Que sujeitinho complicado!

Olá, Coexpat!
Reflexões sobre a crise o estouro da bolha imobiliária, em 2008, quando eu estava morando nos Estados Unidos.
A gente aprende junto com as primeiras continhas que ser humano é todo aquele que pensa.
Um pouco mais para frente, dependendo do ramo de estudo, é ensinado que esse mesmo ser pode avançar e alcançar o status de indivíduo, desde que consiga se expressar. Normalmente é bem sucedido nessa etapa quem aprende a falar com uma certa coerência.
Mas é vivendo que a gente faz a grande descoberta, não basta ser indivíduo é preciso ser sujeito. É preciso se envolver, ser envolvid@ e influenciar.
Puxei o assunto porque acho que esses dias de terremoto financeiro têm - também - muito a ver com o comportamento do sujeito.
Tod@s somos bem crescidinh@s para saber que esse negócio de passar a conta pra frente é bem esquisito. Que essa coisa de juntar o bolo e depois dividir pode ser perigosa e tem sérios riscos de se espatifar se alguém resolver enfiar a viola no saco.
Mas esse não é o foco, mesmo porque acho que o mercado financeiro - assim como a tecnologia - tem seu papel benfeitor.
O que eu fico pensando é que parece que estamos vivendo dias altamente contagiosos. Em que o sujeito se encontra pela metade, com a capacidade de apenas ser influenciado.
Falo aqui sobre a difusão do medo.
Pior que não é simplesmente sentir medo, é sentir medo de ficar com medo. Aí a gente se depara com pessoal estocando alimento, tirando todo o dinheiro do banco, praticamente dando ações que tem grande potencial de valorização. Comportamentos que fazem do ser um não humano, porque nem raciocínio é possível.
Eu sei que esse assunto é estranho, é difícil falar sobre isso porque não temos certeza da gravidade ou até que ponto essa crise é pior do que dizem.
Falam que medo é bom porque é o antídoto do risco, do perigo. Mas também pode ser venenoso quando embaralha os sentidos e confunde a consciência.
O duro mesmo é que eu não sei o que sentir.
Eu leio o Lula e ele se mostra tranquilo. Dizem que ou é fingimento ou é desinformação. Cada um, cada um...o que vejo aqui pelas bandas do tio Sam é que quem tem cabelo está com ele em pé.
Bem, eu acho que não estou com medo, mas ao mesmo tempo essa ausência de temor me deixa aflita, angustiada...com medo?
Vai entender a cabeça do sujeito!


Carmem Galbes

Eu e meu telefone dos Jetsons.

Olá, Coexpat!
Sabe aquele dia em que você tem que se organizar para dar conta da agenda? 

Pois é, hoje era um dia assim. Tinha que seguir uma escala para resolver as chamadas coisinhas da vida.
Mas tem uma coisa que altera pra valer os planos de quem está longe: MSN.
Esse troço é muito bom mesmo. Não é que esse telefone dos Jetsons - lembra da família do século 21? - então, não é que essa coisa de falar ao telefone e poder ver o rosto da pessoa ajuda a dar um fôlego pra quem morre de saudade?
Hoje perdi a noção do tempo simplesmente curtindo a minha sobrinha, conversando com a minha irmã e trocando uma idéia com os meus pais que estão saindo de viagem.
Foi uma delícia.
Em meio às críticas de que a tecnologia é uma das grandes responsáveis pelo colapso de estruturas que vão do relacionamento ao mercado financeiro, fica meu elogio para o aparato tecnológico usado para o bem.
Nunca pensei que fosse dizer isso: obrigada Bill Gates!

Atualizando mais de dez anos depois de escrever esse texto: Obrigada a todos os gênios e todas as pessoas que fazem chegar até nós - nômades ou não - essa facilidade na comunicação.
Hoje, em 05 de abril de 2019, dia em que atualizo esse texto - temos whatsapp, facetime, skype, telegram etc e tals...tem aplicativo e rede social que coloca até 10 pessoas conversando ao mesmo tempo! Gente, dá pra comemorar ceia de Natal em família online!
Palmas ainda para todo esse aparato tecnológico que, além de aproximar pessoas, derruba fronteiras, disseminando informação, valores e costumes e ajuda expatriad@s de todo o mundo a se sentirem mais em casa.
Tecnologia é coisa de Deus mesmo! Só pode ser!

Carmem Galbes

Gente, que coisa! Sobre amizades e expatriação.

Olá, Coexpat!
Eu não sei se também acontece com você, mas, às vezes, eu fico meio enjoada de gente...
Sabe, essa condição de estrangeira é danada.
Quem está longe quer se enturmar, quer trocar experiência, quer conhecer o máximo possível da outra cultura e também não quer se sentir sozinha, então não perde a oportunidade de estabelecer laços com quem vai encontrando pelo caminho.
É como uma esponja recém-saída da embalagem que vai absorvendo, aceitando tudo. 

Em um cenário novo acho até normal a gente se propor a ser super-ultra-mega receptiva.
A questão é que, para se relacionar - especialmente em um mundo inexplorado - você tem que ter padrões ainda mais maleáveis e nem sempre isso acontece.
O fato é que chega uma hora em que você já se sente mais confortável na novidade e se permite pensar sobre a qualidade dos relacionamentos.
Aí as coisas não são tão simples, parece que o verão acaba, as férias chegam ao fim.
Eu ainda não sei se alguns comportamentos e comentários irritam pela intimidade ou pela distância. Quero dizer, pela proximidade com a nova cultura ou pelo distanciamento dos próprios costumes. O que era normal, já não é. O insuportável começa a ser aceitável...
Sei lá.
Ia continuar... mas não, não vou ceder à deselegância.

Carmem Galbes

Desculpe, não deu...

Olá, Coexpat!
Sei que quando estamos longe a noção de espaço-tempo é alterada drasticamente.
Você, como eu, não conseguiu prestigiar a normalmente divertida - para não ser deselegante - propaganda eleitoral no rádio e na TV.
No meu caso, acompanhei as notícias só pela internet, sem o calor de frases emocionadas em comícios. Foi triste - para não ser deselegante.
Você, como eu, não conseguiu votar nesse domingo.
Com tantas opções maravilhosas, você, como eu, deve ter ficado triste - para não ser deselegante...
Mas vamos à parte prática da vida.
Se você tem título eleitoral inscrito no exterior já deve saber que só está obrigada a votar nas eleições presidenciais. Então está livre de justificativas.
Se você não mexeu no seu título, se continua - portanto - com domicílio eleitoral no Brasil, tem até 60 dias para justificar a ausência.
Só para lembrar, quem não justifica tem problemas para obter passaporte, RG, participar de concurso e concorrência pública e para conseguir documentos em repartições diplomáticas, entre outras coisas, para não ser deselegante.
Resta saber se você vai ter que passar por tudo isso de novo no
fim do mês.


Carmem Galbes

Tic, tic, tic, tic...

Olá, Coexpat!
Impossível estar nos Estados Unidos e não querer tagarelar sobre falências, desemprego, desespero. Aliás, da boca dos formadores de opinião ou sai recessão ou sai Sara Palin.
Assistir - desse ponto de vista - o desenrolar da crise tem sido uma experiência interessante.
A manchete mais comum dos programas de TV, por exemplo, é: seu dinheiro está seguro?
É pensar muito no umbigo diante de uma situação tão macro, não é?
Mas no fim das contas é isso que interessa para o povo aqui. Será que sobra dinheiro para renovar o leasing? Será possível refinanciar a casa? Será possível continuar consumindo, indo, indo...?
Outro dia, no mercado, meu marido chamou a atenção para uma velha conhecida: aquela maquininha de remarcar preço.
Tic, tic, tic, tic. Bem anos 80 e 90 mesmo.
Mas acho que só brasileiro, isso até uma certa idade, sente arrepio com o barulho. Conheço gente que ainda sofre com esse som e acha mais grave que o som de motorzinho do dentista.
Enfim...o passado bate à porta. Nenhuma grande novidade.
Ah, lembra daquela história de cortar zeros?


Carmem Galbes

Sangue do meu sangue na expatriação, a dor da parte da família que fica...

Olá, Coexpat!
Longe assim parece que a gente presta mais atenção em coisas e valores da vida.
Sou do tipo que acredita que a família é a base do tecido social, seja ela configurada como for.
O familiar é, por definição, algo conhecido, algo próximo e seguro. Mas nem sempre o dicionário tem razão.
Tem família que é uma tragédia só. Começa errado, vai pelo caminho torto e se espatifa. Tem família que tenta muito, mas não consegue.
Em casa, já chegamos naquela fase em que se percebe que na verdade é a família que marca nosso sangue e não o sangue que garante os laços.
É uma descoberta deliciosa. É a prova de que há união porque os pais amam de fato os herdeiros, os irmãos têm amizade, genros e noras já são filhos, sogro e sogra pais, cunhados e cunhadas estão no fundo do coração, sobrinhos tudo de bom...
A família segue porque se gosta, porque vale a pena, porque é bom.
Mas conheço gente que não curte a própria família e adota outro grupo que lhe pareça mais familiar. Ok...

Tudo bem...não tão ok pelo olhar da constelação sistêmica, mas isso é um assunto - apaixonante, por sinal - para outro post...
Seria simples se o ente não mais querido - ou que não quer mais - partisse dessa para melhor, no sentido figurado, claro.
Mas não é bem assim.
Fica aquele baita excesso de bagagem.
Por que?
Porque as pessoas querem ser amadas, eu me incluo.
O problema é querer ser amado por quem tem a incapacidade de amar. Sim, quando a gente cresce descobre que tem gente que não ama, simplesmente não ama.
Eu não sei onde essa conversa vai parar...
Eu só sei que ter família é extraordinário, ser feliz com ela é fantástico e provocar sofrimento não é algo para se orgulhar.

O ponto que quero chegar é que, quando se decide ir para longe, não tem jeito de não machucar. Vazio dói. Saudade fere. Engraçado que os pais passam a vida tentando criar para o mundo e quando a cria bate asas pra beeem longe é um sentimento desse tipo: "como assim, vai mudar pra tão longe, tanto tempo de voo...
É...
Acho que não tô preparada para o meu filho fazer para mim o que eu fiz para os meus pais...

Carmem Galbes

Chora não.

Olá, Coexpat!
Sempre achei que o choro é uma coisa grave.
O choro chama a minha atenção, me assusta. Às vezes me constrange.
Para mim uma cena com choro é sempre urgente e é sempre muito dramática, talvez porque o choro, no meu caso, não seja abundante.
Não que não tenha vontade de chorar, lógico que tenho, mas quando ele vem é porque muita coisa se rompeu, é como um dique que segura até quando dá...
Pensando bem, não foram lágrimas e soluços que me fizeram parar para pensar, mas o motivo.
Foi uma cena forte e delicada ao mesmo tempo. Uma colega de turma caiu em prantos quando a gente batia um papo descontraído sobre a dificuldade em transmitir idéias e sentimentos em uma língua estranha.
A tarefa dela não tem sido fácil. Divide as 24 horas do dia entre casa, marido, filhas, trabalho como pesquisadora, estudante de mestrado, além de dedicar um grande período ao aperfeiçoamento do inglês.
Mas não é esse cansaço que a entristece. Nas palavras dela: "é o sentimento de parecer idiota que fere a alma."
A gente já conversou outras vezes aqui sobre a importância do próprio idioma, a caixa de ferramentas para lidar com o mundo. Também é parte do nosso RG.
Claro que essa expatriada vai ter que tratar essa ferida linguística, só não sei se vai ser fácil...
Não, não quero ser antipática. É que fiquei pensando que encontrar a palavra certa para passar exatamente o que pensamos e sentimos é uma tarefa árdua mesmo na nossa língua materna!
Freud já dizia isso...
A questão, então, é como encaramos tudo isso. Às vezes pode ser interessante ter uma espécie de licença para parecer idiota, eu disse parecer...
O que eu acho é que nessa história entra tanta coisa, desde a impaciência do ouvinte nativo até nossa arrogância em supor que vamos tirar de letra qualquer desafio.
O fato é que raramente temos cuidado com a palavra. Só acordamos quando ela nos falta, quando nos trai. Aí, ou a gente cai no choro ou permite mais gargalhadas...


Carmem Galbes

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...