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Barraco no salão.

Olá, Coexpat!
Semaninha difícil essa, não?

Essa bolha imobiliária...
Fico pensando de que forma essa tormenta atinge o comportamento mais corriqueiro.
Olha só essa história: uma brasileira foi ao salão aqui em Houston. Fez luzes. O profissional perguntou se ele gostou. A resposta: não.
A cliente esperava, como normalmente acontece no Brasil - segundo ela - ter a chance de falar que pensava em algo não tão loiro e assim remarcar um horário para retoque.
Mas o “home” ficou doido. Não deixou nem pagar a conta. Abriu a porta e pediu que saísse. Não satisfeito, mandou um recado por uma outra cliente: que a brasileira nunca mais aparecesse.
Eu pensei, gente, se fosse comigo de duas uma: ou eu já mandava o cara para aquele lugar ou virava as costas e adeus.
Uma outra possibilidade, que os americanos adoram - aliás, seria chamar a polícia.
O fato é que a brasileira ficou arrasada e repetiu uma frase bem comum entre coexpats em apuros: “o-que-que-eu--fazendo-aqui
? Preciso-disso?”

No fundo a gente precisa mesmo é de água e comida para sobreviver. Se a gente escolhe algumas coisas, como batalhar em outra cultura, é porque o básico não basta.
É lógico que a brasileira disse que o maluquete não faria isso se fosse uma americana. Sei lá, tem gente besta em todo lugar, além do mais o cara pode ter mil motivos.
Pode ter dinheiro no mercado de ações, pode ter perdido 18% nessa semana. 18% mais pobre em uma semana pode deixar o mais equilibrado piradinho.
Outra possibilidade: o cara pode ser desses profissionais que se acham artistas e não aceitam tratar o cliente como cliente, mas como espectador. Ele pode ter levado um chutão no traseiro, sei lá, tanta coisa pode ter acontecido.
A brasileira expulsa do salão falou em procurar a associação dos cabeleireiros e reclamar. Até que ela é fina, eu jogaria uma bela praga...
Falando do ponto de vista da brasileira - porque só tive acesso à versão dela - penso que o episódio pede uma reflexão mais no sentido da autoestima. Penso no silêncio dela na hora, no fato de ela não ter tentado resolver tudo ali, não ter conseguido controlar a situação.
No lugar dela acho que teria a mesma reação, o espanto me paralisaria.
O problema mesmo é não ter o controle da ferramenta básica para exigir ser tratada com decência: o idioma. E quem enfrenta uma metralhadora só com pedras?
Diante disso, sugiro algumas estratégias: seguir com afinco no estudo da língua, se aprofundar na cultura - talvez aqui dizer que não gostou do trabalho seja mesmo inaceitável - ou não pintar mais o cabelo.
Sugiro as duas primeiras, porque ficar com o cabelo lindo, poderoso e poder cuidar da gente é bom em qualquer lugar do mundo, ?


Carmem Galbes

Gente, que coisa! Sobre amizades e expatriação.

Olá, Coexpat!
Eu não sei se também acontece com você, mas, às vezes, eu fico meio enjoada de gente...
Sabe, essa condição de estrangeira é danada.
Quem está longe quer se enturmar, quer trocar experiência, quer conhecer o máximo possível da outra cultura e também não quer se sentir sozinha, então não perde a oportunidade de estabelecer laços com quem vai encontrando pelo caminho.
É como uma esponja recém-saída da embalagem que vai absorvendo, aceitando tudo. 

Em um cenário novo acho até normal a gente se propor a ser super-ultra-mega receptiva.
A questão é que, para se relacionar - especialmente em um mundo inexplorado - você tem que ter padrões ainda mais maleáveis e nem sempre isso acontece.
O fato é que chega uma hora em que você já se sente mais confortável na novidade e se permite pensar sobre a qualidade dos relacionamentos.
Aí as coisas não são tão simples, parece que o verão acaba, as férias chegam ao fim.
Eu ainda não sei se alguns comportamentos e comentários irritam pela intimidade ou pela distância. Quero dizer, pela proximidade com a nova cultura ou pelo distanciamento dos próprios costumes. O que era normal, já não é. O insuportável começa a ser aceitável...
Sei lá.
Ia continuar... mas não, não vou ceder à deselegância.

Carmem Galbes

Chora não.

Olá, Coexpat!
Sempre achei que o choro é uma coisa grave.
O choro chama a minha atenção, me assusta. Às vezes me constrange.
Para mim uma cena com choro é sempre urgente e é sempre muito dramática, talvez porque o choro, no meu caso, não seja abundante.
Não que não tenha vontade de chorar, lógico que tenho, mas quando ele vem é porque muita coisa se rompeu, é como um dique que segura até quando dá...
Pensando bem, não foram lágrimas e soluços que me fizeram parar para pensar, mas o motivo.
Foi uma cena forte e delicada ao mesmo tempo. Uma colega de turma caiu em prantos quando a gente batia um papo descontraído sobre a dificuldade em transmitir idéias e sentimentos em uma língua estranha.
A tarefa dela não tem sido fácil. Divide as 24 horas do dia entre casa, marido, filhas, trabalho como pesquisadora, estudante de mestrado, além de dedicar um grande período ao aperfeiçoamento do inglês.
Mas não é esse cansaço que a entristece. Nas palavras dela: "é o sentimento de parecer idiota que fere a alma."
A gente já conversou outras vezes aqui sobre a importância do próprio idioma, a caixa de ferramentas para lidar com o mundo. Também é parte do nosso RG.
Claro que essa expatriada vai ter que tratar essa ferida linguística, só não sei se vai ser fácil...
Não, não quero ser antipática. É que fiquei pensando que encontrar a palavra certa para passar exatamente o que pensamos e sentimos é uma tarefa árdua mesmo na nossa língua materna!
Freud já dizia isso...
A questão, então, é como encaramos tudo isso. Às vezes pode ser interessante ter uma espécie de licença para parecer idiota, eu disse parecer...
O que eu acho é que nessa história entra tanta coisa, desde a impaciência do ouvinte nativo até nossa arrogância em supor que vamos tirar de letra qualquer desafio.
O fato é que raramente temos cuidado com a palavra. Só acordamos quando ela nos falta, quando nos trai. Aí, ou a gente cai no choro ou permite mais gargalhadas...


Carmem Galbes

O choque que mata e faz viver!

Olá, Coexpat!
Muito interessante quando se tem acesso ao lado de lá do espelho. 

Estava lendo uma matéria, dessas de domingo, que conta a experiência de um expatriado alemão no Brasil, especificamente em São Paulo.
Interessante que as dúvidas, os receios - ou pavor, como preferir - os micos e as boas surpresas são comuns, independente da origem do expatriado.
Aí veio a fala de uma especialista que trabalha para tentar facilitar a vida do estrangeiro."O que tentamos fazer é dar todo o apoio psicológico para atenuar o choque cultural. O importante é que o estrangeiro se acostume com São Paulo o mais rápido possível, para poder render no trabalho.”
Que somos mais um número ou uma cifra, não é novidade nem aqui, nem lá longe. O interessante foi ouvir o termo “tentar diminuir o choque.”
Ótima informação: expatriação dá choque e ponto! Pode ser um baita choque ou só um tremelique, mas vai ter choque!

É normal assustar, é normal doer, é normal reagir meio que sem pensar.
Concordo que levar choque é chato pra caramba. Conheço gente que tem raiva de levar choque, fica com ódio até!

A reação é mesmo pessoal...
E as consequências desse choque vão variar de pessoa para pessoa, a partir das suas experiências, da sua resiliência, da sua resistência a dor, da sua capacidade de recuperação...
O choque da expatriação pode ferir com gravidade a alma...mas dizem que não mata! 

Ah...eu já acho que pode matar, sim!
Vou viajar agora, aperte os cintos...
Eu acho que o choque da expatriação (que pode ser cultural, de identidade e por aí vai) pode matar sonhos, pode matar relações, pode matar afeto, pode matar o prazer, pode matar a saúde, pode matar a disposição, pode matar a autoestima, pode matar a coragem, pode matar o senso de identidade, pode matar projetos em comum, pode matar valores, pode matar crenças, pode matar todo um modo de ver o mundo, pode matar todo um modelo de vida.
O bom é que esse choque mata, mas também tem carga para fazer viver. Não para ressuscitar, mas para gerar uma nova vida. E, pelo que tenho visto, essa nova vida geralmente vem super energizada! 
Quem renasce desse choque surge com mais poder, mais força! É algo difícil de colocar em palavras...o choque da expatriação transfere uma carga tão alta para a pessoa, que é como se ela se transformasse naqueles equipamentos que só precisam, de tempos em tempos, ficar um pouco expostos ao Sol para voltar a funcionar. É como se a pilha, a força para lidar com os acontecimentos da vida nunca mais acabasse.
Claro que o processo não é simples. Como já disse, choque fere, choque dói.
Mas os ferimentos podem ser tratados e cicatrizados. 
Melhor ainda: a saída não seria se preparar, usar luvas, uma toalha, chinelos de borracha para isolar um pouco corpo e alma
A descarga não seria evitada, mas reduzida... 
Por outro lado, se o choque pode trazer tanto poder, tanta energia, por que atenuá-lo?
Para evitar mortes desnecessárias!
Então é isso! Desejo conhecimento e discernimento para a exposição ao choque da expatriação e coragem, força e paciência para tirar o melhor dele.

Carmem Galbes

Expatriação e a experiência de quase morte.

Olá, Coexpat!
Fiquei pensando que desbravar uma cultura diferente, seja ela estrangeira ou não, poder ser similar à experiência de sair do corpo, à experiência de quase morte...

Você, desorganizada nessa sua condição de coexpatriad@, deve estar pensando: isso mesmo, sou um@ mort@-viva.
Não! Não é esse o ponto! A ideia aqui é sempre deixar uma mensagem positiva!

Vamos lá!
Eu adoro ler as histórias: a pessoa está dormindo ou está em coma e sai por aí flutuando. Tenho preferência pela parte em que o ser flutuante narra a sensação de ver o próprio corpo, deitado, existindo independente da alma que agora está grudada no teto...
Bom, em geral, pelo que pesquiso, a pessoa que não vai em direção à famosa luz volta mais otimista, feliz e com energia para vencer desafios. Fruto, defendem os especialistas, de um aumento da noção do diferente, de que há vida na morte, que há possibilidade até no impossível.

É aí que eu acho que esse processo de quase morte pode ter muitos traços em comum com a expatriação.
Em uma nova cultura, praticamente deletamos nossa receita de vida. Não por que simplesmente abandonamos nossas referências, mas porque precisamos abrir espaço para perceber um mundo diferente, porém repleto de sinônimos do nosso antigo modo de viver.

Acho que o sinônimo não está só na fala e na escrita. Está na ação também.
Um exemplo besta: lavar roupa. No Brasil o esquema é máquina, varal e ferro. Aqui nos States é máquina de lavar, de secar e guarda-roupa, não tem que passar. Modos diferentes para um mesmo objetivo: roupa limpa.
Tudo bem, as pessoas adotam determinado esquema por motivos que vão da facilidade à viabilidade econômica. Pode ser por costume também...
O fato é que quando aceitamos fazer as coisas de outra forma ganhamos uma espécie de senha, uma chave capaz de abrir sem grandes traumas - pelo menos assim deveria ser - os cadeados que impedem a nossa inserção em um mundo que pode ser novo, louco, inacreditável e por aí vai, mas que carrega todo um potencial de alargar e aguçar os sentidos!

Então não tema a experiência de quase morte pela qual tod@ expatriad@ passa. Saiba que essa é só mais uma experiência, só mais uma. Depende de você acordar para essa nova vida ou não. 
É uma escolha!

Carmem Galbes

Adoro sexta!

Olá, Coexpat!
É, não tem jeito. Têm coisas que ficam com a gente pra sempre. Não importa a cultura, não importa o endereço, não importa o novo modelo de vida...

Exemplo? Sexta-feira pra mim é dia de faxina.
Interessante que mesmo com o passar do tempo e com a data da limpeza determinada mais pela agenda de quem me ajudava do que pelo meu calendário, a sexta ficou com esse ar de limpeza, de arrumação caprichada, de cheiro cheiroso, de purificação...
Engraçado que, apesar do encontro estafante com aspirador e companhia, costuma sobrar pique para coisas que adoro fazer em dias assim: dar uma volta por aí sem muita pretensão, encarar uma alimentação sem tantas regras dietéticas ou de etiqueta...

Claro que tem sexta de lascar!
Também tem sexta que tanto faz...
Mas na maioria das vezes esse último dia útil da semana carrega um mundo de possibilidades...
E quem não adora sexta-feira? 

Vinicius - o de Moraes -  preferia sábado. 
Sou gente comum! Então viva a sexta!
É que, apesar de estar na condição de apoiar a carreira do meu marido em outro lugar, e estar - por ora - "dispensada" daquele trabalho obrigatório de 8h às quando Deus quiser, está empregnado em mim que a sexta é autorização para descanço, ócio, delícias...
Preciso urgentemente mudar meus conceitos!
É...só uma coexpatriação mesmo para fazer a gente ver a diferença do que a gente realmente quer e o que querem pra gente...
Pensando bem, a impressão que tenho é que nessa condição que estou - de vida profissional em suspenso - segunda, terça, quarta e quinta são tão legais quanto a sexta e o sábado! E o domingo perdeu aquele fim de tarde rabujento!
Nossa!!
De qualquer forma, continuo adoranto sexta!

Carmem Galbes

Maionese, minha viagem preferida!


Olá, Coexpat!
Hoje tive que falar sobre meu hobby. 
A lista de coisas que gosto de fazer até que é recheada. 
Percebi que minhas preferências variam com o clima, com a fase da Lua, com o vaivém das marés...
Sempre gostei de andar por aí. E nesse momento, especificamente nessa condição de visitante, tenho adorado ser turista.
Você pode pensar, ok, nada de novo, próximo assunto. Mas insisto. Tenho me divertido muito viajando. 
Viajando na maionese!
Só que viajar na maionese não é tão simples assim. Exige estômago para lidar com certo engodo que o excesso de novas experiências pode trazer. Também requer determinação, a maionese é escorregadia. É preciso ainda ter coragem, porque tod@s sabemos que maionese pode engordar.
Além disso, a viagem na maionese é uma experiência pessoal e intransferível. Por mais que eu fale desse percurso, é preciso estar preparad@ para saboreá-lo sem cobranças nem constrangimento.
Tem outra coisa. Nem todo mundo gosta de se lambuzar. Tem um pessoal que tem aversão a esse tipo de molho. Lógico que tem sempre alguém que vai lembrar dos riscos da salmonela...
O fato é que, como já disseram, não dá pra encarar uma maionese sem quebrar os ovos. Então preciso ir. É que mexer com claras e gemas ainda é um processo complicado para mim.

Carmem Galbes

Meus amigos, meus espelhos!

Olá, Coexpat!
Sou da turma que apoia a necessidade do ser humano ter sempre - pelo menos - um objetivo. É que objetivo é como combustível, move a gente. Ele pode ser nobre, simples, rápido, coletivo, instável, insano, como queira.
Conversando por aí tive acesso a alguns propósitos de outr@s coexpatriad@s.

Tem sempre alguém que quer aprender o idioma local. Também já ouvi que tem gente que quer aproveitar esse tempo na 'gringa' para buscar uma especialização, ganhar uma grana, fazer trabalho voluntário, ter filho, aprender uma atividade, levar uma vida do avesso, expandir a consciência, ler tudo o que não teve tempo, meditar, fazer nada, emagrecer, enfim... cada um é cada um, ou não ?
Uma coexpatriada confessou que está mesmo é exercitando a paciência. Tá esperando com toda boa vontade do mundo a repatriação chegar! Que fase ela deve estar passando...

Meu objetivo está focado em outra virtude: a amizade.
Eu sei, fazer amigos não é fácil. Quando se está expatriada então...Eu sei que tem gente que promete a si mesm@ nunca mais confiar em ninguém depois de ficar ferid@ com uma amizade.
Aristóteles diz que a amizade depende de outras qualidades.

Há um pessoal que defende que a amizade pode ser até um vício quando impede a expressão de virtudes como a justiça, por exemplo.
Ai...isso pode ir longe...

O importante é ter amigas e amigos. Não importa a forma, mas o conteúdo. Não importa como eles chegam, mas se ficam - pelo menos na lembrança. Não importa quantos, nem onde estão, nem há quanto tempo são...
Aos poucos a gente aprende que manter um relacionamento assim exige dedicação das duas parte. É uma cosntrução diária, árdua, algumas vezes sofrida, algumas vezes cansativa.
Pensando bem, a amizade me deixa até em uma condição desagradável, a de eterna devedora. É que devo à amizade a noção de bem, de mal, de satisfação, de ausência, de engano, de perda...

Mas a amizade compensa. Compensa porque me dá o melhor que posso ter nessa vida: a noção de mim mesma.

Carmem Galbes


Café com leite.

Olá, Coexpat!
Não tem jeito, o sotaque dá uma condição muito interessante para quem está longe do lugar de origem. Ele faz da gente uma personagem quase café com leite, aquele tipo que não tem muita vez, não tem muita voz, pelo menos no dia a dia gringo.
Um exemplo: numa loja, uma vendedora me perguntou: turista? 

Eu disse que não. 
Ignorando a resposta negativa e atenta ao sotaque ela simplesmente disse, ah, desculpe, essa promoção só vale a pena pra quem vai passar um bom tempo aqui.
Como a oferta da moça não me interessava em nada, nem insisti. 

Mas a cena foi interessante.
Me fez pensar que não basta ter orelhas e ouvir bem, tem que saber escutar. Escutar o que o outro diz, não o que já dissemos internamente pra gente.
Mas a escuta é algo que não se ensina por aí,

A gente aprende a falar, aprende a ler, a escrever, mas a escutar não. 
A audição, quando tudo corre bem, nasce com a gente.
Mas a escuta, essa a gente tem que desenvolver! A gente tem que dedicar tempo, atenção e amor ao próximo para escutar de verdade. Para entender o que se fala.
Mas quem está mesmo disposto a escutar de verdade? 
Bom, tome para você a responsabilidade.
Treine a escuta! No mínimo, você vai se ouvir melhor!

Carmem Galbes

Entre o belo, o útil e o indispensável.

Olá, Coexpat!
O período aqui nos States é de volta às aulas. 
Nada novo, isso acontece no mundo todo pelo menos uma vez no ano. Mas uma cena me cativou. 
No supermercado uma mãe tentava convencer a filha sobre os benefícios de uma mochila mais em conta, porém menos atraente esteticamente em relação ao modelo que a menininha havia escolhido.
Esse nhe-nhe-nhem na seção de material escolar também não é novidade. Aliás, o mais comum em período assim é acompanhar verdadeiras batalhas por causa de caderno, borracha, canetinha e apontador.
Não, essa conversa não é sobre a luta da aluninha pelo belo e nem pretendo abordar o esforço da mãe na defesa do útil.
O fato é que mais um clichê bateu à porta. 

Dizem por aí que não importa o que acontece na vida da gente mas no que transformamos esses acontecimentos. 
A menininha não será a única com a mochila mais útil que bonita na escola. Uma legião de colegas deverá estar na mesma situação, mas como cada uma vai se acertar com as experiências do cotidiano isso é outra coisa...
Gosto dos 'causos' da astrônoma Maria Mitchell. Ela viveu sob os mandos e desmandos dos costumes, como todas as mulheres no século 18. 

Como ela administrou isso
Ela poderia ter decidido seguir o que determinava a sociedade, poderia ter ficado deprimida, poderia ter ficado apática e ter deixado tudo pra lá...
Mas ela preferiu posicionar-se ativamente - porém de forma pacífica - em relação ao que não concordava.
Um exemploParou de usar roupa de algodão para protestar contra o trabalho escravo.
E nessa jornada pela própria liberdade e pela liberdade de outros seres humanos, Mitchell fez muitas descobertas! Descobriu até um cometa - que leva o seu nome!
Sim, também temos um universo a explorar. 
E não precisamos estar tão longe, tão só, tão...Basta coragem para simplesmente olhar. É que, como dizia Michell, quanto mais vemos, mais estamos capacitados para ver.
Então abra os olhos, inclusive os da alma, para perceber a beleza e a utilidade dessa incrível experiência que é uma expatriação. Essa fantástica experiência de estar em um lugar desconhecido - dentro e fora de você -  pronto para ser desbravado!

Carmem Galbes

Desejo e gozo.

Olá, Coexpat!
Numa sexta-feira dessas defendi a importância do ócio, do lazer, do papo pro ar ou o nome que você preferir para o famoso “dar um tempo”.
Engraçado, como é difícil aceitarem - me incluo - que me propus a ficar um período sem seguir a cartilha sócioprofissional. 

Sempre chega a pergunta, 'e aí o que tem feito?' 
É muito estranho responder: nada!
Mas eu estou fazendo nada mesmo. Nada do que dizem que deveria fazer nesse período de coexpatriada. 

Não, não estou fazendo trabalho voluntário. Também não, não participo de grupos de mulheres de-sei-lá-o-que. E não, não estou grávida. 
Desculpe, não, não e não. 
Ok, estou estudando, quero viajar o que puder e experimentar, experimentar e experimentar. Adoro número primo!
Mas não é que envolvida nesse meu projeto bloquímico, sim - porque, pra mim, lidar com tal tecnologia é quase tão difícil quanto entender química - lembrei de uma palestra da psicanalista Maria Rita Kehl.
Ela falava sobre passividade quando soltou a trovoada: "até a morte estamos entre o desejo e o gozo, queremos estar muito mais tempo no gozo, mas a vida é mais valiosa à medida que dedicamos mais esforços em alimentar o desejo."
Não tem jeito, o desejo é o combustível do dia seguinte. A gente morre é de prazer!
Claro que batalho para não cair no desejo comum, alienado. Aqui, pelo menos aqui, quero desejar para o bem, para o meu bem. Busco o desejo que resulte - tomara - em uma satisfação realmente plena e pessoal.
Mas hoje é sexta. E só posso desejar uma coisa: que o mundo tenha um fim de semana de gozo total.


Carmem Galbes

Um minuto de silêncio, você consegue?

Olá, Coexpat!
Nesse mundo em que a gente acha que tem tanto a dizer e em que o tempo todo é convocad@ a falar, ficar em silêncio é quase uma derrota.
Ok, poder falar e conseguir dizer o que se pretende é tudo de bom.
Mas hoje queria conversar um pouco sobre aquele outro silêncio. Eu sei...esse tema é quase clichê de tão debatido, estudado, explorado - até. Mas, na prática, quem consegue encontrar o silêncio interno, a tal da quietude?
Engraçado, é quase um autoelogio falar: “nossa, não consigo ficar quieta!” Isso tende a soar como "nossa, sou super esperta, agitada, envolvida com o mundo, bacana, jovial, legal..."
Mas, será que se a gente fechar os olhos e abrir os ouvidos não vai conseguir ouvir um: "nossa, não consigo parar cinco minutos para dar espaço ao nada."

Que fuga é essa do nada?
Será que o fato de estar assim tão longe de casa, do ninho, eu não posso ficar quieta?
É que a gente sabe que isso pode doer,

O silêncio dói, a pausa dói!
É que a gente sempre acha que no silêncio ouve assombração...
Mas como tudo é uma questão de foco, de para onde direcionamos a nossa atenção, a gente pode ouvir passarinho também... e grilo... e miados & latidos... e ideias... e respostas que não conseguiríamos prestar atenção em meio a tanto barulho...
Então acho que vou pedir ao Supremo, não ao Tribunal Federal, mas ao Supremo Poder do Universo que me conceda o direito - ou a coragem - de ficar calada. Que me conceda o privilégio de não dizer nada, apesar das exigências internas e das expectativas alheias, apesar das urgências, dos receios, da angústia, dos questionamentos. 

Tudo porque quero ter a chance de ouvir o que o silêncio tem a me dizer!

Carmem Galbes

Colecionadora de pennies.

Olá, Coexpat!
De onde eu vim, milhas é aquilo que você acumula ao viajar de avião
Pé serve para por sapato. 
Libra é o signo da minha mãe. 
E polegadas dita o preço da TV.
Mas as coisas têm mudado e, como uma digna infanta - condição readquirida pela expatriação -  meu propósito é sempre facilitar.
Já aprendi que no trânsito a velocidade não pode ultrapassar o número 35, o mph - milhas por hora - eu deixo pra lá.
O pé aqui tem 30 centímetros. Eu nunca vi um pé desse tamanho, mas de repente me vi encolher. Virei uma centopéia manca com pouco mais de cinco pés - de altura, estranho? 

Estranho é meu peso que só aparece em centena. Quantas libras...Isso é angustiante!
Pensando bem, angustiante mesmo é pedir peito de peru fatiado. Estava acostumada com 200 gramas. Agora fico naquela continha mental de mais um, menos um, sobe dois.
E para saber a temperatura então? Já suei tanto que cheguei a perder dois quilos transformando Fahrenheit em Celsius.
Como lido com as polegadas? Ignoro. 

Agora imagine você no mercado, na fila do peito de peru, tentando saber se está calor e tendo que se concentrar na hora de espirrar? 
Lembre-se, atchum em vez de atchim
Se doer é ouch e não ai.
Mas mudando de assunto, uma coisa que eu gosto é dos nomes das moedas. Penny para um centavo, dime para dez e quarter para 25. 

Sabe, tenho uma amiga que coleciona penny. Ela já juntou 257 pennys (sic). Bom, ?
Moral da história: sem bom humor, a expatriação pode te matar...de saudade, de raiva, de medo...

Carmem Galbes

Todo dia é sexta-feira - pelo menos aqui, vai!


Olá, Coexpat!

Estava aqui visitando uns textos que escrevi lá no comecinho da minha expatriação para os Estados Unidos.
Cheguei em um que falava mais ou menos assim: 
Sexta-feira! Estava aqui pensando que de uns tempos para cá meus dias têm sido um fim de semana contínuo, já que estou na condição de 'esposa de profissional expatriado' e faço parte do time que deixou tralalá e etc & tal para acompanhar o maridão.
Engraçado que tenho tido compromissos, sim. Escola, casa, compras, contas, só que parece que tudo flui mais leve.
Mas conversando com mulheres que estão na mesma condição que a minha, percebo que lidar com o fato de poder desacelerar e fazer coisas que não tinham tempo nenhum de fazer porque trabalhavam como camelo é algo que incomoda.
É como tomar gelado assim que a garganta cura ou não resistir ao vinho, mesmo recém-saída de uma paulada no fígado. Quero dizer que não tem nada demais, a doença passou, bola pra frente, mas tem aquela coisa de culpa que não larga do pé.
Aí na leitura diária encontro uma entrevista com um especialista em lazer, é mole? Resumindo, o cara diz que você é quem decide se a sua vida vai ser legal ou não.

Em uma entrevista para a Folha, Christopher Edginton garante que até no trabalho, até em um bate-papo, até em casa, até quando a conta bancária não ajuda é possível “descer pro play”, porque lazer é um estado de espírito.
Se você está aí se sentindo um nada porque não tem mais ninguém mandando no seu relógio e na sua agenda pense um pouco sobre as palavras do especialista. “Tudo que ocorre na vida de alguém tem um potencial de transformação. O lazer é um momento especial porque livra as pessoas de suas obrigações e lhes dá uma oportunidade de refletir, redefinir valores, aprender novas habilidades. Pense em lazer como liberdade - quando você é livre para escolher, para mudar a sua vida e seguir numa direção diferente”.
Então não deixe que esse seu fim de semana termine no domingo, ok?


Carmem Galbes

Expatriação e o teletransporte para a primeira infancia.

Olá, Coexpat!
Com o propósito sempre de integração cultural e de pesquisa antropológica - claro (#sqn) -  hoje dei uma de americana e fui às compras logo depois do almoço.
É estranho, você entra nas lojas e parece final de semana ou grande liquidação, está sempre tudo cheio. Acho que é porque o clima aqui é de fim de férias. Bom, só vou saber quando mudar a estação.
O ritmo na loja é diferente. Não tem aquela paquera com a mercadoria. O pessoal vai olhando tudo de forma acelerada. O som é de cabide batendo, tac-tac-tac uma peça após a outra. De repente uma pausa. A loira ao lado acha uma blusa linda! Vai ter olho clínico assim lá longe.
Peguei 327 milhões de itens...e nada! É que ainda não me acertei com meu número...
Mas, sabe aquela história da azeitona da empada? Pois é, tanta roupa linda e um soutien que sobrava na frente e apertava nas costas acabou disparando um blá-blá-blá mental. Sim, tenho tido muito disso ultimamente.
Sinto que eu nasci ontem. Não sei mais meu manequim, a noção de caro e barato complicou, sem contar o bê-á- em tudo, no restaurante, no trato e no destrato... Usar moeda então é exercício de paciência, imagina para o caixa...
Mas a gente cresce, ?


Carmem Galbes

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...