Depende...

Olá, Coexpat!

Tenho uma professora que costuma iniciar a aula com uma pergunta do tipo “qual você prefere?" São geralmente extremos: gastar ou guardar? Calar ou falar? Ir ou ficar? E quase sempre a resposta é depende.
Ela simplesmente não aceita. Quer argumentos para apenas um lado. O exercício é interessante. Escolhemos um lado, nos prendemos a ele, nos apaixonamos, criamos vínculos profundos para convencer a gente mesma de que o lado escolhido é definitivamente o melhor, mas sempre fica aquela pontinha de “por outro lado...”
E por que é mesmo que a gente tem que viver só em uma margem se uma outra está disponível, além de um rio no meio? Diz ela que é para treinar a argumentação. Ótimo exercício, péssima prática - no meu “humirde” ponto de vista.
É que acho que quanto mais a gente escorrega para um lado, mais a gente afunda, mais a gente complica, mais a gente se perde.
Alguém pode dizer, mas e os valores? Ok, se você preferir, pode repetir pra você mesma que os valores têm de ser imutáveis, mas que de tempos em tempos a gente tem que revisitar os motivos para determinadas filosofias de vida, ah isso a gente tem! Não que eu goste de sarna. O fato é essa cachola repleta de leis, regras, normas e condutas é como guarda-roupa, às vezes fica meio ultrapassado, sabe...Tem coisa que está fora de moda ou apertada, tem coisa que está gasta, tem muita tranqueira também, sem contar aquilo que você nem lembrava mais que tinha.
Botar o armário abaixo é um porre? Minha professora que me perdoe, mas só uma resposta é capaz de satisfazer esta coexpat aqui: DEPENDE!


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Black Friday pra lá de preto...

Olá, Coexpat!
Muito interessante a dinâmica por aqui. Depois de passar a penúltima quinta-feira de novembro em sintonia com a energia da gratidão - não, o propósito do dia de Ação de Graças não é só encher a pança de peru - o americano acorda na sexta pronto para fazer o que mais ama, comprar!
Dizem que os preços despencam. É um dia à La Magazine Luiza, em que as pessoas acampam na porta das lojas para ter a chance de comprar bens que pareciam inatingíveis.
Não consegui acompanhar de perto...mas quem enfrentou o Black Friday chegou com a sacola cheia.
No rádio, em vez da situação do trânsito, informações sobre a lotação dos estacionamentos nos shoppings, o tempo de espera por uma vaga e por aí vai...
A loucura é tamanha que esse ano saiu até morte. Um funcionário do Walmart foi pisoteado pelos consumidores.
Foi uma sexta pra lá de preta pra ele e, apesar da recessão, bem gorda para o comércio, que vendeu 1% a mais em relação ao mesmo dia do ano passado.
Não bastasse o Black Friday tem ainda o Cyber Monday, versão virtual da sexta, com vendas bombando pela internet, só que na segunda-feira. Resultado positivo também. Em média um celular foi vendido a cada 12 segundos nesse dia, um recorde diz o povo aqui.
Ouvi falar que o termo Black Friday vem do Black Tuesday de 29, aquela terça de 1929 em que a bolsa de Nova York quebrou. Começou a ser usado nos anos 60 para traduzir o caos no trânsito na volta do feriado. Como aqui a quinta de Thanksgiven é dia de passar com a família - mais ou menos como o nosso natal - o povo lota as estradas. Nos anos 70, o Black Friday virou sinônimo de lotação nas lojas. Porque é na sexta pós Thanksgiven que os comerciantes dão a largada à queima de estoque, já que ninguém aqui é adepto de mercadoria encalhada.
Mas o que me chama a atenção é essa história de você agradecer e depois praticamente galopar rumo às compras. Sei bem que quando dinheiro entra em cena a gente perde a compostura, parece que a gente fica com o diabo no corpo...e - não vem não - que isso acontece com todo mundo pelo menos uma vez na vida ou até um baita arrependimento bater...
Mas o que vem ao caso é que necessidade é essa? Que tanto a gente precisa comprar? Que bom negócio é esse que deixa o povo louco a ponto de não enxergar que tem um ser sob o sapato de alguém?
Ok, você pode argumentar que é fácil falar, que é difícil resistir ao apelo do bom negócio ou que estou dizendo isso porque não tive chance de cair nessa farra.
Sei não...acho que falta criar um dia da reflexão, tipo castigo de criança, sabe? “fica aí sentando pensando um pouco”. Mas a quem interessa isso? O comerciante fica feliz de vender e o consumidor satisfeito por pagar um preço de big Mac - porque banana aqui é cara pra caramba! Dessa vez até o cara da funerária ficou feliz! Ah, lembrou do funcionário do Walmart. Se ele gostou? Piadista você, hein... Depois desse Black Friday só mesmo uma mesa branca pra saber...


Carmem Galbes
Imagem: Paskova/Getty - Daily News

Blá-blá-blá fashion.

Olá, Coexpat!

Quanto tempo! É que no mais fiel modelo americano de ser, fiz as malas e parti para a casa de gente queridíssima para passar o dia de Ação de Graças, ou Thanksgiven Day.
Foi super bom, para não dizer supimpa. É muito interessante esse negócio de moda na língua, não é mesmo? Não, não tem nada a ver com piercing ou coisas do gênero. Tô falando do jeito de falar, mora?
Você sabe que vida a pessoa leva pelo jeito que ela fala. Ok, isso não é novidade, é, aliás, motivo de piada, quando não, de preconceito...
Mas o fato é que o povo que está longe acaba ficando meio démodé no “Portuga” - outros dois termos que entregam - no mínimo - a idade...
Mas gostei do flash back e vou continuar o lero nesses termos.
A viagem foi tranquila. Não enfrentamos congestionamento, dizem que é um feriado louco porque muitas firmas emendam na sexta e todos querem curtir...
Sobre o jantar, o peru estava do peru. Mas como a noite é uma criança, depois de alguns “drinques”, belisquetes e umas horinhas de sono, vestimos nossas japonas e caímos na night.
Claro que Nova York não está nem um pouco aí para o fato de alguém falar que a noite está quente ou que a noite está agitada, mesmo porque a noite bomba sempre.
O lance é que foi da hora poder tirar o dia para agradecer...e no maior estilo W de ser: WHATEVER*, outra que, segundo os mais plugados, já era...
Então já é, já foi, tô zarpando. Beijo nas crianças.
*Tanto faz, não me importo, não ligo e por aí vai...

Carmem Galbes
Imagem: SXC

Frrrrioo...

Olá, Coexpat!

O friozinho chegou por aqui. Depois de uns quatro meses de temperatura além dos 30, a casa dos 10 entrou em cena. Por se tratar de Texas - quente que só - já estou bem feliz.
Outro dia comentei como uma francesa como estava sentindo falta de dias mais geladinhos. Sempre gostei muito de verão, mas acho o inverno fundamental na vida da gente.
Por causa da mudança de endereço, passei quase um ano só no verão e isso também cansa.
É como férias, tem roteiro que você volta exausta. É a mesma coisa. O que acontece no verão? A gente quer curtir, aproveitar o dia quente pra ficar até tarde na rua, pra fazer todos os passeios. Não sobra tempo pra simplesmente ficar à toa, sem fazer nada.
A francesa não entendeu muito bem o sentido figurado que eu pretendi dar para o inverno. Mas tudo bem...Como tá frio, fiquei com preguiça de me fazer entender.
Mesmo porque, quando você fala que adora inverno e dias cinzas, tem sempre uma pra dizer: “ah, você tá deprimida, vem cá que eu te dou um abraço.”
Ai, ai...vou confessar, vai: adoro frio porque amo lareira...


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Viva o canivete!

Olá, Coexpat!

Tem gente por aí especialista em criar ferramenta. A pedra, por exemplo, virou fósforo, depois isqueiro, acendedor automático e deve vir mais por aí...
Agora se tem uma coisa que todo muito é especialista é em improvisar ferramenta.
Já vi chiclete virar durex e durex fazer as vezes de band-aid. Já vi clips dar uma de botão e granpeador bancar máquina de costura. Já testemunhei também chapinha de cabelo passando barra de calça e lápis de escrever corrigindo sobrancelha falha. Essa é famosa: base de unha na meia-calça.
E acho que a vida é isso mesmo, um constante exercício de improviso.
Claro que é bom sonhar e planejar! Isso é bom e saudável. Mas é loucura achar que as coisas vão sempre sair como o desenhado. Aí, quando se espera um prego e vem um parafuso, o gênio não faz outra coisa com o martelo, além de segurar. Tem umas doidas que dão com ele na cabeça, mas isso é outra história.
Quando penso em mudanças, novidades e desafios, essa é a imagem que vem: uma grande caixa de ferramentas escancarada, com as coisas meio espalhadas, meio organizadas. Sei que vou em busca das mais adequadas, mas que vou ter sucesso mesmo se for criativa e se não abrir mão do meu canivete, daqueles cheios de surpresas. Mas o melhor da história é que muitas outras ferramentas vão passar a fazer parte da minha coleção.
E para que servem aquelas chavinhas do móvel novo senão para montar o próximo que a gente comprar? Pra que servem as experiências senão para preparar a gente para situações ainda mais complexas?
Tudo bem que as ferramentas certas facilitam a vida, e não sou contra pares perfeitos como martelo e prego, chave de fenda e parafuso. O fato é que nem sempre isso é possível. Além do mais sou - na maioria do tempo - do tipo que acha que a vida não é mesmo fácil, e por que seria?


Carmem Galbes

Sobre Houston!

HOUSTON
Nem como turista, nem como estudante, nem como expatriada. Jamais pensei em Houston como um endereço. Mas essa cidade me pegou de jeito e simplesmente adoro viver aqui. Por isso, prepare-se para um relato apaixonado e, obviamente, tendencioso. A cidade tem 162 anos, mas
dizem que o negócio começou a andar por aqui com a descoberta dos poços de petróleo em 1902, as más línguas preferem dizer que Houston só foi pra frente com a invenção do ar-condicionado, fato ocorrido também em 1902, que veneno...
A região é quente sim. No verão o Sol é capaz de provocar sensações que vão de “queimadura de panela” à sauna desregulada. Em compensação, o inverno não te prende em casa, você tem que tirar o casaco lá de cima, mas o frio não assusta.
Mas vamos aos fatos. Pelas contas oficias - a última feita em 2006 - Houston tem 2,2 milhões de habitantes, fora os outros 3 milhões da região metropolitana.
Se Texas é a mãe de Itu, como bem lembra uma amiga, Houston não poderia deixar de ser marcada por superlativos. Um dos mais famosos: aqui está o maior, e talvez o mais respeitado, centro médico do mundo.
A quarta maior cidade dos Estados Unidos tem, claro, uma das principais características de um grande centro: o congestionamento. Aliás, viver aqui sem carro exige muita, mas muita boa vontade . Não bastasse o grande intervalo entre os ônibus, isso quando a região é servida por algum, você se sente um alienígena fora da nave andando pelas ruas. É muito raro encontrar um pedestre. O bom é que a carteira de motorista brasileira vale um mês, tempo para você passar no exame de motorista daqui - aliás, bem tranqüilo.
Por falar em E.T.s, a cidade é o endereço do centro de controle das missões da Nasa. Cabeções - no bom sentindo - vivem por aqui. A terra da Beyonce - conhece? - reúne mais de 40 opções entre institutos, centros de pesquisa e universidades.
Talvez por não ter belezas naturais, a cidade se sinta na obrigação de se manter atraente. O calendário oficial de 2008, por exemplo, conta com 600 atrações. Tem de ópera, comédia, dança clássica e contemporânea, sinfônica e peças - em espaços fechados ou não - até exposições na região que concentra cerca de 20 museus - literalmente um em cada esquina.
E se der fome, é possível comer fora diariamente e passar os 365 dias do ano sem repetir restaurante. E se tem uma coisa que faz de Houston uma cidade cosmopolita - uma exceção texana, aliás - é restaurante. Outra coisa, um levantamento da prefeitura mostra que aqui são faladas - ou ouvidas - mais de 90 línguas. Aliás, a cidade é bilíngue, inglês e espanhol, e brasileiro não costuma ter problemas para se comunicar.
Quanto à limpeza e segurança, a chamada “área dentro do looping da 610”, ou do anel, reúne também beleza e organização.
Quer promoções? Houston é ótima. Adora uma marca? Houston reúne as mais famosas do mundo. Gente bonita? Seja esforçado. Gente legal? Seja legal. Gente educada? Com certeza.
Vou dando detalhes.


Carmem Galbes
Imagem: SXC
Site Prefeitura de Houston

Íntimo e pessoal, sobre dividir a experiência da expatriação nas redes sociais.

Olá, Coexpat!

Quando resolvi me emaranhar nas redes sociais tinha três objetivos: escrever regularmente - uma das atividades mais prazerosas para mim - estabelecer um ponto de encontro e de troca para expatriadas e arranjar o que fazer!
Mas no fim, quando a gente decide abastecer essa espécie de diário virtual, o que acaba fazendo mesmo é expor as experiências, sentimentos e opiniões.
Engraçado que isso é um tema que passa muito batido: exposição.
Não é de hoje que sabemos dessa era do “ser é parecer e aparecer”, mas o propósito aqui não é flertar com a teoria.
Venho pensando no que é íntimo e pessoal. Naquelas coisas que não devem ser mostradas, que são suas, que não têm que ser divididas. Naquelas opiniões que não têm que ser dadas. Naquela conversa que não tem que acontecer.
A expatriada sabe que a vida antes de partir é escarafunchada, principalmente, se o destino exige visto especial e cambalhota a quatro.
É preciso responder questões que vão desde o registro de alguma doença contagiosa, uso de drogas e posse de arma, até quanto você tem no banco.
Para te conhecer melhor, a empresa responsável pela sua adaptação quer saber dos seus anseios, gostos e objetivos.
Sem contar no povo que você vai cruzando e que tem uma curiosidade natural sobre sua história e vice-versa.
É como se fôssemos uma vitrine. Tá tudo ali, chamativo, fácil de conferir, acessível.
Acho que isso faz parte do jogo e isso pode ser fantástico: a nossa história pode ajudar muito gente em trânsito por aí. Mas chega uma hora que é preciso balizar. É preciso respirar fundo, olhar pra dentro, pra fora...
Tem gente que nunca terá problema com isso, nem com expor, nem com guardar. Tem gente que lida bem com os dois, que é mestre no domínio dos dois.
Eu sigo pensando sobre o tema, porque um outro objetivo com meu blog, com minhas redes é aproveitar para tentar pensar um pouco mais fora da caixinha.


Carmem Galbes
Imagem: SCX

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...