A crise e a volta antecipada.

Olá, Coexpat!

Onde cortar, onde investir, onde se proteger. Essa crise vem estimulando exercícios e conversas mundo afora. Para quem vive em endereço gringo, a crise sustenta ainda outra dúvida, será que o cronograma da expatriação vai mudar?
Essa semana, o New York Times abordou o assunto. Com o título “A longa viagem para casa”, a matéria traz que muitas empresas - especialmente as do setor financeiro - estão antecipando a volta de seus expatriados de olho na economia que podem conseguir com isso.
Já conversamos um pouco aqui sobre o retorno ao lar. Especialistas no assunto dizem que a repatriação deve receber a mesma atenção que foi dada à família quando ela seguiu para um outro canto do mundo.
O problema é que empresas e funcionários ainda acreditam que voltar para casa é sempre muito mais fácil que partir. Uma pesquisa da KPMG, por exemplo, mostra que apenas 4% dos executivos de Recursos Humanos acham que preparar a família para a repatriação não é um investimento que traga lá tantos benefícios.
O fato é que quem já voltou diz que o retorno não é tão simples como o esperado e que a inserção em outra cultura pode abrir horizontes, mas dificulta a adaptação no próprio país.
Na matéria do NYT, Margery M. Marshall, presidente da Vandover, empresa de suporte à transição de expatriados, acrescenta que a atual situação está difícil para quem foi transferido e assustadora para quem largou tudo para acompanhar um expatriado. É que retomar a carreira na volta não é tarefa fácil e pode ficar ainda pior em meio à turbulência econômica.
Fazer o que? O jeito é tentar controlar as expectativas - isso para quem vem ou vai. Como? Minha estratégia tem sido acreditar que situações do momento, por mais difíceis que sejam, servem sempre de preparação para acontecimentos mais complexos. Resumido: relaxa, porque a tendência é que a vida enrole mais e mais... Culpa sua! Quem mandou embarcar nessa viagem?


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Etiqueta, receitas e preguiça.

Olá, Coexpat!Quando a gente assume um novo caminho na vida é natural ir em busca de receitas. Saber como proceder em meio ao desconhecido traz segurança, alívio e preguiça. Sim! Preguiça de encontrar o nosso próprio jeito de fazer.
Não falo de etiqueta - guia resumidinho aqui. Claro que é muito útil saber que é uma tremenda falta de educação não abrir o presente que você acabou de receber de um italiano e um ultraje abrir quando o pacote vem de um japonês. É muito bom ainda saber que na Finlândia chegar um pouco antes da hora é motivo de elogio, que os árabes não toleram ver a sola do sapato de alguém e que comer com a mão esquerda no Senegal é ofensivo. Cultura é cultura!
Mas adotar a cartilha de como se vive lá e achar que isso é uma grande coisa não garante sucesso no relacionamento longe de casa, aliás, nada garante nada nessa vida!
Antes de chegar às bandas texanas, por exemplo, especialistas em vender caminhos pavimentados alertaram que o povo daqui gosta - além de bota, chapéu e espora - de comer bastante, de hierarquia e de um bom papo.
Confesso que gostei desse “bom papo”. Deu a impressão de um povo aberto, disposto a decifrar sotaques e maneiras.
Até que encontrei gente assim. Mas depois de um tempo puxando papo, desconfio que essa disponibilidade vem muito mais de quem é estrangeiro, seja lá de onde.
Vou usar o clássico exemplo do elevador. Sobre os nativos: tem gente que dá um oi rápido, tem gente que conversa, tem o que desembesta a falar, tem o outro que não responde ao cumprimento, tem também quem não está nem aí para o próprio cachorro e que entra rápido no elevador e fecha a porta só para ir sozinho. Tem de tudo!
Aí vou vendo que é difícil se apegar muito às formulas quando o assunto é gente. Vou vendo que etiqueta ajuda a tropeçar menos, que receita ajuda a baixar o estresse, mas vejo também que “ops” , ombros contraídos e gelo na barriga são figurinhas fáceis nesse cenário “expatriático”.


Carmem Galbes
Imagem: SXC

A urgência e o tchau. O tchau e a urgência.

Olá, Coexpat!Essa semana uma amiga querida voltou para a França, o país dela. Nossa despedida me fez pensar em como a urgência invadiu minha vida desde que virei expatriada.
Falo de uma urgência diferente da vivenciada no estresse da vida profissional, por exemplo. Essa pressa que ronda agora tem mais a ver com não poder desperdiçar nada de uma fase que tem data para acabar - apesar de dizerem que o calendário para quem é expatriado não é tão certinho como prometem...
Desde que deixei o Brasil, passou a ser urgente conhecer lugares e pessoas. Virou prioridade absoluta experimentar, aproveitar, aprender. Resultado: acabei mudando o modo de me relacionar com o mundo e com os outros.
Eu sei que sempre precisei de um período, longo por sinal, para me aproximar e deixar chegar perto, mas a ideia de que - mais dia, menos dia - alguém vai voltar para casa, me obrigou a ignorar regras e marcadores. O milagre, no meu caso, foi ver amizades crescerem e ficarem fortes, apesar do pouco tempo.
Aí vem a partida. Gosto de chamar de exercício da partida. É que a expatriação te põe em contato com gente que está sempre andando por aí, indo e vindo. Normal! Não é preciso ser expatriada para saber que, desde que nascemos, sempre tem alguém que chega, acrescenta, tira ou revira e some. A diferença é que a expatriação faz com que isso aconteça em um curto intervalo. Por isso o exercício. Porque conforme as despedidas vão se acumulando, é possível ir aprendendo como lidar com elas.
Não gosto muito de ficar acumulando. Adoro aqueles dias que a gente tira para jogar as coisas fora. Mas não tem jeito, não encontrei outra estratégia: para engolir tanto tchau diferente passei a cultivar fotos, cartões, badulaquinhos, enfim, a memória do que foi bom. “Porque não somos puros espíritos, e sim seres feitos de carne, precisamos de objetos que encarnem uma realidade que já não existe e que testemunhem o que fomos ou o que acreditamos ter sido”, lembra Marcel Rufo em ‘Me larga! Separar-se para Crescer’.


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Cinco perguntas e uma boa surpresa! Inglaterra e França.

Olá, X!
A internet é um bicho estranho mesmo. Tem gente que rechaça! Acho que pode ser do bem e do mal, depende de quem usa. Para mim é pra lá de útil. Encurta distância, ajuda a matar a saudade e me coloca em contato com gente bem interessante. Foi navegando em blogs de expatriados que encontrei a Ingrid Mantovani.
Comunicadora social, ficou 2 anos entre Londres e Paris para estudar inglês e acompanhar o namorado envolvido com um mestrado.
Hoje Ingrid já está de volta ao Brasil, precisamente em São Paulo, mas carregará para sempre a marca da expatriação. Deve ser por isso que ela mantém o Brasil com Z e dá uma baita ajuda para a troca de informações sobre a vida em outro país.
Na ilustração, obra de Gabriel Shiguemoto, e nas respostas a seguir, você conhece um pouco mais dessa expatriada. Obrigada Ingrid!

Cinco Perguntas:
X - Como foi o processo até você realmente se sentir em casa em outro país, ou isso nunca aconteceu?
IM - Fiz dois intercâmbios, o primeiro foi em Londres onde sofri bastante nos primeiros meses, mas depois, quando fui conhecendo o ritmo da cidade, arrumando um trabalho fixo e fazendo amigos, comecei a ter um carinho especial por Londres, não sei ao certo se me senti em casa, mas me senti bem, o que já é importante. O segundo intercâmbio foi em Paris, mas acredito que nunca me senti muito confortável por lá. Tenho carinho por determinadas coisas, como o valor pela cultura e arte, mas no geral não me adaptei bem na capital francesa.

X - O que é ou foi mais difícil durante a sua expatriação?
IM - Em Londres, acredito que nada em si foi realmente muito difícil. A dificuldade estava na união de pequenas coisas, busca por emprego, a língua, busca por acomodação e etc. A mudança de pais já é complicada por si só. Em Paris o mais difícil foi entender como as coisas funcionavam. O cruzamento de informações é enorme e nunca se chega à uma conclusão. Cada pessoa fala uma coisa e te manda para um lugar diferente. Parece um labirinto.

X - O que faria diferente?
IM - Nada.

X - Toparia ser expatriada de novo?
IM - Toparia sim.

X - Quais expectativas se concretizaram e quais viraram pó depois da mudança?
IM - Eu nunca tive grandes expectativas da viagem. A única que eu tinha era de aprender inglês, e essa se concretizou. Todo o resto foi além das expectativas. O aprendizado, o amadurecimento, as amizades. O que virou pó foi à visão que eu tinha com relação aos europeus e a Europa em geral.

A boa surpresa:
Descobri uma Ingrid que não sabia que existia antes de viajar.

Conferência de famílias expatriadas.

Olá, Coexpat!De hoje a domingo, aqui em Houston, expatriados e experts no assunto se encontram para trocar experiências e informações sobre o dia-a-dia de quem está tocando a vida em outro país.
A Conferência Internacional de Famílias Expatriadas é promovida pela Families in Global Transition.
Essa edição traz duas palestras de graça e via internet, portanto podem ser acompanhadas de qualquer lugar.
Essas palestras acontecem no sábado, a partir do meio-dia, horário de Brasília. Inscrições aqui.
O primeiro painel trata das crianças expatriadas e como lidam com a vida longe de casa. O segundo fala sobre o uso das chamadas mídias sociais, como blogs e páginas de relacionamento, para facilitar a comunicação de quem está longe.
Families in Global Transition é uma organização sem fins lucrativos. Nasceu há sete anos, aqui nos Estados Unidos, a partir de encontros entre esposas de profissionais expatriados. A organização divulga que tem por objetivo ajudar a fazer da expatriação uma experiência positiva para toda a família.

Carmem Galbes

Voltando? Será mesmo?

Olá, Coexpat!
Fitando a parede, depois de um dia de tagarelice em diferentes sotaques, em meio às últimas providências de amigas que se preparam para embarcar rumo ao país de origem, uma palavra sequestrou meus miolos: voltar.
Todo mundo sabe o que voltar quer dizer, mesmo assim fui dar uma espiada no dicionário.
Há no mínimo 30 significados para esse verbo que pode ser transitivo, intransitivo, direto ou não, né - como diria um baiano.
O sentido mais usado faz referência ao passado. Usamos voltar quando queremos retornar a ou de algum lugar ou retornar para um estado anterior. Voltar tem ainda o sentido de manifestar-se de novo, de repetição e de reprodução. “Volta-me a saudade ao coração. É o passado que volta”, exemplifica o dicionário Michaelis.
Mas sempre tive um pouco de dificuldade com o sentido dessa palavra. É que, no fundo, penso que não existe volta, só ida. Na estrada da foto, por exemplo, o voltar é diferente da ida, as curvas à direita na ida estão à esquerda na volta. Então, considerando a definição do dicionário, nessa estrada a gente só consegue ir para um lado ou para o outro, não conseguimos ir e voltar! Assim vejo a vida, um ir constante, porque tudo muda, todos mudam. Ok, isso é coisa que Heráclito disse faz tempo, “não nos banhamos duas vezes no mesmo rio.”
Seguindo na leitura do dicionário, atentei que voltar tem sim esse sentido com mais lógica para mim, o voltar carregado de bagagem.
Beleza! Sigo indo, então, deixando um pouco do que juntei sobre voltar, no sentido “expatriático” da coisa: dirigir para outro lado, virar, volver: voltar a cabeça, voltar os olhos. Mudar de posição por um movimento em linha curva. Apresentar-se de frente. Agitar-se, mover-se, revolver-se, expondo ora um lado ora outro. Retroceder para atacar. Acometer, investir: voltar-se a, contra, sobre alguém. Mostrar-se contrário. Pôr do avesso. Remexer. Aplicar, dirigir, encaminhar: “voltou todo o interesse para os seus negócios.” Apelar, dirigir-se, recorrer: "voltou-se então para Deus o meu espírito" (Gonçalves Dias). Devolver, restituir, dar em troco. Dizer em resposta, retrucar: “a tantas perguntas nem uma só palavra lhe voltou.” Converter, mudar, transformar: “voltar em positiva uma emoção negativa”. Indenizar ou recompensar: “que prêmio lhe voltaram por sua abnegação?”


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Cinco perguntas e uma boa surpresa! Estados Unidos.

Olá, Coexpat!
A Cris, ou Cristiane Seco Marques da Costa, é uma dessas pessoas que parecem sempre estar de bem com a vida. Talvez isso tenha ajudado no processo de expatriação. Mas vou deixar ela mesma contar como tem sido essa experiência.
Há nove anos longe do país, a analista de sistemas deixou o Brasil rumo aos States por causa da carreira do marido, mas logo ela conquistou o próprio espaço no mercado americano e hoje toca a vida na gelada, nem por isso fria, cidade de Hamden, em Connecticut.
Na foto, suspeito que um click meu, em frente ao Guggenheim, nesse inverno, em Nova York, ela e o marido - o Leandro - mostram uma das delícias da expatriação: o monte de coisas para conhecer, o monte de lugares para ir.
Obrigada Cris!

Cinco perguntas:Leve - Como foi o processo até você realmente se sentir em casa em outro país, ou isso nunca aconteceu?
Cristiane - Para mim o processo de me sentir em casa demorou um pouco. Sempre tive a sensação de estar aqui temporariamente, quase que "a passeio" e que depois voltaria pra casa, para o Brasil.
Mas até que não demorei a me adaptar, pois sempre me senti muito confortável e feliz aqui desde o primeiro dia.
Nos primeiros anos tinha a impressão que a minha estada era temporária, depois veio a impressão de ter duas casas - aqui e no Brasil.
Acho que comecei a sentir que a minha casa era realmente aqui depois de uns 5 anos, mais ou menos 1 ano depois que compramos a nossa casa.

Leve - O que é ou foi mais difícil durante a sua expatriação?
Cristiane - Para falar a verdade não sofri nesse processo. Mesmo porque não me via como expatriada, mas como numa viagem explorando um novo território, uma cultura.
No começo tudo era novidade e muito interessante e depois se tornou parte do meu dia a dia.
Acho que por ter a impressão de ser temporário, tentei aproveitar tudo o que pude.
Bom, pensando bem, teve uma coisa difícil que me marcou, estar desempregada no inverno de Connecticut.
Como normalmente faz muito frio eu acabava ficando muito em casa e isso não me agradou nada.
Depois que comecei a trabalhar o inverno deixou de parecer assim tão brutal. Ainda prefiro o verão, no entanto.

Leve - O que faria diferente?
Cristiane - Não sei dizer...

Leve - Toparia ser expatriada de novo?
Cristiane - Sim, achei que me adaptei fácil e curti muito o processo, então não teria problema começando de novo em outro lugar. Só uma ressalva, dependendo muito de onde fosse.
Não toparia ir para qualquer  país. Teria que ser um pais que me interessasse.

Leve - Quais expectativas se concretizaram e quais viraram pó depois da mudança?
Cristiane - Continuar a evoluir na minha carreira foi uma expectativa que felizmente se concretizou e que ainda continuará se concretizando, se Deus quiser.
Passar todos os finais de ano no Brasil e ter total controle de quando visitar o país foram expectativas inocentes que rapidamente viraram pó.

A boa surpresa:
As boas surpresas pra mim foram descobrir que existem pessoas boas e ruins em todos os lugares, que se pode fazer verdadeiros bons amigos em qualquer lugar e que esses amigos se tornam a sua família no seu novo lar.


Carmem Galbes

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...