Brasileiro expatriado e a revisão de conceitos sobre segurança.

Olá, Coexpat!32 mil militares e US$ 150 milhões. Esses números sobre o esquema de segurança para a posse de Obama na última terça, em Washington, me fizeram parar para pensar sobre o meu esquema de proteção.
Não, não tenho mania de grandeza e também acho que, dadas as minhas condições de ser anônimo e desprovido de ambições político-empresariais, não careço de um aparato assim em lugar algum do mundo.
De qualquer forma, parei pra pensar.
Quem já viveu em cidades como São Paulo, Recife e Rio tem um esquema próprio, interno de vigilância permanente. A gente fica esperta ao entrar e sair de casa, ao tirar dinheiro do caixa eletrônico, ao andar a pé e de bicicleta, ao dirigir, ao pegar taxi e ônibus. A gente aprende a não ostentar, mesmo quando o valor do objeto é meramente emocional.
O conceito de perigo pelas bandas de cá é diferente. Hoje em dia, acho que Houston já não vive sob o medo da ameaça terrorista, mas tem os mesmos problemas de uma cidade grande, só que em uma escala diferente da que estou acostumada.
O Medo aqui está mais relacionado a não conseguir gastar como antes. Então toda informação que possa ser usada para roubar sua identidade e seu crédito é guardada como jóia. O povo fica atento até onde joga o lixo com esse tipo de informação.
Mas quando o assunto é segurança na rua, fica até engraçado. Ontem mesmo vi uma entrevista em que o Xerife aconselhava o povo a trancar a porta do carro e a não deixar objetos de valor expostos. Mais interessante ainda foi ver o “seo” guarda deixando bilhete nos veículos dos mais desligados: “feche o vidro na próxima vez”.
Outra coisa, aqui é raro ter porteiro nos edifícios residenciais e não se faz registro para subir nos comerciais. Cada escritório que se cuide. Além disso, a segurança em locais como shopping é pública. É polícia mesmo rondando, segurança particular só dentro das lojas mais caras.
Mas o que é incomum pra mim é não ver câmera pra todo lado. Tenho uma suspeita do motivo. É que o povo aqui, apesar de ser cada um na sua, não deixa de botar a boca no trombone. Denuncia mesmo. Chama a polícia! Então parece que todo mundo se vigia o tempo todo. É a lei do “se-eu-não-posso-ninguém-pode”.
Isso não quer dizer que não tem coisa errada. Tem sim, claro. Vou dar um exemplo de como o negócio pode ficar feio.
Outro dia, entrando em um restaurante bem conceituado, leio o aviso na porta: “proibido entrar armado”.
Ahh...lembrei de outra coisa: uma matéria, na época do ano novo, alertava para o fato de ser proibido dar tiro para o alto durante as comemorações da virada. Gente!!!
Resumindo, aqui não é normal alguém te apontar a arma no cruzamento, mas é normal andar armado. E ser humano é desequilibrado por definição. Então, fica difícil comparar...

Carmem Galbes

Imagem: SXC

O tempo e a paciência de quem é expatriado...

Olá, Coexpat!
Olha o “causo”.
A cena: inscrição para o curso de pronúncia aqui nos States.
A rotina: depois de avaliação oral e escrita, sigo para uma sala onde um primeiro ser humano anota dados pessoais e o código do curso. Sigo para uma segunda sala.
Percebo que o código do curso refere-se a outro horário. Em vez de um dois no final de sequência de 5 números, há um zero. Nessa segunda sala alerto para a questão. O segundo ser se limita à: “vamos ver como vai sair no recibo”, e me manda para o caixa.
Sigo assim para uma terceira sala, onde falo com um terceiro ser sobre o código do curso. Enquanto passa o cartão, o sujeito se limita: “não é minha área”. Claro que o recibo traz o curso com o horário errado.
Volto à segunda sala. O segundo ser diz: “vá à quarta sala”. Lá, um quarto ser preenche uma requisição de troca de horário e me diz: volte à segunda sala”.
Volto. O segundo ser me recebe com ar de que não se lembra de mim. Acerta o horário e diz: “volte ao caixa”.
Lá o terceiro ser arruma o horário e diz: “prontinho”.
Duração do percurso: não sei, foram tantos seres que esqueci de olhar para o relógio...
Burocratas eles? Não, eu é que sou. Deveria ter mudado o número à mão mesmo, antes de entrar na segunda sala!
Jeitinho brasileiro? Não, praticidade, economia de tempo e de rugas!


Carmem Galbes

Imagem: SXC

Esposa expatriada, desempregada, mas antenada: cobertura da posse lá e cá.

Olá, Coexpat!
Como você sabe, sou jornalista desempregada, mas que prefere dizer que vive um período fora do mercado para apoiar a carreira do maridão no exterior.

Sendo assim, não consigo desligar...então, não pude deixar de passar o dia perambulando entre TV e internet para acompanhar a posse de Obama. Minha ideia era tentar captar uma cobertura com os olhos aqui e ouvidos lá ou vice-versa.
Claro que não vou conseguir fazer uma comparação crítica entre o trabalho dos colegas americanos e brasileiros, isso, aliás, daria uma boa tese...
Mas, comparando...
O povo aqui passou a semana especulando sobre qual estilista a primeira-dama usaria. Interessante que hoje foram os brasileiros que se apressaram em falar em detalhes sobre o “visú” de Michelle Obama. Com semana de moda no Rio, ficou fácil cumprir a pauta!
Pascolato e cia desceram a boca no modelo assinado pela cubana Isabel Toledo. O que prendeu meu olhar foi a combinação que não me agrada, a não ser em copa do mundo: vestido amarelo + sapatos e luvas verdes!
Mas gente, a mulherada aqui adora brilho e cores vibrantes! Só fico pensando em que ocasião ela usaria aqueles sapatos verdes de novo...
Ok, tentei pensar em uma impressão mais elaborada sobre a cobertura, mas nã
o consegui. É que simplesmente não encontrei em português nenhuma análise um pouquinho mais profunda sobre o dia de hoje.
Bom, pelo menos até agora, não consegui ler, ouvir, ver... sentir nada sobre, por exemplo, qual o impacto no Brasil do discurso de posse do homem que vai tocar a economia mais influente do mundo.
Talvez essa falta não tenha cabimento. Talvez tudo já tenha sido dito e eu não acompanhei. Talvez ainda será dito...
Sei lá...
A cobertura em português fala em gastos com segurança na posse, em número de pessoas, traz o histórico do novo presidente, os desafios, o discurso traduzido, mas senti mesmo falta de contextualização.
Tudo bem, sei, ao menos, que o vestido da dona Obama não agradou lá no Brasil. Ouvi dizer que tinha bordado demais, que era sóbrio demais, que era elegante de menos...sei.


Carmem Galbes

Foto1: Susan Walsh - AP
Foto 2: CBSNEWS.COM

Todo mundo sente preguiça, mas expatriado tem preguiça e culpa...

Olá, Coexpat!
Meu propósito por aqui é ter uma conversa pelo menos uma vez por dia. 

Gosto de conteúdo. 
O problema é que nem sempre penso que tenho algo relevante que mereça seu tempo ou o meu. Pior, como é o caso hoje, quando não estou com muita disposição para desenrolar...
Sabe...os últimos dias têm sido especialmente simples. 

Rotinas biológica e social: comer, dormir, ler, passear, conversar e assim vai.
Tamanha simplicidade tem deixado tudo muito especial. 

Especial porque flui. Porque há apetite, há gosto e há vontade de esticar a conversa, nem que - às vezes - o silêncio marque uma frase ou outra.
Normalmente a escrita me preenche e me satisfaz, mas nem sempre consigo seguir em frente. Como estou expatriada, em uma fase que decidi que eu não tenho - necessariamente - que seguir em frente,  acho melhor deixar pra depois. Hoje vou ficar assim imóvel, só imóvel...e que que tem, né?
Perdão. Sei que é pecado. Mas hoje estou deliberadamente com preguiça, simplesmente preguiça.

Com preguiça e culpada, é que "esposa" expatriada já não faz nada, né? Priguiça de que? Será?
Vixe...
Carmem Galbes

Foto: João Marcos

Certo, certinho e certeiro. A expatriação de cada um!

Olá, Coexpat!
De um bate-papo descompromissado sobre a definição de certo e errado:
Kuwaitiano: certo é o que Alá diz que é.
Venezuelana: certo é o que está previsto nas leis e regras sociais.
Francesa: preferiu só ouvir.
Brasileira: certo deveria ser o que não fere ninguém.
Colombiano: é certo que é muito difícil estabelecer uma diferença entre certo e errado, porque é quase impossível saber o que existe no coração de uma pessoa. 

Tá certo!

Carmem Galbes

Imagem: SXC

Expatriação também tem dia delícia!

Olá, Coexpat!
Cada vez mais acredito que, apesar dos imprevistos, do trânsito, do tempo, das coisinhas da vida, só depende mesmo da gente o dia ser bom. E hoje foi mesmo, pelo menos pra mim.
Só à noite descubro que a quinta pelas bandas de cá foi braba! A queda de um avião em Nova York ganhou as m
anchetes e ressuscitou o pavor de um atentado.
Para nós cinco nada de estranho, simplesme
nte porque estávamos em outra frequência. Passamos o dia apreciando o visual pouco explorado de Houston. Tem gente, aliás, que jura de pé junto que se existe uma coisa que a cidade não tem é visual. Mas basta abrir os olhos...
O objetivo er
a almoçar, só que o roteiro teve vida própria. De parque a to
po de prédio. Da prefeitura ao zigue-zague nas calçadas, foi uma tarde calorosa, apesar do 14 graus.
O Hermann Park tem um pouco de tudo. De espelho d’água que lembra Washington à ponte que remete à uma cena no Central Park. O trenzinho que circunda a região é daquelas coisas que arrancam fácil um “nossa, que gracinha!”
Depois do curto trajeto de metrô, que aqui corre sobre a terra e liga o distrito médico ao centro, ancoramos no passado. A rua Texas é um esforço de preservação. Um árduo esforço, porque se tem uma coisa que as sedes das empresas gostam é de mostrar o sucesso pel
a altura dos prédios. Interessante que prédio ainda é raro por aqui. São poucos residenciais. Os que existem são de luxo. Os comerciais formam uma espécie de ilha no centro. Esses edifícios gigantes são, aliás, um dos poucos símbolos, além do trânsito, de que Houston é sim uma cidade grande, embora, numa primeira andada, seja difícil de acreditar.
Em meio aos arranha-céus está incrustada a sede da prefeitura, outro endereço histórico. O local abriga também o
centro turístico. Tem mapa de tudo, inclusive de shopping.
Acho a cidade bem simpática. Tenho me interessado por ela. Tenho me apegado até. Ainda não sei se isso é bom ou ruim, mas por enquanto serve de fermento. Sim, a cada descoberta dá mais vontade de descobrir.
Coisas de quem se propôs a tocar a vida com a melhor qualidade possível em 2009!


Carmem Galbes

Igreja cá e lá.

Olá, Coexpat!
Dia desses botei na cabeça que tinha que ir à igreja. É meio que um ritual turístico, se bem que moro em Houston. O fato é que ainda não havia ido a igreja por aqui. Tenho disso: católica desnaturada, de alma ecumênica e com menos fé do que preciso.
Gosto do ambiente das igrejas pelo que ele é e pelo que representa. Acho interessante a arquitetura e a decoração - se é que esse é o termo mais adequado. Gosto do silêncio.
Surpresa para mim foi a dificuldade para entrar num lugar desses. É que, diferente do que estou acostumada no Brasil, igreja aqui só fica aberta durante os rituais: missa, batismo e casamento.
Tentei dar uma espiada enquanto um funcionário da manutenção deixava o lugar e foi ele que me deu a dica.
“Quer rezar? Tem a capela ali. Para conhecer, só durante o tour”. 
Então tá, assim me juntei ao grupo de velhinhas.
Diz a história que a Catedral de Houston foi o primeiro espaço religioso oficial construído na cidade. Foi levantado no centro em 1839, quando Texas ainda era um país e Houston era a capital.
Como aconteceu com muita igreja por aí, o local também enfrentou seu incêndio, com prejuízo principalmente para as obras do altar, mas seus vitrais nunca se abalaram nem diante de um furacão.
Na contramão do que acontece em outros estados, o bispo fica aqui, e não na capital Austin. O motivo: o tamanho da cidade, a quarta mais habitada dos EUA.
Mas vamos às coisas que me chamaram a atenção:


  • A entrada principal fica na lateral e não no fundo da igreja. 
  • O local tem, claro, um memorial para os mortos em guerra. 
  • O espaço tem muito madeira. 
  • É tudo impecável. 
  • Tudo limpo, tudo bem cuidado. 

Achei a igreja muito bonita.
Mas não tem gente! Não tem vela acesa! Não tem reza! Não tem ninguém fazendo promessa!

Estranho...

Carmem Galbes

Fotos: arquivo pessoal

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...