O tempo e a paciência de quem é expatriado...

Olá, Coexpat!
Olha o “causo”.
A cena: inscrição para o curso de pronúncia aqui nos States.
A rotina: depois de avaliação oral e escrita, sigo para uma sala onde um primeiro ser humano anota dados pessoais e o código do curso. Sigo para uma segunda sala.
Percebo que o código do curso refere-se a outro horário. Em vez de um dois no final de sequência de 5 números, há um zero. Nessa segunda sala alerto para a questão. O segundo ser se limita à: “vamos ver como vai sair no recibo”, e me manda para o caixa.
Sigo assim para uma terceira sala, onde falo com um terceiro ser sobre o código do curso. Enquanto passa o cartão, o sujeito se limita: “não é minha área”. Claro que o recibo traz o curso com o horário errado.
Volto à segunda sala. O segundo ser diz: “vá à quarta sala”. Lá, um quarto ser preenche uma requisição de troca de horário e me diz: volte à segunda sala”.
Volto. O segundo ser me recebe com ar de que não se lembra de mim. Acerta o horário e diz: “volte ao caixa”.
Lá o terceiro ser arruma o horário e diz: “prontinho”.
Duração do percurso: não sei, foram tantos seres que esqueci de olhar para o relógio...
Burocratas eles? Não, eu é que sou. Deveria ter mudado o número à mão mesmo, antes de entrar na segunda sala!
Jeitinho brasileiro? Não, praticidade, economia de tempo e de rugas!


Carmem Galbes

Imagem: SXC

Esposa expatriada, desempregada, mas antenada: cobertura da posse lá e cá.

Olá, Coexpat!
Como você sabe, sou jornalista desempregada, mas que prefere dizer que vive um período fora do mercado para apoiar a carreira do maridão no exterior.

Sendo assim, não consigo desligar...então, não pude deixar de passar o dia perambulando entre TV e internet para acompanhar a posse de Obama. Minha ideia era tentar captar uma cobertura com os olhos aqui e ouvidos lá ou vice-versa.
Claro que não vou conseguir fazer uma comparação crítica entre o trabalho dos colegas americanos e brasileiros, isso, aliás, daria uma boa tese...
Mas, comparando...
O povo aqui passou a semana especulando sobre qual estilista a primeira-dama usaria. Interessante que hoje foram os brasileiros que se apressaram em falar em detalhes sobre o “visú” de Michelle Obama. Com semana de moda no Rio, ficou fácil cumprir a pauta!
Pascolato e cia desceram a boca no modelo assinado pela cubana Isabel Toledo. O que prendeu meu olhar foi a combinação que não me agrada, a não ser em copa do mundo: vestido amarelo + sapatos e luvas verdes!
Mas gente, a mulherada aqui adora brilho e cores vibrantes! Só fico pensando em que ocasião ela usaria aqueles sapatos verdes de novo...
Ok, tentei pensar em uma impressão mais elaborada sobre a cobertura, mas nã
o consegui. É que simplesmente não encontrei em português nenhuma análise um pouquinho mais profunda sobre o dia de hoje.
Bom, pelo menos até agora, não consegui ler, ouvir, ver... sentir nada sobre, por exemplo, qual o impacto no Brasil do discurso de posse do homem que vai tocar a economia mais influente do mundo.
Talvez essa falta não tenha cabimento. Talvez tudo já tenha sido dito e eu não acompanhei. Talvez ainda será dito...
Sei lá...
A cobertura em português fala em gastos com segurança na posse, em número de pessoas, traz o histórico do novo presidente, os desafios, o discurso traduzido, mas senti mesmo falta de contextualização.
Tudo bem, sei, ao menos, que o vestido da dona Obama não agradou lá no Brasil. Ouvi dizer que tinha bordado demais, que era sóbrio demais, que era elegante de menos...sei.


Carmem Galbes

Foto1: Susan Walsh - AP
Foto 2: CBSNEWS.COM

Todo mundo sente preguiça, mas expatriado tem preguiça e culpa...

Olá, Coexpat!
Meu propósito por aqui é ter uma conversa pelo menos uma vez por dia. 

Gosto de conteúdo. 
O problema é que nem sempre penso que tenho algo relevante que mereça seu tempo ou o meu. Pior, como é o caso hoje, quando não estou com muita disposição para desenrolar...
Sabe...os últimos dias têm sido especialmente simples. 

Rotinas biológica e social: comer, dormir, ler, passear, conversar e assim vai.
Tamanha simplicidade tem deixado tudo muito especial. 

Especial porque flui. Porque há apetite, há gosto e há vontade de esticar a conversa, nem que - às vezes - o silêncio marque uma frase ou outra.
Normalmente a escrita me preenche e me satisfaz, mas nem sempre consigo seguir em frente. Como estou expatriada, em uma fase que decidi que eu não tenho - necessariamente - que seguir em frente,  acho melhor deixar pra depois. Hoje vou ficar assim imóvel, só imóvel...e que que tem, né?
Perdão. Sei que é pecado. Mas hoje estou deliberadamente com preguiça, simplesmente preguiça.

Com preguiça e culpada, é que "esposa" expatriada já não faz nada, né? Priguiça de que? Será?
Vixe...
Carmem Galbes

Foto: João Marcos

Certo, certinho e certeiro. A expatriação de cada um!

Olá, Coexpat!
De um bate-papo descompromissado sobre a definição de certo e errado:
Kuwaitiano: certo é o que Alá diz que é.
Venezuelana: certo é o que está previsto nas leis e regras sociais.
Francesa: preferiu só ouvir.
Brasileira: certo deveria ser o que não fere ninguém.
Colombiano: é certo que é muito difícil estabelecer uma diferença entre certo e errado, porque é quase impossível saber o que existe no coração de uma pessoa. 

Tá certo!

Carmem Galbes

Imagem: SXC

Expatriação também tem dia delícia!

Olá, Coexpat!
Cada vez mais acredito que, apesar dos imprevistos, do trânsito, do tempo, das coisinhas da vida, só depende mesmo da gente o dia ser bom. E hoje foi mesmo, pelo menos pra mim.
Só à noite descubro que a quinta pelas bandas de cá foi braba! A queda de um avião em Nova York ganhou as m
anchetes e ressuscitou o pavor de um atentado.
Para nós cinco nada de estranho, simplesme
nte porque estávamos em outra frequência. Passamos o dia apreciando o visual pouco explorado de Houston. Tem gente, aliás, que jura de pé junto que se existe uma coisa que a cidade não tem é visual. Mas basta abrir os olhos...
O objetivo er
a almoçar, só que o roteiro teve vida própria. De parque a to
po de prédio. Da prefeitura ao zigue-zague nas calçadas, foi uma tarde calorosa, apesar do 14 graus.
O Hermann Park tem um pouco de tudo. De espelho d’água que lembra Washington à ponte que remete à uma cena no Central Park. O trenzinho que circunda a região é daquelas coisas que arrancam fácil um “nossa, que gracinha!”
Depois do curto trajeto de metrô, que aqui corre sobre a terra e liga o distrito médico ao centro, ancoramos no passado. A rua Texas é um esforço de preservação. Um árduo esforço, porque se tem uma coisa que as sedes das empresas gostam é de mostrar o sucesso pel
a altura dos prédios. Interessante que prédio ainda é raro por aqui. São poucos residenciais. Os que existem são de luxo. Os comerciais formam uma espécie de ilha no centro. Esses edifícios gigantes são, aliás, um dos poucos símbolos, além do trânsito, de que Houston é sim uma cidade grande, embora, numa primeira andada, seja difícil de acreditar.
Em meio aos arranha-céus está incrustada a sede da prefeitura, outro endereço histórico. O local abriga também o
centro turístico. Tem mapa de tudo, inclusive de shopping.
Acho a cidade bem simpática. Tenho me interessado por ela. Tenho me apegado até. Ainda não sei se isso é bom ou ruim, mas por enquanto serve de fermento. Sim, a cada descoberta dá mais vontade de descobrir.
Coisas de quem se propôs a tocar a vida com a melhor qualidade possível em 2009!


Carmem Galbes

Igreja cá e lá.

Olá, Coexpat!
Dia desses botei na cabeça que tinha que ir à igreja. É meio que um ritual turístico, se bem que moro em Houston. O fato é que ainda não havia ido a igreja por aqui. Tenho disso: católica desnaturada, de alma ecumênica e com menos fé do que preciso.
Gosto do ambiente das igrejas pelo que ele é e pelo que representa. Acho interessante a arquitetura e a decoração - se é que esse é o termo mais adequado. Gosto do silêncio.
Surpresa para mim foi a dificuldade para entrar num lugar desses. É que, diferente do que estou acostumada no Brasil, igreja aqui só fica aberta durante os rituais: missa, batismo e casamento.
Tentei dar uma espiada enquanto um funcionário da manutenção deixava o lugar e foi ele que me deu a dica.
“Quer rezar? Tem a capela ali. Para conhecer, só durante o tour”. 
Então tá, assim me juntei ao grupo de velhinhas.
Diz a história que a Catedral de Houston foi o primeiro espaço religioso oficial construído na cidade. Foi levantado no centro em 1839, quando Texas ainda era um país e Houston era a capital.
Como aconteceu com muita igreja por aí, o local também enfrentou seu incêndio, com prejuízo principalmente para as obras do altar, mas seus vitrais nunca se abalaram nem diante de um furacão.
Na contramão do que acontece em outros estados, o bispo fica aqui, e não na capital Austin. O motivo: o tamanho da cidade, a quarta mais habitada dos EUA.
Mas vamos às coisas que me chamaram a atenção:


  • A entrada principal fica na lateral e não no fundo da igreja. 
  • O local tem, claro, um memorial para os mortos em guerra. 
  • O espaço tem muito madeira. 
  • É tudo impecável. 
  • Tudo limpo, tudo bem cuidado. 

Achei a igreja muito bonita.
Mas não tem gente! Não tem vela acesa! Não tem reza! Não tem ninguém fazendo promessa!

Estranho...

Carmem Galbes

Fotos: arquivo pessoal

Que? Não tô entendendo nada e a culpa não é da expatriação!

Olá, Coexpat!
Tem coisa que acontece mesmo em todo canto do mundo. Talvez, porque seja mais uma característica pessoal que cultural, se bem que aprendi ser impossível a cultura não pesar no sujeito.
Mas, voltando na tal característica que considero global: a incapacidade de ouvir.
O exemplo me veio hoje pela manhã. Adoro tomar café em companhia dos matinais da TV americana. Não que sejam bons, nem ruins...são o que são.
Parei em um dos três mais assistidos por aqui - The Early Show.
No quadro “New Year, New You”, o convidado tentou muito, mas muito mesmo falar como poderíamos usar as informações a nosso favor, mas ele não conseguiu...
O autor Kenneth Davis me prendeu quando ele comentou que um dia bom é feito de lições e acrescentou: “se (Alan) Greenspan disse que tinha algumas crenças erradas, então por que não teríamos também?”
Tentei acompanhar o raciocínio dele, que continuou: “está na hora da gente saber o que realmente serve para o nosso dia dia, a nossa vida...”, mas o âncora Harry Smith não deixou a lógica ir pra frente.
Ele interrompeu tanto, que, apesar dos quase 4 minutos de conversa - dizem que um bom tempo para TV, o material ficou vazio.
Claro que fiquei em dúvida: será que eu não entendi? Será que não aprendi nada? Olha, assisti de novo e tive dificuldade em encontrar conteúdo ali.
Tudo bem que o âncora tem um currículo e tanto. Mas de que adianta tanta experiência e preparo se falta ouvido?
Dizem que a gente ouve só o que quer. Mas a coisa fica feia mesmo quando a gente não deixa falar.
Que coisa!


Carmem Galbes
Imagem: SXC

Expatriação e divórcio.

Olá, Coexpa t ! Eu poderia começar esse texto com números sobre a taxa de separação entre os casais que embarcam em uma expatriação. Númer...