Leve Entrevista. Repatriação.

Olá, Coexpat!
Não importa o estágio da expatriação, se no início ou já bem vivido, o tema retorno sempre ronda as conversas de quem está longe do ninho, ainda mais em tempos assim de crise generalizada.
Por isso a conversa de hoje é sobre repatriação. Pode parecer difícil entender por quê, às vezes - apesar da alegria de regressar ao país de origem - é tão doloroso voltar para casa.
A psicanalista e psicóloga Leila Rockert de Magalhães é quem vai desenrolar um pouco esse assunto hoje.
Consultora nas áreas de negociação internacional, desenvolvimento e preparação de expatriados e familiares, Leila salienta a importância de dedicar devida atenção ao retorno e nos ajuda a compreender porque nunca mais voltaremos para mesma casa, apesar das circunstâncias geográficas serem as mesmas.
Nossa entrevistada fala com a experiência de quem viveu na pele esse processo. Em 1992 deixou carreira e mestrado para trás para, junto com os filhos, acompanhar a empreitada do marido na Malásia, onde a psicanalista fundou uma associação de brasileiros.
Além do capital cultural, a vivência rendeu para ela a especialização no tema expatriação, com a tese de mestrado “Senda do Capital: A Expatriação dos Executivos Brasileiros e Respectivas Famílias 1956-2005” e com o livro “Conquistando o Mundo, um Guia para quem vai trabalhar e estudar no exterior.”
Aproveite a conversa.

Leve - A repatriação exige tanta atenção quanto a expatriação? Por que?
Leila - Como assinalado em meu livro (Magalhães 2000), a repatriação ou retorno, como algumas empresas preferem, é um momento que exige bastante atenção e cuidados, em virtude de várias questões. Diversos fatores se aglutinam nesse momento tornando a experiência do retorno mais impactante para uns, menos para outros e até mesmo um alívio em raríssimos casos. Dentre as razões que dificultam esse novo momento podemos destacar a dificuldade do profissional em adaptar-se à planta de origem, a falta de apoio psicocultural por parte da maioria das empresa, a perda do leque de benefícios e principalmente a falta de identificação cultural e social em seu próprio país.

Leve - Quais os principais desafios da repatriação?
Leila - Para a organização:
* Transformar a experiência adquirida pelos seus profissionais no processo de expatriação, alocando internamente o conhecimento absorvido, transformando-o em um diferencial competitivo.
*Criar programas de coaching e mentoring que funcionem efetivamente, poucas são as empresas que apresentam resultados concretos sobre esses programas.
*Acompanhar lado a lado, o processo de adaptação na saída e no retorno.
- Para os profissionais:
* As dificuldades são ainda maiores, pois a readaptação implica na reiteração dessas pessoas com o meio profissional e social. Uma das razões é que a nova bagagem cultural - hibridismo - faz com que o indivíduo veja as situações por um novo prisma.
* Lidar com a frustração de retornar para o mesmo cargo ou função anteriormente desempenhada.
* Conviver com a perda dos benefícios, dos espaços e do status quo conquistado na cultura hospedeira.
* Demanda tanto do profissional, como da família em formar novas redes sociais.

Leve - Sabemos que há expatriações que não dão certo. A sra. conhece casos de repatriação malsucedida? Quais foram as consequências disso?
Leila - Sim. Exemplo: o caso de um profissional que durante a expatriação teve muita dificuldade de adaptação, ao contrário da família, que teve excelente trânsito cultural. A empresa fez o processo de repatriação, entretanto, esse retorno antecipado significou uma marca negativa para o profissional, que além de amargar o sentimento de fracasso frente à família, se sentiu desconfortável dentro da organização. A consequência, foi o pedido de demissão e a vivência de um período de "inferno astral" profissional e familiar, uma vez que a condição de retorno foi potencializada.

Leve - Quais as dicas para a família que está prestes a voltar para a casa?
Leila - Ter em mente que nada será como antes ao voltar. Fazer um balanço do aprendizado nessa experiência e criar situações que esse aprendizado possa ser aplicado. Também ajuda evitar comparar os países com seus interlocutores, pois quem não viveu a experiência não entende o sofrimento. E sempre buscar e valorizar os ganhos com esse retorno.

Leve - Gostaria de acrescentar algo?
Leila - Gostaria de salientar a necessidade das empresas tratarem a questão intercultural como tema prioritário, uma vez que os efeitos produzidos pelo choque cultural tanto no momento de saída, como no retorno ao país de origem, trazem efeitos psicológicos muito diferentes entre si, dependendo da pessoa envolvida e do quanto a situação exige dela.


Carmem Galbes

Um comentário:

  1. Ótima esta entrevista. Concordo plenamente com a profissional, pois estou vivendo com meu marido tal situação.
    Infelizmente as empresas não tem um programa de acompanhamento ao expatriado e seus familiares, percebo que não só meu marido mas também outros funcionários expatriados sentem-se abandonados e até excluídos de sua planta de origem a partir do momento que chegam em outro país e não sentem-se seguros no momento do retorno. O choque cultural é grande, o emocional se abala e os efeitos psicológicos podem ser inúmeros. Com certeza as empresas devem tratar este assunto com mais seriedade e respeito pelas pessoas, além de melhor planejamento e aproveitamento das habilidades e talentos dos seus colaboradores. Parabéns pelo Blog!!

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