Que? Não tô entendendo nada e a culpa não é da expatriação!

Olá, Coexpat!
Tem coisa que acontece mesmo em todo canto do mundo. Talvez, porque seja mais uma característica pessoal que cultural, se bem que aprendi ser impossível a cultura não pesar no sujeito.
Mas, voltando na tal característica que considero global: a incapacidade de ouvir.
O exemplo me veio hoje pela manhã. Adoro tomar café em companhia dos matinais da TV americana. Não que sejam bons, nem ruins...são o que são.
Parei em um dos três mais assistidos por aqui - The Early Show.
No quadro “New Year, New You”, o convidado tentou muito, mas muito mesmo falar como poderíamos usar as informações a nosso favor, mas ele não conseguiu...
O autor Kenneth Davis me prendeu quando ele comentou que um dia bom é feito de lições e acrescentou: “se (Alan) Greenspan disse que tinha algumas crenças erradas, então por que não teríamos também?”
Tentei acompanhar o raciocínio dele, que continuou: “está na hora da gente saber o que realmente serve para o nosso dia dia, a nossa vida...”, mas o âncora Harry Smith não deixou a lógica ir pra frente.
Ele interrompeu tanto, que, apesar dos quase 4 minutos de conversa - dizem que um bom tempo para TV, o material ficou vazio.
Claro que fiquei em dúvida: será que eu não entendi? Será que não aprendi nada? Olha, assisti de novo e tive dificuldade em encontrar conteúdo ali.
Tudo bem que o âncora tem um currículo e tanto. Mas de que adianta tanta experiência e preparo se falta ouvido?
Dizem que a gente ouve só o que quer. Mas a coisa fica feia mesmo quando a gente não deixa falar.
Que coisa!


Carmem Galbes
Imagem: SXC

O X da questão.

Olá, Coexpat!
Quando ainda não existia o termo "coexpatriad@" e tratava todo mundo aqui como "X". Direto do túnel do tempo...
Dia desses estava pensado por quê, afinal de contas, acabei nos apelidando de X?
Se me lembro, buscava uma forma prática de me dirigir às navegantes que dividiam a condição de expatriada.
Mas, com o virar da bússola, esse diminutivo acabou restrito demais - exatamente o contrário da generalidade que o x costuma representar - engraçado, né?
O fato é que fiquei pensando na letra x e acabei encontrando motivos para ela continuar presente e maiúscula em cada saudação.
Primeiro vamos à abrangência fonética.
O x pode ser ouvido no chiado de uma caixa, no zumbido de um exercício, no tossido de um anexo ou no sopro de um máximo. Me acostumei a cumprimentá-la com o som de tossido: Olá équis!
O cromossomo X pontua que a letra está definitivamente associada à linhagem feminina.
Mas, de verdade, me incomoda essa restrição de gênero. Apesar do expatriadas, gosto de falar com o expatriado também. Esse "q" de unissex que essa letra tem me deixa mais traquila.
Acho, ainda, que a simbologia do x tem muito a ver com o meu momento de vida.
Pode representar contraposição: razão x emoção.
Pode indicar multiplicação: 70 x 7.
Também é 10 em algarismo romano. E 10 é sinônimo de sucesso. Mas, ao mesmo tempo, o x indica erro. Vai entender...
O x-man salienta que o x tem tudo a ver com mutação e estranheza.
A questão é que o x marca a incógnita e é isso que faz dele um xodó por aqui.
Então, até amanhã X

Carmem Galbes
Imagem: Tinta Azul

Feliz 9 de janeiro de 2009!

Olá, Coexpat!Quando eu era criança, aprendi que 6 de janeiro, além de ser dia de Reis, é data para desmontar árvore e recolher enfeites de natal. Todo ano era assim. Depois de festa, presente e visita, vinha o desmontar da cena natalina. Era um momento simbólico até. Uma nova fase começava. A sala voltava ao normal. As bolas voltavam para a caixa, os bonecos entravam em um sono de um ano, a árvore, se natural, iria se decompor ou ressuscitar por aí ou, caso imortal, voltava para o maleiro.
Aí cresci. Mudei, mudei, mudei, mudei. Tentei criar essa rotina de investir em um cenário de natal em casa. Mas nem sempre conseguia montar na data que aprendi ser a correta - 1 de dezembro - nem desmontava no dia certo. Isso me deixava culpada, em desacordo com o ritual. Esse ano não teve nem enfeite de porta, que ficaram empacotados no Brasil. Nem por isso deixei de prestar atenção nas decorações por aí.
Interessante que pelas bandas de cá ainda tem muita casa brilhando de longe, muita guirlanda na porta. Fico fantasiando. Imaginando se os moradores ainda estão viajando. Me pergunto se esqueceram, se estão muito ocupados, se não ligam...
Engraçado disso tudo é ver como o velho chega rápido. Até outro dia, esses produtos cintilavam nas prateleiras e pesavam no bolso. Agora são tralha com 75% de desconto.
Ok, sei que enfeite de natal, como acontece todo ano e há pelo menos 2 mil anos - têm data para entrar e sair de cena. Mas com esse negócio de excesso de produção chinesa sobra muita coisa. Aí os enfeites ficam presentes na vida da gente ainda por um bom tempo, nem que seja jogados numa cesta qualquer.
Fiquei tentada a levar um desses pra casa. 75% de desconto!
Dizem que a lógica de quem sabe ganhar dinheiro é comprar na baixa e vender na alta, não que fosse vender meu mimo...
Mas, não tem jeito, se é difícil - em pleno 40 graus - comprar agasalho pensando no frio que pode vir laaaaá longe, imagine enfeite de natal depois do ano novo!
Além do mais é muito tempo pra frente e foi isso que me fez parar. 300 dias e tralalá. É muito tempo. Não levei. Mas a pausa diante do bacião foi boa. Me trouxe de volta para o agora. Espero mesmo que seu ano todo seja bom, mas que tal a gente ir por partes? Então, feliz nove de janeiro de 2009!


Carmem Galbes
Imagem:SXC

Um brinde à expatriação!

Olá, Coexpat!
Tem coisa muito interessante na vida mesmo. Uma delas é como, com o tempo, a gente se acostuma com as coisas ou se encaixa nos costumes.
Pode parecer bobo ou simples demais, mas quando finquei bandeira na terra do tio Sam tinha uma coisa que me incomodava muito em restaurante: o fato de ter que pedir a bebida sem ter a chance de olhar o cardápio.
Isso mesmo. Geralmente acontece assim: você chega, a (o) hostess te acompanha até à mesa já com os talheres em mãos. Você senta e aí vem o garçom: “olá, meu nome é fulano e vou “estar atendendo” (aqui essa construção gramatical é correta) vocês hoje. E de cara já solta: “o que vão beber?”
Eu não sei! Acabei de chegar! Tenho que ver! Essa era a resposta que sempre calava. No começo esse negócio de ter que pedir a bebida de supetão me irritava um pouco. É que gosto de ver o cardápio, ver o que tem, apesar de sempre pedir a mesma coisa: água sem gás ou vinho tinto.
Uma opção seria dizer ao garçom que ainda não tinha decidido. A resposta comum era: “ok, vou trazer água assim você vai pensando.” Um minuto depois lá vinha o ser: “já decidiu a bebida?”
Adotei táticas. Pensava na bebida já no caminho. Assim, a resposta saia quase antes da pergunta. Também comecei a considerar a opção de só ficar na água, já que tem garçom que traz a água sem você pedir.
Outra estratégia para evitar estresse é não pedir sugestão para quem serve. Gente, parece um narrador de corrida de cavalo. Além de você não entender nada, ainda fica na dúvida se seu bicho realmente ganhou. E de pensar que basta olhar o cardápio...
O engraçado é que dia desses percebi que havia me acostumado tanto com esse esquema, que fiquei impaciente com a demora do garçom em perguntar o que eu iria beber.
Mas o que interessa mesmo é o brinde. Seja com água ou sei lá o que. Em cristal ou de plástico. O fato é que adoro brindar, coisa de filme, sabe...
Então, um brinde à expatriação, essa coisa que vira a gente do avesso, que carrega a semente de transformar a gente em gente melhor!

Carmem Galbes
Imagem: SXC

Expatriação e amor próprio.

Olá, Coexpat!
Eu sempre tive muita dificuldade em entender o relato de Mateus lá no capítulo 22 em relação ao que Jesus disse sobre o amor: “ama o seu próximo como a si mesmo.”
Eu me lembro que na adolescência achava isso improvável e na fase adulta passei acreditar ser impossível. Mas com as últimas mudanças de endereço e, por causa disso, a necessidade de me relacionar com gente bem diferente, voltei a pensar no assunto.
Pode mesmo acontecer de a gente amar outra pessoa como a gente se ama? Claro que não falo aqui de filho, marido, família e amigos, falo de ser humano no geral.
Hoje estou quase certa que sim. Mas, essa certeza não tem a ver com conversão espiritual ou coisas do tipo, não. Tem a ver com as descobertas práticas da vida.
Acho que a minha confusão com as palavras de Jesus tinha mais a ver com o fato de eu pressupor que a gente se ama incondicionalmente e no máximo grau que o amor possa existir, o que não é verdade.
Será, então, que a gente ama o próximo à medida que a gente conhece o amor para com a gente mesma? Se me amo pouco só posso amar outras pessoas na mesma intensidade? Então, será que quanto mais me amo, mais tenho a capacidade de amar os outros?
Tudo bem que esse negócio de se amar primeiro para depois amar o mundo pode parecer um clichezão brabo, mas vai tentar se amar de verdade, de verdade mesmo! É um árduo trabalho, mas é absolutamente possível!

Comece por parar de se sacanear, de se machucar, de se prejudicar. É difícil, às vezes a gente se esquece, às vezes a gente nem percebe a sabotagem. Mas mude a chavinha para o autoperdão, autopaciência. Trata-se com carinho, fale com você mesma com delicadeza, converse sendo a você adulta e madura lidando com a você criança, pronta para absorver todas as experiências. Entenda e explique para você mesma o que aconteceu e como você pode fazer diferente, fazer melhor. Pare com essa história: "você é uma burra mesmo, não faz nada direito, eu sabia que você ia desistir, você sempre faz isso..." Pare com isso já!
É um exercício diário e sem fim. Mas vale a pena. No fim das contas, somos nós com nós mesmas em uma jornada que existe única e exclusivamente para que a gente evolua!

Carmem Galbes

Choque cultural e suas cutucadas...

Olá, Coexpat!
Depois das dicas sobre como fazer bons negócios, esticar o dinherim, enfim, comprar melhor, a notícia agora nos programas matinais de TV nesse período pós natal é o que fazer com a mercadoria que você comprou e não quer mais.
Interessante esse negócio por aqui. Você vai à loja, gasta ou investe - como preferir - tempo, paciência e dinheiro e depois ainda tem a oportunidade de se arrepender.
Ainda não precisei apelar ao benefício, mas o fato é que isso pode ser bem legal. Às vezes acontece. Você acha que a blusa vai combinar com aquela saia, mas só quando chega em casa percebe que não caiu bem.
O fato é que tem muita gente que simplesmente compra e só decide se queria mesmo comprar dias e quilômetros depois. Deve ser por isso que o povo vive carregado de sacolas.
É simples. O sujeito arrependido, munido de nota fiscal e da mercadoria sem uso - é importante salientar isso aqui - volta à loja e diz que não quer mais brincar. Devolve o produto e a loja devolve o dindim. Isso mesmo, é verdinha na mão, não tem essa de ter que trocar por outro produto. É satisfação garantida ou seu dinheiro de volta - lembra do slogan da Sears?
Pois bem, tentei traduzir isso para a cultura brasileira. Será que funcionaria no mercado verde e amarelo? Será que as pessoas seriam realmente honestas a ponto de devolver a mercadoria sem uso?
A resposta: não sei e não ouso adivinhar. Sei que por aqui essa estratégia dá o que falar.
Dan Ariely, um renomado estudioso da relação do ser humano com as finanças, acredita que é a oportunidade que define o caráter. Ele traz em seu livro “Previsivelmente Irracional”, alguns dados sobre como o americano lida com a devolução de mercadorias.
De acordo com o livro, as lojas nos Estados Unidos perdem, em média, US$ 16 bilhões por ano com clientes que têm por hábito usar a roupa com a etiqueta escondida para não perder o benefício da devolução.
Esse valor, segundo o autor, é quase 30 vezes maior que a perda que os Estados Unidos têm por ano com os chamados roubos tradicionais, aquele em que o ladrão leva o carro ou invade a casa.
Engraçado que, apesar disso, o mecanismo não sai de cena. É sempre assim, um monte de gente comprando e devolvendo a mercadoria que não deveria, mas está usada.
Dan Ariely fala da perda para as lojas. Mas “pera lá”, será que o comércio perde mesmo ou passa a bola pra frente? Será que o benefício da devolução se mantém porque a mercadoria simplesmente volta para a venda como se fosse sem uso? Quanta gente está comprando o novinho em folha usado só algumas vezes? Será que o prejuízo se limita aos bilhões de dólares ou devemos incluir também outras perdas, como a de confiança nas pessoas e no sistema?
Então, fico aqui pensando...Será que tem muito...ah, deixa pra lá...vou dar uma volta.


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Minha primeira virada de ano como expatriada e as lições que aprendi!

Olá, Coexpat!

Depois de umas férias pra lá de divertidas, período cheio de rodopios e frio na barriga, cá estou. E de pensar que a gente se viu lá em 2008 e já é 2009. Interessante que dessa vez não tem essa de festa esticada, entende? Não tem carnaval para dar aquela preparada no recomeço. Quando o calendário pulou do 31 para o dia primeiro foram uns fogos ali, um brinde acolá e “vamo que vamo.” Isso pra quem é daqui dos States, porque pra quem não é, pra quem tem sangue brazuca na veia, houve fogos, brindes, festa, comida, brindes, fogos...e claro, retrospectiva!
E como dizem nos campos de futebol da vida, o retrospecto foi positivo.
Dentro da categoria “o que aprendi” tem bastante coisa.
Aprendi, por exemplo, novas palavras, sinônimos, antônimos e metáforas. Conheci regras gramaticais mais apuradas e termos mais atualizados.
Fui a lugares diferentes, encontrei pessoas diferentes, lidei com jeitos diferentes, mas nem por isso me senti estranha, só diferente.
Aprendi a blogar, mas sei que vai demorar para eu deixar de engatinhar no assunto.
Lembrei que carpete no quarto é uma delícia e que entrar sem sapato ajuda a conservá-lo limpo.
Aprendi que casa com menos móveis pode deixar a vida mais simples e que dirigir não é algo perigoso que te expõe à violência.
Também aprendi que varal não faz falta e que produto que tira mancha aqui pode substituir o vermelho do molho de tomate por um buraco. Nunca vi poder igual!
Espantada, vi que uma chave de fenda e um martelo são suficientes para aprontar a decoração da casa, ao mesmo tempo compreendi que o tamanho da nossa felicidade é proporcional à habilidade que temos em acumular ferramentas.
Comprovei que só depende da gente o dia ser bom, a experiência ser rica e o momento valer a pena. 
Aprender que só depende da gente dá um baita poder!
Claro que vai ter sempre alguém para dizer que não...mas só depende da gente!
Ah, também entendi que não é porque a gente está longe que tem que aturar certas situações, certas ocasiões, certas pessoas.. Mas também entendi que, definitivamente, sem gente por perto a gente é menos gente...
Mais uma vez vi que a mudança é inevitável e será mais tranquila à medida que não relutemos diante do que já está em curso.
Outra lição: nem tudo que enverga quebra!
Pera aí, esse é meu primeiro dia útil do ano, então chega de pretérito, vamos ao presente. Aliás, o melhor presente foi não ter que ficar batendo a cachola sobre o que dar de presente, apesar de adorar presentear...
Mas, sobre o dia de hoje, chuvoso, seis graus, arrumação geral...

Tenho certeza que vai ser um ótimo ano pra todos nós!

Carmem Galbes
Imagem: SXC

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...