Expatriada e dona de casa. De onde vem tanta dor?

Não, você não está sozinha, nem é mais fraca ou menos preparada por sentir esse cansaço, essa angústia, esse tédio em lidar com a casa!
Sabe qual é uma das maiores queixas das esposas que apoiam o marido transferido? 
Sobrecarga por cuidar da casa, dos filhos, da rotina e tudo sozinha, muitas vezes!
Aí vem a Organização Internacional do Trabalho e divulga o seguinte dado: O Brasil é o país com o maior número de empregadas domésticas. São 7 milhões, quase a população da Dinamarca! 
Aí a historiadora Marília Ariza, ouvida nessa matéria do Uol, explica: "A ideia de ter um servo na família era muito comum, mesmo entre quem não era rico e vivia nas regiões semiurbanas do século 19 (...) O Brasil do século 21 herdou do passado colonial, imperial e escravista uma profunda desigualdade na sociedade que não foi resolvida." 
Aí eu concluo: ter empregada está no DNA do brasileiro!
Mas você pode perguntar (meio chorando de tristeza ou quase gritando de raiva): "o que isso tem a ver exatamente comigo, que deixei muita coisa de lado para apoiar a carreira do meu marido em outro lugar? Tinha minha vida, meu trabalho, minha renda e hoje eu tenho uma atividade que não termina nunca, o trabalho de cuidar da vida doméstica da família!"
Eu respondo: "eu acho que esse número da OIT pode explicar muito dessa coisa ruim e desconcertante que você vem sentindo."
Ok, posso estar julgando. Então, vou lançar umas perguntas:

  • Será que o cansaço por não ter ajuda 'longe do ninho' tem mais a ver com uma batalha interna por causa de uma crença que está em xeque do que com o trabalho propriamente dito de lidar com a casa? 
  • Será que a angústia por ter que assumir as tarefas de casa tem mais a ver com o fato de nós brasileiros, especialmente - mas não somente nós - não valorizarmos o trabalho doméstico, por acreditarmos que o trabalho doméstico só é 'digno' de ser feito por gente pobre e sem estudo? 
  • Será que se o normal fosse não ter empregada ou faxineira seria mais fácil tocar a casa em um outro lugar, sem ficar sobrecarregada?
  • Até que ponto a cultura de ter empregada tira a autonomia doméstica da nossa família e a responsabilidade nossa, do marido e de nossos filhos por limpar a própria sujeira?
  • Até que ponto a cultura de ter empregada impede que as tarefas sejam divididas de forma justa? 

As respostas podem servir como um inventário das crenças que adquirimos ao longo da vida, desde muito pequenininhos. Das crenças que temos, não percebemos e que acabamos perpetuando. Das crenças que não nos ajudam, que nos deixam exaustas e até deprimidas. Das crenças que nos impedem de olhar para a vida de expatriada com olhos mais positivos. Das crenças que ceifam a autonomia em vez de adubá-la! Crenças que fazem com que a gente monte uma casa que nos escraviza e aprisiona em vez de nos servir.
Sei que esse é um assunto árido! É muito difícil porque mexe com valores muito primitivos. Mexe com o seu orgulho, com o brio do seu marido - que pode pensar que, como um profissional expatriado, tem a hora muito cara para usá-la lidando com a casa. Mas esse tema precisa ser abordado. Tem que ser tratado como prioridade na família. Porque a casa é 'coisa' da família, criação e responsabilidade de todos que moram nela. Como resume Hilda Hilst: 

"A minha Casa é guardiã do meu corpo
E protetora de todas minhas ardências."

Quer lidar melhor com esse tema? Sou Coach de Esposas Expatriadas e Organizadora Profissional especializada em famílias transferidas. Saiba como eu posso te ajudar clicando em www.leveorganizacao.com.br



Carmem Galbes

Imagem: Freeimages

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