem, sei, ao menos, que o vestido da dona Obama não agradou lá no Brasil. Ouvi dizer que tinha bordado demais, que era sóbrio demais, que era elegante de menos...sei.


Carmem Galbes

Foto1: Susan Walsh - AP
Foto 2: CBSNEWS.COM

Certo, certinho e certeiro. A expatriação de cada um!

Olá, Coexpat!
De um bate-papo descompromissado sobre a definição de certo e errado:
Kuwaitiano: certo é o que Alá diz que é.
Venezuelana: certo é o que está previsto nas leis e regras sociais.
Francesa: preferiu só ouvir.
Brasileira: certo deveria ser o que não fere ninguém.
Colombiano: é certo que é muito difícil estabelecer uma diferença entre certo e errado, porque é quase impossível saber o que existe no coração de uma pessoa. 

Tá certo!

Carmem Galbes

Imagem: SXC

Expatriação e amor próprio.

Olá, Coexpat!
Eu sempre tive muita dificuldade em entender o relato de Mateus lá no capítulo 22 em relação ao que Jesus disse sobre o amor: “ama o seu próximo como a si mesmo.”
Eu me lembro que na adolescência achava isso improvável e na fase adulta passei acreditar ser impossível. Mas com as últimas mudanças de endereço e, por causa disso, a necessidade de me relacionar com gente bem diferente, voltei a pensar no assunto.
Pode mesmo acontecer de a gente amar outra pessoa como a gente se ama? Claro que não falo aqui de filho, marido, família e amigos, falo de ser humano no geral.
Hoje estou quase certa que sim. Mas, essa certeza não tem a ver com conversão espiritual ou coisas do tipo, não. Tem a ver com as descobertas práticas da vida.
Acho que a minha confusão com as palavras de Jesus tinha mais a ver com o fato de eu pressupor que a gente se ama incondicionalmente e no máximo grau que o amor possa existir, o que não é verdade.
Será, então, que a gente ama o próximo à medida que a gente conhece o amor para com a gente mesma? Se me amo pouco só posso amar outras pessoas na mesma intensidade? Então, será que quanto mais me amo, mais tenho a capacidade de amar os outros?
Tudo bem que esse negócio de se amar primeiro para depois amar o mundo pode parecer um clichezão brabo, mas vai tentar se amar de verdade, de verdade mesmo! É um árduo trabalho, mas é absolutamente possível!

Comece por parar de se sacanear, de se machucar, de se prejudicar. É difícil, às vezes a gente se esquece, às vezes a gente nem percebe a sabotagem. Mas mude a chavinha para o autoperdão, autopaciência. Trata-se com carinho, fale com você mesma com delicadeza, converse sendo a você adulta e madura lidando com a você criança, pronta para absorver todas as experiências. Entenda e explique para você mesma o que aconteceu e como você pode fazer diferente, fazer melhor. Pare com essa história: "você é uma burra mesmo, não faz nada direito, eu sabia que você ia desistir, você sempre faz isso..." Pare com isso já!
É um exercício diário e sem fim. Mas vale a pena. No fim das contas, somos nós com nós mesmas em uma jornada que existe única e exclusivamente para que a gente evolua!

Carmem Galbes

Choque cultural e suas cutucadas...

Olá, Coexpat!
Depois das dicas sobre como fazer bons negócios, esticar o dinherim, enfim, comprar melhor, a notícia agora nos programas matinais de TV nesse período pós natal é o que fazer com a mercadoria que você comprou e não quer mais.
Interessante esse negócio por aqui. Você vai à loja, gasta ou investe - como preferir - tempo, paciência e dinheiro e depois ainda tem a oportunidade de se arrepender.
Ainda não precisei apelar ao benefício, mas o fato é que isso pode ser bem legal. Às vezes acontece. Você acha que a blusa vai combinar com aquela saia, mas só quando chega em casa percebe que não caiu bem.
O fato é que tem muita gente que simplesmente compra e só decide se queria mesmo comprar dias e quilômetros depois. Deve ser por isso que o povo vive carregado de sacolas.
É simples. O sujeito arrependido, munido de nota fiscal e da mercadoria sem uso - é importante salientar isso aqui - volta à loja e diz que não quer mais brincar. Devolve o produto e a loja devolve o dindim. Isso mesmo, é verdinha na mão, não tem essa de ter que trocar por outro produto. É satisfação garantida ou seu dinheiro de volta - lembra do slogan da Sears?
Pois bem, tentei traduzir isso para a cultura brasileira. Será que funcionaria no mercado verde e amarelo? Será que as pessoas seriam realmente honestas a ponto de devolver a mercadoria sem uso?
A resposta: não sei e não ouso adivinhar. Sei que por aqui essa estratégia dá o que falar.
Dan Ariely, um renomado estudioso da relação do ser humano com as finanças, acredita que é a oportunidade que define o caráter. Ele traz em seu livro “Previsivelmente Irracional”, alguns dados sobre como o americano lida com a devolução de mercadorias.
De acordo com o livro, as lojas nos Estados Unidos perdem, em média, US$ 16 bilhões por ano com clientes que têm por hábito usar a roupa com a etiqueta escondida para não perder o benefício da devolução.
Esse valor, segundo o autor, é quase 30 vezes maior que a perda que os Estados Unidos têm por ano com os chamados roubos tradicionais, aquele em que o ladrão leva o carro ou invade a casa.
Engraçado que, apesar disso, o mecanismo não sai de cena. É sempre assim, um monte de gente comprando e devolvendo a mercadoria que não deveria, mas está usada.
Dan Ariely fala da perda para as lojas. Mas “pera lá”, será que o comércio perde mesmo ou passa a bola pra frente? Será que o benefício da devolução se mantém porque a mercadoria simplesmente volta para a venda como se fosse sem uso? Quanta gente está comprando o novinho em folha usado só algumas vezes? Será que o prejuízo se limita aos bilhões de dólares ou devemos incluir também outras perdas, como a de confiança nas pessoas e no sistema?
Então, fico aqui pensando...Será que tem muito...ah, deixa pra lá...vou dar uma volta.


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Expatriação e casamento.

Olá, Coexpat!
“Expatriação não é para quem gosta de viajar, é para quem pode mudar o seu jeito de viver.” Com essa frase a professora da Fundação Getúlio Vargas, Maria Ester de Freitas, conclui uma pesquisa sobre como vivem os executivos expatriados e suas famílias.
Venho matutando sobre o tema não só porque sou esposa de expatriado, mas também porque tenho ouvido histórias de relacionamentos que se complicaram depois da mudança. Infelizmente, tenho acompanhado o sofrimento de uma coexpat que viu seu casamento afundar em terras estrangeiras...mas isso é coisa para o blog dela, se ela tiver um...
Navegando por aí, achei poucos, mas importantes dados sobre o tema. Um exemplo, a estabilidade familiar está entre os três principais fatores para o sucesso ou fracasso da expatriação e a principal causa para o retorno antecipado do expatriado é a não adaptação do cônjuge - traduzindo: happy wife, happy life!
Mas quem se importa? Ah, as empresas têm se importado sim. Afinal, fracasso na expatriação e prejuízo financeiro andam juntos. O fato é que ninguém fala claramente sobre o casamento no processo de expatriação.
As empresas contratadas para ajudar na transição cultural sabem muito bem como apresentar a cidade, mostrar escolas para os filhos e indicar a marca de sabão em pó. Mas não sabem preparar o terreno para o fator mais importante e que tende a ficar vulnerável nesse período: a relação familiar.
Em sua pesquisa, a professora Maria Ester de Freitas diz que “a esposa, ainda que compartilhe das esperanças do futuro promissor de seu marido, estará contabilizando as perdas... Ela se sente despojada de sua casa, onde tudo funcionava; da cidade, onde ela tudo conhecia; do idioma, que era a sua pátria; da sua profissão, que ela não pode exercer por razões burocráticas; do seu status pessoal e social, pois agora ela é apenas a esposa de alguém; de todo o seu conhecimento do cotidiano. A perspectiva do seu olhar é localizada no passado e no presente; o primeiro que lhe dá a segurança de que ela não é uma incompetente, o segundo que lhe atesta a necessidade de começar do zero, de descobrir o enigma existente em cada detalhe da vida diária. Nos momentos de desespero o presente vai ficar muito pesado, o passado será idealizado e o futuro não será visto. A sua energia emocional será investida em manter os pés no chão, de sobreviver ao teste da realidade, de ter os sonhos postergados. Não é de se estranhar que a vida não seja fácil durante os primeiros meses em que a esposa está gerindo as suas dificuldades, bem como se ressentindo do papel de coadjuvante onde a emoção positiva e o glamour ficou todo concentrado no outro personagem. A vida aqui vai girar em rotações diferentes e paradoxais... Temos expectativas sobre o comportamento do outro, mas não o temos sob controle e isso eleva o nível de nossa vulnerabilidade.”
Mas quem tem coragem de falar que vai doer? Por que não dizer que vai doer tudo, mas que passa e que a experiência pode estreitar laços e aumentar a cumplicidade? Mas quem tem a receita? Eis a delícia, não tem receita! Por um breve momento temos a chance de desenvolver nossos próprios métodos e isso pode ser uma gratificante aventura.
E sem puxar sardinha para nosso lado querida Coexpat, nas palavras da professora Maria Ester: “é a infraestrutura domiciliar quem vai dar o suporte para a produtividade e para as decisões criativas do nosso expatriado. O sucesso da empresa vai depender da esposa e não
do expatriado!”


Carmem Galbes
Imagem SXC

Íntimo e pessoal, sobre dividir a experiência da expatriação nas redes sociais.

Olá, Coexpat!

Quando resolvi me emaranhar nas redes sociais tinha três objetivos: escrever regularmente - uma das atividades mais prazerosas para mim - estabelecer um ponto de encontro e de troca para expatriadas e arranjar o que fazer!
Mas no fim, quando a gente decide abastecer essa espécie de diário virtual, o que acaba fazendo mesmo é expor as experiências, sentimentos e opiniões.
Engraçado que isso é um tema que passa muito batido: exposição.
Não é de hoje que sabemos dessa era do “ser é parecer e aparecer”, mas o propósito aqui não é flertar com a teoria.
Venho pensando no que é íntimo e pessoal. Naquelas coisas que não devem ser mostradas, que são suas, que não têm que ser divididas. Naquelas opiniões que não têm que ser dadas. Naquela conversa que não tem que acontecer.
A expatriada sabe que a vida antes de partir é escarafunchada, principalmente, se o destino exige visto especial e cambalhota a quatro.
É preciso responder questões que vão desde o registro de alguma doença contagiosa, uso de drogas e posse de arma, até quanto você tem no banco.
Para te conhecer melhor, a empresa responsável pela sua adaptação quer saber dos seus anseios, gostos e objetivos.
Sem contar no povo que você vai cruzando e que tem uma curiosidade natural sobre sua história e vice-versa.
É como se fôssemos uma vitrine. Tá tudo ali, chamativo, fácil de conferir, acessível.
Acho que isso faz parte do jogo e isso pode ser fantástico: a nossa história pode ajudar muito gente em trânsito por aí. Mas chega uma hora que é preciso balizar. É preciso respirar fundo, olhar pra dentro, pra fora...
Tem gente que nunca terá problema com isso, nem com expor, nem com guardar. Tem gente que lida bem com os dois, que é mestre no domínio dos dois.
Eu sigo pensando sobre o tema, porque um outro objetivo com meu blog, com minhas redes é aproveitar para tentar pensar um pouco mais fora da caixinha.


Carmem Galbes
Imagem: SCX

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...