Leve Entrevista. Crianças expatriadas.

Olá, Coexpat!
Conversamos bastante por aqui sobre os impactos da expatriação. Se para gente grande a coisa pode ser complicada, imagine para os pimpolhos.
Na década de 1960, a socióloga Ruth Hill Useeem passou a classificar como Cross Culture Kid a criança que vive o período escolar, ou de formação, em outro país.
O sociólogo David Pollock fala em Third Culture Kid. Segundo ele, a criança com uma terceira cultura carrega características do país de origem e do local onde está vivendo, formando um cenário todo particular, uma cultura que não pertence a nenhuma região específica.
A psicóloga Simone Eriksson é quem nos ajuda a entender um pouco mais sobre o que se passa com os expatriadinhos durante as mudanças.
Com vivência nos Estados Unidos, Suécia, Polônia e Itália, ela foi fundo nas angústias de mãe para armazenar experiência profissional e poder auxiliar famílias que estão de partida, através de programas e workshops desenvolvidos pela Interculturalplus.
Simone salienta que o impacto no desenvolvimento da criançada é inevitável, e pode ser positivo ou negativo dependendo da experiência de cada família e da cada criança. “A minha experiência de 13 anos no exterior com meus dois filhos, agora com 8 e 15 anos, me ensinou que precisamos levar a sério as crianças, uma vez que elas não conseguem explicar a complexidade da experiência que estão vivendo, e, na maioria das vezes, não sabem dar nome ao que sentem. Devemos estar atentos e caso tenhamos dúvidas, recomendo sempre procurar profissionais com experiência própria em expatriação”, salienta.
Aproveite a entrevista!


Leve - A sra. concorda que ainda se dá pouca atenção à criança brasileira que vive um processo de expatriação?
SE - Infelizmente tanto as empresas quantos alguns pais despreparados ainda subestimam as dificuldades das crianças. Isso acontece porque esquecemos que a percepção das crianças e adolescentes é diferente das dos adultos. A minha pesquisa com crianças na fase de adaptação confirma que existem processos psicológicos específicos afetados pela mudança, fases de transição e adaptação das crianças dependendo da idade.

Leve – Como o processo de expatriação atinge a criança?
SE - O processo de expatriação atinge as crianças, de modo geral, nos processos psicológicos típicos de seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Ou seja, esta experiência é vivida e interpretada a partir do nível de desenvolvimento de cada criança.

Leve – Como a mudança deve ser abordada?
SE - Eu costumo dizer que uma mudança terá sempre seu impacto, ela pode ser bem ou mal sucedida, dependendo da assistência familiar, das diferenças culturais e de aspectos da personalidade de cada criança. Existem, no entanto, instrumentos práticos a serem usados para auxiliar pais e professores durante as fases de transições. Esses instrumentos aumentam a probabilidade que esta experiência seja vivida como algo estimulante e positivo.

Leve - Os autores Adrian Furnham e Stephen Bochner apontam que o expatriado passa por quatro fases durante o processo: euforia com a nova situação, choque cultural, adoção da rede social local até atingir o relacionamento intercultural. As crianças também passam por essas fases?
SE - Com certeza as crianças passam pelas mesmas fases, a diferença é que elas têm uma percepção mais concreta e egocêntrica da situação e isso pode dificultar seu entendimento.

Leve - Quais os maiores desafios na expatriação de uma criança? Há casos de expatriação mal-sucedida? Como identificar que algo não vai se encaixar?
SE - Durante uma expatriação, especialmente para pais de primeira viagem, os desafios estão em acompanhar atentamente os sintomas, informar a criança em uma linguagem infantil, e saber como ajudá-las. Os casos mal-sucedidos são - infelizmente - mais comuns que imaginamos. Tenho casos onde a criança para totalmente de falar, casos que elas vomitam todos os dias para não ir à escola, perdem os cabelos, etc. Porém, vale ressaltar que mesmo os casos não tão extremos necessitam de acompanhamento e esclarecimento para os pais.

Leve - É possível falar em idade crítica ou melhor fase para expatriação?
SE - A idade por si só não facilita nem piora o processo, são somente desafios diferentes. Aliás, a expatriação tem seu impacto - positivo ou negativo - tanto na infância e adolescência quanto na idade adulta.

Leve - A criança brasileira é preparada para viver em outro país? Como pode ser feita tal preparação?
SE - É muito difícil generalizar, mas a qualidade do preparo dos pais influencia a experiência dos filhos independente da nacionalidade. Desenvolvi um método chamado Expat Kid Plus®, que será lançado em breve, juntamente com um livro infantil, que auxilia os pais e também crianças e jovens de 5 a 18 anos no processo de expatriação.

Leve - Faz alguma indicação de leitura?
SE - Eu começaria pelo livro Third Culture Kids, de David Pollock & Ruth Van Reken.

Carmem Galbes

8 comentários:

  1. Maravilhosa entrevista. Vivi de perto isso tudo.
    Nossas crianças (pré adolescentes') passaram por essa fase de adaptaçao e foi duro.
    Hoje posso dizer: eles estão felizes. Mas não é fácil mudar de país.
    Todos sonham com 'as américas', EUA, Europa como a 'fonte de riqueza' e o 'sonho dourado' mas ninguém sabe o que é viver fora da 'pátria amada' Brasil.
    Pagamos um preço.

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  2. Olá, Naldy!
    É isso mesmo, entre o planejamento e a realidade tem certas dores difíceis de lidar...
    Obrigada pela visita!
    Carmem.

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  3. ola, descobri seu blog agora, na busca por respostas para as minhas angustias... pq meu filho de 15 anos quer voltar (estamos ha 2 anos e meio perto de NY, um sonho de milhares de pessoas!), ele diz que as amizades daqui nao sao iguais as do Brasil, ele sente falta do contato social alem da escola, esta cansado de sermos sempre so nos 4 (familia) nos programas de finais de semana, diferente do meu filho de 11 anos que se integrou bem com amigos. Vou procurar este livro e buscar maiores informacoes. Sabe se o Expat Kid plus esta disponivel?
    Obrigada, vou ler seu blog sempre!

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  4. Olá, Carla!
    Obrigada pela visita.
    Acredito que o livro ainda não foi lançado. O site da autora é http://www.interculturalplus.com/br
    Espero que ajude!
    Volte sempre!

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  5. Olá, meu marido quer um embora do Brasil, estamos cansados de trabalhar muito e nao ter retorno, queremos dar uma vida melhor ao nosso filho, melhores condições de vida. Meu maior medo é como será a adaptação do meu filho que hoje tem apenas 04 aninhos, nao deve ser fácil. Me ajudem como é nessa idade? Obrigada amigas.

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    1. Olá, Priscila!
      Obrigada pelo contato. Entendo você! Já é uma "coisa" passar pelas adptações dos nossos pequenos no Brasil, imagine longe de casa, em outra língua. Penso que o caminho seja mesmo fazer isso que você já está fazendo: buscando informações.
      Na idade dele, acredito que a resposta do seu filho vai depender muito de como vocês vão lidar com tudo isso. O comportamento dele acabará sendo um reflexo da adaptação de vocês...
      O que posso indicar é o contato com a Simone, da Interculturalplus. Além de psicóloga, ela viveu na pele o processo de adaptação dos próprios filhos no exterior. Ela também tem um livro sobre o assunto. O link para a página dela está no texto.
      Não se esqueça que o processo dele vai estar ancorado no processo de adaptação de vocês. Por isso pensem sobre o assunto, pesquisem, conversem sobre as mudanças que ocorrerão na vida de vocês, como vão lidar com a distância da família e amigos,como vão lidar com a carreira dele e sua, idioma, aspectos financeiros, culturais, enfim, conversem, conversem e volte sempre que precisar! Também indico aqui no Expatriadas um texto sobre o aprendizado de um segundo idioma para crianças. O link é esse: http://www.expatriadas.com/search?q=idioma
      Espero ter conseguido ajudar um pouquinho.
      Beijos,
      Carmem Galbes.

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  6. Queria dar um update do meu caso... pois bem: insistimos pro meu filho ficar. Conversei com uma psicologa amiga e ela me disse que ele com 15 anos nao poderia decidir nada da vida por mais que ache que estah correto, que nos como familia tinhamos que estarmos juntos e colocar o limite. Fizemos isso com carinho e cuidado. Outra psicologa, somente numa conversa ao telefone, reforcou o que eu imaginava: que ele, qdo ia ao Brasil, era recebido com festa e como alguem 'especial", e talvez imaginasse que seria sempre assim - e que isso acabaria uma vez que ele estivesse morando la. Qdo dissemos o "nao" ele chorou muito durante o banho, e na mesma semana trouxe pela primeira vez amigos da escola para casa. Desde entao, minha casa virou o 'point", faco questao de receber bem os amigos dele, e ele fez cada vez mais amigos, hoje ja esta no college indo super bem (e morando em casa por opcao) e feliz. Obrigada pelo apoio que recebi de vcs qdo precisei! =)

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    1. Olá, Carla!
      Obrigada você por voltar e comparilhar com a gente a sua história. Muito bom ter mais um exemplo de que - com empenho - é possível sim construir uma vida interessante em outro país. Fico feliz que vocês estão tendo sucesso na expatriação e fico muito feliz também pelo Expatriadas ter feito parte desse processo. Volte sempre para dividir sua história com a gente!
      Beijos,
      Carmem Galbes.

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Olá! É um prazer falar com você!

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