Minha primeira coexpatriação, ou a primeira vez que deixei
meus planos em segundo plano para apoiar a carreira do meu marido em um outro
lugar, aconteceu há 11 anos: foi de São Paulo
para o Rio de Janeiro.
Por um ano a ponte aérea manteve nossa
sanidade mental e conjugal. Ora meu marido ia pra São Paulo, ora eu ia para o
Rio, dependia do preço da passagem, dos meus plantões, da rotina dele.
A mudança de fato ocorreu um ano depois de
idas e vindas, quando tivemos certeza que meu marido iria trabalhar mesmo no
Rio.
Organizei sozinha toda a mudança. A primeira
que eu fiz na vida com "casa completa". Coloquei nosso apartamento à
venda. Pedi as contas no trabalho. Falei tchau para a família que ficava a 45
minutos de carro. Voei para o desconhecido.
O Rio para mim era um misto do glamour da
cidade super linda com o pavor das balas perdidas.
"Mas o Rio é logo ali, metrópole também.
Para de frescura!"
Não há preocupação em investir em adaptação -
nem paciência - quando o endereço muda, mas o idioma não.
O que muita gente não entendia e ainda não entende é que a mudança pode ter sido de 450 quilômetros,
mas para mim - pessoalmente - foi de 180 graus.
Não foi apenas uma mudança de endereço. Foi uma mudança de rotina, de estilo de vida, de rumo profissional.
Desde os meus 18 anos, nunca tinha ficado sem
emprego formal.
De repente, de mulher sem tempo pra nada, com
pós e MBA recém conquistados, me vi atolando em um monte de caixas para
organizar e nenhum referencial de ajuda, nenhuma gota de apoio, afinal, mulher
acompanhar o homem é normal, né?! Não?! Mas não é isso o que sentem?!
Enquanto meu marido alçava vôo eu me via
perdida no questionamento mais triste que se pode fazer quando ainda está
fresco na memória o sentimento delicioso das conquistas: o que eu fiz da minha
vida, o que eu estou fazendo aqui?
O tempo foi passando, voltei a trabalhar - em
uma área que odiei, mas que ajudou a recuperar minha agressividade, tão
necessária para dar um chega pra lá na menina amedrontada, reagir e dar a volta
por cima.
Fui me apaixonando pela cidade e tudo voltou
a ter cor e sabor.
Foi um processo gradual, rápido -
característico da pressa de quem tem baixa tolerância ao sofrimento.
Foi um processo de tentativa e erro. Não
sabia que vivia ali a dor da coexpatriada. Esse nome, aliás, nem existia. Essa
dor, então, nem se fala...
Fiz algumas importantes descobertas nesse
período:
1 - É
preciso muito amor - especialmente o próprio - para apoiar o desenvolvimento do
outro.
2 - Nem sempre as pessoas são capazes de
descobrir - ou entender - o que estamos
sentindo simplesmente por falta de referencial.
3 - Somos mais fortes do que imaginamos.
4 - Podemos adoecer ou crescer com a dor, questão de escolha, nem sempre fácil, nem sempre clara, mas sempre escolha.
Como diria a minha vó, acho que tudo foi por
Deus mesmo, porque - logo que completamos 1 ano de Rio - nos mudamos de novo,
dessa vez para os Estados Unidos.
Aha, outro idoma!
"Mas é inglês, para de frescura!"
Ok, sem problemas, estou vacinada nesse lance
apoiar a carreira alheia em um outro lugar!
Mas na segunda coexpatriação fui mais 'safa',
comecei a desenhar uma vida que iria seguir adiante independente das
transferências profissionais do meu marido.
E não é que vem dando certo.
Estou na quinta coexpatriação.
Não pirei, nem
adoeci, nem entristeci. Eu floresci e sigo dando frutos!
Eu planejei isso?
Não!
Mas sou muito grata por toda essa vivência e por todo o despertar que já me proporcionou, no sentido mais espiritual do termo!
Carmem Galbes
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